segunda-feira, 15 de abril de 2024

Resenha #331 Iceberg (Fernanda Caleffi Barbetta)


Iceberg é um livro de microcontos escrito pela Fernanda Caleffi Barbetta, que se encaixa numa modalidade literária pouco explorada, que são os microcontos. Já falamos sobre outro livro de microcontos na resenha de Jogo da Im(paciência) da Giselle F. Bohn, livro lançado na mesma coleção Mulherio das Letras, uma coleção de livros pocket escrito apenas por autoras. O microconto é basicamente a arte de contar uma história da mesma forma que o conto, mas com um número de palavras muito reduzido. Fernanda tem um estilo próprio de construir seus micros. São contos muito enxutos, onde o que lemos é praticamente o elemento que nos instiga para a história do que uma história em si. 

Para conhecer mais sobre a arte do microconto, recomendo o podcast do portal Lume onde Giselle foi entrevistada junto com Fernanda C. Barbetta e com este que vos bloga!
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segunda-feira, 8 de abril de 2024

Resenha #330 Bill, Herói Galáctico (Harry Harryson)


Meses atrás, havia chegado a vez de ler Tropas Estelares, do Robert Heinlein e por mais que eu tenha gostado da história, da forma epistolar, como lembranças de um combatente e das cenas de ação, a ideologia que move o governo da Terra, orbitando na vida militar, é um completo conjunto de besteiras que se leva a sério demais. Não me desceu a suposta interpretação de que Heinlein não acreditava naquilo e na verdade tratava-se de uma sátira. Principalmente porque uma verdadeira sátira foi escrita anos depois por Harry Harrison. Esta obra se chama Bill, Herói Galáctico.

Na história, acompanha Bill, um agricultor que vive num planeta distante do centro do Império e sonha se tornar Técnico em Fertilizantes, mas uma convocação coloca Bill no epicentro de uma guerra contra uma raça alienígena, chamados de Chinger. Desde então começa o suplício de Bill para poder terminar seu tempo de serviço e voltar a seu mundo. Porém, o sistema sempre dá um jeito de engolir todos os sonhos e intenções de Bill e ele é levado para cada vez mais longe de casa. Bill em seus primeiros dias de serviço salva a nave ao destruir uma nave inimiga e é convidado ao planeta central do Império (equivalente a Trantor de Fundação) receber uma honraria do imperador, mas tudo sai do controle e Bill é tragado por conspirações, enganos e desenganos.

A linguagem do autor e a cadeia de cada acontecimento é baseada no absurdo da guerra e da burocracia. Temas muito fortes tanto em 1958 quanto em 1965, lançamento de Tropas Estelares e de Bill, Herói Galáctico. É importante ler como uma série de esquetes, cheias de ironia e humor ácido. Bill é alistado após ser bombardeado com drogas hipnóticas e exposto a imagens de um uniforme de gala que nunca vestirá. Deixa mãe e um irmão que ainda é criança, sem ter como se sustentarem. Bill perde o braço e recebe apenas uma medalha e descaso do governo. Mas há passagens engraçadas que podem tirar um riso de quem conseguir entrar no clima do livro. Acho importante saber o contexto, principalmente se você leu Tropas Estelares e já pescou que o filme é muito mais perto de Bill que de Juan Rico. Desta forma vai gostar tanto do livro como eu.
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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Resenha #329 Croniquetas do Atendente (Mauro Scheuer Messina)


[Resenha publicada após o dia 1º de Abril para que não hajam acusações de esteja falsamente tomando partido na contenda entre o livreiro e o professor LD.]

Croniquetas do Atendente é um livro de crônicas com histórias que se passam numa livraria conhecida do Centro Histórico de Porto Alegre, a Ladeira Livros. O autor é nada menos que o dono desta livraria. Não há como fugir da localidade peculiar onde se passam as histórias e o autor não tenta fazer algo universal sobre algo tão particular. Quem conhece a livraria, conhece seu dono e os frequentadores mais conhecidos. Contudo, mesmo sem tal pretensão, Mauro acaba abordando assuntos universais e até espinhosos, como seu posicionamento político a esquerda, com leveza, ironia e bom humor.

