segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Resenha #274 Socorro para a Terra, Perry Rhodan 9 (W.W. Schols)


[As resenhas do blogue não costumam ter spoilers, mas para esta série não teremos esta preocupação. Pois ela será escrita pensando em trocar ideia com os leitores que já leram as obras ou que não se importam com spoilers. Além disso contar o enredo das primeiras histórias não constitui grande prejuízo para quem deseja começar a série, mas de qualquer forma fica o aviso]

"Socorro para a Terra" é o nono livro da série Perry Rhodan. Após as a exploração planetária e as descobertas em Vênus, retornam para o derradeiro confronto contra os DIs (Deformadores Individuais). Temos várias sequências interessantes. A primeira mostra os pilotos americanos servindo como pilotos de uma flotilha de caças que consegue abater uma nave dos DIs mas os problemas que enfrentam na Terra. Pausa para uma curiosidade sobre como funciona a produção de alimentos na Terceira Potência, usando as áreas circundantes e agricultores mongóis arando terras revitalizadas com a tecnologia arcônida.

Voltando aos DIs, temos uma sequencia que temos Marshall, o telepata, infiltrando-se na fortaleza superprotegida do gangster Clive Cannon, sobre o qual cai a acusação de ser um DI. No entanto, Rhodan não tem ainda a tecnologia para detectar com segurança dos invasores e precisa capturar Cannon vivo. Seguiu-se assim um plano de fato perigoso e teve de enfrentar os interesses das potências terrenas e necessitou de muita astúcia para dar certo. O plano termina com uma tensa negociação entre Rhodan e a mente coletiva dos invasores. Contudo ainda restava a invasão de fato, concentrada na cidade de Nova Iorque. Lá a ausência de um método de identificar os DIs causou pânico na população e quase destruiu a cidade até que se encontrassem os meios de separar os tomados pelos DIs das pessoas normais. Foi muito interessante ver os duelos mentais entre os membros da Terceira Potência. Marshall sobrevivendo a uma assimilação de um DI e Rhodan quando consegue caputrar e negociar diretamente com um DI.

O episódio termina com, obviamente, uma vitória da Terceira Potência. A invasão em maior escala dos DIs foi a última tentativa desta raça, mas a incerteza da segurança da Terra ainda mais ameaças de invasão podem acontecer. Também, o sucesso na invasão não acabou com as desconfianças entre as potências terrenas. Essa nova história de invasão, deu a complexidade que falou para situação anterior. Isso é algo que é muito bacana na série.
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Resenha #273 E de Extermínio (Cirilo S. Lemos)


"E de Extermínio" é o segundo livro de Cirilo S. Lemos, autor do excelente O Alienado. Aqui há uma proposta bem diferente primeiro livro, puxado para o wierd, reflexivo e filosófico, agora dando vazão para sua veia de historiador e mergulhando de cabeça na a ação e na história alternativa, com uma estética Dieselpunk. Essa mudança mostra a versatilidade do autor, mas para quem leu o primeiro livro, é importante alertar que o estilo quase philipkdickiano não é uma constante do autor, apenas uma de suas facetas.

A obra é uma ampliação da noveleta Auto de Extermínio da antologia Dieselpunk da Draco, que aqui é praticamente usada por completo, como uma abertura ou uma primeira de várias aventuras da família Trovão, que vão se acumulando como se fossem várias noveletas juntas alternando narradores. O primeiro, Jerônimo Trovão, é pai que ensinou o oficio do assassinato ao filho, Deuteronômio, chamado apenas de Nômio. Ambos nasceram com uma espécie de mediunidade, personificada em uma figura que conversa e alerta dos perigos dando uma vantagem em combate que mantém tanto Jerônimo, quanto Nômio vivos e perigosos. Jerônimo vê uma Santa (pela sua formação religiosa) e Nômio vê o Democrata (personagem dos quadrinhos que lia na infância). Há também um terceiro filho, que mesmo sendo adotado, também desenvolve a mesma mediunidade mas com uma diferença que pode destruir a família e mudar o destino do Brasil.

Aliás Cirilo brinca com os destinos não tomados pela História com o domínio que só um historiador apaixonado poderia fazer com tanta segurança. O turbulento início de século, com a ascensão das ideologias do nazismo, comunismo e liberalismo, ganha ainda mais impacto por conta de um Império muito mais teimoso em desaparecer, com direito a um Dom Pedro III velho e querendo perpetuar-se através de um clone. Protásio Vargas, é a primeira figura republicana, que emerge após um golpe de Estado no imperador, contudo um herdeiro do trono muito bem escondido ressurgirá para colocar fogo no Brasil. A trama é bem ágil em entrelaçar o destino da família Trovão com o marco do destino do país, no jogo da política externa.

