segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Resenha #270 Crônicas de Le Chevallier: Le Chevalier e o Pêndulo da Morte (A. Z. Cordenonzi)


"Crônicas de Le Chevallier: Le Chevalier e o Pêndulo da Morte" é um dos episódios de uma série de quatro contos que complementam a narrativa do romance Le Chavallier e a Exposição Universal. Cada conto tem como protagonista os quatro personagens principais do romance, antes de cruzarem seus destinos no livro. Após já ter falado sobre o conto da Juliette, vamos ao conto referente ao protagonista da série, o próprio Le Chevalier em uma aventura antes da história do livro.

O conto é bastante curto e narra uma aventura que começa no seu ponto mais crítico. Numa homenagem ao clássico do terror, Edgar Allan Poe, encontramos Le Chevalier preso numa cama sob o pêndulo da morte, uma lâmina que desce lentamente para partir a vítima ao meio, literalmente. Situação essa que foi repetida no cinema a exaustão, por exemplo no filme 007 contra Goldfinger onde o espião é ameaçado com um laser ao invés de uma lâmina. Talvez nem todos saibam que tudo se originou do clássico de Poe.

Como podemos imaginar, nosso herói escapa (afinal de contas ele precisa estar vivo para estrelar no livro) mas antes disso é contado como ele se meteu nessa situação, do chamado do Bureau até a perseguição a sua tia, que está por trás de toda a trama. É um conto curto mas divertido e serve como porta de entrada ao mundo que o autor construiu. Recomendo ser o primeiro a ser lido, antes do romance e dos demais contos, e isso é muito fácil de fazer. Os contos estão de graça na Amazon!


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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Resenha #268 O Último Ancestral (Ale Santos)


"O Último Ancestral" é uma ficção científica afrofuturista de Ale Santos que saiu pela Harper Collins em 2021. O Ale Santos, para quem curte podcast, sabe que ele apresenta o Infiltrados da Cast e do Ficções Selvagens. A obra é o mais recente e, certamente o maior lançamento literário de ficção afrofuturista no Brasil até o momento. Isso já podemos medir pelo alcance que a obra ganhou até o momento. O livro foi lançado pela editora Harper Collins e é um lançamento pouco comum por ser ficção científica, afrofuturista e de autor brasileiro. Elementos que separados já tem dificuldade para ter espaço numa editora grande, combinadas então nem se fala. Mas contra todas as estatísticas, “O Último Ancestral” está ai.

O livro se passa num futuro distante no Distrito de Nagast - que parece ser o Rio de Janeiro – onde acompanhamos Eliah, um ladrão de carros especialista em fugas que vive em Obambo, uma favela onde vivem quase todos os negros, segregados pelo governo de Nagast. Na cidade, dominam o Cygens, ciborgues que rejeitaram seu lado humano, acumulando poder até se tornar a casta dominante da cidade. Eles instauraram uma ditadura segregacionista que persegue a população de Obambo e qualquer manifestação religiosa.

Isso fez com que a fé fosse totalmente esquecida pela população de Obambo e os que demonstrassem qualquer traço de mediunidade eram recolhidos para a Liga da Saúde Mental de nunca mais voltam. É esse perigo que Eliah tem que enfrentar quando sua mediunidade desperta e ele precisa aprender a dominar suas habilidades para defender o povo de Obambo.

O afrofuturismo da obra é bastante evidente quando temos uma obra em que a grande parte dos personagens são negros e que lutam tanto pela própria sobrevivência como também a lutar por algo a mais. Também temos o afrofuturismo na mistura de ficção científica com fantasia que fluiu muito bem na obra. Aliás, ela flui durante a leitura em diversos aspectos. Os elementos fantásticos científicos, na tecnologia Cygen, na estética cyberpunk com tatuagens que ativam equipamentos. O autor não se perde em explicações para unir os elementos tecnológicos e os de fantasia urbana, onde os espíritos se manifestam digitalmente. Tive uma agradável lembrança de Count Zero do William Gibson, onde as entidades da Matrix se identificaram com os loas do Vodum, mas em “O Último Ancestral” o corre o inverso. São as entidades – aqui tiradas das religiões de matriz-africana no Brasil - que se manifestam no mundo digital.

