segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Resenha #163 - Terra Verde (Roberto de Sousa Causo)


"Terra Verde" (2013) é outra leitura do Kindle Unlimited, muito difícil de achar na forma física. Escrito por Roberto de Sousa Causo, já resenhado no blogue pelos livros Selva Brasil e Glória Sombria. Assim como Selva Brasil, usa a amazônia como cenário, mas ao invés da aventura militar numa história alternativa, "Terra Verde" usa o tema batido do alienígena que desembarca sozinho na Terra e o despeja na realidade brasileira, tento ai sua originalidade, pois aborda sem medo temas pesados como a prostituição infantil, além da exploração da amazônia. O alienígena utiliza um índio que trabalha para a FUNAI como hospedeiro e ambos tem que fugir de um grupo de garimpeiros. Estes representam bem os a crítica de Causo a situação da amazônia e do Brasil: Koch, o mercenário estadunidense sedento por violência; Fonseca, o mafioso do garimpo e Gomes que abandonou a docência para enriquecer fechando os olhos para as barbáries de uma região praticamente sem lei. O alienígena chamado apenas de "Explorador" está em um teste de sobrevivência e caráter e aceita ajudar a menina Didinha a fugir da exploração sexual arriscando a vida do hospedeiro e seu propósito. Assim como em Selva Brasil, o romance é curto, direto e ágil, com bastante ação e mostra a versatilidade de Causo para além das batalhas espaciais. Terra verde faz uma síntese crua e direta do Brasil e merece ser lido.

Leia Mais ››

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Resenha #162 - Violetas, Unicórnios e Rinocerontes (Cláudia Dugim Org.)


"Violetas, Unicórnios e Rinocerontes" (2020, Editora Patuá) é uma antologia organizada por Cláudia Dugim com a proposta de reunir autores e contos LGBTQIA+. Grande parte dos contos (ao menos os que consegui identificar) revisitam mundos de obras clássicas com novas histórias. Todos os contos refletem nos personagens a diversidade tanto em elementos mundanos, como um simples relacionamento entre dois personagens que são relevantes por serem inseridos sem alarde, até questões existenciais e de identidade de gênero inseridas nas extrapolações das histórias. No que tange a Ficção Científica, a qualidade está também excelente.  

Feito Bicho na Lama (Camila Fernandes) pinta um retrato de opressão e liberdade quando decidisse começar um mundo novo, livre desde a sexualidade até a organização social e econômica. Acompanhamos Ravnu que decide entrar para uma comunidade com essas características. A comunidade surgiu após Hubna Rak, uma catedrática ser questionada por seus superiores após uma escavação arqueológica que visava resgatar a história dos povos que foram conquistados por aquela sociedade. Hubna compra a briga e enfrenta os ditames legais enquanto Ravnu se encontra no amor de Nanu e Naida, ao mesmo tempo que sua família tradicionalíssima vai fazendo menos sentido. A construção desse mundo me lembra Ursula K. Leguin em "Os Despossuídos", no uso de um local alienígena para traçar comparações óbvias com a nossa sociedade extrapolando-a em um quase ensaio social. Vou guardar esse conto no meu coração como se fosse pertencente a Liga dos Mundos.

A História Antes do Fóssil (Cristina Laisatis) da autora de sensacional Fábulas do Tempo e da Eternidade no traz outro conto com o mesmo nível, trazendo uma história de seres de tempos imemoriais, sem forma física, na formação do planeta Terra. É aquele conto que nos faz viajar como o conto "Viagem Além do Absoluto" e alguns trechos do "Aguas vivas não sabem de si" da Aline Valek. Obrigado pelo passeio, Cristina!

Tudo é Macio Por Dentro (Sol Coelho) conto distopico em um mundo em que flores são catalizadores de uma contaminação mundial. Acompanhamos a pequena Nina, que se arrisca em túneis contaminados. O final é inesperado e emocionante, mesmo num conto curto como esse.

154 segundos (Celso Duvecchi) conto inspira-se no clássico Farenheit 451, (começando pelo anagrama numérico) no que parece um futuro desta distopia onde, além dos livros, os filmes de longa metragem passaram a ser proibidos, não permitindo-se programas com mais de 154 segundos. Espaço de tempo chamado período. Acompanhamos Fayola, que está participando de uma entrevista de emprego, no canal de televisão Telas, com a intenção de trabalhar com Marsha, a última artista que fazia longas metragens de quem Fayola é fã. O cenário faz uma espécie de continuação muito digna e criativa deste mundo lembrando do valor da sétima arte e seu potencial crítico.

Emiliano (Cláudia Dugim) Frederica Wari está em missão no planeta Agadi Toi Bebede em busca uma parte desprendida do seu povo/entidade. Frederica é uma parte dessa entidade coletiva formada por Vasos, Utilitárias e Opuais, que tem dificuldade para entender a individualidade do ser humano, ainda mais quando a sua extensão física precisa se misturar com os humanos para cumprir seu objetivo, mas a jornada acarretará em mudanças irreversíveis. O conto é muito instigante, pois se passa na pele de um ser estranho e o raciocínio que nos conduz a perdermos esse estranhamento, em parte pela linguagem e outra pela jornada de autoconhecimento são muito bacanas de acompanhar.

Teste Anti-Turing (Tiago Ambrósio Lage) Malva está em uma missão em busca de novos mundos para a humanidade, acompanhado apenas de Turquesa, uma IA que guia a nave. Malva começa a desenvolver uma paixão por Turquesa que começa a mostrar mais humano do que Malva imaginava. O conto começa com um pano de fundo que lembra 2001, mas a história guarda muitas reviravoltas.

Valei-me, Zé! (Saren Camargo) Zé é um jóquei de console, numa aventura de Neuromancer nas favelas do Rio de Janeiro. O conto faz uma mistura muito divertida, adaptando o cenário gibsoniano ao cenário brasileiro. A viagem pelo ciberespaço e outros termos dão um ar retrofuturista ao conto que absorve bem a pegada cyberpunk, com direito a um samurai urbano namorado de Zé.

Das Dores (Puri Matsumoto) Conto com ares de mitologia em que Maria das Dores é a última mulher do mundo, perambula acumulando dores até um fim catártico.

Filha da Terra (Alexandra Cardoso) Uriel é uma IA criada por um cientista a serviço de humanos na lua para espionar, influenciar e dominar os humanos na Terra mas o contato com uma jovem brasileira vai mudar tudo. Conto narrado por uma IA fornece uma visão da neutralidade de gênero interessante.

A Francesa (G. G. Diniz) conto de um caso de amor entre Amélie e uma cearense. A francesa se mostra misteriosa o que é revelado no final do conto.

Pensem nas crianças (Alexey Dodsworth) o que aconteceria se O evento de O Fim da Infância, de Artur C. Clarke, acontecesse em 1986. Iara de Oxumaré e seus netos Marcos e Jandira, descobrem uma ligação dos Senhores Supremos com Iara. O conto exige que tenhamos lido O Fim da Infância, para pegar todas as referências mas recompensa o leitor porque são muito inspiradas. Outro conto que já imagino no mesmo mundo da obra inspiradora. 