Esse pano de fundo, contudo não toma conta da narrativa, que é permeada pela ação e pelo mistério que envolve as aparições da Santa para Jerônimo e do Senhor Democrata para Nômio e do cachorro para Levítico o filho caçula da família. Recomendo bastante o livro para quem gosta de ação e não tem medo de conhecer essa história alternativa, cheia de ótimas sacadas mas que nem por isso perde a essência do Brasil que conhecemos e isso garante uma viagem fantástica e crível.
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Resenha #272 2021 (Edgar Franco Org.)


"2021" organizado por Edgar Franco, o ciberpajé, foi lançado em 2020 durante os primeiros e mais tensos meses da pandemia de COVID-19. A obra é também vencedora do Prêmio Argos 2021 na categoria antologia. A coleção é baseada num álbum de gravuras que o autor desenhou para inspirar os autores, e são belíssimas. Uma mistura de psicodelia com tecnologia que refletem o conceito de hipernormalidade do autor ao buscar uma extrapolação tão próxima, no caso um ano no futuro. Ironicamente dois anos no passado, agora.

Um exoantropólogo em um mundo pós-humano, de Edgar Smaniotto abre a antologia este conto em formato de ensaio científico, na pele de um pesquisador num futuro onde a raça humana aprendeu muito com outras formas de vida. Um conto utópico muito bem vindo cheio de alteridade. Et in Arcadia Ego, de Fábio Fernandes, faz uma releitura da alegoria do mito da caverna, num conto de exploração planetária, que poderia se passar no mesmo mundo do conto anterior.

O nascimento do Rei Poedi de Fábio Shiva se parece com o conto de seu xará, pela via da influência dos filósofos gregos antigos. Em um grande império a sucessão é uma história trágica para o rei e o príncipe. Conhecer a história de Édipo ajuda bastante a aproveitar melhor o conto. Onde as (nano)cores se arvoram de Gazy Andraus entrega um conto potente em imagens, que precisam ser formadas na cabeça do leitor para uma melhor imersão, pois não há um enredo linear, tradicional para seguir. O aplicativo, de Gian Danton, por outro lado traz um conto com enredo com uma revelação no seu desenlace. O conto alia o terror a ficção científica para nos impactar com nossa relação com a tecnologia, como se passou a dizer, a la Black Mirror

Pandemônyo em Pyndorama: alegrya, alegrya de Nelson de Oliveira voltamos a vibração imagética no estilo característico do autor, que já foi melhor digerido por já ter lido mais do autor que alia várias influências buscando a arte brasileira. Por fim Octávio Aragão com seu O Ninho no Nariz do Boneco” começa pintando o conto com traços lisérgicos, como numa pintura vista a distância que vai ganhando traços bem delineados quanto mais perto chegamos perto até um final mostrando um enredo bem amarrado.


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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Resenha #271 Multiverso Pulp Volume 1: Espada e Feitiçaria (Duda Falcão Org.)


"Multiverso Pulp: Espada e Feitiçaria" é o lançamento da editora AVEC que buscou resgatar aquele clima de revista de contos curtos onde predomina a ação. Aqui são dez contos de fantasia no melhor estilo Espada e Feitiçaria. Vou analisar os contos separadamente.

A Peônia (Alec Silva) conta sobre Marja uma guerreira que enfrenta todas as dificuldades de uma caçadora de recompensas mulher pode enfrentar. Há uma aura que paira sobre Marja devido as lendas que circulam a seu respeito sobre o severo treinamento, que lhe rendeu uma cicatriz no rosto. O conto usa bastante páginas para compor essa aura e poucas para mostrá-la em si. Acho que se esses dois momentos fossem alternados, o impacto seria maior, mas eu gostei do conto. Introduziu a personagem que pode ser facilmente expandido para algo maior.  

Khamir, o Sem Rosto (Lucas Viapiana Baptista) Assim como o conto anterior é uma aventura de um personagem que pode ser expandido ou até adicionado em outras aventuras. É algo muito comum e agradável nas histórias de Espada e Feitiçaria. Khamir é um guerreiro em estado severo de lepra, que foi contraída por uma maldição. Após uma visão ele tem a esperança de quebrar a maldição. A composição do personagem mostra que a maldição já faz parte dele e é difícil vislumbrá-lo sem ela. O mundo está contra ele e isso é evidente no uso da máscara para poder entrar nas cidades, como nem por isso, ele é bem recebido. 

