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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Resenha #357 Almanaque Gibi do Terror Nº 2 (Denílson Reis e Paulo Kobielski)


O Almanaque Gibi do Terror chega ao número dois como uma publicação muito aguardada no meio independente. A edição é do CAQ (Coletivo Alvoradense de Quadrinhos) capitaneado pelo Denílson Reis e pelo Paulo Kobielski, ambos já agraciados com o Troféu Paulo D'Agostini de melhor Fanzine e essa publicação é aquele passo a mais, é uma publicação independente mas cada vez mais com cara de profissional, afinal tantos anos de experiência se manifestam nesse numero e a qualidade das contribuições cresce como consequência. 

Parece pouco humilde da minha parte falar de que as contribuições estão melhores, pois participei em ambas as edições, com contos. Na edição anterior, publiquei um conto sobre múmias no esçao, agora o tema é vampiros e trouxe o conto "Tenório perde sua alma" que está no mesmo universo steampunk que o conto "Um Crime no Mercado Público" e da noveleta "A Sombra da Rua do Arvoredo". O conto é uma carta de um pai para os filhos onde conta sua participação numa Guerra dos Farrapos de uma forma que você nunca viu pois é uma história alternativa.

Agora falando da publicação como um todo, não são todas as histórias exatamente sobre vampiros. Acredito que os editores se preocupem em trazer bons conteúdos, dando preferencia pelos que abordem o tema da edição mas não impondo como condição. Isso ajuda nas histórias de mistério pois nem sempre o mistério é sobre vampiros. A organização ficou muito boa, alternando entre conteúdos de quadrinhos e conteúdos escritos, começando com Não mexa com quem está quieto uma HQ com um traço simples (parecido com Meninas Superpoderosas?) mas numa história cruel de dois caçadores na floresta procurando a lendária Cobra Norato, quando ninguém menos que o Curupira aparece para azedar a caçada. O primeiro conto é o meu, Tenório perde sua alma, que já falei no início. O hábito faz o monge é uma curta HQ de um garoto que acha uma roupa de vampiro, com máscara e tudo. Enquanto mortes misteriosas acontecem a sua volta. O soldado e o vampiro, de Eduardo Alós temos, nesse conto, o encontro infortuito de um soldado gaúcho recém chegado dos horrores da Guerra do Paraguai decide buscar abrigo num casarão misterioso. O primeiro na fila é uma HQ muito fofa sobre um idoso que aguardou 8 dias para comprar seu novo jogo de vídeo game sangrento e divertido. O final é cruel mas ainda assim achei tudo muito engraçado. Acho que foi o traço que trouxe uma leveza para tudo, mesmo sendo bastante elaborado. A mansão etérea de Duda Falcão, é um conto bastante curto mas que consegue nos colocar no clima de casarão muito rápido. Nas tuas longas pernas procuro a paz que jaz no quarto contíguo ado seu túmulo é uma HQ incrivelmente bem desenhada, não apenas pelo realismo, mas pelas expressões e movimentação dos personagens. O roteiro é simples mas bem feito e a crueza é bem vinda numa história de horror, que nada tem de fantasioso. Pela estrada deserta de Silvio Ribeiro, é outra HQ, mais curta, simples e bem feita. Temos um jovem casal que busca um Motel para passar a noite (é para dormir, pessoal. Eles estão em viagem, ok? Motel nos EUA é o que chamamos de pousada aqui) contudo um recepcionista ganancioso se acha muito esperto ao decidir roubar os jovens. O final me surpreendeu. Temos um comentário sobre o filme As Sete Vampiras, por Paulo Kobielski, que trouxe muitas informações mostrando domínio sobre o cinema fantástico brasileiro. Pesadelo Real retomamos as HQs com um homem entrando e saindo de um pesadelo no inferno, porém conhecemos um pouco dele nesse delírio e o delírio o persegue quando ele acorda. Os Negrinhos é uma HQ que vai de 100 a 1000 muito rápido e o traço acompanha muito bem a loucura dos gêmeos e de sua algoz em poucas páginas. Retornamos ao texto para ler um novo artigo de Paulo Kobielski sobre Rubens Francisco Lucchetti lenda do fantástico e do pulp brasileiro, novamente vemos o domínio do tema e a habilidade em condensar uma vida tão rica em poucos parágrafos. Fazer você sumir... é uma HQ muito engenhosa ao usar os quadros para conta a história. É bacana ver nos quadrinhos, histórias de personagens que sabem que são personagens, ou melhor que descobrem isso da pior forma possível. A Fórmula a última HQ da edição que nos engana parecendo que vai ser uma versão de Dr Jekyll e Sr. Hyde, mas é outra coisa. Por fim temos uma entrevista com o desenhista Silvio Ribeiro, que não tem papas na íngua e faz um verdadeiro desabafo. Bacana ler entrevistas que não são estéreis.