As artes de Paulinho Aguiar são um show a parte, pois seu traço transmite a leveza do projeto e o ambiente aconchegante da livraria. Obviamente, por ser um frequentador da livraria, minha resenha é contaminada pelo envolvimento com o lugar. Atualmente não ando tanto pela região do Centro Histórico de Porto Alegre, mas sempre que passo pela região, não me furto de fazer uma visita de médico por lá. Além disso, o grosso dos leitores é frequentador da livraria e/ou foi da Banca do Mauro que ficava no Campus de História da UFRGS. Sendo assim, posso apenas imaginar como deve ser para um leitor que não faz ideia de quem seja o Mauro, como seria ler esse livro. Num exercício de imaginação, diria que é como conhecer um personagem que vai se construindo na frente do leitor a cada pequena crônica e fazem um conjunto muito completo daquele ambiente. Se o leitor deste humilde blogue resolver se arriscar, vai encontrar uma leitura leve mesmo nos momentos mais pesados e vai passar as páginas com um sorriso de canto de boca com as tiradas do Mauro. Como já conheço um pouco o livreiro, digo apenas que estou no aguardo da sequência e de uma versão escrita pelo Profº LD. 

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segunda-feira, 25 de março de 2024

Resenha #328 A fênix na espada (Robert E. Howard)


A fênix na espada é o primeiro livro do box O Bárbaro da Ciméria da editora Pandorga com três volumes com vários (não todos) os contos do personagem mais famoso de Robert E. Howard, Conan. Gostei muito da edição, principalmente levando em conta que o box estava muito barato. Gosto de Conan desde os filmes dos anos 80 que reprisavam nos anos 90. Fiquei triste com o fracasso do filme Conan de Jason Mamoa e voltei a me aproximar do personagem escrevendo uma versão em prosa do personagem de HQ independente Peryc, O Mercenário (espero que o livro já esteja publicado quando essa resenha sair) de Denílson Reis. Assim sendo vamos ao conteúdo da box, que vai além dos contos.

A box vem com um poster e três cartões postais. Um para cada capa dos livros que vem na box. Hoje vamos falar do que vem no primeiro livro da box chamado A Fênix na Espada: O volume 1 começa com o breve texto (autoria não creditada) Antes de Conan, que ressalta a importância do personagem desde a era dos pulps, nos anos 1930, quando atravessou a grande depressão com histórias divertidas, violentas e com reviravoltas convenientes que se tornaram características da época. Logo em seguida, temos um texto descritivo, escrito pelo próprio Robert E. Howard chamado A Era Hiboriana, onde ele faz um apanhado geral de como é o mundo que ambienta as histórias de Conan. É um mundo vasto e cheio de povos guerreiros, criaturas abissais e perigos constantes. No norte, se encontram a Ciméria e a Aquilônia, locais muito importantes na vida do protagonista, mas Conan viaja por todos os cantos desse mundo. 

A fênix na espada é o primeiro conto de Conan e já traz o Conan como Rei da Aquilônia, relembrando de suas aventuras e um pouco entediado com o ônus de ter um reino em suas costas. Contudo, sua paz logo será perturbada com uma tentativa de golpe perpetrada por quatro acessores que tinha como aliado, que enviam Ascalante, um assassino, até que num sonho Conan vê um mago milenar que lhe abrira os caminhos para que ele tenha alguma chance de sobrevivência. O conto apresenta muito bem o personagem pois temos uma noção de como foi sua vida repleta de aventuras sem deixar de nos entregar uma, com violência, conspiração palaciana e criaturas sobrenaturais.

A cidadela Escarlate é o segundo conto de Conan. Ainda temos o Conan Rei da Aquilônia. Assim como um vislumbre de sua vida passada nos revelando que foi pirata e capitão de mercenários de guerra. Novamente um a intriga palaciana, tramada pelo feitiçeiro Tsotha-lanti mas que desta vez Conan acaba capturado e preso em uma masmorra. Acompanhamos o rei buscando sua liberdade da masmorra, em meio a criaturas no melhor estilo lovercraftiano, enquanto relembra a trama que o levou a ser traído e seus planos de vingança. Este conto é excelente pois vai mais longe que o anterior e vemos Conan mais furioso, ameaçador e perigoso possível!

