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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Resenha #240 Floresta é o nome do mundo (Úrsula Le Guin)


"Floresta é o nome do mundo" da Úrsula Le Guin é o terceiro livro do Ciclo Hainnish que chega ao Brasil em Português-BR, já havia sido traduzido em Portugal pela Europa-América. Foi uma excelente notícia pois estava difícil imaginar, que a Editora Aleph iria voltar a publicá-la mesmo já tendo publicado "A Mão Esquerda da Escuridão" e "Os Despossuídos".

Acompanhamos o encontro civilizacional dos Humanos da Terra com os nativos de Athshe. Distante 27 anos da Terra, os colonos da Terra impõe uma dominação brutal, ao modo europeu com os nativos indígenas. Da intenção para extrativismo, ao uso de trabalho escravo, os athesheanos não conhecem o uso da violência para aqueles que reconhecem como humanos (ou yumanos, na língua deles) enquanto que os colonos reduzem a animais, chamando-os de "creechies" - de criatura.

Apenas Raj Lyubov demonstra interesse em um intercâmbio cultural com os nativos. Dessa forma conhece Selver que após ter sua esposa estuprada e morta por Don Davidson, o típico brucutu que tem prazer na violência e mostra ao longo do livro como é desprezível. São esses os três narradores que intercalam a obra. Selver tem um papel crucial pois sua vivência o coloca como líder de uma revolta que pode por em risco a colônia yumana e nem uma comissão de emissários de outros planetas parece ser capaz de frear essa onda de violência que se anuncia.

Os hainianos, são a raça originária dos povos retratados nas obras de Le Guin, inclusive os humanos da Terra, porém essa civilização perdeu contato com suas colônias e elas se esqueceram umas das outras, de forma que todos são humanos. Em "Floresta é o nome do mundo" estamos no início da criação da Liga dos Mundos, com base na criação do anísvel, uma máquina capaz de comunicação interplanetária instantânea. Contudo, nem mesmo a jovem Liga pode evitar o confronto que se anuncia. Chama a atenção a relação dos athesehanos com os sonhos que os colocariam como um dos seres mais importantes para a Liga dos Mundos.

De volta a obra, Úrsula foi muito competente em colocar os dilemas ambientais, do colonialismo, ecologia em uma obra tão maravilhosa como triste, como de fato foi a história do colonialismo europeu, mas que pelo seu caráter ficcional, infelizmente envelheceu bem, permanecendo atual, pois uma vez que aprendemos algo, não podemos mais voltar atrás. 
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terça-feira, 11 de junho de 2019

Resenha #97 - Planeta do Exílio (Úrsula K. Le Guin)

"Planeta do Exílio" (1966) é junto com "O Mundo de Rocannon" uma das primeiras obras publicadas pela autora e faz parte do ciclo Hainnish que contam histórias que se passam em vários planetas onde a Liga dos Mundos busca intercâmbio cultural com planetas com menos tecnologia e complexidade civilizacional. É possível notar a qualidade da escrita da autora já neste livro do seu segundo livro e, lendo os seguintes, como evoluiu nas posteriores até chegar nas obras de maior sucesso: "A Mão Esquerda da Escuridão" e "Os Despossuídos". 

A história se passe no planeta Eltanin, também chamado de Alterra, 600 anos terrestres depois que a Liga dos Mundos abandonou milhares de colonos sem restabelecer contato novamente. Os alterranos que remanesceram estão definhando lentamente em sua cidade - Landin - enquanto convivem com seus vizinhos, os Tevar. São nativos do planeta ao qual a Liga estabeleceu contato quando da sua chegada mas hoje apenas aturam os alterranos devido as condições climáticas. Existe muito preconceito entre os dois povos, mas a chegada de um inverno terrível, num planeta em que as estações do ano duram uma geração inteira, e uma invasão em massa organizada pelos hostis Gaal, obrigam aos tevaranos e alterranos lutarem lado a lado. Em meio a esse conflito, Hiff Rolery, uma neta do líder tevarano Wold e Jakob Agat, o líder dos Alterranos se apaixonam e tentam selar uma aliança entre os povos para o iminente ataque dos Gaal. Contudo, apenas Agat parece disposto a passar por cima do preconceito para isso.        

