segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Resenha #150 - Coletânea Afrofuturismo (Junno Sena, Org.)


A coletânea "Afrofuturismo" da editora Recorte foi a primeira das minhas leituras sobre o tema, aproveitando os 30 dias gratuitos de Kindle Unlimited. Aqui são oito contos curtos de autores negros brasileiros, que tem o negro como personagem e tema principais. A introdução me empolgou bastante quando falou da literatura afrofuturista, como uma forma de imaginar e construir um futuro em que os negros estão vivos, o que é particularmente significativo num país onde tantos negros morrem. Fiquei com a expectativa alta por esperar contos de ficção científica (estava na prateleira de FC na Amazon) mas ao ler os contos percebemos que apenas três contos são FC. Lá pela metade do livro já entendi que a temática era outra, então consegui aproveitar melhor os contos, que são bem variados e bem escritos. Então os leitores de FC controlar essa expectativa ou para quem não gosta de FC, se abrir para os contos que são de FC, vão aproveitar melhor os contos. Vamos agora, falar dos contos separadamente: 
 
"Os ensinamentos ancestrais da menina senhora Luandê" (Caena Rodrigues Conceição) conta a história da menina Luandê, que nasceu com maturidade, inteligência de adultos ou divindades e suas mensagens para o povo. Tem um ritmo como se fosse contado por um Griô.

"O reino de Agunttah" (Fernando Gonzaga) é uma ficção científica que conta de Agunttah que vive na cidade Supertrix, uma cidade de uma diáspora interplanetária onde ainda se reverencia a ancestralidade do velho continente africano. O conto desenha um cenário muito interessante, de um povo que vive em harmonia com a natureza e como chegaram até ali. Novamente temos uma história que tem um ritmo de história contada por um griô, o que é ótimo, mas acho que mesmo para um conto curto, faz falta um conflito que movimente a história e não a deixe com cara de introdução a uma história maior.

"Saudades Creitino" (Giovany de Oliveira) Conta a história de Creiton que tem um encontro casual com Djanilton, quando este briga com a namorada pelo telefone. O conto é um slice of life, conta apenas um momento de um dia, um causo que o protagonista vá contar para um amigo e trabalha muito bem com as minucias de uma conquista, uma conversa cheia de descrições dos pensamentos, intenções e gira entorno do não dito, principalmente as hipocrisias diárias da sexualidade.

"O ano?" (Junno Sena) O organizador da coletânea traz um conto que é um drama distópico sobre um fugutivo que depois de ser capturado com o amante passa sofrer a perseguição de um agente da polícia. O clima opressor é bem conduzido e o estabelecimento de uma distopia é feito de forma orgânica no conto. A revelação do final faz uma reflexão bem vinda. Prefiro não falar mais para não estragá-la.

"Indecisão" (Kuku Dada) Conto é um momento do cotidiano, muito curto de uma violência sexual em um transporte coletivo. Foca mais nas sensações e pensamentos da protagonista, em ritmo de confissão e desabafo, e passa bastante autenticidade no cotidiano.

"O futuro negro" (Lorena Nascimento) Outra ficção Científica que narra como um desastre natural favoreceu a morte de quase toda a humanidade menos o povo africano, pelo seu modo de convivência com o clima árido e a melanina da pele. Novamente um cenário muito interessante mas sem apresentar um conflito ou personagens, parecendo mais um texto de apoio para uma história a ser escrita. 

"OMARA OMNIRA" (Margarete Carvalho) Conta a história de entidades que encarnam em negros escravizados na travessia do atlântico. Foca bastante na relação entre eles e sua condição sobrenatural. A revelação no final, me fez querer saber loucamente o que ia acontecer no final.
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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Resenha #149 - Solfieri e o Espectro do Casarão Sombrio (Enéias Tavares)


"Solfieri e o Espectro do Casarão Sombrio" é o segundo conto da série Brasiliana Steampunk de Enéias Tavares, dando destaque a Solfieri de Azevedo, que no romance desta série (Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison) acabou ficando como um coadjuvante de luxo. Neste conto ele brilha como um investigador paranormal solicitado a investigar estranhas atividades em um casarão. O conto é conduzido com a elegância que o personagem exige e lembra bastante Remi Rudá da série Guanabara Real, também outro projeto com o mesmo autor. O Conto é excelente para relembrar o universo criado pelo autor e dar mais voz a um dos personagens mais bacanas remodelados por Enéias. Sendo assim, recomendo deveras a apreciação do conto!
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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Resenha #148 - Projeto Crajubar (Jaime G. Bullock)


"Projeto Crajubar" é uma obra independente escrito por Jaime G. Bullock (pseudônimo) é o primeiro de uma série ainda sem continuação lançada, que conta a história da primeira missão tripulada a Marte. É uma narração epistolar, ou seja, é narrado em forma de carta que foi deixada para um amigo do mensageiro. Esse recurso é um dos que mais gosto na literatura pois privilegia o ponto de vista que pode tanto estar falando sua versão da verdade quanto mentindo mas não necessariamente uma verdade absoluta. O livro faz isso da mesma forma que H. G. Wells faz em Máquina do Tempo.

