segunda-feira, 31 de julho de 2023

Resenha #296 Savage Worlds nº3 (Jerry Souza)


Estamos de volta para prestigiar a terceira edição da revista Savage Worlds. Projeto do Jerry Souza, que edita também a Revista Profecia. Recomendo fortemente o leitor conhecer o site www.profeciacomics.com e ver com os próprios olhos as edições virtuais para ler gratuitamente.

No terceiro número temos a continuação das aventuras de Peryc e de Brandar. Peryc, vive na Terra passados dois mil anos de uma guerra nuclear que fez a humanidade regredir a barbárie. Peryc está preso na cidade das guerreiras de ébano, onde ele é jogado em uma prisão e dali em uma arena onde tem que matar para sobreviver e é recompensado com o prazer de belos corpos das guerreiras, mas isso se mostra apenas uma forma de escravidão, sendo assim Peryc foge na calada da noite e encontra um deserto. Gostei como a história progrediu e mostrou como a cidade das guerreiras negras enriquece o mundo de Peryc. A corsária faz uma breve aparição e deixa curiosidade sobre o que vai acontecer com ela. A segunda aventura é de Brandar, onde vemos vagando pelo planeta desconhecido para ele, porém seu executor logo o encontra, dedicado a colocar um fim na vida do nosso herói exilado, nos revelando a existência de sete planos de existência, e deixando mais perguntas que respostas. 

Escrevo este comentário sabendo que as aventuras se encerram com o numero 4, que sairá no ano de 2023. Além disso, haverá um acontecimento muito legal nas duas histórias que não vou dizer para não dar spoiler. Agora entro em modo de aguardando ansiosamente!
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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Resenha #295 O cometa + O fim da supremacia branca (W. E. B. Du Bois, Saidiya Hartman)

 



"O cometa" foi escrito em 1920 por W. E. B. Du Bois é uma peça do pessimismo que escancara as relações raciais nos Estados Unidos do seu tempo a partir de uma especulação típica da ficção científica. O que aconteceria se você ficasse sozinho e todas as pessoas do mundo estivessem mortas? E se você fosse negro? O que eventualmente muda em sua resposta, a partir da segunda pergunta é que ganha centralidade neste conto.

Acompanhamos Jim, um mensageiro de um banco em Nova York, nos anos 1920, que sobrevive a um evento catastrófico causado por um cometa. O que causa o evento e as suas consequências, não é o que realmente importa aqui, mas como sua relação com o mundo muda ao longo de sua jornada pelas ruas tomadas por pessoas mortas. Então, ele encontra Julia, uma mulher branca que também sobrevive, e nessa relação entre os dois sobreviventes, cheias de impressões entre ambos e a própria situação. O conto é curto e de linguagem objetiva mas é repleto de momentos que mostram como seria diferente com um homem negro, no lugar de um branco, andando solitário e, depois, encontrando com uma mulher branca sobrevivente.

É um conto que necessita uma leitura atenta a esse aspecto, para se tirar o melhor proveito da leitura. Contudo, mesmo para o leitor mais desatento é possível tirar várias reflexões do ensaio que segue a leitura do conto, que se chama "O fim da supremacia branca" escrito por Saidiya Hartman, uma pensadora de nosso tempo que tece muitas considerações evocando vários pensadores negros, como Frantz Fanon. Esse texto, na verdade, praticamente inutiliza a necessidade de uma resenha mais avaliativa sobre o conto, pois a autora do ensaio se debruça e tece com detalhes os vários aspectos que passariam batidos por uma leitura desatenta, ou de um leitor branco que não tenha conseguido se colocar no lugar de Jim. Recomendo a leitura por ser intensa em seus propósitos mas muito palatável em termos estilísticos. 

 

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segunda-feira, 17 de julho de 2023

Resenha #294 As Crônicas de Kérdar: O Mestre das Sombras (Eduardo Alós)

 



"O Mestre das Sombras" é o segundo livro d'As Crônicas de Kérdar, do autor alvoradense Eduardo Alós. Já falamos da primeira obra que apresenta o mundo mágico de Kérdar, baseado na mitologia nórdica onde guerreiros humanos e elfícos, travam uma guerra estúpida que mascarou um grande mal encarnado nos Dragões Vermelhos. Apesar de uma vitória e a formação de uma tríade de magos representados pelas raças que se uniram contra os Dragões Vermelhos (elfos, humanos e anões), era esperado que uma nova ameaça surgisse, anos mais tarde. No caso, foi mais de um século, quando os Dragões Vermelhos se tornaram histórias para apavorar crianças, e a tríade Nahon havia trocado seus membros algumas vezes.

