segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Resenha #309 A mão que cria (Octávio Aragão)

A mão que cria é um romance de Octávio Aragão, autor experiente na escrita de ficção científica mais conhecido pela sua série Intempol. Contudo, este é a primeiro romance que li do autor. Esta é uma das últimas obras da pilha de livros steampunks que tinha separado para me preparar para organizar a antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor. Tudo isso para descobrir (depois que já havia comprado) que a obra de 2006 não é steampunk, mas dieselpunk (até porque o primeiro livro steampunk brasileiro é Baronato de Shoah do Oghan N'thanda.). Isso já explica porque ficou por último, mas no fim das contas, acabaria entrando no meu radar de qualquer forma, então vamos a ela.

A narrativa é fragmentada no tempo e os personagens que se cruzam o tempo todo, mas acredito que a centralidade acaba sendo a rivalidade entre Lours e um ser misterioso chamado O Ariano (fica bastante óbvio em sua primeira aparição ser o monstro da obra Frankenstein). Neste mundo temos uma história alternativa onde a França e a Alemanha acendem como potências por dois motivos. Na França, Jules Verne (aqui Prefeito de Paris, depois Presidente da França) levam ao desenvolvimento de homens modificados com genética de golfinhos, tornando superdesenvolvidos mas segregados racialmente, a ponto de ganharem um Estado como foi feito com Israel, chamado Lemúria. Lours é o líder desses homens golfinhos que impediram o a tomada da França pelo 3º Reich. Na Alemanha, O Ariano é quem esteve nos bastidores da ascensão de Hitler e do 3º Reich e criou tropas de mortos-vivos que quase tomaram a França. É nesse clima de guerra, tanto antes quanto depois da Segunda Guerra Mundial, que acompanhamos uma série de eventos que envolvem diretamente ao menos um desses personagens, quando não é narrado pelos próprios.

O grande atrativo é toda a estrutura e História deste mundo alternativo. Digo História, no sentido de emular um conhecimento de um processo político e econômico deste mundo imaginado. Tudo ficou muito convincente e empolgante de acompanhar e desvendar. O que senti mais falta foi de um aprofundamento na personalidade dos personagens pois suas limitações eram basicamente os seus objetivos. Com exceção do trecho que acompanha uma expedição a cratera de meteoro sobre Tunguska em 1908, onde o grupo de viajantes teve um bom desenvolvimento, os demais personagens são psicologicamente simples demais. Lours, por exemplo, tem um temperamento muito difícil por conta de suas mutações mas não difere essencialmente de um cara brigão e muito mal humorado. Contudo, para quem curte muita ação e imaginar processos históricos alternativos, temos um prato cheio e acredito que justamente por isso, a narrativa fragmentada não ajuda muito. O saldo geral é bom!

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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Resenha #308 Paradoxo de Theséus (Alexey Dodsworth)

Paradoxo de Theséus do Alexey Dosdworth é o segundo livro que li da coleção Dragão Mecânico da Editora Draco. É uma coleção com livros curtos com 126 páginas. É muito bom voltar a ler outro livro do Alexey que nos brinda com histórias com uma ciência muito apurada e inventiva, mas sem perder de vista qualidades literárias que tornam suas obras muito divertidas de ler. Difícil não sair entretido com seus livros e aqui não foi diferente. E antes de falar da história, quero decretar quem não se encantou com a pureza de Ângelo, não tem coração.

Vamos a história. Estamos em 2071 e acompanhamos o cientista brasileiro Thomas Rocco, em sua vida de exilado de um governo anticientífico fundamentalista religioso em Utreque, na Holanda, onde está desenvolvendo um projeto científico Basilisco, que pretendia reunir várias mentes científicas reconhecidas, de várias áreas do conhecimento para uma única inteligência artificial. Alexey não esconde, nas primeiras páginas que o projeto devastou a cidade de Utreque e que, antes disso Rocco teve um terrível revés numa entrevista sobre o projeto. A forma de polarização entre os cientístas e os conservadores humanistas e, também os militantes da defesa da vida animal se cruzam numa configuração que acompanha o avanço tecnológico. Tal como tem estado em debate, com autores como Yuval Harari, que já abordamos no blogue.

