terça-feira, 30 de abril de 2019

Resenha #91 - Dezoito de Escorpião (Alexey Dodsworth)

Dezoito de Escorpião de Alexey Dodsworth é um romance de Ficção Científica brasileira, vencedor do prêmio Argos 2015. A obra consegue combinar tanto uma obra de ficção clássica com uma ambientação no Brasil de forma muito sólida.  

Na história, acompanhamos vários personagens que invariavelmente sofrem com a sensibilidade eletromagnética alem de seus próprios contextos sociais, sendo os principais: Arthur, Laura, Lionel e Martin. Todos acabam sendo convidados pelo misterioso Dr. Ravi Chandrasehkar para habitar a Vila de Mahipu, um vilarejo indígena onde a organização secreta Areté abriga vários "Eleitos" portadores da sensibilidade para estudos. A história remonta diversos momentos do tempo, dos anos 1920 até 2070, passando pela descoberta de uma estrela gêmea do sol, a 18ª estrela em brilho da constelação de escorpião até pela busca de novas forma de vida inteligente no universo.

O que chama a atenção é a desenvoltura em criar uma ficção científica brasileira em que não se pauta no que acontece nos Estados Unidos, o que é bem vindo pois o complexo de vira-latas torna isso tudo mais inusitado que deveria. Outra qualidade bem vinda são as histórias dos protagonistas antes de se cruzarem, sem muito moralismo contam histórias tristes e pesadas e muito bem trabalhadas. Contudo, a história em si não desenvolve de forma conclusiva e isso se justifica pela continuação que se molda a medida que o livro vai terminando.

Acreditava que o livro terminaria em si, pois estava com planos de terminar as sequencias de obras já lidas e não de iniciar mais outra. Isso vai ter que ficar com o próximo livro, mas este vai ficar na minha mente por um tempo.Recomendo a leitura e muito!
Leia Mais ››

terça-feira, 16 de abril de 2019

Resenha #90 - Lotaria Solar (Philip K. Dick)

Estamos chegando perto da resenha de número 100, e não queria chegar a tantos livros lidos e comentados no blog sem ler o primeiro livro do meu autor favorito, Philip K. Dick. A obra desta semana é Lotaria Solar (Solar Lottery) de 1956. Esta obra se encontra em português apenas na sua forma lusitana editada pela Europa-América na coleção FC, que junto com a clássica Argonauta traduziram e publicaram centenas de livros de Ficção Científica. Muitas destas obras, assim como "Lotaria Solar", ainda são as únicas forma de encontrar livros em português. Homenagem e reconhecimento feitos, vamos a nossa resenha.

Passado séculos no futuro, por volta de 2203, apesar de termos sido capazes de colonizar os nove planetas, a humanidade desmoronada socialmente pela queda dos governos, busca reerguer-se sob a base do Minimax, uma máquina que calcula aleatoriamente, sorteia e nomeia o cargo mais alto da administração humana, o cargo de Interrogador-chefe. Este cargo, contudo, não dava grande conforto pois segundo a lei, pretendentes ao cargo poderiam propor desafios de morte, enviando assassinos públicos e desafiadores ricos para eliminar o Interrogador-chefe.

Nesse mundo acompanhamos Ted Benteley, um operador juramentado e, até então, crente no sistema de juramentos (algo como suserania e vassalagem medieval) que busca um novo senhor para servir e o encontra no atual Interrogador-chefe, o rico e poderoso Reese Verrick. Então, o Minimax resolve sortear novamente o prêmio máximo dando o cargo para Leon Cartwright, um servidor simples, de baixa classe e meia idade, e adepto do culto a Preston, um profeta que dizem habitar um décimo planeta, um local não abrangido pelo Minimax. A partir daí dá-se uma caçada pública ao novo Interrogador-chefe, onde Reese Verrick desafiará com um assassino público e um plano ousado.    