Tudo começa quando Mezmelus, um humano filho de uma família de pescadores é convocado para ser o humano nahon, porém algo em sua personalidade não combinava com o que se espera de um mago da tríade. Eventos trágicos vão levar o mago que deveria proteger Kérdar em sua maior ameaça. Exatamente, o protagonista deste livro é o vilão, pois é ele quem movimenta a trama e sua jornada de decadência e corrupção é muito bacana de acompanhar. Um bom vilão ajuda qualquer obra a ganhar o senso de urgência necessário para fazer o leitor virar páginas sem parar, mas o melhor do livro é a construção de mundo. Kérdar está melhor trabalhada neste retorno. Mais raças se envolvem na guerra eminente, como os Ogros, Gigantes de Gelo (Ionymir), Hamtammr (Lobisomens) e Gnomos e novos personagens das raças conhecidas (humanos, elfos e anões) melhor trabalhados, mesmo com pouco espaço para cada um, pois há muitos personagens mas eles brilham como podem. Obviamente que alguns não tem como ser trabalhados profundamente mas os que são são bem feitos, como Erik, o irmão de Mezmelus, que quer impedir seu irmão mas é apenas um humano comum; Gabil, um anão que carrega uma mágoa do passado; Almaar, que vê o mundo que devia proteger definhar e não encontra uma saída; e até o Thymyr, Rei dos Gigantes, que não aceita cegamente as ordens do Mestre das Sombras.

A receita básica e batida das sequências, que é a do "mais e maior", não se aplica aqui. Obviamente temos uma batalha maior e mais desgastante, mas ela também é mais humana. Não por envolver mais humanos, mas com mais elementos que nos fazem envolver e nos importar mais com os personagens. Isso não torna a guerra menos estúpida e mesquinha, por mais que apoiemos o lado que quer apenas sobreviver, mas temos uma mensagem sobre o coletivo sobre o individualismo, na própria estrutura da história. Se no primeiro livro, surgem heróis que por seus feitos mágicos e poderes se tornam lendas, no segundo livro, o esforço coletivo de vários seres comuns (no caso dos magos, enfraquecidos, não pela sua magia) conseguem fazer frente a ameaça do Mestre das Sombras. Recomendo bastante para quem gosta de fantasia e quer devorar um livrão do tamanho de um tijolo, pois aqui ele estará bem servido. E para terminar a resenha com mais uma referencia culinária: mal posso esperar para repetir o prato pela terceira vez!   
  

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segunda-feira, 10 de julho de 2023

Resenha #293 Hiperhelix (Michel Peres)

 



"Hiperhelix" é minha última leitura da coleção "Futuro Infinito", como já disse antes é a melhor coleção da ficção científica brasileira lançada até agora. Hiperhélix é um exemplo de como a ficção científica escrita no Brasil poderia ser. Não que todos devessem copiá-lo, mas que o nível de escrita que concilia bem o nerd com o malandro, a viagem maluca com tramas interessantes, não se prendendo a armas e vingança. O uso criativo da imaginação para elementos tecnológicos, como o tecido quase vivo, as fofuras assassinas, o vírus no estúdio musical e um código que permite uma "vida eterna". Tudo isso perpassa em histórias que hora trazem o horror, outras a contemplação de elementos futurísticos muito bem explorados pelo autor.

"Droneboy" abre com um tupinipunk num ritmo frenético de um menino que faz entregas de pizza por drone e teve seu aparelho danificado por motoboys (concorrência), os problemas começam porque havia uma carga ilegal no drone que desaparece junto com o aparelho. Somos jogados habilmente pela linguagem solta de um moleque que entra numa enrascada e entra numa zona horrenda da cidade, digna de um filme de terror. Os diálogos são fluidos como descer num tobogã. Conto muito divertido. Excelente início. 

"Memento mori com fernet" acompanhamos uma artesã, que confecciona tecidos e faz roupas sob medida com uma espécie de tecido vivo, no Rio de Janeiro, quando ela conhece e se envolve uma garota ciborgue uruguaia que faz performances eróticas em casas de shows. Achei que o conto foi muito sensível na relação entre as duas, sem apelar para uma erotização das personagens e focando na relação de fascínio e mistério que a uruguaia exerce sobre a protagonista. Outro conto com pegada tupinipunk que nos leva a estranheza numa corriqueira lojinha de roupas no futuro.

