segunda-feira, 25 de julho de 2022

Resenha #245 Fuligem (Evelyn Postali)


"Fuligem" é um romance policial de Evelyn Postali que traz uma trama envolvente em que os personagens são submetidos a pressão de resolver um crime que parecia fadado a ficar sem solução. O grande trunfo da obra é o tratamento psicológico dado aos personagens que nos coloca em dúvida sobre quem está do lado de quem. 

A história começa com a investigadora de Polícia Civil, Estela Lopes, chegando de Caxias do Sul para Porto Alegre, Rio Grande do Sul e logo é recebida pelo preconceito por Alexander Medina, seu novo parceiro. Medina tem um grande caso não resolvido que acaba caindo no colo de Estela. O assassinato de Tim Harlet, jornalista inglês que trabalhava para um jornal que investigava um figurão rico chamado Evilásio Prates. Quando Estela começa a encontrar novas pistas para o caso, envolve-se com Benjamin Müller, filho adotivo da vitima.

As coisas complicam quando o envolvimento amoroso de Estela por Müller, desperta o ciúmes de Medina e segredos cabeludos. O grande trunfo da obra é que os envolvimentos e conflitos amorosos e sentimentais se mesclam perfeitamente a trama, a medida que a investigação avança, pois realmente me confundiu sobre quem seria o assassino. Quanto ao desenlace, teve alguns momentos que poderíamos chamar de clichê, que quando bem feito é muito bom e ainda reservou umas surpresas. Ainda que a história tenha um encerramento, sem pontas soltas, podemos aguardar uma sequência. Espero que venha!  
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segunda-feira, 18 de julho de 2022

Resenha #244 Brasa 2000 e mais Ficção Científica (Roberto de Sousa Causo)


"Brasa 2000 e mais Ficção Científica" de Roberto de Sousa Causo é uma antologia, parte da coleção Futuro Infinito, muito representativa da versatilidade do autor, principalmente na Ficção Científica, retirados de diversas publicações. Como fã do trabalho do autor, foi muito bacana encontrar contos de publicações antigas e, por vezes, difíceis de encontrar. O livro celebrou isso da mesma forma que Fanfic, de Bráulio Tavares, lançado na mesma coleção. Vamos falar dos contos em separado.

A primeira parte Aqui, Agora, Futuro Próximo, trouxe contos com especulações e reflexões mais envolvidas com nosso presente. "Infiltrado" é narrado num fluxo de consciência que ao mesmo tempo que nos envolve numa sensação de fuga e nos entrega, aos poucos o contexto desta fuga entregando tudo na última frase. Uma aula de como não colocar infodump nas histórias e usar isso em favor dela para deixá-la mais instigante. 

"A mulher mais bela do mundo" conta sobre um fotógrafo brasileiro que encontra sua satisfação estética suprema e vê sua obra apreciada por um emissário do espaço. Adorei a forma como o debate entre o estético e o essencial é tratado aqui, num conto com desdobramentos instigantes.

"O salvador da pátria" um soldado acorda após um acidente aéreo, que vitimou todos os outros tripulantes. Contudo ele é auxiliado por uma indígena que lhe incumbe uma última missão. O conto se passa na floresta amazônica, um cenário muito caro ao autor que já escreveu uma trilogia de romances sobre a Amazônia. A índia logo revela-se vinda do futuro e a missão ganha uma importância extrema, contudo ainda coube espaço para uma discussão sobre o que afinal de contas é o Brasil. Mais do que fornecer qualquer resposta determinista, temos um punhado de boas reflexões que valem tanto quando a ação bem narrada, costumeira dos escritos do autor. 

"Pré-natal" acompanhamos Paulo, que busca proteção na ONU para proteger um segredo de Estado de uma nação totalitária. Seus segredo tem um potencial único de acabar com o domínio de um ditador aparentemente Imortal. De fato seria um pesadelo, existir um país assim, não é verdade?!

"Brasa 2000" acompanhamos uma fuga de um soldado, único sobrevivente do seu esquadrão em uma São Paulo devastada pelo exército argentino munido de drones estrangeiros. Menos importante que as grandes movimentações militares e tramas políticas, esta é uma história sobre um soldado lutando para sobreviver, a condições que ele não criou.  

A segunda parte, Tupinipunk, é um termo cunhado pelo próprio autor que é basicamente uma visão brasileira do cyberpunk. O primeiro conto é "A luta do Cangaceiro Jedi" que narra uma breve aventura de um hacker que disfarça grandes roubos de dados com atos puramente rebeldes. Vemos a abordagem tupinipunk florescer ao modo de falar brasileiro, no contra ponto do protagonista conversando com uma estrangeira russa bem politizada.    

"Para viver na barriga do monstro" o autor retorna a Amazônia para mostrar um indígena que trabalha em um centro de pesquisas em meio a uma pane tecnológica de escala global. Junto com sua namorada carioca e um colega estadunidense, vemos todos exibirem seu interior na eminência de um apocalipse tecnológico.