Lista com o conteúdo e as devidas autorias:

Não mexa com quem está quieto: Lauro Ferreira.
Tenório perde sua alma: Davenir Viganon.
O hábito faz o monge: Júlio Shimamoto.
O soldado e o vampiro: Eduardo Alós.
O Primeiro na fila: Marcelo Saraiva no roteiro e Bira Dantas nos desenhos.
A mansão etérea: Duda falcão.
Nas tuas longas pernas procuro a paz que jaz no quarto contíguo ado seu túmulo: Maicol Cristian no roteiro e J. Herrero nos desenhos. 
Pela estrada deserta de Silvio Ribeiro.
Artigo sobre As Sete Vampiras: Paulo Kobielski.
Pesadelo Real: Sandro Leonardo fez os textos, Artes com Aurélio Filho e John Castelhano.
Os negrinhos: Denílson Reis fez o texto e as artes são de Sérgio Fernandes.
Artigo sobre Rubens Francisco Luccheti por Paulo Kobielski.
Fazer você sumir...: Arthur Filho.
A Fórmula: J. França.

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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Resenha #347 Freakshow: Escape dos Sentidos (Raphael Fernandes/Daniel Canedo/Omar Viñole)


Freaskshow: Escape dos Sentidos é uma HQ da editora Draco de 2018 e conta a história de uma banda chamada Os Baudelaires, que passa por uma briga generalizada dos membros que culmina na saída do vocalista. O guitarrista e compositor da banda propõe que os demais membros joguem numa Escape Room para que a banda trabalhando em equipe possam encontrar o entendimento perdido com a briga. Uma ideia muito boa se Escape Room não fosse dirigido por um psicopata e o jogo não fosse pelas próprias vidas. A história é curta e acho que pedia mais páginas para saborearmos os momentos de tensão e terror que a própria história pede. Gosto da saída episódica da história e ela diverte como um bom slasher deste tipo faz.

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segunda-feira, 1 de julho de 2024

Resenha #342 Terra Morta (Tiago Toy)


Terra Morta: A Obsessão de Vitória é uma HQ da editora Draco de 2014 e conta uma pequena história em meio a um apocalipse zumbi. Vitória é uma garota completamente viciada em redes sociais e nem o fim do mundo a fará parar de caçar likes e atenção nas redes. O traço e o Preto e Branco, valorizam o grotesco e a pungência da crítica e me agradaram bastante. O amante de histórias de zumbis não vão ficar decepcionados com a carnificina e o banha do sangue. É uma HQ sucinta, sincera e nada elegante.

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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Resenha #313 Almanaque Gibi do Terror, Nº 1 (Paulo Kobielski e Denílson Reis)

Almanaque Gibi do Terror é uma iniciativa do Coletivo Alvoradense de Quadrinhos encabeçada por dois dos maiores fanzineiros do Brasil, Paulo Kobielski e Denílson Reis, ambos atuando em Alvorada/RS levando a palavra dos quadrinhos desde sempre. Juntando a ideia de privilegiar autores de Alvorada, não apenas dos quadrinhos mas da literatura em prosa também, surgiu a ideia de um almanaque temático voltado para o gênero do Terror. E não poderia faltar o grande R. F. Lucchetti, ainda mais quando o tema da edição é múmias! E ele está logo na primeira história em quadrinhos que é O Talismã Maldito, onde temos a história da múmia de Kharis, que é acordada quando uma entidade gatuna é libertada trazendo terror aos arredores do museu onde estava exposta. Na sequência, uma entrevista com Júlio Shimamoto, o desenhista da história anterior. Na sequência, uma historieta em HQ de uma página homenageando Lucchetti e um texto retirado das memórias do autor.

