terça-feira, 16 de maio de 2017

Resenha #64 - Pretérito Perfeito (Gustavo Araújo)


Pensei dua vezes antes de resenhar "Pretérito Imperfeito" neste blog, por ser dedicado exclusivamente a Ficção Científica e a Fantasia e não se tratar de uma obra que se encaixaria imediatamente no que convencionamos chamar de "Fantasia" ainda que o livro não tenha tal pretensão. O fantástico não é exclusividade de nerd e achei melhor expandir os horizontes e mostrar o fantástico onde quer que ele esteja. Eis então a resenha de "Pretérito Perfeito", romance nacional escrito por Gustavo Araújo e publicado pela editora Caligo.



Meu exemplar foi um presente da Maria Santino (que por sinal escreve muito bem também) e uma surpresa maravilhosa. Isso, por dois motivos: O primeiro, já sabia da qualidade do autor pelos contos que publica nos desafios literários do blog Entre Contos (dos quais participo há mais de um ano) e, o segundo, por haver uma boa parte dedicada a escrita epistolar. Pretérito Imperfeito atendeu minhas expectativas. Divagações a parte, vamos a estória.



Na estória acompanhamos Toninho, um menino tímido e em conflito com o pai, Seu Pedro. Ele gosta de observar pássaros e tem um refúgio na floresta nos arredores da fictícia cidade de Porto Esperança, no Paraná. Nesse refúgio ele acaba encontrando Cecília: Uma menina inteligente e que gosta de escrever. Ela também busca abrigo por conta de seu pai que está envolvido em atividades misteriosas e que ela mesmo não compreende. Os encontros entre Toninho e Cecilia, são permeados por cartas de Cecilia a sua amiga Carol e garantem um aprofundamento da personagem, há uma referência assumida a Anne Frank. A relação de Toninho com seu Pai é bem desenvolvida a medida que a estória dele também é contada.



O pano de fundo acontece em dois tempos, nos anos 1930, durante a Intentona Comunista e os anos 1960, e durante a Ditadura Civil-militar de 1964. O contexto histórico não sufoca o drama dos personagens mas sim cumpre a função trazer a dureza daqueles tempos com a doçura da infância. Elementos que Gustavo traz de forma intensa através dos seus personagens. Difícil acertar a mão com este tipo de estória sem soar piegas ou apelativo, contudo este livro fez sérias rachaduras no meu coração de pedra. A qualidade da escrita é inegável. Gustavo consegue fazer cenas simples, cheias de significado e emoção. Nessa obra acredito que encontramos Gustavo no melhor momento. Digo isso pois o autor é um excelente contista, mas muito melhor romancista.



Difícil falar mais correr o risco de estragar a experiência da leitura, pois a minha introdução a resenha já adianta que existe um elemento do fantástico na estória e o os textos introdutórios também não adiantam muita coisa. Contudo, o livro não é depende das reviravoltas pois tem uma narrativa muito consistente e envolvente para quem se deixar levar. Acredito que a única coisa que pode atrapalhar a apreciação da obra é esperar dela algo que ela não é. Vale ler de mente aberta, ainda mais para quem tentar comparar com as obras que costumo resenhar aqui. Enfim, o livro está mais que recomendado.



Para uma resenha, com spoilers e muito mais qualificada que a minha recomendo a de Eduardo Selga. https://entrecontos.com/2015/10/02/o-menino-que-queria-lacar-a-lua-resenha-de-preterito-imperfeito-eduardo-selga/
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terça-feira, 9 de maio de 2017

Resenha #63 - Jogo Terminal (Floro Freitas de Andrade)

"Jogo Terminal" é uma Ficção Científica Brasileira, escrita por Floro Freitas de Andrade publicada em 1988 pela editora Melhoramentos. A arte da capa e o cenário da estória sugerem um cyberpunk, porém nem tudo que tem chips é cyberpunk.

A Estória se passa em um Brasil que a séculos não existe mais. Os territórios e a vida social e politica que conhecemos foi alterada. Tudo gira entorno de uma inteligência artificial que governa o mundo, chamada M-Max. Os humanos são apenas tolerados e utilizados para estudos. Roval, o protagonista da estória é um deles. Ele  é um escritor e como pessoa sensível (é o que se espera de escritores) acaba sendo um objeto da atenção de M-Max, que sabemos ser uma máquina que almeja sentir. A estória se passa praticamente toda dentro do "ovo quadrado", a cabine onde Roval vive confinado. Tão preso que não se tem ideia de como é a vida fora dali.

Somos conduzidos, durante a narrativa, somente pelos pensamentos de Roval. Infelizmente intercalando da primeira para terceira, sem aviso e sem motivo aparente. Isso pode ser uma questão de estilo da escrita, mas acredito que aqui atrapalhou a imersão na estória. Acompanhamos a rebeldia contra a máquina (o não-humano) e contra o que já fomos um dia, o que confere um ar de pessimismo a obra, característico das distopias.

O autor faz muitas referências ao momento final da ditadura no Brasil, que permeia o momento da obra no final dos anos 1980. A escolha da ocupação de Roval (escritor) acabou tornando a trama frágil e com pouco proposito. Temos muitos insights de Roval: alguns interessantes e outros maçantes mas tudo dentro de um desenrolar lento e isso é muito ruim para um livro de 125 páginas. A princípio, esperamos um duelo com uma inteligência artificial superior, mas M-Max acaba ficando escanteado da estória e a trama não se desenvolve até o momento do fatídico encontro entre Roval e M-Max.

A trama para o tempo todo para descrições das estórias que Roval escreve. Elas são, forma de enxertos na narrativa contemplativa de Roval. Nesses enxertos, Roval desenvolve personagens melhor que o próprio Roval é desenvolvido como tal. Entre eles: Robledo, presidente corrupto do Brasil; Gerrard, exilado da mesma ditadura na França; José, um homem cego que é traído pela mulher e Hans, um cientista que faz uma descoberta incrível com sua pesquisa em vaga-lumes. As páginas finais dão conta de amarrar a es estórias de Roval entre si, e com a estória de Roval e M-Max, mas tudo isso a custa de um desenvolvimento lento e que apenas flertou com a Ficção Científica. Tanto que capa do livro menciona ser uma "fábula sobre a liberdade". Esperava que fosse exagero de um editor desaviado pois, a fábula tende a passar a mensagem em detrimento da estória mas infelizmente é o que acontece nesta obra.

P.S.: Uma curiosidade sobre esta obra é que não consegui nenhuma informação sobre o autor ou de outra obra escrita por ele. Talvez fosse um pseudônimo. Se você souber de algo, comente no blog.
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