sexta-feira, 29 de julho de 2016

Resenha #35 – Estação Terra (Odimer F. Nogueira)

[SEM SPOILERS] Estação Terra de Odimer F. Nogueira foi lançado pela editora Chiado em 2015. É uma Ficção Científica à moda antiga.

A estória começa com Hermes, um fazendeiro e veterinário, que vive no Centro-oeste brasileiro que estabelece contato com alienígenas. Logo estes se identificam como Oasianos vindos do futuro com uma missão especial para o protagonista. Revelar mais estragaria as surpresas do livro.

A forma da obra é em duas partes, (informalmente divididas) na primeira se passa nos anos 1970 e acompanha Hermes em seus contatos que vão do mais distante até densas conversações entre os Oasianos, onde o suspense é mais trabalhado, onde há mais diálogos e os dois personagens Hermes e Wilson são trabalhados. A segunda se passa nos anos 2000 e conta, por notas, a história de um projeto de exploração espacial de consequências controversas.

Estação Terra é uma FC à moda antiga, com doses de humanismo e otimismo. Também se apresenta na forma com que os conhecimentos científicos trazidos pelo autor (no caso biologia) aparecem na obra e são fundamentais para o desenvolvimento da trama, trazendo especulações com criatividade – ainda que eu não entenda de biologia o suficiente para refinar essa análise. No aspecto narrativo, a obra é simples e sem enrolações desnecessárias. Não se encontram infodumps enfadonhos (afinal é um livro curto com suas 164 páginas) e as informações técnicas (principalmente na segunda parte) são muito relevantes para o suspense e consegue manter-se até os momentos finais.

Considerações finais – Pessoalmente, tenho restrições com estórias de ovnis, aliens e coisas relacionadas a ufologia, pois, na minha opinião, a maioria delas costumam ser meras pregações inconvenientes mas Estação Terra consegue entregar um romance de FC, sem forçar a barra na no "Eu quero acreditar!".
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terça-feira, 26 de julho de 2016

Resenha #34 - Os dias da peste (Fábio Fernandes)

[SEM SPOILERS] Os dias da peste é um romance de Fábio Fernandes (tradutor de várias obras de FC para o português no Brasil) que foi lançado pela extinta Tarja Editorial em 2009. Um romance (pós)cyberpunk nacional com dosagens certas de informalidade (palavrões, cotidiano) e formalidade (informações técnicas, especulação), colocadas de forma convincente no Brasil.

A estória segue Artur, um Técnico em Informática carioca que volta a escrever num blog dias antes do evento que passaria a ser chamado de "despertar", quando os computadores passaram a ser dotados de inteligência e consciência.

Suas três partes, que consistem basicamente no relato feito por Artur. É pelos seus registros, escritos e de voz, que conhecemos as grandes mudanças que o mundo atravessa com o despertar, bem como a própria vida do protagonista. Pela voz de Artur também conhecemos os outros personagens mais próximos a ele. Destaque para as conversas de Artur com Sant'ana, um ex-professor, possuidor de uma personalidade ácida. Os debates entre eles são inteligentes e descontraídos.

O tom informal da escrita deixa a leitura muito leve e fluída. Poucas vezes vi isso num romance de Ficção Científica. Os parágrafos onde Artur evoca algum intelectual para tentar entender o que acontece, eles são interessantes e pouco extensos, afinal são como conteúdos de um blog em que Artur conta sua vida.

Os dias da peste consegue construir sua especulação encaixa as peças desse cenário na frente do leitor. Nos joga na cara a pervasividade e a ubiquidade do ciberespaço, na forma de um relato escrito/oral de uma sociedade que não pode abandonar o vício quando bem entender.
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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Resenha #33 - A linha tênue (Rubem Cabral)

[SEM SPOILERS]
A linha tênue (2014) é um livro de contos do autor brasileiro Rubem Cabral, lançado pela Editora Caligo. Os 29 contos curtos que o compõe abrangem gêneros da Ficção Científica, Fantástico, Terror, Sátiras, Steampunk e afins. Alguns oferecem  doses de sangue, de erotismo, viagens insólitas e/ou de mistério. Falando assim pode parecer uma grande salada sem sentido mas não é nada disso. Existe uma característica predominante no livro são as "quebras de paredes" entre os personagens e o leitor. São pontos de vista inusitados, personagens que falam com leitores, personagens que sabem que são personagens podem aparecer sem aviso durante a leitura.

O grande barato da obra não é apenas encontrar contos ótimos em meio a uma seleção de criações do autor, mas a surpresa que se tem a cada nova estória que se começa. Os títulos - acredito que tenha sido proposital - não ajudam muito a prever sequer o gênero de estória que virá pela frente. Isso incrementa a experiência de leitura de cada conto e dá força ao conjunto como algo maior que a soma das partes.

