segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Resenha #313 Almanaque Gibi do Terror, Nº 1 (Paulo Kobielski e Denílson Reis)

Almanaque Gibi do Terror é uma iniciativa do Coletivo Alvoradense de Quadrinhos encabeçada por dois dos maiores fanzineiros do Brasil, Paulo Kobielski e Denílson Reis, ambos atuando em Alvorada/RS levando a palavra dos quadrinhos desde sempre. Juntando a ideia de privilegiar autores de Alvorada, não apenas dos quadrinhos mas da literatura em prosa também, surgiu a ideia de um almanaque temático voltado para o gênero do Terror. E não poderia faltar o grande R. F. Lucchetti, ainda mais quando o tema da edição é múmias! E ele está logo na primeira história em quadrinhos que é O Talismã Maldito, onde temos a história da múmia de Kharis, que é acordada quando uma entidade gatuna é libertada trazendo terror aos arredores do museu onde estava exposta. Na sequência, uma entrevista com Júlio Shimamoto, o desenhista da história anterior. Na sequência, uma historieta em HQ de uma página homenageando Lucchetti e um texto retirado das memórias do autor.

A próxima história em quadrinhos, é  Besta, de Leander Moura com arte de Cristal Moura e Leander Moura, onde é explorado o mistério de um lobisomem. O primeiro conto é de minha autoria e se chama Sistema Sarcófago em que o mistério da múmia é abordado com a lente da ficção científica homenageando a era dos pulps com um toque psicodélico. A entrada do conto tem uma ilustração de tirar o fôlego feita por Jader Corrêa. Logo depois, Paulo Kobielski nos brinda com um artigo sensacional sobre o filme brasileiro O Segredo da Múmia de 1982. Continuando a sessão de contos, O Misterio da Múmia foi escrito por Eduardo Alós, com arte de abertura por Luan Zuchi, onde um investigador gaúcho vai a um monastério na Amazônia investigar um desaparecimento de um dos religiosos e, obviamente, deparar-se com terrores abissais.

Retomando as histórias em quadrinhos, Um velório alucinante é uma história de morte e quase morte, por Denílson Reis, desenhada por Jair Júnior e letras por Henrique Reis. A herança de Simão segue a linha de terror clássico de uma herança amaldiçoada, com texto e arte de Silvio Ribeiro. O Monstro da Lagoa de Henrique Madeira e Walquir Fagundes, segue a linha do causo com uma história baseada em lendas que o povo conta e aqui uma maldição gerada por uma sucessão de tragédias e um coronel cruel. E por fim, uma rápida entrevista com Ronilson Freire, desenhista da The Mummy da Titan Comics.


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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Resenha #312 Mundo Fantasmo (Bráulio Tavares)

Mundo Fantasmo do inefável Bráulio Tavares é antes de tudo uma aula de como escrever um livro de contos. Não é um amontoado de histórias contadas pelo mesmo autor, mas tem uma coesão entre as histórias que formam uma unidade. No caso, a unidade é o mistério, o inescrutável. É aquele livro que você mostra para calar a boca de quem fala mal da literatura fantástica brasileira, o que é bem legal, mas acima disso você mostra para encantar leitores com excelentes contos. Sabemos que num livro de contos, não tem como gostar de todos os contos mas pessoalmente o elo mais fraco deste livro ainda é muito bom.

"Oh lord, won't buy me" é uma bem humorada viagem a um fim de tarde miserável de um leitor de ficção científica pacato de meia-idade que tem um encontro com um estudante de física que alega ser uma entidade cósmica com uma missão relacionada a própria existência do nosso leitor. O autor brinca com o fandom, apaixonado por historias e que por vezes escondem uma megalomania reprimida. E eu, como um leitor de meia-idade de Porto Alegre que só iria para São Paulo para encher uma mala de livros de um sebo, fiquei comovido.

"História de Cassim, o Peregrino, e de um crime perfeito que Deus castigou" temos mais uma história no mundo fantásico ibérico, onde uma dupla de cantadores encontra um contador de histórias e começa um desafio para que o misterioso homem conte uma excelente história. Agora os desafiantes não conseguem tirar essa história da cabeça. Uma narrativa que parece mais uma noveleta, a mais longa do livro e a que considerei mais instigante. Esse ciclo merecia um livro só para ela.

"Paperback Writter" personagens de uma Londres estranhamente gótica vão a um concerto em que um autor digita uma história e a plateia acompanha extasiada os caminhos que ela segue enquanto debatem com a frivolidade de uma elite burguesa. Achei uma homenagem ao prazer da escrita, que geralmente não conseguimos compartilhar pois o autor só entrega a história já pronta e não o seu desenvolvimento. 

"Expedição as profundezas do oceano" um caso policial que utiliza a forma de depoimento como são coletados pela polícia, que nos leva a uma brasilidade que nos aproxima muito da história, pois é exatamente como uma delegacia brasileira funciona. 

