[LIVRO DE NÃO-FICÇÃO]
A reflexão sobre os drones já foi uma quase exclusividade da Ficção Científica. Um exemplo, é a Máquina de Governar (livro de Philip K. Dick, de 1960 e já resenhado no blog) que mostra o mundo governado por um computador (de nome Vulcan) que usa "Hammers", que hoje chamaríamos de drones, que executam qualquer dissidente do governo. Contudo, o drone agora é uma realidade, desenhada com os traços da política de Estado e não apenas pelos escritores de FC.
Em “Teoria do drone", o filósofo francês Gregóire Chamayou, desenvolve uma análise consistente do drone como arma, partindo desde as contradições implícitas nas questões técnicas da arma até as concepções de Estado que se remodelam através dela, que desembocam no que ele chama de Estado-drone. O autor se posiciona criticamente em relação ao drone e, como o próprio diz na introdução, espera que os argumentos da obra sirvam para ajudar os opositores das políticas que privilegiam esta arma.
Em “Teoria do drone", o filósofo francês Gregóire Chamayou, desenvolve uma análise consistente do drone como arma, partindo desde as contradições implícitas nas questões técnicas da arma até as concepções de Estado que se remodelam através dela, que desembocam no que ele chama de Estado-drone. O autor se posiciona criticamente em relação ao drone e, como o próprio diz na introdução, espera que os argumentos da obra sirvam para ajudar os opositores das políticas que privilegiam esta arma.
A desumanidade da arma “humanitária”: Chamayou tece suas ideias entorno do drone como uma arma desumana pois ela priva o adversário do combate ao não expor o operador ao perigo. Não se trata de uma chamada nostálgica aos antigos modos de fazer guerra mas de apontar as assimetrias que se acentuam fortemente no uso do drone armado e suas graves implicações na sociedade.
A assimetria mais óbvia é a capacidade de combate, o drone torna impossível ao alvo revidar seu ataque, desaparece o combate tornando a guerra uma caça. Outra, que se esconde nos discursos, é a assimetria do valor da vida em ambos os lados da arma, que com sua política de “risco zero” de vidas do lado dos militares estadunidenses, aumenta drasticamente o número de vítimas civis onde o drone opera.
A assimetria mais óbvia é a capacidade de combate, o drone torna impossível ao alvo revidar seu ataque, desaparece o combate tornando a guerra uma caça. Outra, que se esconde nos discursos, é a assimetria do valor da vida em ambos os lados da arma, que com sua política de “risco zero” de vidas do lado dos militares estadunidenses, aumenta drasticamente o número de vítimas civis onde o drone opera.
O autor usa os primeiros capítulos para traçar a origem das tecnologias que possibilitaram o drone e das políticas que as demandaram. Também é abordado o impacto no ethos militar, a mentalidade do guerreiro que orgulha-se de arriscar a sua vida, dado a ausência de combate no uso do drone. Nos últimos capítulos, a parte mais densa, Chamayou se vale da filosofia do direito em Kant, além de Hegel, Marx e Hobbes para refletir sobre a teoria de Estado influenciada pelo drone. Partindo da imagem do leviatã de Hobbes, Chamayou aponta o drone como uma forma de substituir o elemento humano da manutenção do Estado, o chamado Estado-drone.
Rebelião das máquinas e a falta de obediência
As estórias de FC costumam se pautar no antropocentrismo em relação as máquinas, como livro de Philip K. Dick que citei de exemplo ou no filme "Exterminador do Futuro 2", citado por Chamayou na obra. Geralmente as estórias que mostram robôs, drones, seres automatizados e as definem como armas que podem se rebelar contra a nossa vontade, ao contrário do que foram programadas, partindo daí o problema que as movimenta, tendo na solução o retorno da humanidade ao controle das máquinas. Chamayou contesta essa dicotomia: “Essa é uma formulação insuficiente do problema. O desafio real é o da autonomização material e política desse ‘bando de homens armados’ que é antes de tudo o aparelho de Estado.” ou seja, “Ao contrário do que sugerem os roteiros de ficção científica, o perigo não é que os robôs comecem a desobedecer; é justo o inverso: que nunca desobedeçam.”. É o total controle da máquina estatal é um perigo muito mais próximo.
As estórias de FC costumam se pautar no antropocentrismo em relação as máquinas, como livro de Philip K. Dick que citei de exemplo ou no filme "Exterminador do Futuro 2", citado por Chamayou na obra. Geralmente as estórias que mostram robôs, drones, seres automatizados e as definem como armas que podem se rebelar contra a nossa vontade, ao contrário do que foram programadas, partindo daí o problema que as movimenta, tendo na solução o retorno da humanidade ao controle das máquinas. Chamayou contesta essa dicotomia: “Essa é uma formulação insuficiente do problema. O desafio real é o da autonomização material e política desse ‘bando de homens armados’ que é antes de tudo o aparelho de Estado.” ou seja, “Ao contrário do que sugerem os roteiros de ficção científica, o perigo não é que os robôs comecem a desobedecer; é justo o inverso: que nunca desobedeçam.”. É o total controle da máquina estatal é um perigo muito mais próximo.
Sobre a leitura da obra: “Teoria do drone” é uma leitura relativamente fácil e envolvente, devido a clareza com que o autor expõe o tema, com sentenças complementares explicativas. Temos um forte posicionamento contra as ideias dos defensores do drone. O livro muito recomendado tanto para quem quer entender as dinâmicas atuais da guerra quanto para quem procura refinar suas especulações em mundos ficcionais.
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p.s. Em um trecho de "Piratas de Dados" (1988), de Bruce Sterling, um dos precursores do movimento cyberpunk, traz num diálogo, a dinâmica do uso de drones:
"- É como eles preferem trabalhar. Por controle remoto. Quando localizam os bandidos, atacam-nos com aviões-robô. Ficam perseguindo-os pelo deserto. Como hienas de aço matando ratos.
- Jesus!
- Eles são os especialistas, os técnicos. Aprenderam coisas no Líbano, Afeganistão e Namíbia. Como lutar contra terceiromundistas sem ser tocados por eles. Nem mesmo olham para eles, exceto pelos monitores dos computadores."
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