segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Resenha #304 A Batalha dos Aflitos, Contos de Nordara (Oghan N'thanda)


A Batalha dos Aflitos de Oghan N'thanda, é o primeiro conto que li da série Contos de Nordara, uma série de contos que o autor lançou envolvendo seu mundo abordado na série de romances Baronato de Shoah, o primeiro romance stempunk brasileiro. Aqui este mundo foi reformulado, depois de quase uma década sem uma continuação. Não por coincidência, o conto foi disponibilizado pelo autor justamente como um brinde para despertar a curiosidade sobre esse worldbuilding que o autor criou e recriou.

A história é simples e bem feita, não resumiria melhor que a própria apresentação do conto: "Cohen e Ryszard Dajjal são dois órfãos que trabalham como aprendizes de cozinheiro no Cenóbio de Ahator, o mosteiro onde é treinada a Kabalah, a elite do Quinto Império. Cohen recebe a chance de mudar sua vida, mas para isso deve deixar para trás tudo aquilo que ama e acredita, inclusive seu irmão, Ryszard. As decisões de Cohen colocam em risco sua vida e a de seu irmão, revelando uma ordem secreta infiltrada na elite e que tem como único objetivo destruí-la: a Qliphoth, a Árvore da Morte."

O conto é muito bem sucedido em focar nos personagens, a relação dos irmãos e a formação do caráter do protagonista e deixar o mundo se apresentar paulatinamente a medida que os acontecimentos pedem, instigando a curiosidade e não fazendo uma descrição do mundo onde se passa a história. Conseguiu sua função, que era atiçar a curiosidade e me fazer querer adquirir outros contos para conhecer mais deste mundo.
Leia Mais ››

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Resenha #303 Revista Histórias Extraordinárias, número 1


A Revista Histórias Extraordinárias editada pelo jornalista Marcos Cavalcanti e Mario Garnett foi lançada em dezembro de 2020 e até o momento está na sua sexta edição. Adquiri as três primeiras via Catarse, que acredito ser a principal forma de adquirir os números. A Editora Mundo trabalha com itens colecionáveis e alguns dos cartões vem como brinde nas compras por financiamento coletivo. A proposta é relembrar os tempos de revista pulp com narrativas de horror cósmico, sobrenatural e ficção científica. Como é comum nas revistas, há textos de outros tipos que circundam o tema. Uma entrevista, uma matéria e algumas pequenas resenhas de filmes, mas o grosso da revista é de contos.

A revista abre com uma coluna chamada Departamento de Ciência, com uma matérias sobre como as bombas atômicas jogadas pelos EUA sobre o Japão abriram o chamado antropoceno, um novo nível de domínio do homem sobre a natureza. Achei boa pelo ponto de vista técnico, mas havia um espaço para explorar mais o aspecto civilizacional do antropoceno. As resenhas de filmes e séries são sempre bem vindas, não assisti nenhum dos filmes e a série que recomenda infelizmente foi cancelada mas os textos são bons e sucintos. A entrevista sobre o radio amador eu gostei bastante, mas acho que ela deveria ir ao final da revista ou logo depois do conto que se conecta com ela, como forma de expandir o assunto, uma vez que a própria entrevista conecta os dois textos. 

Quanto aos contos, eles são bem apegados a proposta, o que achei ótimo tendo em vista que o espaço da revista não é tão grande. São 38 páginas bem grandes e cabe mais texto do que aparentava. O primeiro conto é O Colete Curativo, por Mário Cavalcanti que é uma ideia interessante mas pouco explorado, sobre um artefato de uso comum que parece saído de um mundo dieselpunk. Hypnos e Morfeu, de M. V. Garnett é um relato de uma invasão silenciosa de dois corpos celestes que bloqueiam a capacidade da humanidade de dormir, o conto desenha bem os efeitos da privação de sono enquanto mostra a vida de um operador de radio amador, ao ler o conto que imaginei ser melhor a entrevista vir logo após este conto. A narrativa é tensa e achei a melhor da edição. O segundo conto é longo, também e se chama Belvedere de Paolo Fabrizio Pugno, que aborda uma nave de mineradores de asteroides no Cinturão de Keiper que recebe uma dica de um corpo rico em metal rumando para fora do cinturão, que representa uma oportunidade de lucro exorbitante e irresistível. Sabemos que vai dar merda, mas só lendo para saber como isso acontece. Eles não eram verdes de Mário Cavalcanti, é uma abordagem bacana sobre o drama de uma família que tem um ente querido levado por alienígenas e encerrando Saturação por Marco Lazzeri, que é um diário de um minerador infectado em serviço, gostei do clima desconfortável mas senti falta de mais detalhes horrendos da doença.