A próxima história em quadrinhos, é  Besta, de Leander Moura com arte de Cristal Moura e Leander Moura, onde é explorado o mistério de um lobisomem. O primeiro conto é de minha autoria e se chama Sistema Sarcófago em que o mistério da múmia é abordado com a lente da ficção científica homenageando a era dos pulps com um toque psicodélico. A entrada do conto tem uma ilustração de tirar o fôlego feita por Jader Corrêa. Logo depois, Paulo Kobielski nos brinda com um artigo sensacional sobre o filme brasileiro O Segredo da Múmia de 1982. Continuando a sessão de contos, O Misterio da Múmia foi escrito por Eduardo Alós, com arte de abertura por Luan Zuchi, onde um investigador gaúcho vai a um monastério na Amazônia investigar um desaparecimento de um dos religiosos e, obviamente, deparar-se com terrores abissais.

Retomando as histórias em quadrinhos, Um velório alucinante é uma história de morte e quase morte, por Denílson Reis, desenhada por Jair Júnior e letras por Henrique Reis. A herança de Simão segue a linha de terror clássico de uma herança amaldiçoada, com texto e arte de Silvio Ribeiro. O Monstro da Lagoa de Henrique Madeira e Walquir Fagundes, segue a linha do causo com uma história baseada em lendas que o povo conta e aqui uma maldição gerada por uma sucessão de tragédias e um coronel cruel. E por fim, uma rápida entrevista com Ronilson Freire, desenhista da The Mummy da Titan Comics.


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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Resenha #241 Contos Reversos (Romy Schinzare)


"Contos Reversos" da Romy Schinzare é um livro de contos da autora, pela Editora Patuá, participante da antologia Outros Brasis da Ficção Científica, onde podemos ver seu total domínio da narrativa curta. Temos contos de terror, ficção científica e alegorias muito intrigantes que ficam ainda melhores no conjunto pois não tem como saber o que esperar dos contos até que a autora queira que você saiba.

O livro abre com dois contos alegóricos: "Ministério da Solidão" e "O Prédio". O primeiro se passa num mundo tomado pelos homens-bananas e sua rápida proliferação, sempre flutuando ao sabor do mercado e, depois, com a rotina de um prédio onde a evolução se alcança de bípedes para quadrúpedes. Em "O colecionador" um homem atormentado por uma herança de família, num conto cheio de imagens bem construídas. "Ms. Liberty" é outra alegoria, que embora menos complexa é cheia de fúria e paixão, quando narra uma breve desventura da Estátua da Liberdade indignada com o mau uso de seu conceito.

"Os robôs de Marte" é a primeira FC do livro e tem o sabor daquelas antigas FC sobre Marte, em que imagens e reflexões vão se acumulando na cabeça do leitor. "Canal 66" parece um terror saído da série Além da Imaginação tanto na criatividade quanto no suspense no desenvolvimento. "Buraco de Minhoca" volta a FC com a viagem insólita de um cosmonauta russo e seu regresso do espaço não menos insólito e saindo da Rússia para os EUA, com a mesma desenvoltura "Operação Baltimore" narra um suspense sobre uma organização que combate a KKK. Sem aviso algum, voltamos ao nosso quintal, a autora nos joga no misterioso caso de "O Vampiro de Sta Efigênia" no Brasil, que ganha tons tragicômicos quanto mais perto do desenlace chega. 

"O Baile" temos um conto insólito de uma dançarina, que poderia ter saído de um sonho, apenas para ser imergido em um pesadelo em "Ookie Dookie" onde um jovem casal se depara com uma cidade turística. No embalo do estranho e do fantástico, "Moça Enularada" nos dá um rapa em nossas expectativas ao contar a história de um ET que visita fazendeiros mineiros. Agora em meio a tecnologia da cidade grande "Rede ZZZ" nos faz uma pergunta simples: e se tudo parasse de funcionar?