A Torre do elefante é o terceiro conto de Conan e aqui temos a primeira aventura do Bárbaro da Ciméria jovem, em seus primeiros contatos com o mundo civilizado. Começa com Conan entrando em uma taverna cheia de ladrões e bandidos da pior estirpe. Lá ele toca de ouvido sobre uma joia impossível de roubar, que fica na Torre do Elefante, guardada por um mago cruel. Conan decide roubar aquela joia e parte até a torre. Lá ele encontra um outro ladrão, chamado Taurus que aceita invadir juntos a torre para realizar o roubo. Uma aventura direta, sucinta e sincera. As revelações sobre o mago são bem no estilo de lovercraft mas não há o flerte com o horror. Uma aventura para ler na beira da praia e sair feliz.

O Colosso negro é uma aventura de Conan em sua vida como soldado da fortuna, que retrata a primeira vez que Conan luta sem ser por dinheiro. O conto tem dois preâmbulos até a chegada do Bárbaro. Primero acompanhamos o ladrão Shevatas no templo do “mago negro” Thugra Khotan que é despertado inadvertidamente. Depois de um corte abrupto, acompanhamos a princesa Ysmaela que governa o reino de Ophir e se vê sem apoio diante de uma visão de invasão dos exércitos do "mago negro", e quando Ysmaela foi orar para a deusa Mitra encontra Conan que aceita liderar o exército de Ophir junto a seus mercenários para defender o reino. A descrição da batalha é sensacional e vemos esta faceta de general do Conan muito bem narrada, porém o final é estranho e tem um romantismo barato até para as pulps, mas não deixa de ser uma boa aventura do Conan.

O livro termina com imagens das capas da Revista Weird Tales em que foram publicados os contos presentes neste livro. Agora é pegar o segundo tomo e seguir com as aventuras!!!

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segunda-feira, 18 de março de 2024

Resenha #327 Matando Gigantes (Cláudia Dugim)


Matando Gigantes é uma obra da Coleção Futuro Infinito da Editora Patuá que ainda estava devendo a leitura. Claudia Dugin participou da antologia Outros Brasis da Ficção Científica, que organizei, e foi organizadore da excelente Violetas, Unicórnios e Rinocerontes da mesma coleção. Então, sabia do talento para o conto, mas quis conferir como se sairia na narrativa longa.

A história se passa em uma nave geracional em busca de colonizar um planeta semelhante a Terra. Os personagens já estão há algumas gerações e vislumbram ser a primeira geração de colonos a pisarem em terra firme. Mas a chegada não será pacífica, tampouco sem problemas. Temos dois núcleos principais, no primeiro uma raça de seres humanoides verde/azulados com guerreiros que caçam gigantes pois não sabem outra forma de viver. No segundo, os humanos que vivem na nave colonial, em guetos de brasileiros e demais povos remanescentes da Terra tendo de lidar com assassinatos misteriosos que acirram as tensões entre a população pobre com a pequena elite da nave colônia. Logo descobrimos que são os pequeninos mas independente de quantos saibam disso, uma revolta está prestes a eclodir.

A situação que os personagens vivem é ao mesmo tempo completamente maluca e inusitada, ao colocar essa raça de pequeninos que vivem em uma comunidade anárquica (não conhecem a existência e/ou a necessidade de um Estado) onde o amor é livre e não se desenvolveu o preconceito dentro do próprio povo. Isso faz gostarmos imediatamente deles, ao menos até descobrirmos quem eles estão matando. A comunidade humana da nave geracional, foi outra coisa muito bem construída no seu aspecto político. É muito bom ver esse cenário ser construído sem a ingenuidade de imaginar que uma nave colônia serviria apenas para espalhar a presença humana pelo espaço porque é legal, afinal uma nave destas construída no capitalismo obviamente levaria a desigualdade, o racismo e o nacionalismo junto com ela. Uma nave colônia é como qualquer outra colônia: serve apenas para a exploração.

