segunda-feira, 27 de junho de 2022

Resenha #241 Contos Reversos (Romy Shinzare)


"Contos Reversos" da Romy Shinzare é um livro de contos da autora, pela Editora Patuá, participante da antologia Outros Brasis da Ficção Científica, onde podemos ver seu total domínio da narrativa curta. Temos contos de terror, ficção científica e alegorias muito intrigantes que ficam ainda melhores no conjunto pois não tem como saber o que esperar dos contos até que a autora queira que você saiba.

O livro abre com dois contos alegóricos: "Ministério da Solidão" e "O Prédio". O primeiro se passa num mundo tomado pelos homens-bananas e sua rápida proliferação, sempre flutuando ao sabor do mercado e, depois, com a rotina de um prédio onde a evolução se alcança de bípedes para quadrúpedes. Em "O colecionador" um homem atormentado por uma herança de família, num conto cheio de imagens bem construídas. "Ms. Liberty" é outra alegoria, que embora menos complexa é cheia de fúria e paixão, quando narra uma breve desventura da Estátua da Liberdade indignada com o mau uso de seu conceito.

"Os robôs de Marte" é a primeira FC do livro e tem o sabor daquelas antigas FC sobre Marte, em que imagens e reflexões vão se acumulando na cabeça do leitor. "Canal 66" parece um terror saído da série Além da Imaginação tanto na criatividade quanto no suspense no desenvolvimento. "Buraco de Minhoca" volta a FC com a viagem insólita de um cosmonauta russo e seu regresso do espaço não menos insólito e saindo da Rússia para os EUA, com a mesma desenvoltura "Operação Baltimore" narra um suspense sobre uma organização que combate a KKK. Sem aviso algum, voltamos ao nosso quintal, a autora nos joga no misterioso caso de "O Vampiro de Sta Efigênia" no Brasil, que ganha tons tragicômicos quanto mais perto do desenlace chega. 

"O Baile" temos um conto insólito de uma dançarina, que poderia ter saído de um sonho, apenas para ser imergido em um pesadelo em "Ookie Dookie" onde um jovem casal se depara com uma cidade turística. No embalo do estranho e do fantástico, "Moça Enularada" nos dá um rapa em nossas expectativas ao contar a história de um ET que visita fazendeiros mineiros. Agora em meio a tecnologia da cidade grande "Rede ZZZ" nos faz uma pergunta simples: e se tudo parasse de funcionar?

O livro encerra com duas histórias com criaturas fantásticas. "Oziris" onde uma raça estelar convive em meio aos humanos de forma secreta, num conto bonito e emocionante, contrapondo violentamente com "Mutantes" que tem uma narrativa frenética na busca por um emprego em meio a transformações involuntárias.
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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Resenha #240 Floresta é o nome do mundo (Úrsula Le Guin)


"Floresta é o nome do mundo" da Úrsula Le Guin é o terceiro livro do Ciclo Hainnish que chega ao Brasil em Português-BR, já havia sido traduzido em Portugal pela Europa-América. Foi uma excelente notícia pois estava difícil imaginar, que a Editora Aleph iria voltar a publicá-la mesmo já tendo publicado "A Mão Esquerda da Escuridão" e "Os Despossuídos".

Acompanhamos o encontro civilizacional dos Humanos da Terra com os nativos de Athshe. Distante 27 anos da Terra, os colonos da Terra impõe uma dominação brutal, ao modo europeu com os nativos indígenas. Da intenção para extrativismo, ao uso de trabalho escravo, os athesheanos não conhecem o uso da violência para aqueles que reconhecem como humanos (ou yumanos, na língua deles) enquanto que os colonos reduzem a animais, chamando-os de "creechies" - de criatura.

Apenas Raj Lyubov demonstra interesse em um intercâmbio cultural com os nativos. Dessa forma conhece Selver que após ter sua esposa estuprada e morta por Don Davidson, o típico brucutu que tem prazer na violência e mostra ao longo do livro como é desprezível. São esses os três narradores que intercalam a obra. Selver tem um papel crucial pois sua vivência o coloca como líder de uma revolta que pode por em risco a colônia yumana e nem uma comissão de emissários de outros planetas parece ser capaz de frear essa onda de violência que se anuncia.

