segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Resenha #320 Venha ver o por do sol e outros contos (Lygia Fagundes Telles)

Venha ver o por do sol e outros contos de Lygia Fagundes Telles é uma coleção de contos bastante popular entre as leituras de escola. Como trabalho em uma este livro caiu em minhas mãos. Apenas 100 páginas, contendo oito contos curtos, que podem ser lidos tranquilamente em um ou dois dias, ou em uma semana se você estiver muito atarefado. Os contos são de mistério, alguns brincam bastante com a barreira entre o real e o fantástico, sem se importar em deixar explicado se algo é sobrenatural de fato. Principalmente o conto que dá título ao livro "Venha ver o pôr do sol", outros brincam com a perspectiva do protagonista como "O noivo" e "O Menino". O suspense não está em uma trama mirabolante mas nas frases curtas e ágeis, muitas vezes tirando nosso fôlego e na habilidade de cercar o problema nos revelando aos poucos o que está de fato acontecendo. Os contos terminam com pouca suavidade, e resolvendo parcialmente os mistérios deixando um gosto amargo para os que não gostam de histórias abertas. Há a simbologia muito interessante com as cores, sendo o vermelho o amor, verde morte e transição, amarelo vida, preto trevas e azul espiritualidade. Mas as para mim é apenas um detalhe, pois a habilidade de prender o leitor no mistério é o melhor do livro. Gostei bastante da leitura! 

Leia Mais ››

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Resenha #319 Véu da Verdade (J. M. Beraldo)

Véu da Verdade é uma space ópera brasileira escrita por J. M. Beraldo e chegou as minhas mãos em uma promoção que o próprio autor fez antes de se mudar para o Brasil. Já conhecia o autor da sua série Reinos Eternos, e quis saber como seria uma space ópera e a surpresa foi muito grata.

Acompanhamos as aventuras da tripulação do cargueiro Lucille pelo futuro daqui há dois séculos, onde descobrimos a existência de vida alienígena. E bota vida nisso. A verdade é que somos uma espécie de "reserva ambiental" para as raças da Liga dos Mundos, de tão atrasados que somos. E não há nenhuma chance de sermos aceitos na Liga, pois seria como um formigueiro pedir adesão a ONU. Esta é apenas uma das diversas ironias e sacadas do autor para a raça humana que sempre se vê como o centro da vida inteligente no universo. Falava sobre um cargueiro, não né?! O Capitão da nave é Alex Bourdain, que tem na tripulação um ser insetoide prestativo, uma inteligência artificial que pilota a nave e não tem muita consideração pela vida humana; Flávia, uma carioca fugida de uma guerra no Brasil e do minerador nascido no Cinturão de Asteroides. Como se trata de uma nave que faz todo tipo de frete, mais personagens vão surgindo como passageiros, entre eles um cientista desastrado de São Paulo, um ser que muda de forma e um bilionário nobre. Em meio a tudo isso, temos a perseguição de um mercenário chamado Arturo que deseja a cabeça de do Capitão Bourdain.

Temos uma história muito movimentada e cheio de elementos, e um mundo rico e retratado cheio de humor, mas sem sacrificar uma história bem contada para nos fazer rir. Inclusive temos uma virada (plot-twist) sensacional para o desfecho da história. A edição é comemorativa dos 10 anos de lançamento da obra e é de 2015. Infelizmente tem uns erros de digitação, mas não atrapalha a fluidez da leitura. Contudo, merece ser resgatada principalmente para os leitores que querem uma leitura com humor, ação e um mundo muito bem construído. Se este livro cair em suas mãos, leia e me agradeça. Se não, dê seu jeito e me agradeça também.

Leia Mais ››

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Resenha #318 Solitude (Erick Santos Cardoso)

Solitude é o quarto livro da Coleção Dragão Mecânico que já li e é o mais divertido, mais leitura de praia da coleção até aqui e nisso (vale sempre insistir) não é nenhum demérito. Saber entreter com uma premissa divertida e cativar o leitor com um texto menos dramático e uma trama mais ágil e sem tantos jogos linguísticos é um feito e tanto. Solitude fez exatamente isso.