"Exame da obra de Giuseppe Sanz" acompanha a trajetória de um autor, pelo depoimento de um admirador que descobre que seu ídolo escreveu suas grandes obras de sucesso simplesmente juntando partes de outros romances consagrados, despindo-os de seu contexto original. É a forma bastante irônica que o autor nos traz a baila uma discussão do que é literatura. Do quanto que lemos e consumimos, não é novo. Mas não necessariamente de uma forma ruim.

"E assim destruímos o Reino do Mal" conto que aborda de forma alegórica, usando o épico para mostrar como se comete atrocidades sem ter consciência disso. Não é apenas sobre a imbecilidade da guerra, mas sobre o imbecil que a cultua.

"Breves histórias do tempo" conta a história de um contador de histórias tetraplégico e que vai se fundindo profundamente a sua finalidade de contar historias. Esta mesma mesma habilidade de u aproxima e o distancia tanto da humanidade. Habilidade que argumentamos como diferença entre nós e os animais.

O edição que li, foi a da Bandeirola, que obtive ajudando no financiamento coletivo tem um posfácio sensacional do autor explicando as intenções por trás de cada conto. Tentei não incluir suas impressões nas minhas impressões sobre os contos, mas as vezes é inevitável. De qualquer forma, vale mesmo é conferir por si. 

 

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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Resenha #311 Pecados Terrestres (Gerson Lodi-Ribeiro)

Pecados Terrestres do Gerson Lodi-Ribeiro é o primeiro romance que leio deste autor. Um pecado que estou começado a corrigir agora. Já havia lido muitos contos e noveletas presentes nas antologias da Editora Draco como vocês podem conferir no blogue. O livro é parte da série Dragão Mecânico, uma coleção de luxo com uma amostra do que a ficção científica brasileira pode fazer de bom. Este é o terceiro (de seis) romance da série que li, mas o primeiro na ordem de publicação. Vamos a história:

Acompanhamos uma Terra do futuro, que está em estado de degradação, pelos olhos de Ricardo Mendonça, filho mais velho de uma família tradicional do Rio de Janeiro. Uma das últimas que insistiram em permanecer na Terra. Acompanhamos a rotina de um garoto que gosta de jogar bola e andar com os amigos, aturar os irmãos que sem aviso tem sua vida balançada junto com o destino inevitável do planeta. É uma história de amadurecimento, tanto de um jovem rapaz, quando da humanidade que se modifica tanto no corpo quanto na mente, sem que haja tempo para digerir as mudanças. O autor deixa isso muito evidente para mim, durante a leitura que quando o personagem tem todas as ferramentas para amadurecer, o romance termina deixando uma tremenda vontade de saber como vai ser essa vida e que destino os outros personagens tiveram.

Além da leitura ser tranquila, informativa e gostosa de ler, tal como os contos, apreciei especialmente aqui como o autor conseguiu imprimir um cenário ao mesmo tempo cheio de tecnologia com um ar decadente, sem parecer com um futuro Ala Mad Max. O livro não faz parte de nenhum dos mundos criados pelo autor já publicado, diferente de como eu supus ao terminar o livro, mas o livro pede uma maior exploração em outros romances e/ou contos. Aguardemos!  

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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Resenha #310 Tecnodreams (Isaque Sagara)

Tecnodreams é uma HQ de Isaque Sagara parte do Selo Negro Geek da Ultimato do Bacon editora. É uma história completa de Ficção Científica que foi lançada com sucesso via Catarse, mas que fui conhecer apenas quando comprei na 5ª Gibifest em Alvorada/RS. A pegada cyberpunk com toques philipkdickianos me atraiu imediatamente e a leitura não decepcionou minhas expectativas. É uma daquelas histórias que nos deixa com aquele nó sobre o que é real e o que não é, como nosso profeta louco Philip K. Dick nos ensinou. Tudo isso com uma pegada brasileira contando a historia de duas mulheres: Cida, uma mulher negra da periferia que trabalha como empregada doméstica na casa de Viviane, uma mulher muito insegura no casamento. Enquanto Cida deseja a vida de Viviane mas ao mesmo tempo odeia como é tratada, Viviane destrata Cida pois desconfia que ela é amante de seu marido. Cida é assediada pelo marido de Viviane, e também pelas propagandas praticamente onipresentes da Tecnodreams, que oferecem uma fuga temporária para ela, mas não se pode fugir de quem você é.

O final é maravilhoso. A escolha por ser um final aberto mas abrangente em interpretações foi muito bem construído. É uma história que fala com nossa realidade. Da classe média com fetiche escravista da empregada doméstica, mostra o lado mais escroto do Brasil, que conhecemos bem, mas facilmente esquecemos que fora do Brasil é muito incomum a figura da empregada doméstica fazendo coisas que qualquer pessoa pode fazer sozinho em casa. Confesso que o que me pegou nessa revista é o "História Completa" na capa, pois não gosto do modelo mais comum de publicação de HQs, mas no fim fui premiado com uma história que se completa de muitas maneiras na minha cabeça. Espero que venham mais publicações do selo Negrogeek!

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