terça-feira, 25 de abril de 2023

Resenha #282 Entre os Dragões e as Sombras, As Crônicas de Kérdar (Eduardo Alós)


"Entre os dragões e as sombras" é o segundo livro de contos das Cronicas de Kérdar de Eduardo Alós. Da mesma forma que no livro anterior, é uma coleção de contos com personagens secundários do romance principal da saga. O primeiro livro foi A Espada do Dragão e os Dragões Vermelhos dando pontapé inicial na saga, a coleção de contos Contos de Outrora trouxe contos com personagens secundários e explica com detalhes alguns eventos que ocorrem no primeiro livro.  "Entre os dragões e as sombras" funciona da mesma forma em relação ao segundo romance da saga O Mestre das Sombras. Contudo, diferente dos contos de Contos de Outrora, esta coleção de contos são um prelúdio, trabalhando quatro coadjuvantes que vão aparecer em O Mestre das Sombras, o segundo romance da saga principal de Kérdar. Vamos aos contos isoladamente.

Os dois primeiros contos tem um tom de tragédia anunciada que me remeteu as tragédias gregas, onde o acaso leva a grandes dores, mais que decisões ruins. Pîcundir, o Hamtammr, acompanha a vida do amaldiçoado Pîcundir, numa sequência direta do conto do livro anterior, Maldição em Alfheim, que procura um caminho duvidoso para livrar-se de sua maldição e acaba caindo em mais desgraças. Gabil, o Soberbo, acompanha o anão Gabil, que vive na Ilha dos Anões, que tornou-se muito mais dura após a guerra contra os Dragões Vermelhos, mas recebe a chance de se redimir com uma missão dada por um dos poderosos Nahons.

Dois dois últimos contos, temos histórias mais otimistas, de guerreiros que enfrentam obstáculos de frente e triunfam basicamente sobrevivendo. Erikka, Guerreira de Zeme, temos uma guerreira que se molda na batalha, mas não antes de sofrer um revéz e do fracasso, encarar inimigos que pareciam mais fortes e espertos que a Guarda da Província de Zeme. O outro conto, Jarkko, Lobo Solitário, é uma sequência direta, visto que o personagem título é uma criança no conto anterior. Jarkko é um jovem em treinamento para entrar na feroz elite de guerreiros lobo mas após um ataque de gigantes se vê obrigado a caçar sozinho para se provar como apto a entrar no grupo mais formidável de batalha entre os humanos.

Os contos vão progressivamente ficando melhores, sendo o último meu favorito do autor até então. Isso mostra uma evolução enorme de sua escrita. Vale a pena conferir.
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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Resenha #281 Jardins Suspensos (Victor Allenspatch)


"Jardins Suspensos" é o primeiro livro da série Dente-de-Leão de Victor Allenspatch. Victor é um autor que trabalha de forma independente e esse novo trabalho é fruto do isolamento da pandemia, afinal são cinco livros, escritos e lançados no fim do ano passado. Não há uma abordagem direta sobre a pandemia mas é impossivel não perceber o isolamento e solidão dos personagens mesmo vendo eles percorrerem a cidade do Rio de Janeiro, mas aqui o isolamento é condicionado pelo uso da tecnologia. 

Acompanhamos Yara e Pedro, que vivem no Brasil do futuro onde grande parte dos problemas sociais estão resolvidos. Há impressoras que imprimem quase tudo que precisamos, mas uma crise de desempregados por causa dessa mesma tecnologia ameaça uma crise em toda a América do Sul (agora um único país). Yara e Pedro são dois dos últimos brasileiros com emprego e se veem sem rumo, em meio a crise que se instaura. Começamos com longos capítulos imergidos no mundo de cada um dos protagonistas separadamente, mas a medida que o mundo como conhecem desaba, os trechos individuais se intercalam cada vez mais até o derradeiro encontro, após quase se esbarrarem várias vezes.

A tecnologia que parece ter resolvido todos os problemas, mas o isolamento parece cada vez maior e a tecnologia de lentes não consegue mais encobrir. Pedro e Yara são jovens que se sentem completamente deslocados e sem propósito. Yara consegue se contectar a natureza e encontra conforto se distanciando de toda a convulsão social que se espalha nos grandes centros, mas Pedro acaba entrando para um grupo de revolucionários bastante típico de histórias Young Adult, onde um pequeno grupo de jovens tem chances reais de "derrubar o sistema", seja lá o que isso signifique. Esta foi a parte mias difícil de me conectar com a história, pois realmente não gostei, mas o drama pessoal de Pedro foi mais recompensador de acompanhar. Sem contar mais sob o risco de spoiler, a história de Yara e Pedro não termina neste livro. Neste ponto também esperava um fechamento de ciclo mais consistente, mesmo para um primeiro volume. Contudo, a escrita é tão boa quanto os outros escritos do autor e o crescimento pessoal dos personagens encontram uma curva satisfatória. Agora é acompanhar o próximo volume, Estaleiro Voltaire.