Em Busca do Éden (Tom Borges) nos trás de volta ao mundo habitado pelo oceano em Solaris de Stanislaw Lem. Acompanhamos a dr. Malta em uma nova missão de pesquisa ao planeta que está ainda mais abandonado desde que os soviéticos abandonaram a base e as pesquisas da ciência solarística. Sabe-se mais sobre o oceano mas isso não significa literalmente nada até que Malta, com a ajuda do visitante Matias, o noivo que abandonou, é obrigada a revisitar seus temores e defender seu novo achado científico. Conto imersivo e trouxe o clima de desolação de Lem com um tempero próprio.

Abissal (Saskia Sá) é ambientado no futuro do mundo de "Águas-vivas não sabem de si" de Aline Valek, em 2230 uma nova estação subaquática chefiada por Cecília investiga os mistérios abissais que ameaçam a integridade da estação que é quase uma cidade. Fazendo uso dos trajes (aqui já operacionais), a jovem Muriel é uma exploradora que ouve o chamado do oceano, que guarda segredos profundos como os de Cecília e Muriel. Conto faz um retorno muito agradável ao  mundo instigante de "Águas-vivas" e elaborar uma trama consistente em pouco espaço.

Download Concluídos... (Tiago Joy) O sensual Craig, ou o professor falido Lucas, enfrentam um grupo de hackers conservadores que caçam LGBTQIA+ para infectá-los com vírus que matam tanto a parte física como o virtual dos seus alvos. Conto parece ser inspirado no livro Jogador nº1 de Ernest Cline, mas como não li o livro, não posso confirmar. O conto parece que vai ter uma pegada divertida no começo mas o assunto vai ficando sério com o passar das páginas. Final ala PKD, do jeito que eu gosto.

XXX (Naná DeLuca) uma inteligência do espaço vigia nosso planeta diariamente, sem entender porque os humanos insistem em viver. É uma crônica disfarçada de conto, pois não há trama mas um punhado de reflexões sobre o mundo. Foi uma boa escolha para encerrar a antologia, pois ainda que destoe do gênero conto, as reflexões se encaixam perfeitamente com o restante da obra, como um manifesto que me agradou bastante.





Leia Mais ››

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Resenha #161 - Humanidade à Deriva (Jean Gabriel Álamo)


"Humanidade à Deriva" é uma antologia de todos os trabalhos que englobam o mesmo universo do autor Jean Gabriel Álamo. Vão desde contos curtos até obras de maior fôlego que já foram resenhadas aqui. Aparentemente apenas algumas histórias tem ligação direta entre si, como as aventuras do bruxo Iago Lima em Feiticeiro de Aluguel e entre "Androides não são Perfeitos" e "Poder Absoluto", mas também há conexões mais sutis como o sistema de magia em alguns contos e contextualização de outros contos como a existência de um grupo chamado Frente Humana. Vamos agora falar de cada conto em separado:

"O Suspiro" é um conto bem curto que abre a coleção. É um relatório deixado por uma civilização que não encontrou mais motivos para continuar existindo e promoveram a sua própria extinção. A narrativa conta como se fosse uma carta deixada em uma garrafa no oceano. Como se trata de um texto curto, é exclusivamente dedicado ao que se propõe. É um conto que vale a leitura, mas que não aprofunda os argumentos, apenas os resume, nem conta mais sobre a civilização que toma essa decisão tão drástica, contudo como já disse, vale a leitura!

"A cidade sob as estrelas" é uma fantasia baseada em cidades míticas. Acompanhamos o mercador atlante Hastur que após perder toda sua mercadoria vai para Arã, na costa da Lemúria e lá conhece o pirata Malarã em um prostíbulo, que lhe faz uma proposta perigosa. O conto faz uma boa imersão neste mundo fantástico em que as cidades míticas existem e filhos de deuses pisam na terra, mas não garante a vitória de ninguém. O conto tem um final ousado e deixa um gosto amargo no final, o que pode fazer você gostar tanto da história quanto eu. Recomendo!

Depois temos as três primeiras histórias do bruxo Iago Lima: "Feiticeiro de Aluguel: Noite em Neon", "Feiticeiro de Aluguel: A Serviço de Exu" e "Feiticeiro de Aluguel: Bruxo Tutelar" que já havíamos resenhado no blogue antes.

"Rastros Invisíveis" conta a história de Max, um vigilante mascarado que após a morte do tio, ex-militar, passa a vagar pelas ruas fazendo justiça com as próprias mãos. Como o próprio autor declara, é um herói de direita. Nessa história, ele decide investigar a morte de um antigo professor da época da faculdade e rapidamente entra numa trama que coloca em perigo com outros professores, num rastro de sangue e perseguições. É uma tentativa de colocar realismo no mundo dos super-heróis vigilantes numa versão fascista, mas sem crítica alguma e para mim não funcionou.

"Cidade das Bonecas" conta a história da detetive particular Luciana Laurindo que aceita o caso de desaparecimento de uma criança, Laís após a descaso da polícia e do fracasso de outros detetives. Conto não escolhe entre a maldade humana e a sobrenatural. Temos os dois neste conto cheio de imagens fortes mas que não se baseia nisso e consegue contar uma história de redenção em um espaço de escrita curto.

"A Magia Negra do Natal" conta a história de um pai que decide fazer um pacto profano para que seu filho tenha um natal feliz. Conto curto, que não permite contar mais sem estragar. Não há tanto espaço para aprofundar ou detalhar as cenas, mas serve de amostra do sistema sobrenatural que já vimos no conto anterior e na série Feiticeiro de Aluguel.

"Admirável roça nova: Um Conto de Cybercoronelismo" Rafael volta a cidade do interior na ocasião de uma doença terminal de sua mãe. Tentando sobreviver, é pego com sua irmã Zoé roubando alimentos na fazenda do coronel dono da cidade e passa a ser alvo de uma perseguição. Típica história do rapaz do campo que volta depois de ser mudado pela cidade e arranja confusão. Tem boas cenas de ação, mas não passa muito disso.

"Sob os domos de aço" me chamou a atenção por se passar em Marte, que é um cenário que sempre me encantou, em um contexto de colonização recente do planeta e conta a história de Sandra, uma mulher que acabou de perder o filho para uma doença nova que está dizimando a população de colonos. Ela desconfia que a causa da doença não é natural e começa uma corrida frenética para encontrar o responsável pela morte do seu filho. A narrativa favorece a ação e consegue colocar um mistério e o cenário com detalhes da vida em Marte foi bem redigido o que deixou o conto imersivo apesar da pouca quantidade de páginas.

"Androides não são perfeitos"

"Poder Absoluto" já tem resenha publicada no blogue!
Leia Mais ››

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Resenha #160 - Tony e os Besouros e outras histórias (Philip K. Dick)


"Tony e os Besouros e Outras Histórias" é uma a reunião de 4 contos de Philip K. Dick, traduzidas por Maurício Coelho e lançadas na Amazon em 2020. Foi a única obra escrita por um estrangeiro que li na minha Corrida Kindle Unlimited! Infelizmente o tradutor e editor não deixou qualquer informação sobre os contos, ou sobre como surgiu a ideia de traduzi-los. Até onde pude averiguar, são contos que estão em domínio público. Como fã do autor, também gostaria de uma introdução.  

"Tony e os Besouros" (Tony and the Beatles) conta a história de Tony que vive numa colonia terrestre junto com os Pas-Udeti, uma raça insetoide, que convivem razoavelmente bem, mas tudo deteriora-se quando ambas as raças entram em guerra em outro sistema, mas as notícias que chegam do espaço vão mudar a vida de Tony e dos habitantes da colônia. O conto parece incompleto, quando a história vai engrenar, ela acaba.

