segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Resenha #320 Venha ver o por do sol e outros contos (Lygia Fagundes Telles)

Venha ver o por do sol e outros contos de Lygia Fagundes Telles é uma coleção de contos bastante popular entre as leituras de escola. Como trabalho em uma este livro caiu em minhas mãos. Apenas 100 páginas, contendo oito contos curtos, que podem ser lidos tranquilamente em um ou dois dias, ou em uma semana se você estiver muito atarefado. Os contos são de mistério, alguns brincam bastante com a barreira entre o real e o fantástico, sem se importar em deixar explicado se algo é sobrenatural de fato. Principalmente o conto que dá título ao livro "Venha ver o pôr do sol", outros brincam com a perspectiva do protagonista como "O noivo" e "O Menino". O suspense não está em uma trama mirabolante mas nas frases curtas e ágeis, muitas vezes tirando nosso fôlego e na habilidade de cercar o problema nos revelando aos poucos o que está de fato acontecendo. Os contos terminam com pouca suavidade, e resolvendo parcialmente os mistérios deixando um gosto amargo para os que não gostam de histórias abertas. Há a simbologia muito interessante com as cores, sendo o vermelho o amor, verde morte e transição, amarelo vida, preto trevas e azul espiritualidade. Mas as para mim é apenas um detalhe, pois a habilidade de prender o leitor no mistério é o melhor do livro. Gostei bastante da leitura! 

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Resenha #319 Véu da Verdade (J. M. Beraldo)

Véu da Verdade é uma space ópera brasileira escrita por J. M. Beraldo e chegou as minhas mãos em uma promoção que o próprio autor fez antes de se mudar para o Brasil. Já conhecia o autor da sua série Reinos Eternos, e quis saber como seria uma space ópera e a surpresa foi muito grata.

Acompanhamos as aventuras da tripulação do cargueiro Lucille pelo futuro daqui há dois séculos, onde descobrimos a existência de vida alienígena. E bota vida nisso. A verdade é que somos uma espécie de "reserva ambiental" para as raças da Liga dos Mundos, de tão atrasados que somos. E não há nenhuma chance de sermos aceitos na Liga, pois seria como um formigueiro pedir adesão a ONU. Esta é apenas uma das diversas ironias e sacadas do autor para a raça humana que sempre se vê como o centro da vida inteligente no universo. Falava sobre um cargueiro, não né?! O Capitão da nave é Alex Bourdain, que tem na tripulação um ser insetoide prestativo, uma inteligência artificial que pilota a nave e não tem muita consideração pela vida humana; Flávia, uma carioca fugida de uma guerra no Brasil e do minerador nascido no Cinturão de Asteroides. Como se trata de uma nave que faz todo tipo de frete, mais personagens vão surgindo como passageiros, entre eles um cientista desastrado de São Paulo, um ser que muda de forma e um bilionário nobre. Em meio a tudo isso, temos a perseguição de um mercenário chamado Arturo que deseja a cabeça de do Capitão Bourdain.

Temos uma história muito movimentada e cheio de elementos, e um mundo rico e retratado cheio de humor, mas sem sacrificar uma história bem contada para nos fazer rir. Inclusive temos uma virada (plot-twist) sensacional para o desfecho da história. A edição é comemorativa dos 10 anos de lançamento da obra e é de 2015. Infelizmente tem uns erros de digitação, mas não atrapalha a fluidez da leitura. Contudo, merece ser resgatada principalmente para os leitores que querem uma leitura com humor, ação e um mundo muito bem construído. Se este livro cair em suas mãos, leia e me agradeça. Se não, dê seu jeito e me agradeça também.

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Resenha #318 Solitude (Erick Santos Cardoso)

Solitude é o quarto livro da Coleção Dragão Mecânico que já li e é o mais divertido, mais leitura de praia da coleção até aqui e nisso (vale sempre insistir) não é nenhum demérito. Saber entreter com uma premissa divertida e cativar o leitor com um texto menos dramático e uma trama mais ágil e sem tantos jogos linguísticos é um feito e tanto. Solitude fez exatamente isso.