Os hainianos, são a raça originária dos povos retratados nas obras de Le Guin, inclusive os humanos da Terra, porém essa civilização perdeu contato com suas colônias e elas se esqueceram umas das outras, de forma que todos são humanos. Em "Floresta é o nome do mundo" estamos no início da criação da Liga dos Mundos, com base na criação do anísvel, uma máquina capaz de comunicação interplanetária instantânea. Contudo, nem mesmo a jovem Liga pode evitar o confronto que se anuncia. Chama a atenção a relação dos athesehanos com os sonhos que os colocariam como um dos seres mais importantes para a Liga dos Mundos.

De volta a obra, Úrsula foi muito competente em colocar os dilemas ambientais, do colonialismo, ecologia em uma obra tão maravilhosa como triste, como de fato foi a história do colonialismo europeu, mas que pelo seu caráter ficcional, infelizmente envelheceu bem, permanecendo atual, pois uma vez que aprendemos algo, não podemos mais voltar atrás. 
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segunda-feira, 13 de junho de 2022

Resenha #239 - Diário Simulado (Delson Neto)


"Diário Simulado" de Delson Neto foi a minha primeira aquisição de livro exclusivamente digital, uma vez que a Plutão Livros tem trabalhado apenas neste formato. Um marco pessoal pois, desde que adquiri meu leitor Kindle, li apenas livros gratuitos e pelo sistema de empréstimo Kindle Unlimited. Como não poderia deixar de ser, essa aquisição foi um cyberpunk brasileiro. Subgênero que sempre estou catando algo para ler e não me decepcionei aqui.

Acompanhamos Shura, que vive em Nova Avalon, num futuro indeterminado. Após cair no fogo cruzado, durante um atentado terrorista, ela se vê no meio do conflito. Recrutada tanto pelo departamento de polícia quanto pelos neodruidas. Shura é uma personagem muito bem construída, antes de mais nada, pelas suas reflexões em forma de diário antes de cada capítulo. Durante a história, Shura se mostra impulsiva, reprimindo emoções em meio a vida atribulada. Nenhum de seus familiares de sangue, a ajuda, e ela encontra esteio emocional apenas em Violet, sua namorada, que serve de contraponto para sua impulsividade, que aflora quando as duas estão longe uma da outra. Já em Trisha, sua melhor amiga, a apoia em tudo, ainda que essa amizade não tenha sido tanto posta a prova.

Shura vive no limiar do real em um mundo tomado por simulações, sendo que para os neodruidas, ela é imposta como forma de opressão, o que dá ares de Philip K. Dick a obra. Contudo, não temos uma escrita prolixa sobre o mundo das simulações, mas boas reflexões que entranham-se com muita coesão no mundo futurista. Acredito que acima de tudo temos uma boa história em um livro bom tanto para novatos quanto veteranos na FC.
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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Resenha #238 - A quinta dimensão (Clare Winger Harris)


"A quinta dimensão" de Clare Winger Harris é uma das histórias da autora que surgiu nas antigas revistas pulp dos anos 1920 nos Estados Unidos e que está sendo celebrada pela editora Cyberus com vários lançamentos de contos na Amazon. Este é um dos contos que foram lançados e o segundo da autora resenhado aqui.

"A quinta dimensão" é um conto curto onde acompanhamos Ellen e John, um típico casal estadunidense conversando no café da manhã. Ellen tenta convencer o marido de que tudo que acontece ao seu redor é uma de muitas repetições e tenta provar a sua teoria. John não dá muita atenção até Ellen presenciar um acidente trágico na vizinhança e tentar convencer de que algo terrível pode acontecer com ele. Tudo é muito simples nesse conto, as situações e os acontecimentos, sendo a parte complexa a teoria que Ellen usa para explicar o tempo cíclico, que seria algo que me lembra a visão do cosmo pela civilização Maia. Algo que, a própria Ellen entende, bate frontalmente com a ideia de progresso. Tive um gostinho das loucuras de Philip K. Dick mas num estilo mais contido da autora.
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