O que a habilidade do autor nos mostra é que o que importa, na verdade é o como essas coisas acontecem. Temos uma boa quantidade de revelações e surpresas em um romance curto o que torna a leitura cheia de movimentação. Um romance muito gostoso de ler, que aborda alguns conceitos complicados mas que na voz do autor se tornam de entendimento muito fluido.   

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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Resenha #307 Oceano dos Mil Deuses (J. M. Beraldo)

Oceano dos Mil Deuses do J. M. Beraldo foi o fim (até então) de uma jornada pelo mundo da Série Reinos Eternos que ele criou. Quero falar sobre este livro, mas é impossível seguir sem mencionar essa série de três romances que nos submerge em três continentes diferentes (Império de Diamante, Último Refúgio e Sombras e Ecos). Uma viagem cultural abordando a questão de refugiados, escaramuças políticas e religiosas, e ação de qualidade. Me surpreendi com o autor como contista, nem sempre bons romancistas dominam o conto. O que me puxou pela obra foi voltar a série mesmo que numa publicação curta. Só tinha lido os romances e achei que ele se saiu melhor no conto, mesmo adorando os romances (estamos nivelando pelo alto aqui)

Os contos exploram algumas passagens que se passam entre os romances da série, fornecendo algumas respostas para algumas lacunas, mas antes de mais nada, principalmente nos divertindo com boas histórias, passadas em pontos não explorados no mundo criado pelo autor. Aliás, este mundo é de uma riqueza e diversidade exuberantes. Dá gosto explorar e conhecer os locais com suas manifestações religiosas e politicas, carregadas de mágica e violência, mas sem ficar pesado. Há um humor bem dosado e bem vindo em meio a estranheza que as culturas desses povos geram, tanto em nós quanto nos personagens.

Sobre os contos, dos cinco, três são protagonizados por Kasim. No primeiro, A Voz de G'ganch, ele é contratado para levar dois homens a uma ilha onde vive uma tribo que fornece misteriosas e caríssimas frutas, mas que enfrenta uma diminuição repentina no fornecimento do produto. Obviamente, há um mistério muito bacana de se acompanhar sobre o que se passa realmente nessa ilha. No segundo, Barracuda e a máquina misteriosa, acompanhamos a capitã Kayra que lidera com frieza e crueldade o barco Barracuda Negra e vê uma oportunidade de enriquecimento quando se depara com uma máquina complexa e engenhosa. O final foi cruel e de tirar um riso do rosto, pela forma como foi contado. No terceiro conto, De sonhos e pesadelos, voltamos com Kasim que faz escolta a um barco, mas os planos quanto a missão mudam quando o barco é invadido por um cardume de criaturas peixe carnívoros que exigem um quarto dos passageiros como pedágio e apenas Kasim tem experiência prévia com esta raça em Último Refúgio.

Em O Escolhido, Kasim faz dupla com Anton e recebe a missão de assassinar um alvo que comanda um culto, porém o homem que havia matado era um impostor. Ugarte, o contratante, designa um novo alvo mas os assassinos temem que foram enganados. Conto com muita ação e sanguinolência, com um desfecho muito satisfatório. Por fim, Taniwha se passa na Ilha de Ibukun onde uma jovem cientista de Niparsha, (cidade que aparece no livro em inglês do autor) é resgatada por um enviado de sua terra natal junto de um certo mercenário de Myambe. Eles embarcam numa jornada em que o humanismo e o ceticismo de Aghata são colocados em dúvida pela fé de um garoto prestes a morrer.

Os contos são bem divertidos. Leria um livro de 1000 páginas, com essa pegada, sem me cansar. Porém, infelizmente ele só tem 100. E não sei quando o autor vai retornar a esse universo, mas quando acontecer estarei pronto para uma nova aventura. Considero esse livro uma nova possibilidade de começar a ler a série, pois acho que se o leitor não quiser começar com "Império de Diamante" pode começar com este livro pequeno mas muito gostoso de ler, sem prejuízo ao entendimento dos livros da série!