A escrita de Rubem mostra domínio da história curta, pois não há rebarbas nas estorias, cada linha contribuí para o desfecho do conto. O ponto forte são os enredos surpreendentes e a qualidade da escrita mantém o equilíbrio do início ao fim.

Como são muitos contos, para comentar isoladamente, vou escolher meus cinco preferidos e quem já leu o livro pode comentar os seus também:

Revolta nas páginas 34, 35 e 36: Ao mostrar um príncipe genérico de estórias de Fantasia conversando com os "personagens secundários, os sem nomes, os esquecidos, que aparecemos e sumimos sem maiores explicações",  que sabem que são personagens, dão uma amostra bem humorada da metalinguagem que pode aparecer em qualquer conto. Considerei uma crítica ao mais-do-mesmo na literatura de Fantasia, muito referenciada as culturas do norte do globo, mesmo quando feitas em terras brasileiras. É um ótimo conto para apresentar o livro a quem não o conhece.

Mil-folhas: Pessoas que escrevem sobre pessoas num única aflição. Grafias, bebidas e formas diferentes de colocar no papel a mesma dor. Este conto também usa a metalinguagem e a edição (ao colocar cores e grafias diferentes para cada personagem) contribuiu muito para o clima imersivo do conto. 

A maloca de Jaçanã: aparenta ser uma estória de Samba mas que ganha contornos fantásticos. Destaco os personagens Adorniran Barbosa e os amigos que ele faz quando fica sem onde morar, pois são os que mais lamentei deixá-los quando o conto acabou.

O bom provedor: acreditei ser uma estória de aliens, bem ao gosto de ufologistas, mas me agradou bastante por tomar um rumo diferente sem querer dar explicações do tipo "eu quero acreditar". Um dos finais, mais impactantes sem usar da metalinguagem.

Palimpsesto: É aquele tipo de conto que de te passa a perna e deixa um sorriso de satisfação mesmo antes da conclusão da investigação da morte da família Mendes Martins.

A edição lida para a resenha é a da Editora Caligo que fez um trabalho muito bonito com a arte na capa pois é um desafio pensar uma imagem que expresse bem tamanha variedade de assuntos, e a raposa ganhando vida como que numa única pincelada ficou excelente. Alguns contos pela metalinguagem receberam o devido tratamento, principalmente no conto Mil-folhas que pedia várias grafias. Coisa que exige atenção ao trabalho do autor.
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sábado, 9 de julho de 2016

Resenha #32 - Santa Clara Poltergeist (Fausto Fawcett)

[SEM SPOILERS]
Santa Clara Poltergeist (1990) é uma obra de referência do Cyberpunk nacional mas diferente dos romances estadunidenses, o sexo e a brutalidade crus se entrelaçam na típica aventura de um hacker desenhada na prosa cantada do autor.

A estória gira entorno de uma Copacabana (Bairro do Rio de Janeiro) futurista acometida por uma falha magnética que paira nos céus do Rio, causando todo tipo de efeito na cidade. São casos de pirocinese, telepatia e uma enxurrada de cientistas estrangeiros que vem estudar o fenômeno. Nesse cenário sujo e caótico que Mateus, um NEI - Negão Eletrônico Informático, uma mistura de Hacker com eletricista - de São Paulo, vai até o Rio buscar a cura para os apagões elétricos no seu cérebro. A promessa de cura está em Santa Clara Poltergeist, alterego de Verinha Blumenau, que descobriu ser capaz de curar qualquer enfermidade com seu sangue após um acidente com uma bicicleta enferrujada com ferro instável.

A forma é de um livro curto onde a estória e os personagens são menos importantes que a cidade, a verdadeira protagonista do livro. O autor usa Mateus, Verinha Blumenau e outros tantos personagens apenas para pintar um quadro do Rio de Janeiro através de uma prosa carregada de adjetivos que costumam virar substantivos. Tudo isso regado a sexo e brutalidade explícitos, mas nada gratuito, pois tem a função narrativa de mostrar os limites do homem e da máquina, como todo bom romance cyberpunk. O ritmo é veloz como o mundo que retrata. Tudo é, também, jogado de forma bastante crua. Quem não aprecia as palavras "cu", "pau" e "boceta" aparecendo em quase todas as páginas, não vai gostar deste livro, pois tudo isso salta as páginas sem avisos nem cerimônias em meio a orgias sem fim.

Santa Clara Poltergeist proporciona uma versão bem brasileira de cyberpunk. Deixa de lado o individualismo e mergulha a todos na comunhão da loucura urbana via erótico, mesclando indivíduos numa massa de erotismo e violência. Exige um leitor disposto a deixar seus pudores de lado para aproveitar a leitura.

A edição lida para esta resenha é a da Editora Eco de 1990. Está repleta de gravuras e de motivos nas beiradas das páginas que colocam o leitor no clima do livro. Mas a diagramação de algumas palavras contém uns espaços que travam a leitura mais que os adjetivos do autor.

