segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Resenha #355 Sobre Fantasmas e Outras Memórias (Pedro Teixeira)


Sobre Fantasmas e Outras Memórias é segundo livro de Pedro Teixeira, que conheço dos tempos de Entre Contos, e sempre tive afinidade por ambos gostarmos de ficção científica. Isso culminou no convite para escrever um dos textos de capa do livro, buscando sintetizar o que a obra nos oferece no seu conjunto. No texto de orelha eu menciono que uma leitura marcante é aquele que fica dentro de nós quando fechamos o livro, e no caso dos contos, esse momento se repete nos momentos entre a leitura de um conto para outro. No livro do Pedro isso aconteceu em todas as vezes. O tema da memória perpassa todos os contos transitando em diversos gêneros e subgêneros, paisagens e narrativas.

Obviamente os contos de ficção científica me saltavam aos olhos, como "Possessão" onde um hacker de mentes assassino é perseguido pela sua presa ou até "Sonhos Febris" que faz uma narrativa da loucura na memória com uma pegada muito philipkdickiana. Contudo, muito me agradei de histórias que não haviam nada de fantástico nem do terror como "Vocação", que é uma história sobre as memórias de um cangaceiro e "Anos Punk" que fala sobre a nostalgia da rebeldia de punk nos seus tempos de garoto. Em resumo, temos uma obra que aborda o tema da memória de forma transversal em várias narrativas. Acredito que tendo isso em mente, e não se prendendo a gêneros, o leitor conseguirá aproveitar melhor essa obra.

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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Resenha #354 Um milhão de mim (Cirilo S. Lemos)


Um Milhão de Mim é o ultimo livro que li da coleção Dragão Mecânico fechando a coleção. Este foi escrito pelo Cirilo S. Lemos, que já resenhamos com livros com pegadas opostas: O Alienado é um romance complexo e philipkdickiano em que a realidade é sempre questionada. Em E de Extermínio, uma aventura cheia de ação e referências históricas manipuladas com habilidade numa história alternativa. Aqui voltamos a faceta que vimos em O Alienado, mas referenciando Jorge Luis Borges em um romance quebra-cabeça, e com um pleno domínio das referências históricas enquanto seus capítulos viajam em várias épocas enquanto tentamos entender o que é Uqbar. Como numa boa ficção borgeana, a realidade é mais que questionada, mas uma questão de perspectiva.

A leitura do livro é muito desafiante se você procura ter tudo claro em sua cabeça. Acompanhamos vários personagens ou facetas do mesmo. Inicialmente Nicolau Borges, um investigador de polícia que vive no Brasil dos anos 1970 em plenos anos de chumbo da ditadura, quando encontra uma mulher morta mas é acusado do crime. Mas não espere que seja um romance de investigação. Temos capítulos curtos organizados de forma irregular, buscando fugir de qualquer padrão. Me fez lembrar bastante das experimentações de Luiz Brás. Acredito que ler saboreando cada capítulo vai recompensar o leitor com várias referências e a boa escrita do autor, pois a história vai se desenrolando pelas pistas que são deixadas aos poucos. Acho que consegui entender mas não o suficiente para explicar, de qualquer forma buscar respostas é uma das graças do livro e vale a pena cada um tentar juntar as peças como conseguir.

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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Resenha #353 O grito do sol sobre a cabeça (Brontops Baruq)


O grito do sol sobre a cabeça chegou como um presente do autor Brontops Baruq quando me enviou alguns livros do Coletivo KriptoKaipora, e como membro do coletivo já sabia da qualidade de sua escrita em suas participações nas antologia do grupo e da oficina que tive a satisfação de compartilhar com ele. 

Fui surpreendido positivamente pela sua coletânea de contos pois gosto muito do estilo de experimentação. A obra fez lembrar de Linha Tênue de Rubem Cabral, por seguir a linha experimental, mas a sua própria maneira. A escrita de Brontops é muito apurada e ao mesmo tempo é possível ler seus contos freneticamente. Principalmente seus contos curtos que abrem e os encerram a obra. Dentre estes, destaco "rebobinados" que me pegou de surpresa, até "pausa", um conto longo cheio de aventura e uma construção de mundo muito envolvente. "(ficção especulativa)" traz uma história de viagem no tempo que já é bacana por si, mas instiga pela forma que conta, fazendo alusões a outras formas de contar de outras mídias, e vemos isso em outros contos, mas este foi meu conto favorito do livro. Gostei bastante de dois contos que contam sobre o último humano da Terra vivo, resgatado antes do planeta ser engolido pelo Sol transformado numa gigante vermelha. Destaco também, uma série de contos titulados de Planetas Invisíveis que acompanham aventuras de um cínico viajante que anda por lugares estranhos.

A leitura foi muito bacana. Pena que não há muito mais escritos dele por ai, pois o livro vale a pena.

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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Resenha #352 Cobra Norato (Raul Bopp)


Cobra Norato é um poema de Raul Bopp, publicado pela primeira vez em 1931. Bopp foi um dos nomes mais importantes do Movimento Antropofágico dentro do Modernismo Brasileiro. A antropofagia é uma busca pela nossa cultura na produção de arte no Brasil, assimilando referências estrangeiras mas devolvendo algo mais brasileiro possível. O termo é uma referência a prática de alguns povos indígenas que canibalizavam guerreiros vencidos em suas guerras por motivos espirituais, ou seja, não havia motivação simplesmente alimentar. Dessa forma, Bopp buscou trazer a amazônia que conheceu morando por lá durante um ano em uma história contada em verso sobre as lendas do local.

A história é de Cobra Norato, que busca se casar com uma jovem por quem se apaixonou. Em sua trajetória se torna um passeio pela paisagem natural e pelas lendas amazônicas. Quem acompanha este blogue sabe que não tenho o habito de ler poesias, e busquei a aproximação desta forma literária com algo que tivesse uma história. Gostei bastante das frases e o autor conseguiu criar um cenário de locais e personagens muito envolvente. Pode-se fazer críticas sobre ser um cara de fora (Bopp era gaúcho) falando sobre lendas de um local que não é seu de nascença, mas o movimento antropofágico tinha uma mensagem para transmitir e não acho que ela seja passada apenas com um manifesto, mas fazendo a arte que queremos ver.

Hoje é possível acompanhar a literatura fantástica escrita aqui buscar o próprio Brasil e não apenas pelas mãos de homens brancos do sul, mas pelas mais diversas mãos. Muitos destes livros estão resenhados aqui.

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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Resenha #351 Apagão: Ligação Direta (Raphael Fernandes/Camaleão)


Apagão: Ligação Direta é uma HQ da editora Draco de 2014 e funciona como um prólogo da série Apagão que conta com uma HQ mais robusta e até um jogo de tabuleiro. É uma história curta e realmente é uma pincelada nesse mundo, baseado numa São Paulo distópica em que a energia elétrica caiu e nunca mais voltou e a ordem como conhecemos (que já não é lá essas coisas) colapsa e no lugar, gangues sanguinárias lutam para mandar nos escombros. O protagonista tem que contar com a agilidade e malandragem para andar por estas ruas e encontrar uma das poucas fontes de energia que ainda restam: uma bateria de carro. A história cumpre muito bem o seu papel de inserir o leitor neste mundo, explicando suas regras e nos brindando com artes sensacionais e uma estética apurada e com identidade própria. Gostei bastante! 

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