O livro encerra com duas histórias com criaturas fantásticas. "Oziris" onde uma raça estelar convive em meio aos humanos de forma secreta, num conto bonito e emocionante, contrapondo violentamente com "Mutantes" que tem uma narrativa frenética na busca por um emprego em meio a transformações involuntárias.
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Resenha #216 - Território Lovrcraft (Matt Ruff)


"Territorio Lovercratf" de Matt Ruff é uma mistura de coleção de contos com romance, podendo ser encarados das duas formas, porém nas histórias finais tentem mais ao romance. Acredito que isso se deve ao fato de que o autor já escreveu a história pensando numa versão em série. No fim das contas, a adaptação foi feita.

Acompanhamos vários personagens negros que são de alguma forma aparentados e se envolvem em uma trama relacionada a maçonaria em uma disputa por poderes sobrenaturais. O cenário é muito importante, os anos 1950, quando os EUA impunham uma segregação racial sobre os negros e mais localizado no que se chama Território Lovercraft, uma região composta pelos locais onde o escritor nascido em Providence teria se inspirado para escrever seus livros. Os mistérios ocultos começam a ser desvendados a medida que o protagonista da primeira história Atticus vai ao encontro do seu pai Montrose Turner, com quem estava brigado há anos. Atticus loco chega a uma pequena vila que só existe nos livros de Lovercraft e conhece Caleb Braithwithe, que lhe revela uma descendência em comum.

Apesar dos mistérios sobrenaturais serem relativamente apavorantes, eles o são muito menos que a realidade dos negros daquele período. A primeira cena do livro deixa isso bem evidente: Atticus, utilizando um guia de viagem para lugares seguros para negros, sendo parado na estrada por um policial branco que pode atirar nele por qualquer motivo. Os monstros mais perigosos do livro são bastante reais e ainda estão vivos até hoje. Isso torna o tom do livro uma jogada genial do autor. Os protagonistas dos contos são coadjuvantes dos contos seguintes, sempre permeados por histórias cheias de referências as revistas pulp, além do próprio Lovercraft. A maioria dos personagens é cativante, sendo que Letitia a mais carismática e a história de Ruby/Hillary a mais instigante. Leitura mais que recomendada. 
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segunda-feira, 20 de maio de 2019

Resenha #94 - Sombria (André Vianco Org.)

Sombria pode parecer mais uma coletânea de contos de terror criada por editoras pequenas que quase ninguém vai ler, e em parte é, mas também tem algo que é muito importante para mim. Foi a primeira onde tive um conto de minha autoria selecionado. Além do motivo pessoal, Sombria tem outro diferencial das demais coletâneas de contos que quase ninguém vai ler: Não foi uma coletânea de vanity press, em outros termos, não paguei para publicar. Na época da seleção, entre fins de 2015 e inicio de 2016, estava desempregado e sem condição alguma de desembolsar qualquer valor para ter 5 páginas de qualquer coisa num livro e isso foi crucial para enviar meu conto para a seleção de André Vianco (através de sua escola de escritores Vivendo de Inventar), que saiu pela editora Empírio em 2017.

O livro conta com 42 contos que giram em torno do Terror/Suspense e do conceito de Sombrio, além de serem ambientados no Brasil urbano. O organizador, na época da seleção para a antologia, fez uma live pela internet para explicar os termos e fazer uma propaganda dos cursos já que metade das vagas para publicação seriam de seus alunos e outra metade de pessoas de fora. Achei justo, principalmente em comparação as editoras vanity press, que infestam o mercado. 

A chamada para os contos buscava concatenar três conceitos básicos: O de "Sombrio", o de "Brasil" e o de "Urbano". Ficou implícito que seriam do gênero de Terror, ou próximo, e essa linha foi seguida com sucesso. O cenário se passar no Brasil já foi ignorado por uma pequena parte dos contos pois alguns soaram enlatados estadunidenses, com muitos estrangeirismos passando longe de terras tupiniquins. O conceito de "Urbano" foi o mais ignorado pois foi estabelecido a preferencia por contos em cenário urbano e alguns contos fazem exatamente o inverso, o que dá uma impressão ruim de que alguns contos foram tirados da gaveta (o que não é sempre ruim) e mal adaptados, quando são, a coletânea. No geral, os contos conseguem se manter num eixo em comum, como se espera numa coletânea temática. 