Os mais velhos vão lembrar dos jogos de navinha dos anos 1980 e 90, como Galaga, STG, Gradius ou Star Fox, onde naves espaciais destruíam alienígenas monstruosos que vagavam pelo espaço. A historia de Axel e seu esquadrão parece ser uma versão romanceada destes jogos. Eles vivem em Eden, uma colônia humana relativamente recente que foi atacada por uma frota de seres que combinam vida orgânica com metal em suas naves, ou seja, eles são as naves. Em um primeiro momento são derrotados por Axel, quanto era um ás sob o comando de Gládio, mas passado alguns anos, uma pandemia deixou a colônia de Eden acuada sob o risco de ser varrida do mapa. Uma missão, liderada em Terra por Gládio e Axel a frente do esquadrão se lançará no espaço para encontrar e neutralizar o coração desta ameaça.

A história é contada em vários capítulos pequenos que vem e voltam no tempo, intercalando a ação com momentos da vida dos pilotos e o relacionamento entre eles, muitas vezes conturbados e cheios de mágoas. É muito bacana o conceito das naves coração que usam da tecnologia copiada dos inimigos para dar alguma chance a missão, considerada por muitos inútil e suicida. Além disso, ela dá alguma explicação a todas as coisas que parecem, a primeira vista, intransponíveis dos jogos para uma narrativa longa em prosa. Cada vez que entendia esses momentos, um sorriso foi arrancado do meu rosto. Isso que não cheguei a mencionar a ação muito bem narrada e empolgante. Uma leitura curta e alucinante, que recomendo bastante.   

Leia Mais ››

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Resenha #317 O homem que não queria matar (José C. Peu)

O homem que não queria matar é o livro de estréia do JC Peu, que é o host do canal Te Conto Ficção Científica e foi um grande acerto dele. Temos um livro que se inspira nos clássicos da distopia com um olhar afrofuturista, conectado ao Brasil como poucas obras conseguiram fazer até agora. Acompanhamos Alberto que é um Comissário, eufemismo para um assassino que serve a empresa/governo que extermina os membros pouco produtivos da sociedade. Estamos em um futuro onde a área do Rio de Janeiro tornou-se o polo produtor e exportador de bananas para todo o planeta. Sabemos pouco sobre como é o resto do mundo, assim como o protagonista, que narra em primeira pessoa suas descobertas oriundas de sua dúvida com relação ao mundo que vive. Alberto é o único negro entre os comissários, em uma sociedade que extermina a população negra considerada improdutiva. Seus superiores, os Conselheiros, decidem que uma nova faixa da sociedade como novo alvo para o extermínio. Momento esse que é o ponto de virada para Alberto.

O ponto forte do livro é para a condução da história pelo autor. Não há uma história fora comum nas distopias, pois assim como o bombeiro Montag, de Farenheit 451, Alberto também se rebela mas acompanhar esse processo não foi uma viagem fácil. A escrita fluída do Peu, nos obriga a virar páginas enlouquecidamente mas as cenas fortes cobram um peso em nosso coração. É um livro forte que penetra e devasta, pela simplicidade com que nos expõe as partes mais sensíveis e cruéis da nossa sociedade. Temos o óbvio gritando e perfurando a carne dos desavisados, sobre a violência. Uma chacoalhada necessária. 

Leia Mais ››

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Resenha #316 20 Relatos Insólitos de Porto Alegre (Rafael Guimaraens)

20 Relatos Insólitos de Porto Alegre foi uma leitura de exploração para um livro que estou escrevendo. Sendo assim, as expectativas que a leitura gera são diferentes da de uma leitura causal. Meu livro será uma extensão dos meus contos A Sombra da Rua do Arvoredo" que lancei avulso em e-book pela Amazon e Um Crime no Mercado Público que saiu na antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor. Não buscava por histórias para adaptar ao subgênero steampunk mas por insights de lugares e personagens históricos que contemplassem o período histórico do meu livro, o século XIX.

O que me atraiu neste livro foi que as histórias foram compostas sobre muita pesquisa, que já é característica do autor em outras obras. Há muitas passagens reais de jornal, fatos retirados de fontes mesclados com a imaginação do autor, dramatizando vários momentos com a inserção de diálogos, mas sem tentar reescrever a história. A maioria das histórias se apresenta no formato de conto, mas há crônicas e até um roteiro, como forma de explorar as histórias. Entre elas, a que mais atiçava minha curiosidade foi sobre os crimes da Rua do Arvoredo. No fim das contas, achei referências para continuar minhas pesquisas para a obra mas achei menos dados que esperava. Contudo, foi uma leitura muito agradável. Obviamente, se você não é ou já foi  habitante de Porto Alegre, não vai achar muita graça, mas para quem tem algum apreço pela capital do Rio Grande do Sul, vai encontrar causos muito emocionantes de acompanhar em todas as épocas da cidade. 

Leia Mais ››