Outro aspecto que me agradou foi o bom uso das gírias pelos Obambos. (algo que se mal feito poderia ter colocado tudo a perder). As falas são ágeis e objetivas, combinando com personagens que, afinal de contas, estão em uma guerra pela própria vida. O sentido de urgência ajuda num livro que é um page-turner (como se diz nos EUA daquele livro que te faz virar páginas, prendendo o leitor). Aliada a linguagem fluida, temos capítulos curtos que nos permitem acompanhar várias linhas narrativas que vão se encontrando ao longo do livro.

Aliás, os personagens secundários são bem bacanas. É muito fácil gostar de Hanna (a hacker cheia de personalidade) e praticamente impossível ficar inferente ao Zero (que fascina como todo anti-herói, inclusive toma para si, o protagonismo em diversas situações ao longo do livro). Vale destacar também o trabalho gráfico do livro, que veio em capa dura, com as primeiras páginas dos capítulos com letras brancas e fundo preto, além das artes muito bacanas e também por um preço razoável em comparação a outros equivalentes.

Contudo temos uma obra que apesar de fechar uma história completa, é a primeira de uma série ou trologia, ou seja, precisaremos de mais livros para fechar a jornada do Eliah. Pessoalmente não gosto do formato de trilogia, que depende de outras obras para contar a história toda do protagonista, mas uma vez que o universo do livro me fisgou, não me resta alternativa a não ser esperar o próximo livro que já tem nome: “A Divindade Digital”. Além de uma sequência o livro tem chances de sair das páginas literárias para outras mídias. E aqui estaremos de olho.
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Resenha #269 Base em Vênus, Perry Rhodan 8 (Kurt Mahr)


[As resenhas do blogue não costumam ter spoilers, mas para esta série não teremos esta preocupação. Pois ela será escrita pensando em trocar ideia com os leitores que já leram as obras. Além disso contar o enredo das primeiras histórias não constitui grande prejuízo para quem deseja começar a série, mas de qualquer forma fica o aviso]

"Base em Vênus" é o oitavo livro da série Perry Rhodan. Onde finalmente entramos na exploração planetária. Uma das marcas da série. Após a invasão pelos DIs no volume anterior, Perry Rhodan decide que é a hora de buscar tecnologia para estabelecer a sua Terceira Potência, não apenas entre as outras potências, mas para melhor cumprir sua missão de defender a Terra de novas ameaças externas. Para isso, Rhodan convoca uma missão exploratória a Vênus pois já havia indícios de que poderia encontrar algo valioso lá. Mas antes disso, a Good Hope, nave auxiliar do cruzador arcônidas, e principal nave que Rhodan tem ao seu dispor, no momento, faz uma parada na Lua para investigar novamente os destroços do cruzador arcônidas destruído em busca de material que pudesse ser aproveitado para a construção de uma nova frota estelar. Chegando lá, Rhodan encontra a Greyhound. Uma nave estadunidense idêntica a Stardust, que havia chegado antes com o mesmo objetivo que Rhodan: obter tecnologia arcônida.

Após um leve embate, tudo é decidido muito rapidamente, com Rhodan convocando os americanos para a Terceira Potência. Achei estranho uma traição deste nível ser perdoada tão facilmente, ainda mais após uma provocação feroz do Comandante da missão, Michael Freyt. De qualquer forma, Rhodan acompanhado de alguns mutantes, os arcônidas Crest e Thora; e os astronautas estadunidenses, partem para Vênus. Lá encontram uma fortaleza escondida na floresta e são recebidos por um raio de sucção (equivalente ao raio trator de Star Trek) e uma mensagem em uma língua desconhecida e após uma fuga, decidem pousar longe da origem do raio, para que possam investir contra a fortaleza a pé mesmo.

Começa uma das primeiras aventuras de exploração planetária da série. Algo que se repetirá em vários episódios e influenciaria Star Trek, por exemplo. O cenário que a expedição encontra em Vênus é basicamente uma grande selva amazônica com dinossauros e animais enormes e grotescos. Cabe lembrar que este era o imaginário dominante sobre o planeta até dia 12 de dezembro de 1962, quando a sonda estadunidense Mariner 2 acabou com as probabilidades de haver vida no planeta. “Base em Vênus” foi escrito entre 1960-62 e foi um dos últimos exemplares dessa “velha Vênus”, essa visão romântica do planeta.