"Além da porta" (Beyond the door) foi publicado pela primeira vez em Janeiro de 1954 na revista Fantastic Universe. Não se trata de uma Ficção Científica (classificaria como Weird Fiction se o termo existisse na época. O conto é bastante curto e não se dedica a explicar muita coisa. Larry compra um relógio cuco para sua esposa, Doris. Ela fica muito feliz até descobrir que Larry adquiriu em uma troca de quinquilharias. Contudo, ela parece adorar o cuco, enquanto Larry fica cada vez mais raivoso. O conto deixa coisas demais no ar. Seria o cuco apenas um veículo imaginado para a tensão do casal?

"Intrometido" (Meddler) publicado pela primeira vez na revista Future Science Fiction em outubro de 1954, é uma história sobre viagem no tempo e suas consequências. O conto é bastante envolvente e com um final excelente!

"Progênie" (Progeny) foi publicado em 1954 e mostra a destruição de uma família que não tem mais o direito de criar o próprio filho, pois o governo se encarrega de ensinar tudo através de robôs. Ironicamente o pai fica indignado com a situação e a mãe aceita passivamente a ideia de só poder conviver com o filho apenas quando for adulto.
Leia Mais ››

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Resenha #159 - Feiticeiro de Aluguel: Bruxo Tutelar + O Chamado de Cleiton (Jean Gabriel Álamo)




Hoje vamos falar de dois contos da série "Feiticeiro de Aluguel", lançados depois do conto de estreia do personagem "Noite em Neon" e do romance "A Serviço de Exu". Os contos são: "Bruxo Tutelar" e "O Chamado de Cleiton".

"Feiticeiro de Aluguel: Bruxo Tutelar" é a terceira aventura do Bruxo Iago Lima. Retornando a forma mais curta de conto neste episódio se passa após "A serviço de Exu" e neste conto ele tem de enfrentar uma entidade invocada de maneira errada por uma menina desesperada pela violência sexual que sofre de sua família tradicional evangélica. Quando Iago é contratado para averiguar as coisas elas já estão fora de controle e ele tem de enfrentar um inimigo poderoso. Os temas abordados de forma crua mantem a mesma pegada da aventura anterior e deixa o leitor que já gostou das primeiras histórias de ler muito mais sobre o bruxo - bruxo, não feiticeiro, porra!

"Feiticeiro de Aluguel: O Chamado de Cleiton" é a quarta aventura do Bruxo Iago Lima. Aqui Iago é contratado para um trabalho em Piúma, uma cidade praiana no Estado do Espírito Santo, por um pai que desconfia de atividades ocultistas do filho que traduz escritos de H. P. Lovercraft. Iago rapidamente descobre o perigo de evocar monstros reais da mente de um racista. O autor trabalha muito bem o aspecto problemático da obra de Lovercraft sem simplesmente "cancela-lo". O conto mantem a forma de evocar imagens fortes e tratá-las com muita naturalidade e maturidade e entregar uma obra fluída, divertida de ler com um personagem cativante! Sobre as histórias de Iago Lima, apenas digo mais uma coisa: manda mais que está pouco!
Leia Mais ››

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Resenha #158 - A Bicicleta (Roberto Fideli)


"A Bicicleta" é um conto das minhas leituras do Kindle, escrito por Roberto Fideli, que já tem a literatura correndo no sangue mas procura trilhar um caminho próprio. Nesse conto ele segue Bruno, um menino de 12 anos que sofre um acidente de bicicleta e enquanto é levado as pressas ao hospital, começa a ter visões de existências futuras. Uma delas é de Daniel, um piloto de caça estelar que é abatido e resgatado por forças inimigas. O conto consegue aliar o drama da morte e tatear os mistérios do que vem depois, pela reencarnação, com a imaginação que me atraiu tanto na Ficção Científica. O conto é uma pepita de ouro no meio do catálogo de contos do Kindle Unlimited!
Leia Mais ››

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Resenha #157 - O Centésimo Sol (Pablo Zorzi)


"O Centésimo Sol" é outra das minhas leituras do Kindle, ainda lendo livros brasileiros de Ficção Científica, buscando nomes pouco conhecidos mas com enredos provocativos e atraentes. Acabei encontrando essa capa em estilo pulp maravilhosa e uma aventura com final surpreendente e parti para a leitura.

Acompanhamos a história de um velho e um garoto que lutam para sobreviver numa terra arrasada pelo calor e pelo esgotamento dos recursos naturais, que obrigam os governantes do planeta a preparar um plano de fuga para uma estrela estável. A noveleta tem 64 páginas, divididas em seis capítulos. Os três primeiros estabelecem o dilema do conto enquanto os outros vão trazer revelações, principalmente o último que quebra várias barreiras e chega a surpreender, ainda que seja um final muito mirabolante (e preso numa moral autopunitiva) mas diverte como numa boa história pulp. Recomendo!
Leia Mais ››

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Resenha #156 - Feiticeiro de Aluguel: A serviço de Exu (Jean Gabriel Álamo)


"Feiticeiro de Aluguel: A serviço de Exu" é a segunda história do bruxo Iago Lima. Já falamos dele na resenha do primeiro conto da série e agora ele retorna em uma obra de mais fôlego (112 páginas), um livro curto mas muito denso nos temas polêmicos e na violência. O autor aborda de forma desconcertantemente crua e direta passando por cima de qualquer pudor que o leitor possa ter com a suavidade de uma manada de búfalos correndo. A obra pode ser lida em separado dos contos, mas recomendo ler "Noite em Neon" antes e "Bruxo Tutelar" depois, pois é a ordem cronológica.

A história começa quando Iago vai tirar um "encosto ruim" de sua irmã, Cíntia e se vê em meio de uma trama que envolve uma tulpa, um pastor evangélico, um traficante e um terreiro de umbanda. A trama em si, não é complexa mas as relações são contadas ao leitor de forma inteligente, o que deixa tudo instigante. O sistema de magia é esmiuçado pelo autor que escolheu bem onde consegue inserir as explicações. Os personagens são o ponto forte da obra: complexos, profundos, marginalizados e essas características se ligam de modo profundo com a história e os temas pesados que aborda, e vemos isso principalmente no pastor Everaldo.

A intolerância religiosa é abordada na figura do pastor Everaldo e de Dona Geralda, mãe de Iago que não aceita a bixessualidade do nosso herói o que gera um conflito de gerações e crenças extremamente comuns por aqui. Além deste conflito familiar, conhecemos sobre os poderes de Iago dando a complexidade necessária ao protagonista. A maior qualidade na obra é que nenhuma das cenas fortes é gratuita, logo, todas tem alguma função na história e trazer reflexão. Concluindo, essa obra confirma que Feiticeiro de Aluguel é a série que mais me agradou do que pude ler do autor até agora. Recomendadíssimo!
Leia Mais ››

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Resenha #155 - Os Filhos do Pôr-do-sol (Anna Fagundes Martino)

Uma vez que conseguimos entender o universo criado por Anna Fagundes Martino, as histórias ficam mais sutis. A terceira novela da autora chega até 1947, quando Éamonn Dalaney passa a cuidar da casa da família de Stella, onde cria seus filhos Stíofan e Seaghán, híbridos como a mãe deles. A casa passa a se tornar um hospital psiquiátrico onde ex soldados passam por tratamento, mas agora que a guerra terminou o governo está revendo a necessidade de manter o financiamento que lhes permite cuidar dos soldados. Enquanto isso os filhos de Éamonn, tentam manter o segredo de sua origem do mundo feérico de uma freira que chega para ajudar a cuidar dos soldados.