A característica mais marcante da obra é a habilidade em misturar Ficção Científica e Fantasia, assim como vimos em O Mundo de Rocannon. A obra é essencialmente Ficção Científica, pois os colonos usam tecnologia avançada ainda que limitada pelas regras da Liga dos Mundos de não sobrepujar os nativos e todo o pano de fundo da própria da Liga dos Mundos. O elemento de Fantasia fica por conta de toda a ambientação e baixa tecnologia do mundo de Eltanin que remete muito a Fantasia medieval. Úrsula consegue mesclar os dois ambientes de forma coesa e escreve tudo isso em personagens com uma boa evolução e complexidade para um livro tão curto. Nesse ponto pode não agradar muito ser curto demais e as coisas se resolverem um tanto rápido, mas levando em conta que é a segunda obra da autora (a primeira foi lançada no mesmo ano) e que as obras seguintes são melhores trabalhadas, nos mostra que Úrsula Le Guin no início de sua carreira ainda é excelente! Enfim, recomendo a obra para quem quer saber mais da Liga de Todos os Mundos, que gosta de uma boa mistura de FC e Fantasia e que quer apreciar uma boa escrita.

Segue a ordem cronológica das obras do Ciclo Hainnish, junto com o ano de publicação de cada obra:
- Os Despossuídos (The Dispossessed) – 1974;
- Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest) – 1976;
- O Mundo de Rocannon (Rocannon’s World) – 1966;
- Planeta do Exílio (Planet of Exile) -1966;
- A Cidade das Ilusões (City of Illusions) – 1967;
- A Mão Esquerda da Escuridão (The Left Hand of Darkness) – 1969;

- The Telling – 2000;
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segunda-feira, 8 de abril de 2019

Resenha #89 - A Cidade das Ilusões (Ursula Le Guin)

A Cidade das Ilusões (1967) é o terceiro livro de Ursula Le Guin do ciclo Hainnish, aquele que se passa no mesmo universo dos livros mais conhecidos da autora: "A Mão Esquerda da Escuridão", "Os Despossuídos" e o menos conhecido, "O Mundo de Rocannon", resenhados aqui. Também já titulada como "Viagem no Tempo", a edição que li é da Editora Argonauta em português lusitano, que ficou bastante palatável aos olhos brasileiros o que facilitou bastante a apreciação da leitura.

A história se passa na Terra, muitos séculos no futuro, depois de entrar na Liga dos Mundos e das guerras que a isolaram de outros planetas humanos, obrigando as populações a ficarem em pequenas tribos impedidas do progresso como conhecemos por causa dos Shings, os imperadores do mundo conhecidos como essencialmente mentirosos. Numa dessas tribos, Falk é abrigado, sem memória inclusive da origem e de sua aparência notoriamente alienígena (cor clara e olhos amarelos como um felino). Após cinco anos recluso reaprendendo tudo, com o que a tribo podia lhe oferecer Falk decide explorar o mundo e encontrar a verdade sobre si e é ai que a jornada começa e nela se compõe toda a narrativa do livro.

Quem já leu algumas obras da autora sabe que a escrita e a imaginação é o forte e aqui não é diferente. Apesar de considerado não tão bom quanto os livros mais conhecidos, cabe citar uma diferença positiva entre as outras obras já resenhadas da autora: Temos um mistério intrigante a respeito de quem é Falk, e após as revelações que vão acontecendo durante o livro. Elemento que não pautaram os outros livros da série e não são comuns nas obras da autora. Achei algo bem vindo. O ponto negativo é o final que ficou, senão em aberto, com possibilidades de contar mais o que acontece, mas ai voltamos a característica da autora de se ater a jornada e a mudança do personagem do que explicar o contexto geral de tudo.

Recomendo a leitura porque a obra se basta (para quem vai ler apenas este livro) tanto quanto traz mais informações sobre a Terra e a Liga dos Mundos para quem, como eu, quer ler todos os livros do ciclo. Para esses, é leitura obrigatória! 

Segue a ordem cronológica das obras do Ciclo Hainnish, junto com o ano de publicação de cada obra:
- Os Despossuídos (The Dispossessed) – 1974;
- Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest) – 1976;
- O Mundo de Rocannon (Rocannon’s World) – 1966;
- Planeta do Exílio (Planet of Exile) -1966;
- A Cidade das Ilusões (City of Illusions) – 1967;
- A Mão Esquerda da Escuridão (The Left Hand of Darkness) – 1969;
- The Telling – 2000;
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