terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Resenha #119 - Rio: Zona de Guerra (Léo Lopes)


Rio: Zona de Guerra é um cyberpunk brasileiro que usa o Rio de Janeiro como cenário para pintar o futuro clássico cyberpunk, onde a alta tecnologia e a baixa qualidade de vida, contudo a separação entre o morro e o asfalto do Rio de Janeiro atual é extrapolada. Nesse futuro próximo a Zona de Guerra é o local onde os mais pobres moram, onde não há Estado e apenas a lei das gangues existe por lá, enquanto a porção rica vive em uma muralha ultravigiada.

A história segue o detetive particular Carlos Freitas que vive na Zona de Guerra, por sua vontade, mesmo podendo habitar a área rica. Após o aparente suicídio de uma mulher, Freitas recebe uma proposta de trabalho de Vivian, uma Femme Fatale, que era amiga da mulher que foi morta. Então, Freitas consegue um passe livre para dentro da zona fortificada e sua investigação vai se chocar com os interesses de uma das megacorporações que domina a cidade.

Ao longo da jornada de Freitas temos muitas cenas de ação, dando um ritmo frenético para o livro, ao longo do mistério que é bom quando caminha para a resolução, o livro é bastante divertido e bom como um filme de ação. Logo, não é tão profundo nas suas reflexões e combinado com o uso de clichês deixam a obra mais rasa do que o suficiente para que ela se leve a sério. No mais Freitas parece deslocado e a vida em um bairro pobre não ganha cores no livro, a população negra na obra é, infelizmente, um clichê coadjuvante ruim e mal feito, sendo que a parte rica foi bem melhor escrita. Isso desequilibra a obra como uma boa obra cyberpunk, mas ainda assim é um excelente livro de ação.






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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Resenha #118 - O Homem Invisível (H. G. Hells)


O Homem Invisível (1897) de H. G. Wells é um dos clássicos da ficção científica que imortalizou o autor como um dos seus expoentes, ao lado de Mary Shelley e Júlio Verne. A obra é cheia de ação e uma imaginação fora do comum, que é a característica mais importante de um bom escritor de ficção científica.

A história foi publicada em capítulos semanais num jornal inglês. É de se esperar que essa forma busque construir uma expectativa, alimentando o mistério do homem cheio de bandagens, luvas e óculos escuros que se instala numa pousada no vilarejo de Iping, na Inglaterra. O homem é desmascarado e empreende uma fuga que o coloca contra a sociedade. 

Podemos dividir a obra em duas partes. Na primeira, vemos como a sociedade despreza o diferente, mesmo que esse não faça mal algum a eles. Vemos isso pelo olhar dos habitantes do vilarejo com o reservado homem. O homem invisível toma a palavra apenas a partir da metade da obra, onde conta em retrospecto como ficou invisível e seu caminho até o vilarejo de Iping e uma perseguição após esse relato que é recheada de ação. Nessa segunda metade a reflexão deixa de ser sobre a sociedade hipócrita que julga um homem por ser diferente e passa a do homem que faz uma experiência e ganha um poder que o corrompe. Nesse ponto a obra perde consistência pois acaba validando exatamente o que criticava no início, ainda que o questionamento que passa a ser feito seja bastante válido. 

Hells usa a imaginação nas suas descrições das implicações práticas de ser invisível e sua escrita é muito direta o que mostra uma opção em privilegia uma boa história, cheia de criatividade. Os primeiros leitores dessa história leram um capitulo por semana, o que deve ter gerado uma expetativa imensa do público. Ler a obra foi como maratonar uma série na Netflix e se eu pudesse reler (sem saber do mistério, obviamente) faria com as leituras semanais. Quem sabe numa próxima obra de Hells. De qualquer forma recomendo.
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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Resenha #117 - A Invasão Divina (Philip K. Dick)


"A Invasão Divina" (1981) é a segunda obra da trilogia VALIS de Philip K. Dick, onde ele aplica na forma de ficção os conceitos em VALIS, usando personagens que encarnassem sua forma de enxergar o divino numa ficção científica muito fora do comum.

A história segue Emmanuel, um menino de dez anos que frequenta uma escola especial onde conhece Zina. Uma menina mais velha que guia Emmanuel em sua jornada para sua verdadeira essência. Ele é deus reencarnado para uma batalha do bem contra o mal. Ele foi trazido a Terra por Herb Asher, do distante planeta de metano CY30-CY30B, quando ajudou Rybys a conseguir tratamento para um câncer terminal, enquanto estava grávida de Emmanuel ainda virgem. 

Asher também está em uma jornada própria, após sua chegada a Terra, sofre um atentado no qual Rybys morre e Emmanuel posto em uma escola interna e passa dez anos em estado criogênico. Congelado, mas consciênte Asher reviveu o seu tempo, diversas vezes, nos domos CY30-CY30B de com Rybys desde que é forçado por Elias Tate a ajudá-la até o atentado.

Emmanuel e Zina, representam a divindade conforme a exegese de Horsolver Fat em VALIS enquanto a Asher é obviamente o próprio autor vivendo em camadas de realidade sem saber se existe uma que não seja um simulacro, sofrendo de visões e buscando salvação em sua musa inspiradora. Dick volta a usar de mais literatura e discrição para expor sua exegese usando personagens ao invés de apenas trazer conceitos, como fez em VALIS, o que fez sua visão ficar precisa mas não teve o peso emocional da história da ruína de Horselover Fat. Assim como seu predecessor, continua sendo uma obra que necessita de um conhecimento prévio de teologia, sendo que aqui Dick usa mais a Tora judaica que a Bíblia cristã. Recomendo a obra para leitores avançados em Philip K. Dick ou, ao menos, para quem já leu VALIS para não ficar de fora das referências.  
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Resenha #116 - Guerra do Velho (John Scalzi)


Vamos começar o ano de 2020 falando de um livro ideal pra ler nas férias, se você quer algo rápido e divertido. "Guerra do Velho" (2016) é o primeiro de uma bem sucedida saga de Ficção Científica space opera militar, que bebeu assumidamente do clássico "Tropas Estelares" de Heimlein, mas com uma proposta bem mais leve buscando entreter o leitor, o que faz bem. 

A história acompanha John Perry que aos 75 anos alista-se no Exército de Defesa Colonial, que atua em vários planetas da galáxia. Para os habitantes da Terra, tudo entorno de como esse exército atua é envolto de mistério. Qual a utilidade de idosos de 75 anos para um exército? Que tipo de tecnologia utilizam? Até se alistarem eles podem apenas deduzir e o autor conduz essa curiosidade pelo ponto de vista do protagonista e responde todas essas dúvidas e joga o leitor em ação frenética, onde Perry se mostra um excelente soldado, além disso consegue trazer mais mistérios ao longo da trama.

A construção de mundo é bem interessante e faz querer conhecer mais sobre as diversas criaturas inteligentes que vivem na galaxia, porém a ação frenética não deixa espaço para qualquer debate mais profundo sobre o que é ser humano. Indústria da guerra e dilemas existenciais são apenas tangenciados, deixando bem evidente que o livro é feito para divertir. O mesmo vale para o aprofundamento dos personagens. Eles são bem rasos mesmo, e o fato de que alguns não vivem muito, não me serve de desculpa pois Perry é apenas um bode expiatório para nos apresentar o mundo bem construído. Ainda não sei porque não virou filme, pois a sequência de acontecimentos é linear, de fácil compreensão e tem boas cenas de ação. Pronto para virar filme. Recomendo para quem já sabe o que esperar da obra.
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