A escrita continua sendo o ponto forte e a sutileza com que a história é escrita, sem procurar caminho mirabolantes, optando pelo mais reflexivo sobre a natureza fantástica do aspecto híbrido dos seres fantásticos que vivem na casa. A forma como a autora trama a existência do fantástico com o mundo real é muito viva e deixa um leve sorriso nos leitores quando concluímos a leitura. Recomendo! 
Leia Mais ››

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Resenha #154 - Sankofia: breves histórias afrofuturistas (Lu Ain-Zaila)


Sankofia, como o subtítulo já descreve, é uma coletânea de contos da autora brasileira Lu Ain-Zaila e foi lançado em 2018 de forma independente. A proposta é reunir contos afrofuturistas que se encaixam em gêneros como a Ficção Científica (principalmente), Espada e Magia, Fantasia e afins. Vamos falar sobre os contos em separado!

"Era Afrofuturista" segue uma menina que é levada pelo pai para uma exposição de arte e cultura que tem como tema a presença negra nas artes, principalmente na literatura, num futuro que coloca tudo em retrospectiva. O texto é bastante descritivo, e se lido como um artigo, fica mais interessante pois não há uma trama entre os personagens. É o equivalente escrito a um documentário com dramatização. O ponto central é a ideia de que o afrofuturismo (representado pelo momento presente da menina e sua própria juventude) não existiria sem as contribuições do passado que são representadas pelas atrações do museu. Muitos conteúdos sobre pensadores e artistas importantes, tanto da África quanto da diáspora, tive o privilégio de acompanhar em minha formação em História, e tamanha dimensão desse conhecimento tem chance de encantar os leitores que ainda não conhecem.

"Existência" segue a Dra. Adimu que participa como astro-antropóloga em uma missão de reconhecimento em um planeta desconhecido, mas como já ficamos sabendo nas primeiras linhas, uma forma de vida contaminou quase todos os tripulantes, tornando-os uma unica entidade coletiva. Quando esta entidade toma conta da Dra. Adimu ela trava uma batalha mental tanto para entender a criatura quanto para resgatar sua individualidade, e sobreviver.

"Conexão" temos novamente a Dra. Adimu, desta vez mais nova e inexperiente, quando é convocada para decifrar uma mensagem de alienígenas, mas parece que nenhuma linguagem ocidental ou conhecimento científico seja suficiente para estabelecer contato, obrigando a Dra. a buscar o auxílio de um conselho de anciãos reunidos nas ruinas da Universidade Timbukto, que existiu na antiguidade, no séc. XII.

"Ternodes" é uma região protegida por magia, que por sua vez, é protegida por guardiões da magia. Sela e Iruwa são dois guardiões que são corrompidos por magia maligna, porém Sela consegue se manter fiel enquanto Iruwa se corrompe totalmente e sequestra Jailu para corromper todas as cidades-estado de Ternodes. É um conto bastante curto, com uma história fechada. Gostaria que fosse maior e não tão simples, pois gostei do mundo e do que vi do sistema de magia.  

"A invenção das tranças" se passa num vilarejo na África, e conta a história de duas crianças que encantam cada uma o sol e outra a lua. Quando elas se conhecem melhor, se apaixonam, e acabam ignorando as divindades, estas buscando reaver a atenção delas acabam trazendo problemas no clima do lugar. Um grupo de criaturas busca a ajuda da Amansi, uma divindade aranha que tem uma ideia para ajudá-los. Trata-se de uma fábula e é narrada como tal. Particularmente não gosto de ler fábulas, mas esta vale por vir de uma cultura diferente do que se costuma ver. 

"Admissão"  Narra os momentos que antecedem o teste da jovem Kwili para a Frota Estelar, com base no Congo, de fato democrático. O conto é bastante linear, pinta um futuro muito interessante mas é narrado de forma totalmente introdutória, pois quando parece que vai começar, acabou. 

"Ode à Laudelina" Amma parece que encontrou o trabalho que estava precisando para tirar sua conta do vermelho. Trabalho simples na casa de família, patroa - Pami - educada que lhe dá até um fone de ouvido para que ela escute música no trabalho. Tudo lindo e maravilhoso. Outras mulheres negras também são contratadas. Mesmo trabalho, mesmo fone de ouvido. Tudo lindo e maravilhoso, só que não! A narrativa consegue gerar curiosidade e não tem pressa de revelar a trama e quando o faz, deixa a história frenética e com um final que dá satisfação ao leitor. 

"O Artefato" Anele é uma pesquisadora arqueológica que está em Angola quando recebe um chamado de emergência de seu antigo professor - Dr. Sadiki Odongo - que tem um artefato precioso, quase lendário nas mãos e perseguidores o procurando. O final é abrupto e nos deixa querendo saber o que acontece depois.

"Crianças Vermelhas" Narra o fenômeno relacionado ao povo Dogon e sua relação com o planeta Sirius (vi isso pela primeira vez em VALIS do Philip K. Dick) em que as crianças começam a despertar em toda parte do mundo. Interessante, tanto que é uma pena quando acaba. 

"Fragmentos" seque alguns pequenos textos, fragmentados, reflexivos, sem tentar organizar muito as ideias, passeando pelos temas do livro. É uma forma interessante de encerrar uma coletânea pois busca instigar o leitor para a reflexão, e é seguido por imagens afrofuturistas muito bacanas.
Leia Mais ››

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Resenha #153 - Contos do Dragão. Parte 1 (Menina Bonita Bordada de Entropia + Brazil Reloaded)

Começa agora uma série de resenhas de contos da ediora Draco que publica de forma digital que geralmente estão presentes em alguma das suas coletâneas. Já fiz algumas resenhas de contos dessa série, (chamada Contos do Dragão) isolados mas agora serão feitos de dois em dois.
"Menina Bonita Bordada de Entropia" (2013) é um conto de Cirilo S. Lemos que entraria facilmente na categoria Weird Fiction, "Ficção Esquizita" que busca o estranhamento estético. Na história, uma menina é encontrada em alto mar, ferida quando é salva por uma embarcação tripulada por demônios e um capitão robô, que impede que a menina seja servida de almoço pelos sonhos mas a menina frágil não é o que parece. A construção é muito eficiente em causar estranhamento e é muito rica em provocar imagens em nossa mente e vale muito a pena ser lida. 

Brazil Reloaded é um conto de 2012 publicado pela primeira vez na coleção Imaginários 4 e depois em formato digital sozinho na coleção Contos do Dragão da editora Draco. Foi uma das minhas leituras do Kindle e como tem apenas 16 páginas li em uma vez junto de vários outros contos. Então essa resenha é para você que ainda tem dúvidas em relação esse conto.