O saldo da revista é bom, mas como tenho outras duas revistas para ler, espero que ela fique melhor. O formato físico dela não me remete aos pulps antigos principalmente pela qualidade boa do papel, que deveria ser a mais barata possível, mas quanto ao conteúdo eu achei coerente com a proposta.


Leia Mais ››

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Resenha #302 Rio 60 graus (Fábio Fernandes)


Rio 60 graus do Fábio Fernandes é o livro 4 da coleção Dragão Mecânico da Draco, que reúne seis obras dos mais variados gêneros de alguns dos melhores autores da nossa ficção científica. Eu tenho a coleção completa, mas preferi começar por Rio 60 graus por ser cyberpunk, meu subgênero favorito, e não me arrependi. A obra é um caminhão de referências, numa escrita leve e descontraída, diálogos muito fluídos e já falei das referências? Então, elas dão um sabor especial a obra. Mas vamos falar disso enquanto falo um pouco sobre a história.

Acompanhamos Raytek, um garoto que tinha habilidades extraordinárias de hacker até fazer uma besteira no serviço e, como punição, ser injetado com algo que lhe retira as habilidades, mas recebe uma proposta de trabalho potencialmente perigosa de um empregador que promete remover o dano que sofreu. É na essência o mesmo enredo do clássico Neuromancer, mas a referência é tão intencional quanto a frase de abertura que faz um jogo de palavras com o início da obra de Gibson. (para quem não lembra: “O céu sobre o porto tinha a cor de uma televisão sintonizada num canal fora do ar"). Outras referências estão nas obras como Nova York 2140 de Kim Stanley Robinson, onde pulsos elevaram o nível do mar submergindo a Zona Leste do Rio de Janeiro e a Baía da Guanabara. As inserções da Colmeia, que lembram seu livro Os Dias da Peste. É até bacana imaginar que as obras fazem parte ora de um mundo, ora de outro, (na minha cabeça ainda não entra o copyright) mas o fato é que se trata de um mundo próprio e bem rico (ou talvez seja parte do mesmo mundo ), e o Rio de Janeiro, tão tecnológico quanto vivo. E tudo isso em pouco mais de cem páginas. O autor já manifestou seu desejo de expandir o mundo construído aqui e eu como bom fã de cyberpunk estou no aguardo.
Leia Mais ››

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Resenha #301 Mundo Gibi nº4 (Paulo Kobielski)

 

Olá, pessoa! Hoje vamos falar novamente de um fanzine de quadrinhos independentes do Paulo Kobielski. Fanzineiro premiado da mesma cidade que eu, Alvorada/RS. O Mundo Gibi nº5 veio mais grosso, com 50 páginas e uma porrada de conteúdos. Essa edição é de outubro de 2021, com material referente a uma boa parte da pandemia. Como uma boa revista, veio com materiais variados.

As matérias são sobre o fanzineiro Oscar Kern, e seu personagem Homem-Força; e uma homenagem que receberia na 4ª Gibifest em 2019. Outra matéria é sobre a Mitologia Afro-brasileira nas HQs, seguias de uma resenha da HQ Contos dos Orixas do Hugo Canuto (já resenhada aqui no blogue) e, também, uma entrevista com Alex Mir, autor de outra HQ com o tema de mitologia afro-brasileira, Orixás em Guerra. Há uma crônica do Anderson ANDF, outro fanzineiro de Alvorada e uma matéria do jornal local, A Semana, sobre a consagração do Paulo como vencedor do 36º Troféu Ângelo Agostini, na categoria fanzine com a edição sobre o Vigilante Rodoviário.

Outra matéria muito bacana é sobre um detetive obscuro chamado Dylan Dog, criado na Itália e que eu nunca ouvi falar, mas achei muito interessante. Uma resenha de "Último Assalto" me fez querer catar essa revista para ler. Também sobre as histórias de Cazador, um anti-herói argentino e Caballeros, também da Argentina. 

Adorei a sequência de histórias do Aldo Mães dos Anjos, com várias histórias engraçadas sobre uma família se prevenindo contra a pandemia. Lendo assim não parece que iria ficar divertido ou sequer de bom gosto, mas as histórias são ótimas! Outra história, que também é sobre a pandemia, é de Laura Laco, chamada Atrás dos Números, que fez uma abordagem mais sensível que achei bastante tocante. Há também duas historias curtíssimas e bem divertidas do Juanito. Enfim. É tanta coisa que nem parece que coube em apenas 50 páginas, mas coube sem nada ficar apertado demais, com letras pequenas ou perda na qualidade. Mal posso esperar pelo volume 6!

Leia Mais ››