Como era de se esperar, o passeio em Vênus não foi agradável. Até gostei de parte da exploração com a tentativa de contato com uma raça de focas com algum intelecto, mas o tratamento da personagem Anne Sloane, a mutante com poder de telecinese, foi muito mal escrito. Mesmo com seus poderes, ela foi basicamente à donzela a ser salva por Rhodan e quando não estava desacordada, estava cansada ou chorando ou gritando por ajuda. De fato, um tratamento tão ultrapassado quanto à visão antiquada do planeta. O livro perdeu muito com isso.

Porém a revelação no final deu uma levantada na obra. Acompanhamos um certo “comandante” a espreita, dentro da base, sondando as intenções dos exploradores antes de tomar medidas violentas pois eles reconhecem a tecnologia arcônidas que carregam mas hesitam por não ver nenhum arcônidas com eles. Crest e Thora estão na Good Hope dando apoio. Então após capturar o teleportador Tako Takuda e sondar seu cérebro, o Comandante e Rhodan conseguem estabelecer contato amistoso e revelar a história da base. A Base de fato pertenceu a uma colônia arcônida 10 mil anos atrás, que tentou colonizar a Terra, mas foi destruída junto com um continente inteiro. Confirmando que o continente de Atlântida existiu. Além disso, o comandante revelou ser um cérebro positrônico de grande capacidade e se colocou a disposição de Rhodan, pois reconheceu sua liderança.

Não há como negar a conveniência deste achado em Vênus, mas não foi algo tirado da cartola pelos roteiristas da série. Crest já havia mencionado algumas vezes que já havia indícios de que os arcônidas haviam passado pelo sistema solar, mas os registros oficiais haviam se perdido. Logo, o achado da Base em Vênus, é um achado arqueológico até para Crest e Thora, mas além disso uma fonte de recursos que vão acelerar os planos de Rhodan para unificar a humanidade de forma inestimável. E Rhodan vai precisar.
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Resenha #267 Crônicas de Le Chevallier: Juliette e a Cruz Azul (A. Z. Cordenonzi)


"Crônicas de Le Chevallier: Juliette e a Cruz Azul" é um dos episódios de uma série de quatro contos que complementam a narrativa do romance Le Chavallier e a Exposição Universal. Cada conto tem como protagonista os quatro personagens principais do romance, antes de cruzarem seus destinos no livro. Como os contos não foram numerados, escolhi a personagem que mais gostei deste livro: Juliette.

No seu conto, aprofundamos ainda mais as origens desta personagem. Sua vida no orfanato e o que levou a empreender um roubo audacioso até para os ladrões mais bem preparados. Juliette opera de um esconderijo que a protege de um mundo que não se importa com crianças de rua que rende cenas muito boas com seu amigo que é apaixonadinho por ela. Somado a dinâmica do assalto, faz o conto parecer maior do que ele é. Sem contar a homenagem a um dos maiores ladrões da literatura que não convém contar para não atrapalhar a surpresa mas para quem já conhece o personagem não vai se surpreender. O conto é curto em páginas mas é muito bem escrito e mostra que com uma personagem bem trabalhada as coisas fluem naturalmente na leitura. 

Em breve trarei mais resenhas destes contos, que ainda vão abordar separadamente o fiel amigo d'O Cavaleiro, O Persa; da agente russa que ajuda o agente no livro e do próprio Le Chevallier. O mais bacana é que os quatro contos estão de graça na Amazon e o livro está bem barato (a editora AVEC volta e meia coloca os livros de graça então vale a pena ficar de olho.)
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Resenha #266 Olho de Vidro: Manguetown (Raphael Fernandes e Vitor Wiedergrün)


"Olho de Vidro: Manguetown" é uma HQ da Editora Draco que expande o universo criado para um áudio jogo da Rede Geek. Sobre o podcast interativo ainda não consegui ouvir mas a HQ já está lida e é sobre ela que vamos falar hoje. Ela tem o roteiro de Raphael Fernandes e artes de Vitor Wiedergrün e se passa num Brasil cyberpunk em 2162 que após uma guerra nuclear devastou os maiores países do mundo. Apesar de relativamente poupado (São Paulo é uma mancha radioativa no mapa), o Brasil acabou sendo dividido em Brasil do Sul e Brasil do Norte. Sendo o lado Norte bem evoluído com tecnologias verdes e o Sul dominado por corporações como num bom cyberpunk.