Os mais velhos vão lembrar dos jogos de navinha dos anos 1980 e 90, como Galaga, STG, Gradius ou Star Fox, onde naves espaciais destruíam alienígenas monstruosos que vagavam pelo espaço. A historia de Axel e seu esquadrão parece ser uma versão romanceada destes jogos. Eles vivem em Eden, uma colônia humana relativamente recente que foi atacada por uma frota de seres que combinam vida orgânica com metal em suas naves, ou seja, eles são as naves. Em um primeiro momento são derrotados por Axel, quanto era um ás sob o comando de Gládio, mas passado alguns anos, uma pandemia deixou a colônia de Eden acuada sob o risco de ser varrida do mapa. Uma missão, liderada em Terra por Gládio e Axel a frente do esquadrão se lançará no espaço para encontrar e neutralizar o coração desta ameaça.

A história é contada em vários capítulos pequenos que vem e voltam no tempo, intercalando a ação com momentos da vida dos pilotos e o relacionamento entre eles, muitas vezes conturbados e cheios de mágoas. É muito bacana o conceito das naves coração que usam da tecnologia copiada dos inimigos para dar alguma chance a missão, considerada por muitos inútil e suicida. Além disso, ela dá alguma explicação a todas as coisas que parecem, a primeira vista, intransponíveis dos jogos para uma narrativa longa em prosa. Cada vez que entendia esses momentos, um sorriso foi arrancado do meu rosto. Isso que não cheguei a mencionar a ação muito bem narrada e empolgante. Uma leitura curta e alucinante, que recomendo bastante.   

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Resenha #317 O homem que não queria matar (José C. Peu)

O homem que não queria matar é o livro de estréia do JC Peu, que é o host do canal Te Conto Ficção Científica e foi um grande acerto dele. Temos um livro que se inspira nos clássicos da distopia com um olhar afrofuturista, conectado ao Brasil como poucas obras conseguiram fazer até agora. Acompanhamos Alberto que é um Comissário, eufemismo para um assassino que serve a empresa/governo que extermina os membros pouco produtivos da sociedade. Estamos em um futuro onde a área do Rio de Janeiro tornou-se o polo produtor e exportador de bananas para todo o planeta. Sabemos pouco sobre como é o resto do mundo, assim como o protagonista, que narra em primeira pessoa suas descobertas oriundas de sua dúvida com relação ao mundo que vive. Alberto é o único negro entre os comissários, em uma sociedade que extermina a população negra considerada improdutiva. Seus superiores, os Conselheiros, decidem que uma nova faixa da sociedade como novo alvo para o extermínio. Momento esse que é o ponto de virada para Alberto.

O ponto forte do livro é para a condução da história pelo autor. Não há uma história fora comum nas distopias, pois assim como o bombeiro Montag, de Farenheit 451, Alberto também se rebela mas acompanhar esse processo não foi uma viagem fácil. A escrita fluída do Peu, nos obriga a virar páginas enlouquecidamente mas as cenas fortes cobram um peso em nosso coração. É um livro forte que penetra e devasta, pela simplicidade com que nos expõe as partes mais sensíveis e cruéis da nossa sociedade. Temos o óbvio gritando e perfurando a carne dos desavisados, sobre a violência. Uma chacoalhada necessária. 

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segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Resenha #316 20 Relatos Insólitos de Porto Alegre (Rafael Guimaraens)

20 Relatos Insólitos de Porto Alegre foi uma leitura de exploração para um livro que estou escrevendo. Sendo assim, as expectativas que a leitura gera são diferentes da de uma leitura causal. Meu livro será uma extensão dos meus contos A Sombra da Rua do Arvoredo" que lancei avulso em e-book pela Amazon e Um Crime no Mercado Público que saiu na antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor. Não buscava por histórias para adaptar ao subgênero steampunk mas por insights de lugares e personagens históricos que contemplassem o período histórico do meu livro, o século XIX.

