segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Resenha #262 O Esplendor (Alexey Dodsworth)


"O Esplendor" (2016) é uma obra que podemos classificar como Hard Sci-Fi, pelo enfoque na especulação usando as ciências exatas e biológicas, como as grandes obras clássicas dos mestres da ficção científica, como Arthur C. Clarke ou Asimov, por exemplo. Uma qualidade que adoro nas obras deste autor é a capacidade de nos submergir em grandes passagens de tempo e contemplações de proporções gigantescas. Contudo, Alexey faz isso com uma identidade própria, sem perder de vista as raízes brasileiras mesmo que sua história se passe distante daqui no tempo e espaço. Ou seja, temos uma ficção científica hard sem o mofo das histórias clássicas de décadas atrás.

A historia se passa em Aphriké, um planeta banhado pela luz de seis estrelas que o impede de conhecer a escuridão da noite. Lá vivem seres melaninados em uma sociedade de telepatas que desconhecem a privacidade e o próprio conceito de dormir. Porém tudo está prestes a mudar com o nascimento de uma criança capaz de sonhar e dormir. Como trata-se de um livro longo, o autor usa bem o espaço para nos inserir nas estruturas sociais de Aphriké onde o trabalho é dividido Ilês - um tipo de guilda ou soviete, porém em uma estrutura muito mais rígida. Contudo este é um mundo dividido. De um lado a capital é Irridiscente onde o líder o Supreme 1920 lidera com suposta benevolência e do outro Kalgash, onde vivem um povo rebelde liderados por Lah-Ura 23.

A estrutura rígida de Irridiscente os isolaram a ponto de não acreditarem haver nada além do próprio planeta e negarem a existência do universo. Tal pensamento é considerada uma heresia do povo de Kalgash. O Esplendor é uma história complexa mas que entrega todos os elementos para que possamos compreendê-la, logo não é prolixo, muito menos é desnecessariamente complicado. Contudo, vai exigir do leitor atenção para que possamos viajar pelas estruturas sociais e entender o que de fato está em jogo para os personagens. O livro fecha muito bem com a obra anterior, Dezoito de Escorpião formando um dueto bem amarrado, mas nem por isso o torna um pré-requisito para a leitura de O Esplendor. A verdade é que Dezoito de Escorpião acaba funcionando tanto como continuação quando como prequela a Esplendor tanto que o primeiro livro já entrou para a lista de releituras. Este universo criado por Alexey é bastante rico e gostoso de acompanhar, felizmente está para sair uma HQ ambientada neste universo chamada Saros 136 e certamente veremos aqui no blogue!
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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Resenha #261 Savage Worlds nº1 (Jerry Souza)


Savage Worlds é um projeto de Jerry Souza, expandindo sua publicação principal, a fanzine Profecia, agora focado no gênero "Espada e Feitiçaria". Essa edição é distribuída gratuitamente tanto na forma física como na digital. Obviamente a edição física é distribuída de acordo com a tiragem que o editor se dispuser a imprimir. O leitor pode ler e cadastrar-se para receber os números físicos, em "www.profeciacomics.com".

Neste primeiro número acompanhamos o início de duas histórias, a primeira é com um personagem conhecido no meio independente, Peryc, o mercenário dos pampas que vive num mundo pós apocalíptico que faz uma homenagem a Conan, mas que a cada história vai ganhando personalidade. A história é baseada no romance Crepúsculo do editor Jerry Souza, de 1990. Não achei informações sobre a obra, mas temos um vislumbre de que seja uma história de piratas pelo início se passar no mar onde Peryc trabalha como marinheiro e acaba sendo desafiado por um soldado profissional. Gostei muito do traço, ressaltando a selvageria deste mundo e dos momentos de reflexão que abrem bem o apetite pelo desenvolvimento. Continuo acompanhando os volumes seguintes que serão resenhados aqui.