É um conto cyberpunk que se passa num cenário político diferente. Acompanhamos Jamal, um americano que recebe um trabalho duvidoso. O mundo não é mais o mesmo, os EUA estão em franca decadência após uma invasão chinesa e a liderança política do mundo está nas mãos dos países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e isso faz toda a diferença nos agente que vão mudar essa história. O conto é curto e na medida certa para contar bem a história, explicar o necessário e querer passear mais por esse mundo cyberpunk politicamente diferente. Se você gosta de ação, gosta de cyberpunk e não tem medo de imaginar um mundo diferente, então altamente recomendo esse conto!
Leia Mais ››

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Resenha #152 - Feiticeiro de Aluguel: Noite em Neon (Jean Gabriel Álamo)


"Feiticeiro de Aluguel" é um conto do autor Jean Gabriel Álamo, lançado de forma independente na plataforma da Amazon. O conto é o primeiro de uma série de fantasia urbana que considero a melhor criação do autor até aqui. Acompanhamos Iago Lima, um Bruxo que trabalha como detetive particular resolvendo casos místicos numa Rio de Janeiro habitada por espíritos e diversos seres não-humanos. Nesta primeira aventura, Iago é contratado para encontrar Tiffany, uma prostituta que foi capturada por um mago dono de um prostíbulo na zona boêmia do Rio de Janeiro. A história não traz nada de essencialmente novo mas a transposição de um mundo místico para um cenário urbano no Brasil foi bastante orgânica. O autor nos brindou com uma narrativa livre de pudores e nos imergiu em um mundo de podridão que combina bem com o cenário. O sistema de magia não teve muitos detalhes, mas como o conto se pretende uma porta de entrada desse mundo, cumpriu bem esse papel. Que venha mais histórias deste feiticeiro!
Leia Mais ››

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Resenha #151 - Um Berço de Heras (Anna Fagundes Martino)

"Um Berço de Heras" foi lançado em 2017. A história se passa alguns anos depois (1927) de "A Casa de Vidro" e segue um misterioso homem preso em Belfast acusado de matar um policial que está apavorando os outros presos e carcereiros pelo jardim que brota espontaneamente de sua cela.

A história consegue estabelecer e resolver bem os mistérios e desenvolver melhor alguns personagens da primeira história, reforçando a ideia que "A Casa de Vidro" soa como prólogo. A personagem Stella é quem alavanca a história pois ela convence seu meio-irmão Mark a ver o misterioso homem. O que poderia ser uma história sobre a resolução do mistério, é baseada em revelações do passado, assim como no primeiro livro, mostrando a natureza do homem preso e seus filhos, o que dá mais profundidade a história. 

A escrita é continua muito boa e nesta história o contexto histórico aparece muito mais e aqui a formação acadêmica da autora aparece junto com o talento literário de mesclá-lo com o mundo feérico. O veredito é que valeu a pena continuar a ler essa série, pois Um Berço de Heras é melhor que A Casa de Vidro e as duas histórias combinam muito bem! 
Leia Mais ››

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Resenha #150 - Coletânea Afrofuturismo (Junno Sena, Org.)


A coletânea "Afrofuturismo" da editora Recorte foi a primeira das minhas leituras sobre o tema, aproveitando os 30 dias gratuitos de Kindle Unlimited. Aqui são oito contos curtos de autores negros brasileiros, que tem o negro como personagem e tema principais. A introdução me empolgou bastante quando falou da literatura afrofuturista, como uma forma de imaginar e construir um futuro em que os negros estão vivos, o que é particularmente significativo num país onde tantos negros morrem. Fiquei com a expectativa alta por esperar contos de ficção científica (estava na prateleira de FC na Amazon) mas ao ler os contos percebemos que apenas três contos são FC. Lá pela metade do livro já entendi que a temática era outra, então consegui aproveitar melhor os contos, que são bem variados e bem escritos. Então os leitores de FC controlar essa expectativa ou para quem não gosta de FC, se abrir para os contos que são de FC, vão aproveitar melhor os contos. Vamos agora, falar dos contos separadamente: 
 
"Os ensinamentos ancestrais da menina senhora Luandê" (Caena Rodrigues Conceição) conta a história da menina Luandê, que nasceu com maturidade, inteligência de adultos ou divindades e suas mensagens para o povo. Tem um ritmo como se fosse contado por um Griô.

"O reino de Agunttah" (Fernando Gonzaga) é uma ficção científica que conta de Agunttah que vive na cidade Supertrix, uma cidade de uma diáspora interplanetária onde ainda se reverencia a ancestralidade do velho continente africano. O conto desenha um cenário muito interessante, de um povo que vive em harmonia com a natureza e como chegaram até ali. Novamente temos uma história que tem um ritmo de história contada por um griô, o que é ótimo, mas acho que mesmo para um conto curto, faz falta um conflito que movimente a história e não a deixe com cara de introdução a uma história maior.

"Saudades Creitino" (Giovany de Oliveira) Conta a história de Creiton que tem um encontro casual com Djanilton, quando este briga com a namorada pelo telefone. O conto é um slice of life, conta apenas um momento de um dia, um causo que o protagonista vá contar para um amigo e trabalha muito bem com as minucias de uma conquista, uma conversa cheia de descrições dos pensamentos, intenções e gira entorno do não dito, principalmente as hipocrisias diárias da sexualidade.

"O ano?" (Junno Sena) O organizador da coletânea traz um conto que é um drama distópico sobre um fugutivo que depois de ser capturado com o amante passa sofrer a perseguição de um agente da polícia. O clima opressor é bem conduzido e o estabelecimento de uma distopia é feito de forma orgânica no conto. A revelação do final faz uma reflexão bem vinda. Prefiro não falar mais para não estragá-la.

"Indecisão" (Kuku Dada) Conto é um momento do cotidiano, muito curto de uma violência sexual em um transporte coletivo. Foca mais nas sensações e pensamentos da protagonista, em ritmo de confissão e desabafo, e passa bastante autenticidade no cotidiano.

"O futuro negro" (Lorena Nascimento) Outra ficção Científica que narra como um desastre natural favoreceu a morte de quase toda a humanidade menos o povo africano, pelo seu modo de convivência com o clima árido e a melanina da pele. Novamente um cenário muito interessante mas sem apresentar um conflito ou personagens, parecendo mais um texto de apoio para uma história a ser escrita. 

"OMARA OMNIRA" (Margarete Carvalho) Conta a história de entidades que encarnam em negros escravizados na travessia do atlântico. Foca bastante na relação entre eles e sua condição sobrenatural. A revelação no final, me fez querer saber loucamente o que ia acontecer no final.
Leia Mais ››

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Resenha #149 - Solfieri e o Espectro do Casarão Sombrio (Enéias Tavares)


"Solfieri e o Espectro do Casarão Sombrio" é o segundo conto da série Brasiliana Steampunk de Enéias Tavares, dando destaque a Solfieri de Azevedo, que no romance desta série (Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison) acabou ficando como um coadjuvante de luxo. Neste conto ele brilha como um investigador paranormal solicitado a investigar estranhas atividades em um casarão. O conto é conduzido com a elegância que o personagem exige e lembra bastante Remi Rudá da série Guanabara Real, também outro projeto com o mesmo autor. O Conto é excelente para relembrar o universo criado pelo autor e dar mais voz a um dos personagens mais bacanas remodelados por Enéias. Sendo assim, recomendo deveras a apreciação do conto!
Leia Mais ››

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Resenha #148 - Projeto Crajubar (Jaime G. Bullock)


"Projeto Crajubar" é uma obra independente escrito por Jaime G. Bullock (pseudônimo) é o primeiro de uma série ainda sem continuação lançada, que conta a história da primeira missão tripulada a Marte. É uma narração epistolar, ou seja, é narrado em forma de carta que foi deixada para um amigo do mensageiro. Esse recurso é um dos que mais gosto na literatura pois privilegia o ponto de vista que pode tanto estar falando sua versão da verdade quanto mentindo mas não necessariamente uma verdade absoluta. O livro faz isso da mesma forma que H. G. Wells faz em Máquina do Tempo.