A premissa parte desse relato da primeira missão tripulada a Marte, sendo totalmente composta por brasileiros e a narração não dá explicações mais profundas, tampouco coerentes da supremacia espacial brasileira. Seria mais interessante ver um grupo formado por várias nacionalidades e então colocar um brasileiro na liderança. Contudo isso deixa de ser muito relevante para o andamento da história que conta com muitas reviravoltas que são tão mirabolantes que deixam a história com cara dos antigos contos pulps. Se o leitor se dispuser a suspender a descrença como faria numa FC pulp, então vai aproveitar muito bem essa aventura. Espero poder ler a sequência!
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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Resenha #147 - Poder Absoluto (Jean Gabriel Álamo)


"Poder Absoluto" é o primeiro livro de Jean Gabriel Álamo, lançado de forma independente em 2017 na plataforma da Amazon e desde então o autor vem lançando vários trabalhos na plataforma - contos, noveletas, romances - dentro do mesmo universo sem se limitar a Ficção Científica, o que me instigou a ler essa obra com perspectiva de acompanhar outros escritos. A história começa em 2257 e a humanidade é governada pelo Suserano, uma inteligência artificial resultado da transferência de consciência de um cientista que implantou uma ditadura global, governando com mão de ferro. Acompanhamos o protagonista Pietro que vive na cidade 1223 (todas as cidades são números) e, depois que vê seu amigo Darcy ser abatido a tiros pela polícia, entra em uma trama que envolve diretamente o governo e um grupo subversivo chamado MK Ultra, enquanto isso Pietro também conhece e se apaixona por Diana, uma repórter do Menestrel (imprensa permitida pelo governo) mas mesmo sem saber ela também tem uma ligação estreita com o MK Ultra. A partir daí vão entrando mais personagens e se instaura um conflito de interesses. Pietro se torna importante para o MK Ultra que deseja usá-lo em seus planos enquanto ambos são caçados pela polícia do Suserano. A obra se define como um cyberpunk, e apesar de constar a atitude contra o sistema que justifique o sufixo "punk", a ambientação se encaixa em qualquer futurismo.

A obra é organizada em vários capítulos curtos que alternam de personagem. Boa parte dos capítulos é com Pietro e outros com Diana, e uma pequena parte alterna entre outros personagens, o que traz um dinamismo bem vindo. A história tem muitos eventos e revelações, os mistérios ficaram bem construídos. As cenas de ação são o forte do livro, com destaque a fuga pelos buracos de minhoca. As tecnologias utilizadas em armas, veículos e demais objetos são muito bem elaborados e explicados na medida certa, pois o autor deixa as notas de rodapé os detalhes técnicos para os curiosos e poupa o leitor que quer mais ação de uma quebra de ritmo. Contudo, o que a obra explica em detalhes técnicos, falta na construção dos personagens principais que não tem qualquer curva de evolução: a grande maioria deles são os mesmos do início ao fim, acabei me afeiçoando mais de Quorra, líder do MK Ultra que parece ser a única personagem com motivações mais profundas, mas os personagens principais Pietro e Diana soam adolescentes o tempo todo. Temos apenas um fundo raso de motivação mas não faz o protagonista ficar mais interessante pois não sabemos como os protagonistas se sentem, então quando eles mudam de atitude e passam a agir diferente, acaba sendo algo repentino, forçado. Sendo assim, o livro é bom se você gosta de cenas de ação e um ritmo frenético. Já tenho várias obras lidas do autor que pretendo trazer no blogue!
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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Resenha #146 - A Casa de Vidro (Anna Fagundes Martino)

"A Casa de Vidro" foi lançada em 2016, sendo o primeiro lançamento da Editora Dame Blache, que entrou no mercado para valorizar a autoria e valorização entre autores de minorias sociais (resumindo grosseiramente) e lançar novos nomes na ficção fantástica e científica. Anna Fagundes Martino, foi o primeiro nome escolhido com sua noveleta, "A Casa de Vidro", que conta a historia de Eleanor em dois tempos distintos: A jovem que se apaixona por um jardineiro misterioso e a senhora que relembra seu passado ao encontrar sua filha.

A história não tenta manter um mistério sobre as natureza fantástica do jardineiro Sebastian e sua habilidade de criar a vida vegetal por onde passa, o que encanta e instiga Eleanor, além de seu jeito autentico e alheio as convenções sociais. O amor entre os dois parece inevitável. Enquanto isso a velha Eleanor encontra pela primeira vez Stella, o fruto desse amor de dois mundos.

O ponto alto do livro é a qualidade da escrita que consegue aclimatar o leitor no cenário bucólico e isolado do interior da Inglaterra, e ainda tem passagens que nos coloca para refletir sobre a vida. Confesso que minha vontade de ver história em lugares inusitados murchou com a escolha batida de uma casa no interior da Inglaterra, mas o fato da autora tem uma história consistente com esse lugar (ela estudou Relações Internacionais nesse país) torna a escolha coerente com sua vivência. Não é o caso de autores iniciantes com histórias fruto de uma mente colonizada, que escolheriam facilmente esse mesmo cenário. Contudo, a história soa como um prólogo de algo maior e carece de alguma surpresa pois tudo que se imagina que vai acontecer, de fato acontece. Como essa história possui, até onde pesquisei, duas continuações, vou apostar minhas fichas nelas. A casa de Vidro sustenta-se como um excelente prólogo, estabelecendo bem as regras deste mundo fantástico (tanto que lerei as sequencias) mas não como uma história fechada em si.
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