O autor cria um mundo socialmente absurdo e conduzido por uma máquina elaborada em determinar o aleatório, que gera uma mania generalizada por amuletos animistas. Uma possível alegoria para o racional sendo usado para irracionalidades. Algo como o avanço tecnológico de metralhadora bem sucedida em causar mortes durante a 1GM. Além do sistema de suserania e vassalagem que regem as relações entre as classes nesse mundo. Apesar dos cálculos avançados de reorganização social, a ideia do prêmio acaba acirrando as desigualdades, gerando a maior discrepância que é a figura de Verrick, um homem muito poderoso e ambicioso que não mede recursos para voltar a ser Interrogador-chefe. Cargo que praticamente não é explicado, sequer exemplificado, pois seus ocupantes são descritos apenas como seres que tentam se defender dos assassinos públicos, defendidos pelo Corpo, um grupo de telepatas que agem como segurança pessoal do Interrogador-chefe.

Esse absurdo social, as mostras de pseudoentidades, o uso irracional da racionalidade são elementos incipientes nessa obra e, sinceramente, que bom que é assim pois PKD tem uma evolução nos temas e dá mais profundidade as suas histórias que são muito melhores, apesar desta ter me agradado bastante pelas intrigas e ação. Recomendado.
Leia Mais ››

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Resenha #89 - A Cidade das Ilusões (Ursula Le Guin)

A Cidade das Ilusões (1967) é o terceiro livro de Ursula Le Guin do ciclo Hainnish, aquele que se passa no mesmo universo dos livros mais conhecidos da autora: "A Mão Esquerda da Escuridão", "Os Despossuídos" e o menos conhecido, "O Mundo de Rocannon", resenhados aqui. Também já titulada como "Viagem no Tempo", a edição que li é da Editora Argonauta em português lusitano, que ficou bastante palatável aos olhos brasileiros o que facilitou bastante a apreciação da leitura.

A história se passa na Terra, muitos séculos no futuro, depois de entrar na Liga dos Mundos e das guerras que a isolaram de outros planetas humanos, obrigando as populações a ficarem em pequenas tribos impedidas do progresso como conhecemos por causa dos Shings, os imperadores do mundo conhecidos como essencialmente mentirosos. Numa dessas tribos, Falk é abrigado, sem memória inclusive da origem e de sua aparência notoriamente alienígena (cor clara e olhos amarelos como um felino). Após cinco anos recluso reaprendendo tudo, com o que a tribo podia lhe oferecer Falk decide explorar o mundo e encontrar a verdade sobre si e é ai que a jornada começa e nela se compõe toda a narrativa do livro.

Quem já leu algumas obras da autora sabe que a escrita e a imaginação é o forte e aqui não é diferente. Apesar de considerado não tão bom quanto os livros mais conhecidos, cabe citar uma diferença positiva entre as outras obras já resenhadas da autora: Temos um mistério intrigante a respeito de quem é Falk, e após as revelações que vão acontecendo durante o livro. Elemento que não pautaram os outros livros da série e não são comuns nas obras da autora. Achei algo bem vindo. O ponto negativo é o final que ficou, senão em aberto, com possibilidades de contar mais o que acontece, mas ai voltamos a característica da autora de se ater a jornada e a mudança do personagem do que explicar o contexto geral de tudo.

Recomendo a leitura porque a obra se basta (para quem vai ler apenas este livro) tanto quanto traz mais informações sobre a Terra e a Liga dos Mundos para quem, como eu, quer ler todos os livros do ciclo. Para esses, é leitura obrigatória! 

Segue a ordem cronológica das obras do Ciclo Hainnish, junto com o ano de publicação de cada obra:
- Os Despossuídos (The Dispossessed) – 1974;
- Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest) – 1976;
- O Mundo de Rocannon (Rocannon’s World) – 1966;
- Planeta do Exílio (Planet of Exile) -1966;
- A Cidade das Ilusões (City of Illusions) – 1967;
- A Mão Esquerda da Escuridão (The Left Hand of Darkness) – 1969;
- The Telling – 2000;
Leia Mais ››