Bônus: a música Santa Clara Poltergeist de Fausto Fawcett.
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terça-feira, 5 de julho de 2016

Resenha #31 - Metrô 2033 (Dmitry Glukhovsky)

[SEM SPOILERS]
Metro 2033 é mais conhecido por sua adaptação aos games, mas a origem é este livro escrito pelo jornalista russo Dmitry Glukhovsky. Trata-se de uma distopia que aglutina vários elementos de apelo ao publico jovem (mundo pós-apocalíptico, "zumbis", seres paranormais) num rico mundo multicultural espremido num microcosmo do metrô de Moscou. Diferente do jogo que é um FPS claustrofóbico, o foco da narrativa do livro é a jornada do protagonista e como ele muda a cada pessoa e local que conhece.

A estória se passa em Moscou, duas décadas após uma guerra nuclear, que obrigou os poucos sobreviventes a se abrigarem no metrô da cidade. O ar contaminado por radiação e criaturas oriundas da catástrofe impedem o ser humano de retornar a superfície. Nesse mundo seguimos a jornada de Artyom. Um jovem que sempre viveu nesse mundo claustrofóbico na periférica estação VNDKh ameaçada pelas criaturas da superfície. Um caçador chamado Hunter pede que Artyom siga até um estação, controlada pela Pólis, enviar um relato da ameaça.

A forma: Nessa viagem-jornada-odisseia é que consiste basicamente todo o livro. Como um jovem camponês que vai para a cidade grande, Artyom desbrava esse mundo onde cada estação é como uma cidade e algumas delas se juntaram como países ao longo do tempo, com sua curiosidade, ingenuidade, medo e anseios muito bem trabalhados pelo autor. O narrador onisciente na verdade segue apenas Artyom, ouvindo apenas seus pensamentos, seguindo-o inclusive nos seus sonhos.

Microcosmo no Metrô
Tão bem trabalhado como Artyom, é o mundo do metrô. As divisões políticas entre estações capitalistas, comunistas, nazi-fascistas e a Pólis é construída sem pressa. Também estão lá estações controladas por crime organizado, entre outras estranhezas encontradas no caminho. Os nomes delas, no geral, são de difícil pronuncia, mas que são imensamente facilitadas com o mapa que vem na contracapa da edição brasileira - ainda que algumas estações estejam escritas de forma diferente. 

Além das divisões políticas, Artyom encontra com todo tipo de habitantes do metrô com as mais diferentes visões de mundo em que se questiona sempre o motivo de estarem todos ali. Isso ocupa muito mais páginas que os momentos claustrofóbicos que tem a função narrativa de alimentar as dúvidas de Artyom. 

Artyom é um personagem bem construído ao longo do livro, assim como o mundo onde vive. Existem excelentes cenas de ação, mas se a expectativa for por grandes doses disso (como encontra-se no jogo) o leitor se decepcionará, porém se o leitor conseguir mergulhar na parte filosófica da viagem, vai conseguir aproveitar até o final.

A edição lida para a resenha é a da Planeta do Brasil. Com 416 páginas, com uma capa bem fiel ao original russo. Vem com um mapa da estação que ajuda muito para acompanhar a leitura.
p.s. Existe um sítio muito interessante sobre as sequências da obra (Metrô 2034, Metrô 2035 e várias obras paralelas) que infelizmente não tem previsão para retornar ao Brasil. http://www.metro2034.org/
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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Resenha #30 - O Homem bicentenário (Isaac Asimov)

[SEM SPOILERS]
O homem bicentenário é uma novela curta publicada nos anos 70, um dos trabalhos mais conhecidos de Asimov, sobre o tema que o tornou conhecido: robôs. Nele as três leis da robótica são discutidas durante a jornada solitária de Andrew, um robô que deseja ser humano. Voltamos então a velha questão, o que é ser humano?

Diversas questões são exploradas na busca de Andrew pelo reconhecimento de sua humanidade: nas relações familiares, econômicas, jurídicas, biológicas. Tão interessante quanto o protagonista são os (outros) humanos que demonstram as mais variadas emoções: Medo, inveja, admiração mas principalmente medo do desconhecido. A obra também conversa com o presente pois mostra de um ponto de vista humano a desumanização do outro. Paremos por aqui, para não entregar a estória. Apenas acrescento que é um texto é curto, profundo no debate, sem deixar de ser uma leitura prazerosa.

A edição lida para esta resenha é um pocket da editora L&PM, que contem "O homem bicentenário" e mais um conto chamado "Circulo vicioso". Trata-se de uma aventura dos investigadores Gregory Powell e Michael Donovan em Mercúrio. Este conto é especial por ser o primeiro conto em que as três leis da robótica aparecem de forma explicita na obra de Asimov.
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