Agora vamos ver os contos avaliados um a um. Foram impressões anotadas a leitura de cada um e reunidas na parte que segue. No fim vou listar meus favoritos.
    
1-A Carta (T. C. Oaks): Um relato, como que encontrado numa garrafa no oceano, de um homem solitário em um mundo tomado por zumbis. O protagonista escreve uma carta contudo suas emoções em relação a sua amada oscilam muito para quem está com uma convicção de que irá se arriscar a encontrá-la, pois a carta é escrita em um único momento. Envolvente mas pouco sombrio.

2-A mãe de Cássio (Margareth Brusarosso): Cássio e seu irmão mais novo Salvador são dois meninos que moram com a avó e vão visitar a mãe que está em um hospício por acreditar que um demônio a persegue e então Cássio vê que sua avó tem uma boneca estranha no quarto. Conto bem simples e razoavelmente envolvente, senti falta de um peso na participação da avó.

3-A bruxa no espelho (Osmildo Antônio): Greg conta em retrospectiva, ao seu psiquiatra, como sobreviveu a um massacre de adolescentes em uma casa amaldiçoada. História batida com um bom mistério e resolução. Os nomes dos personagens (como: Cal, Pit, George, Greg) tiram um pouco a força do conto dando a ele uma cara de enlatado americano.

4-A garota do Breu (Ingo Muller): Um motorista do aplicativo Breu, Anagrama para Uber, faz uma corrida para uma moça quando taxistas aparecem e não sabem lidar com a concorrência. O conto com sabor gostoso de "causo", bem adaptado a meio urbano do Brasil, atual pelo uso de aplicativos de corrida e também a realidade da vida de trabalhador autônomo.

5- A garota no espelho (Eduardo Velásquez): Danilo parece acostumado a conversar com Alexandra, uma menina que vive em algum lugar dentro dos espelhos. Conto criativo, na história e na forma com que é contada. Sucinto, simples e misterioso.

6-A próxima (Tereza Cristina Lima): Menina suicida é salva de tentativa de suicídio por mãe católica e pai médico. Conto com mistério bem envolvente em relação a motivação da protagonista e uma resolução muito boa. Terror puxado ao psicológico e bem ambientado no Brasil.

7-Alice na casa assombrada (Arthur Tribuzzi): Alice é uma menina que está de mudança com seus pais para uma casa nova, mas ela não está nada feliz com a novidade. Na sua primeira noite seu urso de pelúcia Angus torna-se animado e tem uma ideia. O conto é bem narrado e passa a urgência no momento certo mas a ideia da casa assombrada como foi posta soa pouco brasileira, tampouco universal e mais terror padrão estadunidense.

8-Aquilo que não se vê (Helena Soares): Um padre chega a uma pequena cidade no sul do Brasil para um caso de exorcismo. Conto usa da sutileza e da sugestão para surpreender no final. Acredito que tenha funcionado comigo.

9-As cartas não mentem! (Felipe Oberon): Uma menina lê uma carta misteriosa da sua tia, Dona Iraci, para seus amigos. Conto com aquele gostinho bom de "causo" e que usa bem o artifício da carta para criar e desenvolver o mistério.

10-Asas da Vingança (Franco Nogueira): Conto clássico de vingança, mas que capricha na sua forma e é repleto de boas escolhas. Quando Esperança, a irmã mais nova de Coragem, é morta de forma brutal, sua irmã se torna Vingança. O conto sabe passar as informações minimas e necessárias com um bom estilo.

11-Baixo Augusta (Jack Cavalaria): Jovem de classe média cai no conto do boa noite Cinderela mas quando acorda seus problemas apenas começaram. Conto é bastante frenético mas não é nada sombrio, estando mais para o divertido na maioria das vezes. É muito bom mas desencaixado da proposta da coletânea.