Há outras camadas que cabe contar aqui: a vida dos pequeninos é anárquica nos costumes, não apenas na figura de comando dos Guerreiros por Cherv e de Uor dos Conhecedores, mas na vida regada pelo prazer que acaba se colocando a frente de praticamente todas as preocupações na vida dos pequeninos, beirando a ingenuidade. Já do lado dos humanos, temos as personalidades fortes das articuladoras da revolta, principalmente na figura de Mama Bá, uma estrategista notável com uma vida toda dedicada a resistência. Foi minha personagem preferida e foi uma pena não ver mais dela.

O tratamento pragmático me surpreendeu positivamente, dando espaço para momentos satisfatórios, mas sem cair num ingênuo final feliz puro. Uma obra rende horas de conversa num bar. O que eu poderia querer mais?

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segunda-feira, 11 de março de 2024

Resenha #326 Básico Instinto (Fausto Fawcett)


Básico Instinto é uma obra que mostra como o artista carioca é fiel ao seu objetivo. É uma coleção de contos, praticamente todos passados nas ruas selvagens do Rio de Janeiro onde Katia Flávia, a Godiva do Irajá sai em vingança louca pela morte do seu homem. A verdade é que as histórias são simples, o que encanta ou causa repulsa, mas nunca passa incólume, é a linguagem explosiva de Fausto Fawcett. Há palavrões, mas nenhum está de graça, nem qualquer cena chocante. Tudo serve para compor esta versão brasileira, visceral e cruel do útero podre da grande metrópole.

As histórias, contudo, são as mais simples possíveis. Uma história de vingança. Um maluco homicida em fuga. Mais de uma vez temos o encontro de um homem e uma mulher que vem de pontos diferentes com histórias de vida em que os deixa sem nada a perder e que tem um encontro de almas regado a sexo louco (como em Santa Clara Poltergeist). Experimentos biológicos e genéticos. A ultima sessão do livro tem contos curtissimos que montam um mosaico de um futuro onde idosos são discriminados por precisarem tornar-se ciborgues e entregar pizza para sobreviver, entre outras maluquices.

Ler Fawcett é uma experiência única e quem gosta e não liga para as repetições, pois sempre quer mais e quem não gosta vai descobrir lendo um ou dois contos que isso não lhe serve. Eu gosto e quero mais.

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segunda-feira, 4 de março de 2024

Resenha #325 As Artes Mágicas do Ignoto (G. G. Diniz e Dante Luiz)

As Artes Mágicas do Ignoto foi uma daquelas campanhas no Catarse que eu queria ter participado mas acabou ficando fora do orçamento. Felizmente a editora Corvus colocou em sua lojinha virtual e entrou para a minha lista de leituras. Adorei a proposta de homenagear a Rainha do Ignoto de Emília de Freitas. Achei que seria um resgate direto, alguma espécie de continuação moderna da história original, mas na verdade trata-se mais de uma versão brasileira de uma escola de magia, que já existe por ai. Confesso que fiquei em dúvidas se seria bom ou não. Felizmente minhas dúvidas foram dirimidas e a leitura me empolgou mais que esperava.

Todos os contos se passam no mesmo universo, no mesmo lugar. O Instituto Ignoto, que fica instalado em uma ilha mágica embarcada no casco de uma tartaruga gigante que perambula pela costa norte e nordeste do Brasil. Temos a presença de alguns personagens que aparecem em todos os contos, quase sempre como coadjuvantes. O diretor Balthazar e a bibliotecária Fabiana, além do Arnaldo, o vira-lata caramelo que perambula pela escola e, como toda boa escola, tem seu cãozinho mascote involuntário. Há também pequenos inserções de personagens que me arrancam sorrisos de canto de boca quando percebidos. Contudo, isso é apenas um tempero para o que realmente importa. Há uma criação de mundo permeando histórias sensíveis, divertidas e tocantes num ambiente escolar e mágico. Vale citar a representatividade em todos os protagonistas das histórias. Acredito que esta é o maior legado da obra de Emília Freitas, pois em seu tempo a escritora pôs sua pena a defender a causa das mulheres, da abolição e do espiritismo (muito contestador na época, não o lamentável antro de conservadorismo barato de hoje) e vislumbrou um lugar onde a magia para o bem fluía livremente e podem ter certeza que o Instituto Ignoto é exatamente isso. 