"Vale-tudo" é uma dos dois trabalhos de mais fôlego do autor neste livro. Acompanhamos Jareen, uma jornalista americana que vem ao Brasil para entrevistar um apresentador de programas policiais, ex-lutador de Vale-tudo (nome antigo para o MMA) André Mattar. Após um atentado durante a entrevista, Jareen se vê em meio a uma disputa política, rebeldes e um Brasil parcialmente destruído após um desastre nuclear. Vemos novamente o autor trabalhando as peculiaridades do Brasil contraponto com algum personagem estrangeiro, aqui a protagonista.  

A terceira parte contém apenas dois contos Steampunks curtos, que servem como homenagens, primeiro a H. G. Wells, em "A vitória dos minúsculos" onde a invasão dos tripods acontece no Rio de Janeiro e em "Dactilomancia", acompanhamos um inventor de máquinas de datilografia em busca da máquina perfeita quando suspeita da existência de seres de outro mundo habitando entre nós.

Por último e não menos importante, a última parte é uma Space Ópera que reúne seus dois personagens principais de suas sagas interestelares. Jonas Peregrino e Shiroma em "Tengu e os assassinos", uma noveleta que exemplifica bem a riqueza do mundo espacial do autor. Peregrino está em uma missão para salvar uma herdeira de uma dinastia nipônica, mas ela é perseguida por perigosos assassinos. Durante a missão o autor explora bem todas as variáveis, das políticas até as táticas. O resultado é a solidez e imersão nas histórias.
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segunda-feira, 11 de julho de 2022

Resenha #243 Estrela Vermelha (Aleksandr Bogdanov)


"Estrela Vermelha" de Aleksandr Bogdanov é um livro raro, pois poucos os envolvidos naqueles anos revolucionários na Rússia até a vitória da revolução se dedicaram a escrever ficção e menos ainda Ficção Científica. O autor teve uma formação intelectual muito vasta, da medicina passando pela matemática e física, contudo sua Ficção Científica, plenamente satisfatória no quesito hard também era muito sensível no aspecto social e humano. Esses dois aspectos são muito bem alinhados em Estrela Vermelha.

Acompanhamos a história de Leonid, contada por ele próprio através de um longo relato de sua experiência incrível. Leonid, assim como o autor, é um revolucionário do PSDR (Partido Social Democrata Russo), um bolchevique da velha guarda, que recebe um convite estranho de um colega estranho, que logo se mostra um marciano, chamado Menny, recrutando Leonid para visitar marte. Quando este aceita, segue um panorama pela vida e organização social do planeta vermelho, que aderiu ao comunismo. Mais do que uma mera exposição das conquistas do povo marciano Leonid é apresentado também ao lado sensível dos habitantes, incluindo um romance com Netty, a médica da expedição que o trouxe da Terra.

A escrita em forma de relato, é bastante rica em percepções do personagem que não deixa de ser trabalhado emocionalmente pelo autor. Inclusive, as partes mais interessantes, não são as técnicas como a especulação da radiação, recém desenvolvida por Mary Curie e as naves imaginadas escrupulosamente pelo autor. O desenvolvimento do amor e dos sentimentos numa sociedade comunista são brilhantemente imaginados. Antes de pensarmos em "amor livre", temos Bogdanov tecendo considerações avançadíssimas para seu tempo. Imagino como devia ter sido arrojado para os leitores de sua época, pois ainda hoje a leitura tem momentos de frescor tanto em aspectos sociais, quanto em aspectos das ciências duras.

O que pode desagradar eventualmente o leitor é que a trama não se movimenta muito no meio do livro, e depois de um início bastante movimentado e de um final curto mas também agitado, tem um desenvolvimento mais lento. Contudo é uma obra curta e que pode ser lida em uma ou duas sessões de leitura atenta. Recomendado!
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segunda-feira, 4 de julho de 2022

Resenha #242 O ciclo do macaco (Clare Winger Harris)


"O ciclo do macaco" de Clare Winger Harris é uma das histórias da autora que surgiu nas antigas revistas pulp dos anos 1920 nos Estados Unidos e que está sendo celebrada pela editora Cyberus com vários lançamentos de contos na Amazon. Este é um dos contos que foram lançados e o segundo da autora resenhado aqui.

Em O ciclo do macaco" acompanhamos a saga da família Stoodart quando na década de 1910 Daniel decide iniciar um empreendimento de domesticação de símios e macacos para substituir a mão de obra humana para trabalhos braçais e em poucos anos já obtém sucesso com algumas espécies, até que Beta o gorila mais inteligente e forte entre os animais de Daniel começa a se rebelar. Apesar do desfecho trágico a família Stoodart não desiste de levar o experimento adiante. Passa-se três séculos e os macacos estão em quase todas as posições de trabalho. Os macacos passam a se organizar e ensaiam uma revolução para sair do jugo dos homens mas Wil Stoodart, um descendente direto de Daniel, é o único que desconfia dos planos dos macacos.

A fórmula do conto lembra bastante as já conhecidas das revoluções das máquinas e me lembrou bastante "O Planeta dos Macacos" de Pierre Boule, no sentido de organização dos macacos mas sob um prisma diferente, o do confronto. Algo que só vi nos últimos filmes baseados na obra de Boule, onde uma humanidade enfraquecida tem de lutar contra os macacos em ascensão. Obviamente temos as limitações das extrapolações da literatura pulp de FC dos anos 1920. Levando-se isso em consideração é possível embarcar na viagem e ver um "protótipo" do filme Planeta dos Macacos: o confronto.
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