A segunda história, se chama "Mundos em Conflito" e abre as "Crônicas Proféticas de Brandar". Trata-se de uma história bastante curta onde nosso herói começa preso por um império que o força a aceitar uma proposta sob pena de castigos terríveis. Aguardo a segunda parte pelo desenvolvimento que promete bastante.
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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Resenha #260 Sombras e Ecos (J.M. Beraldo)


"Sombras e Ecos" é a terceira obra de fantasia da série Reinos Eternos, que iniciou com o sensacional Império de Diamante protagonizado pelo mercenário Rais Kasim, o sacerdote Adisa, o fanático Mukthar Marid e o estadista Zaim Adoud em Myambe, seguido de Último Refúgio onde continuamos a acompanhar o mercenário Rais Kasim e sua namorada Vema Thevar. Agora voltamos a acompanhar Kasim, que agora não é mais Rais e foge do seu passado novamente e desta vez vai parar em Duralan no extremo sul do mundo. 

Duralan é uma cidade portuária de um continente gelado - desta vez é baseado na mitologia himalaia e polinésia. Assim como as áreas habitadas no extremo norte, temos uma longa noite e um longo dia com seis meses cada. Na época noturna o porto é fechado pelo clima congelante, e é nessa situação que Kasim se encontra. Ele recebe a missão de proteger Huirau Huepo, um locchava (historiador de memórias do governo) capaz de acessar as misteriosas memórias que perambulam pela cidade. Podem ser vistas e ouvidas mas não podem ser tocadas. Contudo, uma delas aparentemente causou a morte de uma locchava e Huirau foi destacado para investigar o caso.

Somos apresentados a um novo continente, com sua própria geopolítica e cultura muito bem exploradas pelo autor durante a obra, nos proporcionando uma viagem fascinante e fantástica. Diferente dos outros livros da série, temos uma trama policial focando, não em aventuras separadas que se encontram no final do livro, mas nos dois protagonistas tentando se ajudar, resolvendo suas diferenças culturais e de afinidade enquanto procuram o assassino da locchava. O pano de fundo político dos Onze Reinos e as demais potências do continente é bem explorado e se torna interessante pois contribuem para as perguntas que os investigadores fazem e se deparam, pois o assassinato logo ganha uma dimensão política muito forte.

Acredito que o autor dividiu bem o protagonismo entre Kasim e Huirau, mesmo sabendo que a centralidade da série é de Kasim e a deste livro de Huirau. Gostei também da característica episódica do livro pois não temos um ciclo fechado de Kasim e ainda espero vê-lo em muitas aventuras. Enquanto a próxima aventura não vem, lerei o livro de contos "Oceano dos Mil Deuses"!

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Resenha #259 Juca Pirama (Enéias Tavares)


"Juca Pirama" Enéias Tavares é outra obra de seu universo Steampunk, iniciada em Lições de Anatomia do Temível Dr. Louison. Desta vez a aventura se passa em São Paulo, ou melhor São Paulo dos Transeuntes Apressados e tem um ritmo bem diferente das suas outras obras. Como dito no prefácio, a intenção era de uma obra que funcionasse também no audiovisual e assim temos uma obra ágil na escrita, ainda que emule o modo de falar do séc. XVIII, e tem um enredo mais simples.

Desta vez não temos um personagem clássico da literatura brasileira adaptado ao universo Steampunk, mas as referências e o paralelismo do herói Juca Pirama do poema clássico, com este personagem novo funciona muito bem. Ao início de cada capítulo temos um trecho importante do poema abrindo o capítulo. Conhecemos Juca Pirama, um anti-herói brasileiro, um jovem malando que tenta se virar com o que tem, com as habilidades das ruas, marginalizado por essência, dotado de uma vontade de viver imensa. Temos um personagem carismático que se viu envolvido em uma trama de assassinados e sede de poder. As reviravoltas podem até ser revolvidas pelo leitor mais atento mas aqui a aventura é o elemento mais apurado. Sempre fui crítico do Steampunk que aprecia a estética pela estética e esquece o elemento transgressor que faz o "punk" fazer sentido. Nosso protagonista, tanto deste livro como do poema clássico de Gonçalves Dias, são dignos da herança de rebeldia do precursor do subgênero, A Máquina Diferencial.
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