terça-feira, 30 de julho de 2019

Resenha #100 - O Homem Demolido (Alfred Bester)

"O Homen Demolido" de Alfred Bester foi o primeiro vencedor do primeiro Prêmio Hugo (em 1953) e desde então tornou-se um clássico que influenciou vários autores como Philip K. Dick. Nesta obra temos uma perseguição policial frenética e inteligente, mas também uma antecipação do homem multifacetado dos tempos atuais. Na história, o futuro é tomado por telepatas chamados de Pexsen ou Psicodiafanistas. Graças ao trabalho de policiais telepatas há décadas ninguém é assassinado. Tudo começa quando Ben Reich, um rico empresário, concorrente de D'Courtney, planeja assassina-lo para acabar com a concorrência. Contudo Lincon Powell é um policial habilidoso que empreende uma caçada atrás de Reich, mas Reich também se preparou para lidar com policiais telepatas mas Reich não contava com uma testemunha: Barbara D'Coutrney, filha de Craye D'Coutrney vítima de Reich.

O livro tem apenas 200 páginas e com ritmo frenético, ágil e Bester consegue fazer com que algo relevante sempre esteja acontecendo, nada fica gratuito. A velocidade de comunicação dos telepatas também é bem escrita e um exercício de imaginação do futuro muito interessante e relevante, pois apesar de não existir telepatas no nosso presente, temos comunicação rápida e em tempo real influenciando diretamente as relações sociais. Contudo, o principal dessa obra é imaginar as várias camadas de personalidades emergindo e submergindo em conflito, dando profundidade aos personagens. O mundo criado por Bester influenciou bastante Philip K. Dick e as semelhanças para mim que já li bastante de PKD são bem aparentes: Telepatas (Pexsens/Precogs), homens atormentados e de identidade fraturada e ocupação avançada do Sistema Solar.

O livro não tenta pintar uma mudança drástica no futuro, nem para a utopia nem para distopia, tampouco com a tecnologia com a exceção dos computadores utilizando cartões perfurados. O resultado é um livro que envelhece muito bem, com uma leitura ágil e bem vinda.
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terça-feira, 16 de julho de 2019

Resenha #99 - Último Refúgio (J. M. Beraldo)

"Último Refúgio" de J. M. Beraldo é a sequência de "Império de Diamante", livro de fantasia brasileiro que levou o prêmio Argos de 2016 e foi muito merecido, pois trouxe algo diferente para a Fantasia escrita no Brasil, cheio de referências a África, desde o sistema de magias, passando pelos personagens negros e grandes impérios até a geografia do continente. Nessa sequência, contudo, o autor nos leva a um novo continente nesse mesmo universo em uma aventura com seu protagonista Rais Kasim. 

Kasim é em o "Último Refúgio" um refugiado da guerra travada em Myambe e trabalha como mercenário contratado pela Companhia mercantil de Último Refúgio, a maior cidade do continente de Panjekanaverat. Também temos Vema Thevar, uma onironauta e amante de Kasim vinda de uma família de refugiados de segunda geração. Ambos acabam sendo arrastados para uma conspiração que vira uma jornada pelos mistérios no continente. Kasim é encarregado de investigar um líder revoltoso que está organizando os trabalhadores do porto da cidade chamado Chidi, enquanto isso Vema é recrutada pelo mestre dos onironautas Nyx para criar um sonho mais amplo e detalhado jamais visto.

Temos um mundo totalmente diferente de Myambe, no lugar da seca, religiões fortes e do sólido Império de Diamante. Em Panjekanaverat há uma raça ancestral porém decadente (os Panjek) em uma cidade cosmopolita sustentada tecnologicamente por três grandes casas de arte: A arte da Carne, onde quirurgiões englobam a função de médicos e fazem manipulações no corpo com uma ética peculiar, ou seja, fazem cirurgias, implantes e até criam raças funcionais (como os makaras - bestas de carga que circulam cotidianamente na cidade); a Arte dos Planos, usa energia taumatúrgica para criar máquinas especiais que trazem suas versões de avanços tecnológicos que conhecemos da nossa vida moderna, mas podem criar coisas bizarras como um robô para transportar uma cabeça semiviva; e a Arte da Mente, são onironautas que navegam e moldam sonhos e removem pesadelos, explorando o limites da mente e as barreiras entre as dimensões. Os lideres dessas casas são panjeks chamados de maharashans mas estes dividem poder e influência com o prefeito da cidade, Vayk Varna que tece uma série de alianças políticas e comerciais para se manter no poder. Essas tecnologias e o ar cosmopolita da cidade mais a situação de imigrantes de Myambe (continente que já conhecemos) dá camadas adicionais de profundidade para a cidade expandindo o mundo de forma inteligente.

A leitura é bastante fluída e o autor continua contando uma historia consistente sem desvios desnecessários. Assim como no primeiro livro, temos várias partes do texto dedicadas a entender melhor este mundo novo, pois há um novo sistema de magias que em Panjekanaverat é mais complexo deixando Myambe com aspecto provincial em comparação. O autor optou por menos personagens principais, e por mais páginas para dar mais profundidade aos protagonistas e é aqui que Vema brilha na história assim como o continente que é um personagem em si. Com o fim da leitura, Panjekanaverat nos deixa saudades assim como Myambe me deixou. Agora, resta esperar o próximo livro e que ver se haverá um novo continente a ser explorado ou se teremos um retorno aos que já conhecemos. Que venha o terceiro livro!
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