"Girassol negro" é uma história de viagem no tempo, que não tenta brincar com paradoxos, e por consequência também não tenta usar a viagem temporal como solução fácil para a resolução da história. O viajante no tempo está atrás de um quadro raro de Van Gogh e acaba se metendo demais na vida do pintor e se deixa levar pelo encanto de suas obras. Acompanhei a trama gostando tanto dela, que seu desenrolar foi mais satisfatório que seu desfecho. E o desfecho foi muito bom! 

"Intermitências" acompanha Deisi, uma jovem solitária que busca a solidão e a contemplação de paisagens em jogos multiplayer online abandonados. Ela entra em uma espiral maluca quando encontra um avatar que passeia por diversos jogos e cenários, apresentando-se como um deus. O mistério toma conta de todo o conto e envolve bastante até o seu desenlace. É possivel mergulhar na solidão e nos cenários que ela busca para fugir do mundo. Muito bom!

"Preto digital" acompanhamos uma xamã digital contratada para remover um vírus de um estúdio musical de uma senhora excêntrica, mas o passado desta mulher acaba envolvendo a protagonista de uma forma muito doce na sua vida. O conto tem uma pegada muito parecida com o primeiro conto. Há um toque de morbidez mas é um encontro da vida muito bonito. Tanto que a qualidade quase viva do estúdio lembra um pouco com a característica viva dos tecidos da artesã do primeiro encontro.

"Nilsinho Pause" conta sobre um artista performático no futuro, que dá nome ao conto. Um brasileiro de origem nordestina e pobre que viajou o mundo e agora está preparando uma performance na cidade onde nasceu. Me fez lembrar a alegria e irreverência de Ruby Rhod (Chris Tucker em o 5º Elemento) ou Zimba Blue em "Love, Death & Robots", mas obviamente com uma pegada muito brasileira. A leitura é feita em alta velocidade, num ritmo frenético como o segundo conto.  

"Os filhos dos homens" conto é narrado em primeira pessoa pelo protagonista, uma raça artificial criada para trabalhos manuais nas colônias marcianas. A graça é buscar se colocar na pele de um explorado com vocabulário e cérebro não feitos para pensamentos complexos, mas também não significa que não queiram lutar pela própria sobrevivência por mais passivos que posam aparentar. Apenas pelo conto se passar em uma colônia marciana já me chamou a atenção para o texto.

"A eva mitocondrial" conto que encerra o livro, com uma paródia das histórias de investigação, porém ela percorre caminhos ocultos de uma Recife futurista, na pele do investigador Juarez, que foi enviado para recuperar um codigo de DNA que permitiria a "vida eterna". As cores com que o autor pinta esse submundo são extremamente vivas. Assim como Roberto Causo, Peres usou o contraponto direto com o estrangeiro para mostrar a brasilidade, mas além disso uma porção de lugares, diálogos e referências que só poderiam ser mostrados por um brasileiro, e nem todo o brasileiro. Eu mesmo me senti embrenhando em corredores escondidos e maravilhado pelas novidades como um estrangeiro. Conto é como um bom tupinipunk devia sempre ser e mais. O conto coroa essa obra que reúne excelentes contos. Adorei! 

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segunda-feira, 3 de julho de 2023

Resenha #292 Mundo Gibi nº4 (Paulo Kobielski)

 



Quem já curte fanzines deve conhecer o Paulo Kobielski, premiado mais de uma vez por seus trabalhos. Nesta edição do seu Mundo Gibi, ele traz uma entrevista muito bacana com o quadrinista Pablito Aguiar, sobre a mistura de jornalismo com quadrinhos, uma combinação que é pouco comum mas que vemos ao longo da conversa como ela faz sentido e nos deixa se perguntando porque não é mais usada! A entrevista tem várias ilustrações das entrevistas do Pablito. Antes disso, tem um artigo muito bacana com o Cavaleiro Solitário, que trouxe muitas coisas que eu não sabia. Leitura enriquecedora. 

Tem também a parte final de uma entrevista muito bacana também do Rubens Francisco Lucchetti, figura clássica do terror no Brasil, contando muitos causos. Tem um artigo do Paulo sobre os fanzines como resistência na contracultura, com o prof. Denílson Reis, também outro fanzineiro clássico; e também uma minicrônica do Anderson ANDF. Entre as matérias alguns quadrinhos curtinhos, afinal o nome da revista é Mundo Gibi. Muito bacana a publicação, a capa colorida e interior P&B em boa qualidade, dá gosto de ler e o conteúdo é muito legal e relaxante de ler.

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