A premissa parte desse relato da primeira missão tripulada a Marte, sendo totalmente composta por brasileiros e a narração não dá explicações mais profundas, tampouco coerentes da supremacia espacial brasileira. Seria mais interessante ver um grupo formado por várias nacionalidades e então colocar um brasileiro na liderança. Contudo isso deixa de ser muito relevante para o andamento da história que conta com muitas reviravoltas que são tão mirabolantes que deixam a história com cara dos antigos contos pulps. Se o leitor se dispuser a suspender a descrença como faria numa FC pulp, então vai aproveitar muito bem essa aventura. Espero poder ler a sequência!
Leia Mais ››

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Resenha #147 - Poder Absoluto (Jean Gabriel Álamo)


"Poder Absoluto" é o primeiro livro de Jean Gabriel Álamo, lançado de forma independente em 2017 na plataforma da Amazon e desde então o autor vem lançando vários trabalhos na plataforma - contos, noveletas, romances - dentro do mesmo universo sem se limitar a Ficção Científica, o que me instigou a ler essa obra com perspectiva de acompanhar outros escritos. A história começa em 2257 e a humanidade é governada pelo Suserano, uma inteligência artificial resultado da transferência de consciência de um cientista que implantou uma ditadura global, governando com mão de ferro. Acompanhamos o protagonista Pietro que vive na cidade 1223 (todas as cidades são números) e, depois que vê seu amigo Darcy ser abatido a tiros pela polícia, entra em uma trama que envolve diretamente o governo e um grupo subversivo chamado MK Ultra, enquanto isso Pietro também conhece e se apaixona por Diana, uma repórter do Menestrel (imprensa permitida pelo governo) mas mesmo sem saber ela também tem uma ligação estreita com o MK Ultra. A partir daí vão entrando mais personagens e se instaura um conflito de interesses. Pietro se torna importante para o MK Ultra que deseja usá-lo em seus planos enquanto ambos são caçados pela polícia do Suserano. A obra se define como um cyberpunk, e apesar de constar a atitude contra o sistema que justifique o sufixo "punk", a ambientação se encaixa em qualquer futurismo.

A obra é organizada em vários capítulos curtos que alternam de personagem. Boa parte dos capítulos é com Pietro e outros com Diana, e uma pequena parte alterna entre outros personagens, o que traz um dinamismo bem vindo. A história tem muitos eventos e revelações, os mistérios ficaram bem construídos. As cenas de ação são o forte do livro, com destaque a fuga pelos buracos de minhoca. As tecnologias utilizadas em armas, veículos e demais objetos são muito bem elaborados e explicados na medida certa, pois o autor deixa as notas de rodapé os detalhes técnicos para os curiosos e poupa o leitor que quer mais ação de uma quebra de ritmo. Contudo, o que a obra explica em detalhes técnicos, falta na construção dos personagens principais que não tem qualquer curva de evolução: a grande maioria deles são os mesmos do início ao fim, acabei me afeiçoando mais de Quorra, líder do MK Ultra que parece ser a única personagem com motivações mais profundas, mas os personagens principais Pietro e Diana soam adolescentes o tempo todo. Temos apenas um fundo raso de motivação mas não faz o protagonista ficar mais interessante pois não sabemos como os protagonistas se sentem, então quando eles mudam de atitude e passam a agir diferente, acaba sendo algo repentino, forçado. Sendo assim, o livro é bom se você gosta de cenas de ação e um ritmo frenético. Já tenho várias obras lidas do autor que pretendo trazer no blogue!
Leia Mais ››

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Resenha #146 - A Casa de Vidro (Anna Fagundes Martino)

"A Casa de Vidro" foi lançada em 2016, sendo o primeiro lançamento da Editora Dame Blache, que entrou no mercado para valorizar a autoria e valorização entre autores de minorias sociais (resumindo grosseiramente) e lançar novos nomes na ficção fantástica e científica. Anna Fagundes Martino, foi o primeiro nome escolhido com sua noveleta, "A Casa de Vidro", que conta a historia de Eleanor em dois tempos distintos: A jovem que se apaixona por um jardineiro misterioso e a senhora que relembra seu passado ao encontrar sua filha.

A história não tenta manter um mistério sobre as natureza fantástica do jardineiro Sebastian e sua habilidade de criar a vida vegetal por onde passa, o que encanta e instiga Eleanor, além de seu jeito autentico e alheio as convenções sociais. O amor entre os dois parece inevitável. Enquanto isso a velha Eleanor encontra pela primeira vez Stella, o fruto desse amor de dois mundos.

O ponto alto do livro é a qualidade da escrita que consegue aclimatar o leitor no cenário bucólico e isolado do interior da Inglaterra, e ainda tem passagens que nos coloca para refletir sobre a vida. Confesso que minha vontade de ver história em lugares inusitados murchou com a escolha batida de uma casa no interior da Inglaterra, mas o fato da autora tem uma história consistente com esse lugar (ela estudou Relações Internacionais nesse país) torna a escolha coerente com sua vivência. Não é o caso de autores iniciantes com histórias fruto de uma mente colonizada, que escolheriam facilmente esse mesmo cenário. Contudo, a história soa como um prólogo de algo maior e carece de alguma surpresa pois tudo que se imagina que vai acontecer, de fato acontece. Como essa história possui, até onde pesquisei, duas continuações, vou apostar minhas fichas nelas. A casa de Vidro sustenta-se como um excelente prólogo, estabelecendo bem as regras deste mundo fantástico (tanto que lerei as sequencias) mas não como uma história fechada em si.
Leia Mais ››

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Resenha #145 - Eu, Robô (Isaac Asimov)


"Eu, robô" é um clássico de Isaac Asimov, ao lado de "Fundação" e "O Homem Bicentenário", são obras que se recomenda tranquilamente para quem nunca leu Ficção Científica. Lançada nos anos 50, é aqui que Asimov define e exemplifica ao longo das histórias o que são as três leis da robótica, para que foram criadas e como podem ser burladas. Tudo entorno deste livro é bastante conhecido mas a ideia aqui é ajudar o possível leitor que nunca leu esse livro, sem spoilers. Vamos começar pelas três leis da robótica, pois é através delas que todos os dilemas de cada conto são embasados:
  1. um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal.
  2. os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei.
  3. um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.
No futuro imaginado por Asimov essas leis protegeriam a humanidade do que ele chama de "Complexo de Frankenstein", ou seja, uma pré disposição das máquinas a se revoltarem ou dos medo dos seres humanos de uma revolta. Sendo assim, essas leis são um dispositivo que permitiria que os robôs fossem sempre aliados dos humanos. Para explorar essas leis, os nove contos nos mostram como essas leis se comportam na lógica dos robôs. Os contos são histórias que podem ser lidas separadamente, mas aqui são permeadas pela visão da Dr. Susan Calvin que concede entrevista para um jornalista. Como nem tudo são flores, a construção da personagem é bastante pobre, como em geral são os personagens humanos do livro, pois servem apenas como vozes e peças do quebra-cabeças lógicos entorno dos robôs. O que encontra uma saída válida com a dupla de detetives, Greg Powell e Mike Donavan, que são um alívio cômico, mas para Susan é uma visão pobre da mulher cientista como destituída de qualquer feminilidade, como se as duas coisas não pudessem andar juntas e/ou como se a inteligência não possa ser uma forma de tornar a mulher atraente por si. É uma contradição interessante colocar alguma profundidade em robôs e fazer humanos robotizados e rasos.