O lorde sombrio do castelo em ruínas (Tarcísio Lucas Hernandes Pereira) Diferente dos contos de espada e feitiçaria em que há combates empolgantes com (duh) espadas e feitiçarias, aqui temos um duelo em que as armas são a conversação, a inteligência e a astúcia. Assim se desenrola esse embate entre Alkar, um ladrão contratado pelo Lorde Zamiel, que espanta mas instiga a cobiça do ladrão com sua figura cadavérica e macabra. O conto é extenso, em comparação aos outros mas o duelo flui muito bem, pois a curiosidade de Alkar é transferida para o leitor com muita facilidade (e sem os riscos, felizmente).

A Última Luz (Jonatas Tosta Barbosa) se passa em um mundo decadente onde uma formação tribal está minguando enquanto faz uma travessia desesperada em busca de melhores dias. Tentando sobreviver, a filha mais velha Ardruna, junto com seu pai e irmãs lutam contra o clima gelado, contra predadores que querem devorá-las e membros da próprio povo que querem escravizá-las. O conto é muito competente em passar essa ambientação de decadência em todos os sentidos e entregar uma aventura cheia de horror.

A Caçada ao Paladino (Fernando Fiorin) Acompanhamos uma fantasia histórica, onde uma maldição por um gênio destruiu uma família inglesa. O kafir fugiu com sua lâmpada e o senhor estava assolado pelo peso da maldição. Então, um misterioso paladino do oriente oferece ajuda para o inglês e ambos partem na caçada do demônio. A aventura é linear e o final simples, porém durante a jornada o choque cultural entre o oriente e ocidente é bem explorado e acaba sendo o principal atrativo do conto.

A Bruxa (Marina Mainardi) Temos uma busca por sair do clichê da Bruxa malvada e aqui temos uma personagem que também não cai no extremo oposto. Na perspectiva de um homem que tem o contrato para matar uma bruxa, vamos explorando o cenário até o derradeiro encontro. Se pensarmos a exploração e o cenário como parte da própria bruxa, conseguimos tirar do conto algo mais profundo desta personagem. 

Enseada Abissal (Rodrigo B. Scop) Acompanhamos Neshad em uma busca fantástica por uma criatura marinha ancestral e incrivelmente poderosa. Não há porque negar a influência em Moby Dick, pois ela é bem vinda. Uma aventura marítima em um conto no qual não há porque ter pena dos personagens. A caçada e a loucura que motiva o protagonista permeiam todo o conto e a visão da criatura é outro atrativo.

Considerações acerca de Anathemus a espada perdida (Roberto Fideli) O conto é basicamente uma escrita epistolar, simulando um artigo acadêmico dissertando sobre uma espada mágica, levantando hipóteses sobre os poderes da espada e sobre quem a portou ao longo do tempo. Um dos melhores contos da antologia, pois além da ideia bastante criativa, foi muito bem executada. É aquele tipo de texto que você leria com gosto em uma aba explorando um cenário de jogo de RPG. Muito bom! 

Nas Ruínas de Ka'Drath (João Ricardo Bittencourt) No melhor estilo lovercraftiano, acompanhamos uma bruxa em busca de uma criatura abissal capaz de cruzar a fronteira da vida e da morte. Temos uma jornada bem escrita e tensa, principalmente para os que se envolvem mais facilmente no estilo. O mistério é deixado de lado pela aventura e o tom macabro que percorre o conto todo. 

Guízer contra a aranha de mil filhotes (Duda Falcão) conto que fecha com chave de ouro a antologia com um conto muito divertido que consegue colocar muita coisa em poucas páginas. Acompanhamos Guízier, um fugitivo de uma fazenda escravagista mas acaba preso e enviado a uma arena de gladiadores. Lá enfrentam muitos inimigos que se colocam em frente dele e sua liberdade. A conexão da magia deste mundo com os animais é muito simples e conquista o leitor muito facilmente. Como organizador, o peso de colocar um bom conto na antologia aumenta bastante (sei exatamente como é) e posso dizer com tranquilidade que o autor extrapolou qualquer expectativa e colocou o meu conto favorito. 

 
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