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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Resenha #306 Mestre das Marés (Roberto de Souza Causo)

Mestre das Marés é uma sequência direta de Glória Sombria, e faz parte do Universo GalAxis, que o Roberto Causo vem publicando há 15 anos. Além desses dois romances, existem vários contos e que incluem a saga da assassina Shiroma. Em Mestre das Marés temos a segunda missão do capitão Jonas Peregrino dos Jaguares do 28º GARP que tem a missão principal combater os tadais, uma misteriosa presença no espaço que comanda naves robôs com o único (aparente) propósito de matar.

A historia começa quando o 28º está investigando a presença de tadais quando é chamado em uma missão de resgate de uma estação científica perto de um buraco negro chamado pelos aliados do Povo de Riv de Agu-Du'svarah ou Firedrake para os pesquisadores. A presença de um artefato com tecnologia superior a da humanidade no século 25 é o que atraiu tanto as forças da Esquadra da Latinoamerica quanto dos tadais. Por trás de um resgate relativamente simples, as peças de um jogo que envolve conhecimento estratégico, potências humanas da Terra e as raças que coabitam com os humanos na área de alcance da colonização terrestre.

O que chama a atenção é a imersão que o autor proporciona com um uso e tratamento dos jargões militares. Diferente do que nos acostumamos com os filmes americanos, não há aquele clima de piadas de quem tenta usar o humor para mascarar o fato de que podem morrer a qualquer momento. Peregrino é um oficial com uma longa carreira, que apesar de saber que pode, de fato, morrer a qualquer momento, tem uma missão longa no comando do 28º GARP e tem a mente mais preparada e enfrenta desafios correspondentes a seu preparo e experiência de vida. Em outras palavras, são militares sérios e dão o peso que uma space ópera precisa para ser levado a sério. Há muita ciência, exposta de forma prática (como um militar faria) e tem cenas de ação muito boas, mas sem operações impossíveis e inconsequentes. Alias, as consequências dos atos dos militares é um tema que foi abordado em Glória Sombria, que continua repercutindo no segundo livro, afinal há um inquérito abordando os eventos finais do primeiro livro. Em paralelo, temos a história narrada em primeira pessoa pela jornalista Camila Lopes, a quem foi encomendada uma reportagem sobre a personalidade do Capitão Peregrino, com intuito de destruir sua imagem. Linha narrativa que daria, por si uma noveleta excelente, explorando um ponto de vista externo ao protagonista. Outro paralelismo bacana é com a viagem de Dante ao inferno, pois um planeta atingido pela energia de um buraco negro, despido de sua atmosfera, é facilmente associável ao inferno. Inclusive, Peregrino relembra em vários momentos de alguns trechos da obra.

Mestre das Marés, felizmente não termina a saga de Peregrino nesta fase como capitão de sua frota de naves espaciais. O livro é um prato cheio para quem gosta de space opera e ficção científica militar, mas recomendo ler antes Glória Sombria, mas não obrigatoriamente os contos do personagem para entender melhor esta obra.

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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Resenha #305 Zine Book (Denilson Reis)

Olá pessoal! Essa semana quero falar sobre o Zine Book do Denilson Reis. E o que seria um zinebook? Basicamente é um compêndio de várias publicações de um fanzineiro, editor de revistas independentes, feitas por quem é fã dequadrinhos. E Denílson Reis é com certeza um dos mais conceituados e experientes fanzineiros do Brasil. Sua publicação principal Tchê! já tem mais de 30 anos, além da Conanzine e de publicações em conjunto com outros fãs das HQs. Essa coleção traz um compilado das aparições de seus personagens ora escritos por ele, ora escritos por outros artistas, em um formato grande e em papel grosso, que é bastante incomum para material independente, mas aqui é uma edição especial de luxo.

Nem cabe listar todas as histórias, pois muitas já apareceram nos zines do editor que já resenhei aqui no blogue. A fanzine Quadrante Sul e a revista do Peryc mas posso comentar que a arte da primeira página arte é uma das que mais gostei do Peryc, pois é a história onde ele aparece mais violento e brutal, na Peryc volume 3. O grande atrativo do livro é a qualidade do material impresso, em tamanho 21x28 e uma gramatura mais pesada. A leitura e principalmente a releitura das histórias vale muito a pena pelo tamanho maior que permite ver as imagens e os traços com mais detalhes. Espero que um dia saia o volume dois, pois conteúdo tem!

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