segunda-feira, 13 de maio de 2024

Resenha #335 Matadouro 5 (Kurt Vonneguth)


Matadouro Cinco é um clássico da literatura dos Estados Unidos e um clássico antiguerra que usa a ficção científica, bom humor e sarcasmo para falar de temas pesados como o Bombardeiro em Dresden e o trauma que é levado para a vida civil da guerra.

Acompanhamos Bill Pillgrim, na verdade o próprio narrador falando sobre Bill Pillgrim e suas experiências como sobrevivente do Bombardeiro de Dresden, que foi um ataque aéreo devastador perpetrado pelas forças aliadas que dizimou a cidade de Dresden, matando mais pessoas que o bombardeio nuclear no Japão em Hiroshima ou Nagazaki. Bill é um típico sobrevivente da guerra, tendo lutado nela como soldado, que leva uma vida pacífica como optometrista, casado com dois filhos até que revela num programa de rádio que foi abduzido por extraterrestres que lhes ensinou outra forma de ver o tempo. Bill passa a viajar no tempo, através de perdas de consciência que o levam a outros pontos do tempo. Uma forma criativa de mostrar como a guerra nunca acaba dentro de quem se traumatizou com ela, não importa o quão feliz sua vida tenha sido depois do conflito. A ironia do autor surge na inutilidade e na falta de propósito em cada ato violento que ocorre, em qualquer escalão. Inclusive na mentalidade guerreira de outros personagens que cercam Bill, e na forma como vários outros personagens se adaptam aos horrores que vivem. Inclusive se você encarar as viagens de Bill, na pele de outros personagens.

Não há uma apoteose no final, pois o próprio livro fala da inutilidade de enxergar o tempo como uma sucessão de fatos sequencialmente organizados, mas há sequencias para falar de como ficou a cidade após o bombardeio. Os personagens são apresentados com seu destino descrito, como morrem e a finalidade se torna fugaz e um mero fato corriqueiro. O que abre espaço para muitas reflexões sem essas amarras. Tudo isso envolto em uma linguagem muito simples e cativante, que me conquistou para que eu procure novas leituras do autor. Agradeço ao Roberto Honorato do Primeiro Contato SciFi pela dica.

Leia Mais ››

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Resenha #334 Nebulosa (André Cáceres)


Nebulosa é um épico espacial que me surpreendeu pela escrita simples e prazerosa, enquanto trazia uma trama aparentemente simples e com temas muito relevantes. É o que considero uma leitura relevante e potente num percurso divertido de uma boa leitura de praia.

Acompanhamos quatro fios narrativos: O primeiro é Dédalo, um jovem acólito de um culto pouco relevante para o império galáctico, chamado ciência. Sua vida é abalada pela descoberta de uma alta  possibilidade de tentativa de assassinato do rei Nimrod. O segundo fio é  Aurora. Uma filha superprotegida pela mãe. No entanto Aurora, resolve entrar para a guerrilha contra o Império em seu planeta na periferia dos seus domínios, que passa por miséria e uma guerra sem fim. O terceiro fio é de Ícaro. Filho mimado do imperador que passa a viver entre piratas espaciais. O quarto fio, gira entorno da família Suçuarana, outrora poderosa detentora da coroa, mas hoje sobrevive das migalhas do seu prestígio.

Particularmente, gostei de todas as linhas narrativas. Todas são baseadas em clichês que conhecemos. Dédalo, que é muito inspirado em Fundação. Aurora é a menina pobre com passado nebuloso. Ícaro é  filho rico que busca sentido na vida. O núcleo dos Suçuarana, com aquele tom palaciano de Game of Thrones (mas que sabemos ter se inspirado no clássico italiano O Leopardo). André consegue refletir o Brasil nas suas tramas, o que as óperas espaciais dos Estados Unidos fazem em relação ao seu próprio país. Lá é comum que as narrativas abordem impérios multiculturais ruírem sobre o próprio peso de suas atrocidades, sabendo que atraem o ódio dos conquistados. Já Cáceres, debate o peso das determinações sociais e preconceitos de um país que está mais acostumado a tirania, inclusive sendo fundado na base da exploração, como toda colônia.

Mesmo com a história simples e divertida de acompanhar em cada fio narrativo, o autor nos reserva a complexidade da trama para seus momentos decisivos, realmente conseguindo me surpreender, e nos trazer mais reflexões sobre e esse pobre império. Gostei bastante das brincadeiras com as nomenclaturas e referencias a nossa cultura que me fez pensar que o autor poderia fazer mais volumes sobre esse universo que eu leria sem parar de virar páginas, contudo as páginas acabam rápido mas deixam uma boa leitura e reflexões sobre nós.

Leia Mais ››