12-Caçador de monstros (Aline Basoli): Um autointitulado caçador de monstros trava um diálogo consigo sobre como eliminar mais um monstro em São Paulo. Conto bem construído praticamente só com diálogos, o que é muito bacana mas o mistério do conto é rapidamente perceptível e infelizmente ele não avança muito mais que isso.

13-Carrancas (Paulo Souza): Felipe é um jovem que vai a uma cidadezinha em Alagoas pelo testamento de seu tio, último parente vivo que lhe deixou uma casa na cidade. A cidade histórica de Penedo se mostra macabra pelas pessoas e pelas carrancas, imagens que existem em todas as casas da cidade. Conto envolve bem o leitor e o final esperado não é menos assustador por causa disso.

14-Cascos e Cruz (Irene Syrogiannis): Pastor Maurício foge pelas ruas do Rio de Janeiro perseguido por uma besta descomunal enquanto reavalia seus próprios pecados. Conto sobre vingança, escrita seca e sem exageros que me agrada. Boa história.

15- Clube da Lobotomia (Davenir Viganon): Conto de minha autoria nessa antologia. O conto narra, em primeira pessoa, sobre como um rapaz conheceu uma mulher de cabelos roxos nas baladas paulistanas e como ela mudou sua vida para sempre. Tudo regado a drogas, sexo e um clube secreto. Procurei atender aos requisitos da edição que eram: a história deveria se passasse no Brasil, em ambiente urbano e que tivesse um clima sombrio, sem necessariamente ser terror. O conto tem tudo isso e alguma influência do cyberpunk. Não ouso me dar nota, apenas espero que leiam esse conto, algum um dia!

16-Complexo de Judas (Jefté Gabriel): João em um ato de raiva matou Madalena e seu amante e pede ajuda para Alan, seu amigo. Conto desenlaça um mistério maior entre os dois. O autor cria uma boa tensão e ressalto para o uso da tecnologia que influi na história, algo básico e muito esquecido para escrever uma história que se passa atualmente. O final é satisfatório.

17-Corpos (Branca): Clara é uma jornalista de imprensa marrom que investiga um caso de transferência de corpos, quando seu sogro, com quem não se dá bem, tem uma dica que pode levar até Ágata, a bruxa que alega ser capaz de fazer tal feitiço. Premissa já explorada, mas sempre apavorante. O mistério e destino de Clara são óbvios mas o conto vale pela boa condução.

18-De volta ao moinho (Clóvis M. Fajardo): Edson é um jornalista que investiga fenômenos paranormais, o que o leva até uma cidade pequena onde supostamente havia uma ceita que poderia levar até o livro dos mortos, o Necronomicon. Narrativa segue os passos de Lovercraft mas infelizmente não consegue adaptar a linguagem ao Brasil contemporâneo de forma natural, infelizmente soou genérico.

19-Desculpa (Rodrigo Sicário): Cíntia e seu marido, João, saem para jantar com a filha dele, Karina, do casamento anterior. Cíntia tem todos os motivos para estar irritada até que uma tragédia acontece. Conto se desenvolve muito bem durante todo o conto até o final excelente e tocante. Aplausos ao autor.

20-Desespero (Jonatha Victor Chagas Pereira): Maicom e Sandra vivem em seu apartamento em Fortaleza quando seu filho de colo some. Conto narra a perseguição frenética e trágica a seu filho. História crua e cruel, retratando um medo muito comum dos pais e extrapolando ao máximo, mas pouco mais profundo que isso.

21-Do outro lado da rua (Lucas Bustamante Van Wijk): "Leonardo trabalha duro num escritório de advocacia em Belo Horizonte. Numa noite em que voltava muito tarde para casa, é cercado por mistérios da noite que se confundem com seu cansaço. O conto se mantém misterioso até o fim, sem fazer referência direta a nenhuma lenda urbana em específico. É um bom conto, escrita correta e com um bom final. Talvez, aberto demais pois umas linhas a mais para explicação cairiam bem.