O que me atraiu neste livro foi que as histórias foram compostas sobre muita pesquisa, que já é característica do autor em outras obras. Há muitas passagens reais de jornal, fatos retirados de fontes mesclados com a imaginação do autor, dramatizando vários momentos com a inserção de diálogos, mas sem tentar reescrever a história. A maioria das histórias se apresenta no formato de conto, mas há crônicas e até um roteiro, como forma de explorar as histórias. Entre elas, a que mais atiçava minha curiosidade foi sobre os crimes da Rua do Arvoredo. No fim das contas, achei referências para continuar minhas pesquisas para a obra mas achei menos dados que esperava. Contudo, foi uma leitura muito agradável. Obviamente, se você não é ou já foi  habitante de Porto Alegre, não vai achar muita graça, mas para quem tem algum apreço pela capital do Rio Grande do Sul, vai encontrar causos muito emocionantes de acompanhar em todas as épocas da cidade. 

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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Resenha #315 Tropas Estelares (Robert Heinlein)

Robert Heinlein é um dos autores clássicos da Ficção Científica. Isso significa que você é obrigado a lê-lo? Não sou ninguém para arrumar a sua lista de leitura até porque mesmo já tendo lido muita coisa, nunca havia lido nada deste autor. Então comecei com um clássico. Já havia visto o filme (de 1997,) e já sabia, por análises de outros, que o diretor do filme (Paul Verhoeven) fez uma paródia do livro, mantendo a base do enredo mas exagerando e ridicularizando a ideologia militarista do livro. Lido o livro, agora vejo como a ideia do diretor envelheceu mal nesse sentido, de ridicularizar a extrema direita e o militarismo, pois a idiotização e os idiotas nunca foram tão parecidos quando na época em que o filme foi concebido.

Mas estamos aqui para falar do livro. Acompanhamos um longo relato de Juan Rico, um jovem que ingressa para a Infantaria Móvel, a menos longeva tropa da humanidade e com o treinamento mais duro. Acompanhamos a vida militar desde o alistamento, passando pelo treinamento de recruta, a incursão na Infantaria Móvel e a guerra contra uma raça insetóide que ameaça a humanidade. Um modelo que seria usado por muitos livros e filmes. Histórias sobre guerras costumam ser libelos críticos contra a estupidez da guerra (Nada de novo no front) ou propaganda para o militarismo (Falcão Negro em Perigo), não havia um livro tão complexo sobre guerras no futuro. Rico "perde" muito tempo de seu relato falando sobre a organização militar, a medida que sobe de patente e sobre pensamentos e reflexões que o motivam a continuar em frente. Não se trata de continuar apenas porque seu companheiro precisa de você, mas de uma verdadeira lavagem cerebral que Rico é submetido por um regime autoritário. As lições econômicas sobre valor, principalmente em contraposição a concepção de valor em Marx são, no mínimo, cretinas e a doutrinação militar simplesmente o impedem de conhecer outra vida e ter o mínimo de acesso a outras opiniões.

Obviamente, que para o leitor não ter nenhuma sombra de dúvida de que a guerra é justa, veio a calhar que os inimigos sejam uma raça de seres insetoides, com estrutura de formigueiro. Inicialmente conhecem os operários (extremamente numerosos, descartáveis, mas inofensivos) e os guerreiros (mortais mas igualmente descartáveis), com poucas unidades que realmente comandam a coletividade. As táticas dos insetos não se importam de perder milhares de unidades para abater um único soldado humano. Uma alusão convenientemente simplista da coletividade do socialismo. Obviamente não há porque ter pena dos insetos, pois eles não gritam nem choram quando são varridos da superfície de um planeta ou são alvos de uma saraivada de tiros. 

Todavia, temos uma obra que construiu todo um imaginário sobre guerras espaciais: exoesqueletos, batalhas bem detalhadas e space marines. Não acho um livro essencial, mas uma vez que se saiba o que esperar dele, será uma excelente leitura pois o autor conduz a narrativa muito bem. Não acho que o livro tenha traços de ironia, como já ouvi falar, ou se tem está completamente esmagado nas entrelinhas.