 
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segunda-feira, 10 de abril de 2023

Resenha #280 Fuga para parte alguma (Jeronymo Monteiro)


"Fuga para parte alguma" é uma obra clássica da primeira onda da ficção científica brasileira lançada em 1961 pelas Edições GRD, primeiro foco da ficção científica no Brasil. Temos aqui uma obra que faz um desenho filosófico de um pessimismo em relação a civilização humana. O livro se passa no longínquo século 122 em uma cidade avançada tecnologicamente. O autor não busca uma extrapolação social tão sofisticada mas se vale da ficção científica para extrapolações filosóficas.

A humanidade passa a enfrentar um inimigo inusitado. Formigas amazônicas mutantes que se espalham e começam a devorar humanos e animais. Começa um combate a esta praga mas logo vemos que a humanidade começa perdendo e se obriga a fugir, apesar de toda a tecnologia que dispõe. Podemos apontar o primeiro problema do livro: não há um esforço em retratar os humanos explorando outras formas de matar as formigas, como usando veneno, por exemplo. Vemos os humanos pegos de surpresa e incapazes de reagir. Reduzidos a sua animalidade e instinto de sobrevivência, como qualquer outro animal acuado. Acredito que é esse lembrete que o autor busca com a obra. Relembrar a nossa vulnerabilidade apesar de já termos dominado a natureza com tamanha eficácia ainda que de forma destrutiva.

Ainda que a reflexão seja válida, a obra não envelheceu bem. A imaginação ao retratar uma sociedade tão patriarcal e normatizada, neste futuro tão futuro soa como as obras de Asimov. Encaixa no contexto limitado da época em que foi escrita, mas como disse, envelheceu mal. Contudo, para o leitor que se dispuser a mergulhar nessa reflexão e neste mundo aterrador, será presenteado pela potência do drama humano, potencializado por cenas violentas dos ataques de formigas de vinte centímetros que agem como se fossem piranhas. Recomendo!
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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Resenha #279 - Aqueles que chegaram antes (Jean Gabriel Álamo)


"Aqueles que chegaram antes" é um livro de terror cósmico e aventura de Jean Gabriel Álamo. Um bem vindo retorno as publicações do autor após um hiato de lançamentos. O autor conseguiu um relevante alcance de forma independente e escreve todas as suas obras dentro do mesmo universo, mesmo com obras de vários gêneros do fantástico. Em última instancia, tudo é ficção científica, mas o autor consegue isolar o estilo pretendido em obras de fantasia e horror, preservando o universo compartilhado e aqui não é diferente.

Aqui temos um livro curto, baseado no Manuscrito 512. Um dos vários que exploram a existência de uma cidade perdida, tal qual como Eldorado ou Paititi, nas quais haveriam vestígios de uma civilização morta e tesouros ancestrais. Nenhuma destas cidades ou lendas passaram disso e justamente por isso são fontes para a imaginação para histórias como esta. Aqui, buscou-se um apelo direto ao documento (inclusive pode ser lido na íntegra no e-book) que serve de início até os mistérios que se ligam de alguma forma a construção de mundo cósmico do autor. Tudo devidamente disfarçado pelo ponto de vista ignorante dos personagens que não passam de homens da época.
   
Desta forma, a história acompanha uma expedição (poucos anos depois) instigada pelo relato do documento 512. Um aventureiro que perdeu um familiar na primeira expedição, um patrocinador, um padre misterioso, um indígena estranho e homens escravizados formam o grupo de expedicionários ou como se denominam, uma bandeira. Gostei como os personagens são desenvolvidos ao longo da viagem e a completa falta de apego a vida deles por parte do autor. Difícil não manter a tensão enquanto a obra vai chegando nos momentos decisivos. O amadurecimento do autor é perceptível e isso aumenta a vontade de ler seus próximos escritos. Ainda que o livro tenha um certo apelo ao terror, a aventura domina praticamente toda a obra. Uma leitura que vale a pena!






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