22-Doce Garota (K. Leine): Kaique mora em um condomínio tranquilo quando conhece Diana, a cuidadora do filho dos vizinhos novos. Após um breve envolvimento entre os dois a verdadeira face de Diana parece revelando um crime. Conto envolvente mostrando um mal não-sobrenatural. Interessante sucinto mas a revelação final não é suficiente boa para que o conto seja ótimo, apesar de bem escrito.

23-Encontro com a morte (Pollyana Koga): Ladrão invade casarão de casal para roubar joias e se depara com um terror inimaginável. Conto frenético que nos faz saborear cada momento como se fosse uma respiração, e o final nos deixa imaginativo, para que o leitor complete.

24-Eu não estou lá (Oghan Crann Criath): Homem sente que está indo a loucura quando enxerga sombras em seu apartamento. A narração em segunda pessoa é o grande diferencial do conto aumentando a paranoia do personagem e a relevação final apesar é boa, mas o  que atrai no conto é o desenvolvimento competente em trazer paranoia e angústia nos pequenos detalhes.

25-Fantasmas da Vida (Gabriel Walsh): Susana é uma menina pobre que vende geladinhos após seu pai morrer de câncer, que no dia de Natal é salva de bandidos pelo misterioso Etrom. Conto apela bastante para o drama, com clichês bastante óbvios, não indo muito além disso.

26-Fazendo as malas (Clayton Adriano Aleixo dos Anjos): Alan está no centro de São Paulo com um velho misterioso, mas logo vai descobrir o que aconteceu. Conto baseado nos diálogos e nas sensações do protagonista. Consegue manter o suspense mesmo com uma história comum, pois aqui a forma fez tudo valer a pena.

27-Fé (Ricardo André): Ela tem fé mesmo depois de perder o marido e o filho pelos desígnios do senhor. O conto narrado em primeira pessoa usa muito bem o único ponto de vista para sugerir que o que a protagonista do conto relata não foi exatamente daquela forma. Além de sombrio, é atual e bem escrito.

28-Final Feliz (Alex Rebonato): JC Ramos é um escritor de sucesso, com 15 livros publicados, quando a sua esposa pediu o divorcio. Ela era o seu pilar e na sua casa no interior do Espírito Santo ele tentaria voltar com ela. O conto é um caso clássico de traição. Os elementos do mistério estavam muito óbvios assim como o final.

29-Gatos (Rubem Travassos): Criança que mostra sinais de psicopatia, tenta lidar com as novas namoradas do pai solteiro. Conto clássico de psicopatia infantil, desenvolvimento linear com mistério e final óbvios.

30-Gavetas (José Gaspar): Uma mulher narra suas impressões do seu último encontro. Conto sucinto e direto mas bastante envolvente. É o menor conto do livro e mostra como a economia de palavras pode ser benéfica.

31-Hora azul (Rafael Lima): Misterioso homem narra sua visita para uma garota, que é objeto de obsessão. O grande atrativo é a narração em segunda pessoa, no tempo passado. A forma é interessante pois consegui preservar o suspense mesmo sem uma história elaborada. Bom conto.

32-Natureza Morta (Carlos Sanches): Um garoto filho de um vendedor ambulante, encontra conforto na vida dura com seu novo cachorro, o Trombada. Até que Lúcio, um pintor sinistro aparece na feira. Conto faz boa menção ao clássico Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde e isso conta mais sobre o conto do que gostaria. Bom conto.

33-Noites de Inverno (Sylvio Kappes): Isabela vive sozinha e triste em Porto Alegre. Tem seu celular roubado de um mendigo mas o mendigo, que se mostra sinistro, a persegue. Conto consegue traçar um quadro de solidão e violência da metrópole com aquele elemento de sobrenatural que nunca se revela totalmente o que me lembra Joseph Conrad. Muito bom!

34-O Farol (Luana Frota): Garota vive numa cidade praiana perto de Fortaleza com pai e mãe. Ela está pouco adaptado até que  uma estranha vestido de preto vira sua confidente. Conto traz uma abordagem interessante da Morte pela reação da protagonista. Bom conto!