A antologia abre com 2+2 da co-organizadora G. G. Diniz, onde uma física talentosa tenta provar uma tese mas não leva em consideração o que estava na sua cara o tempo todo. Em Anexo de Delson Neto conta sobre Jussara, uma RH do Instituto, que leva seu trabalho a sério demais até que seu próximo entrevistado para uma vaga em aberto para professor de Artes que leva a vida de forma tão bagunçada quanto o longo dia que a aguarda. Conto muito divertido, muito diferente da pegada de seu livro cybeprunk. Entre Terra e Mar, (Larissa Usuki) conta sobre suas meninas, uma sereia e uma aprendiz de magia, que passam a se gostar tanto quando gostariam de levar a vida uma da outra. Segredos da Noite (Sol Chioro) começa com um encontro noturno ao acaso com um espírito e sua irmã com uma ex-aluna e se desenrola num mistério que só eles e uns latidos podem resolver. Filho de Ossaim (Camila Cerdeira) explora os adeptos de religiões afro-brasileiras dentro da escola que lutam invocando espíritos e orixás contra uma desconhecida hora de seres medonhos enquanto um amor tenta florescer. Destinos Trançados (Lavínia Rocha) é uma das histórias mais fofas do livro. Uma típica paixonite leva uma menina a colocar seu grande amor numa enrascada. A narração é feita cheia de interferências divertidas que combinam muito com o texto. Uma pena não haver mais variações narrativas no livro. Justiça (L. V. Matos) fala sobre o bullying quando uma menina que sofre abuso de outra maior ganha uma poção que permite controlar a vontade de sua valentona. Fora d'Agua de Waldson Souza trouxe a história de um rapaz pertencente a uma raça de seres aquáticos que nunca soube de sua mãe até que recebe a notícia de sua morte e tem que tomar decisões muito importantes para sua idade. Uma das histórias melhor escritas do livro, pois o autor tem um domínio e habilidade na condução dos dilemas complicados, tornando-os atrativos na leitura. Desenlaços (Nair Nascimento) conta a história de uma meia caipora que regressa ao Instituto Ignoto, mesmo sem boas lembranças do lugar, e carregando seu dom de conversar com espíritos. Achei bastante maduro e com uma história muito intrigante. Encerrando a antologia, Os Princípios da Confiança (Dante Luiz) tem o diretor Balthazar como protagonista com uma história sobre mestres e aprendizes, que aprofundou o personagem com apenas uma decisão que lhe cabia tomar. Gostei tanto do personagem e do seu tratamento na história, que acho merecedor de um livro só para narrar sua vida no Instituto.


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Resenha #324 Primeiras Estórias (João Guimarães Rosa)

Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa é uma coleção de contos do autor clássico. Como é uma obra de um autor clássico. Os resumos de cada história analisados em toda sua simbologia e relevância  podem ser encontrados em resumos escolares na internet. Este blogue não se pretende a ajudar estudantes de literatura a fazer trabalhos, apenas relatar breves impressões dos livros que li. A obra tem o seu conto mais reconhecido, A terceira margem do rio, definitivamente o mais intrigante e profundo do livro. Onde um menino passa a vida inteira tentando lidar com o pai que decidiu ficar parado em uma canoa no rio esperando que ele voltasse. A leitura mais óbvia é que se trata de um conto sobre o luto e confesso que me tocou profunda e pessoalmente.