A primeira história é "Robbie" que conta de uma amizade entre um robô, dos primeiros a serem vendidos para servir de companhia, e a pequena Glória. A amizade dos dois é ameaçada pela desconfiança da mãe com a tecnologia dos robôs. É uma história com mais apelo emocional que uma exploração das 3 Leis e quem já viu filmes de amizade na Sessão da Tarde não vai ver muita diferença. Depois temos três histórias com a dupla de agentes da US Robôs, Greg Powell e Mike Donavan. "Brincando de Pique" se passa em Mercúrio onde eles estão presos em uma instalação de mineração, enquanto Speedy está em um nó lógico sem conseguir voltar para a base. Os agentes, munidos do seu conhecimento das 3 Leis e criatividade, tem que tirar Speedy dali antes que torrem no sol escaldante do planeta. "Razão" se passa em uma estação de conversão de energia quando o robô-administrador Cutie se recusa a aceitar a autoridade deles alegando que não existe nada fora da estação orbital. Em "Pegue o Coelho" eles estão em um asteroide minerado pelo robô Dave e seus ajudantes, mas vem sofrendo apagões sem motivo aparente e mesmo Dave sendo colaborativo com a dupla.

"Mentiroso!" é uma história do inicio da carreira de Calvin e conta sobre Herbie, um robô que lê mentes e desafia as capacidades de Susan e os principais diretores da US Robôs, empresa pioneira na fabricação e desenvolvimento da robótica. Em "Pequeno robô perdido", Susan Calvin volta a encarar um problema com robôs, aqui ela tem que encontrar um robô da série Nelson 10 que fugiu de uma base espacial e pode se tornar uma grande ameaça pois suas Leis fundamentais foram alteradas para fins militares. "Fuga!" começa com Susan Calvin sendo chamada para lidar com um cérebro robô de uma concorrente, que se destruiu por entrar em conflito ao receber a missão de construir uma nave com capacidade de dobra. Quando Susan consegue convencer o robô a planejar e construir a nava, cabe aos agentes da US Robôs, Greg Powell e Mike Donavan, serem os pilotos de teste mas a nave tem comportamentos que fogem a compreensão de Susan e dos outros especialistas. Em "Evidência", O dr. Lanning e Susan Calvin são pressionados pelo político Francis Quinn a investigar seu concorrente Stephen Byerley, alegando que este seja um robô. Contudo, mesmo com a cooperação de Byerley, os fatores políticos prometem complicar tudo. Encerrando o livro, o conto "Conflito Evitável" se passa anos depois quando Calvin e convidada por Stephen Byerley a resolver um problema com robôs administradores que aparentemente apenas Byerley está enxergando.

As histórias podem ser lidas individualmente, mas são organizadas e entremeadas por trechos que conectam todas as histórias e as organiza de forma cronológica de forma que vale a pena ler do início ao fim. Se você gosta de histórias cheias de engenhosidade e tramas instigantes, o livro é mais que recomendado.    
 
Leia Mais ››

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Resenha #144 - Glória Sobria (Roberto de Sousa Causo)


"Glória Sombria", foi lançado em 2013 pela Devir, é o primeiro livro do universo de Space Opera de Roberto de Sousa Causo chamado Galáxis onde se passam várias histórias do autor, inclusive o autor mantém um site sobre o universo Galáxis http://universogalaxis.com.br/. Este não foi o meu primeiro contato com esse universo, pois o autor tem uma noveleta, "Trunfo de Campanha", na coletânea Assembléia Estelar que reuniu contos que abordassem a política. 

Em Glória Sombria acompanhamos o mesmo protagonista, Jonas Peregrino, um combatente de elite do século XXV que luta pelas forças de uma região equivalente a América Latina (ELAE) que junto com outras três regiões, representam a humanidade em franca expansão espacial. Peregrino é convocado pelo Almirante Túlio Ferreira para liderar um novo grupamento para enfrentar os Tadais, alienígenas hostis que vem travando uma guerra contra as forças humanas e seus aliados na galáxia. Peregrino é incumbido de formar uma força de elite que consiga achar uma forma de vencer os aparentemente invencíveis Tadais. Além do inimigo em combate, peregrino vai encontrar desafios políticos por todos os lados pois ao contrário das muitas histórias de Space Ópera, não há nenhuma Federação, como em Star Trek, que aglutine os interesses humanos num governo mas muita politicagem e jogo de interesse. Esperava encontrar ação frenética por ser um livro curto e que não haveria espaço para muita coisa além disso, mas o livro diverte pela construção do cenário e as engrenagens políticas que dão uma boa profundidade ao universo. Quando comentei sobre a noveleta, Trunfo de Campanha, mencionei que ela me desagradou pois o autor não suavizou o cenário ou o colocasse em uma obra maior, e Glória Sombria é essa obra maior e conseguiu deixar tudo mais interessante. Contudo, o livro é como um episódio piloto de algo mais longo mas bom o suficiente para me fazer procurar mais pelo universo. Por sinal já tenho o outro livro para continuar acompanhando, "Shiroma: a matadora ciborgue".
Leia Mais ››

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Resenha #143 - Nas Nuvens: Um conto para tempos sombrios (Fábio Fernandes)

"Nas Nuvens: Um conto para tempos sombrios", é um conto publicado em 2014 no quinto livro da série "Sagas: Revolução" e em formato digital pela Amazon em fevereiro deste ano. E o conto faz jus aos tempos sombrios que menciona no subtítulo, agora parecendo quase premonitória, por mais que a piada de mal gosto que se tornou o Brasil, já fosse um tipo de tragédia anunciada. 

Acompanhamos o protagonista que é chamado apenas de subversivo enquanto é torturado por agentes do Estado da novíssima República Teocrática do Brasil. A angústia da tortura é alternada por momentos da vida do subversivo que o levaram até ali. A tensão da iminência da tortura é tão angustiante quando o ato em si, tomando toda a narrativa pela tensão. O final ainda nos reserva uma boa revelação. Vale a leitura!

Foi o primeiro conto da minha Corrida Kindle 2020!