É na fronteira desses Brasis que fica a Nova Sampa, a capital do Brasil do Sul, na divisa dos antigos Estados de Minas Gerais e Bahia, mais precisamente Juazeiro e Petrolina. Lá conhecemos Bidu, um malandro que é um guia turístico dos clandestino para os turistas do Norte. Nesta história Bidu vai oferecer ajuda a um ex-namorado dono de uma companhia de teatro anarquista que está sendo perseguido pela Polícia Privada depois de uma peça de protesto contra uma corporação poderosa na cidade. Bidu vai mexer seus pauzinhos e parece ter um excelente plano para salvar seu ex.

A história é curta mas boa o suficiente para conhecer esse mundo. Uma releitura muito brasileira do cyberpunk com versões esteticamente nordestinas dos clichês mais conhecidos do subgênero adicionados da figura do malandro, bem conhecida por aqui. Adorei os desenhos, o traço e as cores, que souberam usar o tema pastel do nordeste com o super colorido do cyberpunk. Cores que entraram na obra por conta do sucesso do financiamento coletivo que chegou a 400% do valor pretendido e uma das recompensas foi que a edição seria com o miolo colorido, e de fato seria uma pena que toda aquela cor se resumisse aquela capa maravilhosa. A história deixa um gosto de quero mais e espero poder ouvir logo esse podcast e ler mais histórias desse universo, pois a combinação funcionou muito bem!
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Resenha #265 Invasão Espacial, Perry Rhodan 7 (Clark Darlton)


[As resenhas do blogue não costumam ter spoilers, mas para esta série não teremos esta preocupação. Pois ela será escrita pensando em trocar ideia com os leitores que já leram as obras. Além disso contar o enredo das primeiras histórias não constitui grande prejuízo para quem deseja começar a série, mas de qualquer forma fica o aviso]

"Invasão Espacial" é o sétimo volume da série Perry Rhodan, que nos traz uma aventura bastante ágil onde nosso herói e seu Exército de Mutantes enfrentam a ameaça de uma invasão pelos DIs, Deformadores Individuais, uma raça insetoide que tem a habilidade de trocar de espírito com humanos. Habilidade essa que usam para tentar extinguir a humanidade. Esse mote de invasão nos remete ao clássico Invasores de Corpos de Jack Finney, mas os invasores aqui agem em escala global, procurando posições chave entre governantes e cientistas.

Esse episódio explorou muito bem as habilidades dos mutantes, que apesar de poderosos, não são uma solução instantânea para a ameaça dos DIs. Perry Rhodan precisou coordenar esforços e agir com cautela para finalmente conseguir eliminar os invasores que quase detonaram uma quantidade colossal de combustível radioativo. O destaque vai para Ernst Ellert que se sacrifica para a equipe mas não morre devido aos seus poderes de transportar seu espírito/consciência, seja lá o que for pelo tempo. Porém, como desta vez o fez de forma reativa, seu espírito foi arremessado pelo espaço-tempo e ele tornou-se um vagante perdido no tempo em um diálogo, no mínimo intrigante, com uma inteligência chamada Gorx.

O destaque negativo vai para o discurso de Rhodan para a necessidade cega para a construção de armas como único caminho possível para a Terceira Potência. Até entendo que a situação da 3ª Potência exija um mínimo armamento, mas achei mais do mesmo da Guerra Fria que pretendiam superar, com a filosofia de unir a humanidade. Unir para que? Entrar em guerra com outras espécies? Nem todas as outras raças serão hostis e alheias a diplomacia neste universo, então o Império Galático de Rhodan será apenas uma megalomania expansionista? Ficam estas dúvidas.   

Destaco também, o final do livro com uma revelação de que Alan D. Mercant, chefe da espionagem do Ocidente e aliado de Rhodan fora enganado pelas autoridades do próprio país que quebrou o acordo com a Terceira Potência. Foi um livro curto e ágil, que poderia ter explorado melhor as variáveis de uma invasão pela raça DI mas entregou bem o que se propôs. 
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