Há outros contos muito gostosos de ler e outros nem tanto. Guimarães Rosa tem uma escrita bem peculiar, e difícil de se acostumar. Para mim ficou mais fácil imaginar que estava declamando a história (já que ler alto estava fora de cogitação para mim). Senti um ritmo de fala na forma de organizar os pensamentos, como se as coisas saíssem sem pensar em ordem mas obviamente o texto foi muito bem planejado pelo autor, que insere muitas sensações do jeito simples de falar do povo que vive em suas histórias. Há um artigo acadêmico em forma de introdução na obra que sinceramente pulei antes da metade de suas quarenta páginas. Confesso que ele poderia ter me ajudado a gostar mais do autor, mas não tenho mais a mesma paciência para textos técnicos como tinha há dez anos. Se caso este livro cair em suas mãos (como foi o meu caso) pode ler inteiro, mas se tiver dúvidas, comece por A terceira margem do rio e pare se não gostar deste. Depois dê outra chance quando adquirir mais experiência como leitor.

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Resenha #323 Paraíso Líquido (Luiz Brás)

Paraíso Líquido de Luiz Bras é uma coleção de contos de 2010 onde já podemos ver as aventuras narrativas e que marcam sua ficção científica, antes de adicionar o humor que hoje é mais presente nos seus contos. O livro abre com Primeiro contato, uma história que embarca no universo infantil de uma aventura doce e sincera. Virando do avesso, Memórias é uma história que hoje chamaríamos de muito Black Mirror, mas antes de Black Mirror (2011) em que uma mulher duvida de tudo a sua volta, família, casa e relacionamentos. A tensão impera nos diálogos tensos e uma revelação estarrecedora. Nuvem de cães-cavalos parece acontecer no mesmo universo do conto anterior, com um encontro/duelo de um homem e uma jovem alucinação. Já Daimons é uma cruel brincadeira de entidades encarnadas em brinquedos com crianças inocentes, que poderia ser de um terror oitentista mas mais pesado.

Aço contra osso é um jogo de gato e rato virtual. Nostalgia começa como uma história de paranoia, bem philipkdickiana, onde não sabemos o que é real e não, para nos brindar com um final muito intrigante. Déja-vu é uma história de viagem no tempo que pode ser lida de trás para frente. Coisa que fiz assim que terminei o último conto e funciona muito bem. São Paulo, 31 de julho de 2013 é um conto epistolar com uma dose cavalar de sarcasmo, assim como Cruzada, que segue com o sarcasmo sobre a nossa pequenez frente a um grande mistério. Futuro presente é outra história de viagem no tempo, usando uma premissa antiga, um personagem congelado por muitos anos acordando num longínquo futuro, com o diferencial de que ela começa a história nos revelando que sabe quando vai morrer. Singularidade nua nos joga na space ópera com uma missão controlada por crianças trigêmeas criadas para habitarem em suas naves, para investigar um misterioso buraco negro. Protagonistas e figurantes conta a história de um acidente que atravessa a vida de várias pessoas que tiveram o azar de estar no lugar errado na hora errada, juntando um mosaico de pessoas e situações. Um quebra-cabeça cyberpunk. Por fim, Paraíso líquido é o maior conto e, por ter o nome do livro, o que mais me gerou expectativas, contudo, não consegui me conectar com a história e os personagens, que são elementos e emoções. 

Mesmo não curtindo o último conto, o livro é muito bom. Como é uma reunião de contos publicados em revistas e antologias, se apresentam em várias abordagens e tamanhos diferentes, mas dali podemos vislumbrar as experimentações, o trato na linguagem e um escritor que vai deixando o pessimismo de lado e começa a abraçar o humor, adicionando a brasilidade na sua ficção científica.