35-O preço do Sonho (Pedro Palaoro): Eleonor é uma cantora e compositora  que vive na Cidade Baixa em Porto Alegre, até que de passagem pelo Parque Redenção encontra um sujeito misterioso que o faz uma oferta que lhe trará tudo que sonhou, mas por um preço. O conto traça o caminho clássico da tentação mas o final ficou um pouco forçado, sem um preparo envolvente que merecia.

36-Pecados em Escarlate (Eduardo Novaes): Firmino, um velho escravizado do período imperial, relembra seus erros em seus momentos derradeiros antes da morte. A ambientação no passado dá frescor a coletânea contudo tudo parece uma mera introdução de algo maior que um conto em si. Ainda assim, muito bom!

37-Rosário (Rodrigo Tavares): Rosário acorda de manhã antes de seus pais e ruma para a floresta onde entrega-se aos ensinamentos de bruxaria. Conto narra o início e o fim de uma bruxa, é bem narrado. É como se tentasse sublimar, passar do início ao fim sem um meio.

38-Sombra (João Peçanha): Homem acorda sem memória e é perseguido por uma sombra e assolado por um medo inominável. O suspense é bem construído e o autor nos conduz bem até a a revelação final que é muito bem boa.

39-Teu futuro te condena (Aldenor Pimentel): Bebê assolado por uma profecia de que se tornará um assassino desde que nasceu, encontra seu momento crucial. Narrado como uma profecia dá uma forma maravilhosa para o conto, sem usar o máximo de palavras. Ótimo conto!

40-Vermelhas como sangue (Emily Cheryl): Mary vai ao interior de Minas Gerais para visitar sua irmã e sobrinho que sofrem violência do seu marido, Meseias porém quando ela chega na cidade, o sobrinho Guilherme está sozinho e sujo nas ruas da cidade. Gostei muito da história, mas acho que o conto pode ser melhor lapidado, pois não consegue estabelecer o suspense entregando muito cedo o final da história, tirando seu impacto.

41-Vulto (Vagner Neubert): Marcos está no hospital com sua esposa grávida prestes a parir, quando vê um vulto sombrio pelos corredores. Marcos sente que a vida de seu filho podia estar em risco. Conto deixa sua explicação em aberto e a forma como o suspense foi construído o torna uma excelente leitura. Muito bom!

42-Dentes (Andrei Simões): Nirril Lutho é um jovem bonito, rico e popular até que seu corpo passa por mudanças que não lembram em nada a puberdade. Conto muito criativo, parece ter influência em Chuck Palahniuk e prende a atenção do inicio até seu final. Maravilhosamente bizarro!

Destaques: 42-Dentes (Andrei Simões); 41-Vulto (Vagner Neubert); 39-Teu futuro te condena (Aldenor Pimentel); 38-Sombra (João Peçanha); 33-Noites de Inverno (Sylvio Kappes); 30-Gavetas (José Gaspar); 27-Fé (Ricardo André); 26-Fazendo as malas (Clayton Adriano Aleixo dos Anjos); 19-Desculpa (Rodrigo Sicário); 13-Carrancas (Paulo Souza); 10-Asas da Vingança (Franco Nogueira) e 05-A garota no espelho (Eduardo Velásquez).
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Resenha #43 Conto, Não tenho boca e preciso gritar (Harlan Ellison)

[SEM SPOILERS]
"Não tenho boca e preciso gritar" é um dos melhores contos que misturam Terror e Ficção Científica. Foi escrito em 1967 por Harlan Ellison conhecido pelas antologias "Visões Perigosas" e "Novas Visões Perigosas".

A estória se passa num futuro onde uma Terceira Guerra Mundial foi travada com ajuda de computadores, que se rebelaram, tomando consciência ao modo de Descartes "Penso, logo existo", aniquilando a população mundial guardando apenas cinco seres humanos preservados para fins de tortura. AM, o computador consciente, modifica a realidade das vítimas e usa sua criatividade apenas para criar as piores torturas possíveis. Se o pessimismo em relação aos computadores já não era novidade na época do conto a intensidade desse retrato é intensa e criativa nas formas de tortura.

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