Leia Mais ››

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Resenha - Revista Peryc, o Mercenário n°3


A terceira edição de Peryc, mostra como a revista evoluiu. É bacana ler as continuações de novas histórias e ver o personagem desbravar várias regiões do mundo. Na primeira história, "O Aventureiro" a saga de Peryc na áfrica continua com a aliança do mercenário com a princesa que luta para assumir o trono de um usurpador. Em seguida mais um texto que continua o levantamento de todas as publicações de Conan no Brasil. "A Besta" é uma história de uma única página envolta de duas páginas de ilustrações que mostram várias versões de Peryc. "Sob o sol dos Abutres" é a história que mais gostei do personagem. A começar pelo traço de Sandro Andrade, e pelo texto que carrega uma violência que combina com a ação que ele desenvolve na história. A história é apenas o encontro de Peryc com três soldados violentos que depejam ódio racial pela origem indígena de Peryc que não deixa por menos quando os derrota. Segue mais um texto sobre Conan, agora falando sobre sua presença em ouras mídias. "O Preço da liberdade" é a terceira parte da saga iniciada em Rumo a Pedras Negras, onde Peryc foi pego em uma armadilha pelos mercadores e agora tem que se livrar de seus captores. A história faz um debate bom sobre a liberdade. Encerrando o número, "Fogo e paixão" mostra Peryc e Splinter sobrevivendo ao frio dos pampas. A única coisa que posso acrescentar ao que já disse sobre a revista é que espero ansiosamente pelo próximo número!
Leia Mais ››

terça-feira, 28 de julho de 2020

Resenha #142 - Duna (Frank Herbert)

Duna foi lançado em 1965 por Frank Herbert e mesmo sem brilhar nos primeiros anos depois de lançado, ganhou o reconhecimento como uma das obras mais importantes da Ficção Científica. É um clássico que gerou uma série que divide opiniões que geralmente se divide entre os que acham apenas o primeiro livro relevante e os que apreciam todos os 4 volumes. Hoje vou falar apenas do primeiro livro e tentar indicar se é o que o leitor está procurando.

Duna uma Space Opera que conta a história de Paul Atreides, herdeiro do duque Leto Atreides. A história se passa num futuro indeterminado onde governa o Imperador padixá junto com diversas casas de lealdade que dominam planetas como feudos. Um dos planetas mais importantes é Arrakis, conhecida como Duna, um planeta sem oceanos, tomado por desertos, onde a maior riqueza é uma especiaria valiosíssima que sustenta o império, o mélange. Seguindo as leis do império, a família que atualmente domina o feudo de Arrakis, a casa Harkonnen, deve passar o domínio para a casa Atreides e tudo começa quando a família chega a Arrakis para assumir o planeta. Começa um confronto silencioso entre as casas, cheias de intriga e politicagem. Paul nasceu com habilidades e ensinamentos das Bene Gesserit, uma especie de guida de magia e espionagem da qual a mãe de Paul, Jéssica, faz parte. Os Atreides planejam se aliar aos fremen para combater os Harkonnen. Os fremen são os habitantes locais de Arrakis muito adaptados ao deserto.

O livro se divide em três partes, e cada parte é cheia de pequenos capítulos não numerados, encabeçados por citações de alguns livros que fazem menção ao que vai acontecer, mas de forma retrospectiva, por vezes épica. A narrativa não tem pressa alguma de encadear os eventos, apresentar novos personagens e detalhar a vida no deserto e os aspectos religiosos intrincados na política de forma profunda. Aliás os temas de política e religião são tão bem tratados como a ecologia e biologia. É um livro imersivo que tem poucos momentos desinteressantes ou lentos demais e prende a atenção em duas mais de 500 páginas. A edição conclui com alguns textos extras que complementam o conhecimento sobre esse universo e um glossário de termos que ajudam os leitores mais aficionados e curiosos por detalhes. 
Leia Mais ››

terça-feira, 21 de julho de 2020

Resenha #141 - O Tempo em Marte (Philip K. Dick)

"O Tempo em Marte" (Martian Time-Slip, 1964) foi escrito no mesmo ano em que "Clãs da Lua Alfa" e "Espaço Eletrônico", e ainda que não tivesse escrito a maioria dos seus grandes clássicos (exceto "O Homem do Castelo Alto" que o precedeu) apresenta alguns dos seus temas mais populares, como a loucura e o questionamento da realidade.

A história conta sobre vários personagens em uma trama de poder no planeta Marte. Jack Bohlen trabalha como técnico de manutenção de eletrônicos arrumando praticamente qualquer coisa, quando recebe uma proposta de Arnie Kott um chefe sindical influente que deseja explorar os aparentes poderes mentais do menino autista Manfred Steiner. Enquanto tenta executar sua tarefa, Jack precisa lidar com a ganancia de Kott, o desejo que sente pela assistente de Kott, Doreen e a chegada de seu pai da Terra que tem interesses especulativos no planeta. Todas essas experiências o despertam para sua esquizofrenia, mas principalmente pelos mistérios de Manfred.

O ponto forte do livro é a trama bem construída entorno da ganância de Kott e da complexidade de Jack. O livro passa boa parte nos confundindo entre as manifestações de Manfred e as alucinações de Jack, mas Arnie rouba a cena com seu cinismo e ceticismo seletivo, uma vez que acredita em Manfred mas tenta tirar o proveito da forma mais prática e imoral possível. O destino do protagonista nos entrega momentos tão insólitos e intrigantes como em "Os Três Estigmas de Palmer Eldritch" cheios da ironia característica.

Contudo, como especulação de como seria a vida em Marte o livro tem problemas sérios. Em 1964, no mesmo ano de lançamento do livro, a sonda estadunidense Mariner 4 foi a primeira a ter sucesso ao passar por Marte confirmando a impossibilidade de que existisse alguma civilização antiga no planeta. A última pá de cal no mito dos homenzinhos verdes marcianos. Apesar do aparente otimismo em imaginar uma colonização em Marte já iniciada em 1994, o modelo parece satirizar o período colonial da história dos EUA. Existe um povo nativo, os bleeks, que tem crenças fortes de que há algo mais em Manfred. Figuras com muito poder e pouco contato com a metrópole/Terra, em choque com novas possíveis ondas de imigrantes. Sabemos, no entanto, que são as considerações metafísicas e não as políticas-sociais que fazem a obra do autor ser lembrada e a segunda metade do livro reserva boas "viagens" ao leitor. É um livro menos complexo que as obras mais maduras, mas para quem ainda não conhece o autor pode começar por ele.

Leia Mais ››

terça-feira, 14 de julho de 2020

Resenha #140 - Trabalho Honesto (Rodrigo Van Kampen)

Trabalho Honesto (2016) é uma das obras que foram distribuídas gratuitamente (junto de outros ebooks) no início da quarentena e fez parte das minhas leituras durante esse período. É uma novela escrita por Rodrigo Vam Kampen, conhecido pela sua Revista Trasgo. 

A obra é uma mistura cyberpunk com fantasia cheia de mitos brasileiros. Acompanhamos a história do lobisomem Ralphe que tenta se adaptar a vida em nossa dimensão após a abertura de portais para outras dimensões ondem vivem os seres como sacis, unhudos, cucas, botos e, claro, lobisomens. Com dificuldade de conseguir um trabalho normal aceita a oferta de Victor Sombrera para trabalhar em sua agencia de segurança onde suar força é posta a prova serviços perigosos ao lado de Lúcia, filha do seu patrão.

O livro é dividido em seis capítulos que funcionam como episódios, contando uma história isolada e, ao mesmo tempo, uma história maior no pano de fundo. As primeiras histórias ajudam a estabelecer o vínculo entre Ralphe e Lúcia enquanto apresenta as peculiaridades desse mundo. As ultimas histórias vão aprofundando na trama principal que gira entorno de uma máfia em Campinas. A escrita é direta e leve, favorecendo as boas cenas de ação e a interação entre Ralphe e Lúcia que funciona bem durante o livro. É uma excelente leitura de praia para se entreter e conhecer um pouco da fantasia feita com criaturas do nosso folclore.  

Leia Mais ››