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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Resenha #322 Obra Completa (Murilo Rubião)

Obra Completa de Murilo Rubião, como o nome sugere, traz toda a obra do contista que se tornou um antecipador magnífico do que seria chamado de realismo mágico no Brasil. Para quem gosta do estilo de Frans Kafka, Gabriel Garcia Marques, Adolfo Bioy Casares e Júlio Cortázar, vai gostar muito destes contos. O que mais marca nas leituras é a capacidade do autor de jogar o leitor nas situações mais diversas e malucas. Efeito esse que aumenta quando você lê vários contos em sequência. Nem todas as situações são sobrenaturais, mas a estranheza que perpassa as situações independe do lado mágico, ainda que este é potencializado quando aparece. Um dos contos que me marcou foi o de um grupo de filhos adotivos, vindas de famílias famélicas, de um fazendeiro que abusava física e psicologicamente deles. Uma vez que o velho morreu, os irmãos se juntam em casais (sabem que não são irmão de sangue) e tentam se achar nesse mundo com a moral que aprenderam. Outro conto que gostei muito foi O Edifício antecede em muito o tema de A torre da Babilônia de Ted Chiang, mas com uma cara ironicamente mais moderna, ao acompanhar um engenheiro responsável por erguer uma torre de centenas de pisos, porém havia uma previsão de que haveria uma grande crise quando chegasse no andar de número oitocentos. Nem todos os contos são bons como estes mas todos são bem curtos e chegam (ou não) logo onde o autor pretende chegar. Infelizmente o autor não é tão conhecido, mas se você der uma chance com este livro não vai precisar de mais nenhum outro, mesmo querendo ler mais.

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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Resenha #321 Jogo da (im)paciência (Giselle Fiorini Bohn)

Jogo da Im(paciência) é um livro de microcontos escrito pela Giselle Fiorini Bohn, que se encaixa numa modalidade literária pouco explorada, que são os microcontos. Como o nome sugere, são contos muito menores que contos comuns, na qual o autor explora a técnica de contar uma história com poucas linhas. Giselle mostra o que aprendeu neste livro com um livro muito bem montado, dividido em quatro partes (uma para cada naipe do baralho) e cada parte contendo treze contos (um para cada carta do naipe) e, além disso, cada uma dessas partes faz uma abordagem diferente, sendo alguns mais ácidos, outros mais cômicos, outros mais românticos e outros trágicos.

Dentro dos vários estilos de microcontos, Giselle constrói histórias completas com enredos grandes para tão poucas palavras em cada história, mas sem perder uma das coisas mais bacanas do microconto que é a capacidade de deixar o leitor completando e complementando a história com a própria imaginação. O microconto torna-se assim, muito mais instigador que a fonte de toda a história contada. Como num bom livro de microcontos, cada conto tem uma página (e não mais que isso) para chamar de sua e Giselle explora enredos emocionantes, no sentido amplo e variado da palavra, numa coleção que é tanto uma excelente forma de apresentar o microconto quanto para leitores experientes.

Para conhecer mais sobre a arte do microconto, recomendo o podcast do portal Lume onde Giselle foi entrevistada junto com Fernanda C. Barbetta e com este que vos bloga!

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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Resenha #320 Venha ver o por do sol e outros contos (Lygia Fagundes Telles)

Venha ver o por do sol e outros contos de Lygia Fagundes Telles é uma coleção de contos bastante popular entre as leituras de escola. Como trabalho em uma este livro caiu em minhas mãos. Apenas 100 páginas, contendo oito contos curtos, que podem ser lidos tranquilamente em um ou dois dias, ou em uma semana se você estiver muito atarefado. Os contos são de mistério, alguns brincam bastante com a barreira entre o real e o fantástico, sem se importar em deixar explicado se algo é sobrenatural de fato. Principalmente o conto que dá título ao livro "Venha ver o pôr do sol", outros brincam com a perspectiva do protagonista como "O noivo" e "O Menino". O suspense não está em uma trama mirabolante mas nas frases curtas e ágeis, muitas vezes tirando nosso fôlego e na habilidade de cercar o problema nos revelando aos poucos o que está de fato acontecendo. Os contos terminam com pouca suavidade, e resolvendo parcialmente os mistérios deixando um gosto amargo para os que não gostam de histórias abertas. Há a simbologia muito interessante com as cores, sendo o vermelho o amor, verde morte e transição, amarelo vida, preto trevas e azul espiritualidade. Mas as para mim é apenas um detalhe, pois a habilidade de prender o leitor no mistério é o melhor do livro. Gostei bastante da leitura! 

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