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segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Resenha #314 Mafagafo 3, Edição extra. Dante e a Liga dos Anciões Asassinos (Enéias Tavares)

Retomando a leitura das edições da Revista Mafagafo, decidi pular a leitura do segundo ano e continuar a leitura pelo terceiro ano, pois queria muito voltar ao mundo de Brasiliana Steampunk do Enéias Tavares. Essa edição foi uma edição extra e acompanha uma aventura de investigação passada em Porto Alegre dos Amantes, que narra um episódio vivido por Dante D'Augustine, escritor de contos de mistério que é convidado para uma Liga de Anciãos. Como o título já antecipa, essa liga é responsável por uma serie de mortes de prostitutas, mas o que eles não imaginam é que o segredo que Dante carrega pode levá-los a ruína completa.

O conto começa com a primeira parte da entrevista de Dante D'Augustine transposta da Rádio Guaíba, antes de começar o relato e a revelação do grande segredo de Dante, que para quem já leu outras obras do universo de Eneias não é novidade. As revelações que o conto traz são conhecidas de quem já leu algum dos romances da série, então não se trata de saber o final. Gosto do estilo de Eneias pois aqui não temos um foco no mistério a ser desvendado, mas nem por isso se deixa de usar o clima de mistério como uma linguagem de dá um charme a este universo. Também porque o protagonista escreve contos de mistério, é verdade, mas no fundo trata-se de uma aventura, temperada pelo mistério. O conto enriquece muito o mundo de Brasiliana Steampunk e espero ver mais deste mundo!

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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Resenha #313 Almanaque Gibi do Terror, Nº 1 (Paulo Kobielski e Denílson Reis)

Almanaque Gibi do Terror é uma iniciativa do Coletivo Alvoradense de Quadrinhos encabeçada por dois dos maiores fanzineiros do Brasil, Paulo Kobielski e Denílson Reis, ambos atuando em Alvorada/RS levando a palavra dos quadrinhos desde sempre. Juntando a ideia de privilegiar autores de Alvorada, não apenas dos quadrinhos mas da literatura em prosa também, surgiu a ideia de um almanaque temático voltado para o gênero do Terror. E não poderia faltar o grande R. F. Lucchetti, ainda mais quando o tema da edição é múmias! E ele está logo na primeira história em quadrinhos que é O Talismã Maldito, onde temos a história da múmia de Kharis, que é acordada quando uma entidade gatuna é libertada trazendo terror aos arredores do museu onde estava exposta. Na sequência, uma entrevista com Júlio Shimamoto, o desenhista da história anterior. Na sequência, uma historieta em HQ de uma página homenageando Lucchetti e um texto retirado das memórias do autor.

A próxima história em quadrinhos, é  Besta, de Leander Moura com arte de Cristal Moura e Leander Moura, onde é explorado o mistério de um lobisomem. O primeiro conto é de minha autoria e se chama Sistema Sarcófago em que o mistério da múmia é abordado com a lente da ficção científica homenageando a era dos pulps com um toque psicodélico. A entrada do conto tem uma ilustração de tirar o fôlego feita por Jader Corrêa. Logo depois, Paulo Kobielski nos brinda com um artigo sensacional sobre o filme brasileiro O Segredo da Múmia de 1982. Continuando a sessão de contos, O Misterio da Múmia foi escrito por Eduardo Alós, com arte de abertura por Luan Zuchi, onde um investigador gaúcho vai a um monastério na Amazônia investigar um desaparecimento de um dos religiosos e, obviamente, deparar-se com terrores abissais.

Retomando as histórias em quadrinhos, Um velório alucinante é uma história de morte e quase morte, por Denílson Reis, desenhada por Jair Júnior e letras por Henrique Reis. A herança de Simão segue a linha de terror clássico de uma herança amaldiçoada, com texto e arte de Silvio Ribeiro. O Monstro da Lagoa de Henrique Madeira e Walquir Fagundes, segue a linha do causo com uma história baseada em lendas que o povo conta e aqui uma maldição gerada por uma sucessão de tragédias e um coronel cruel. E por fim, uma rápida entrevista com Ronilson Freire, desenhista da The Mummy da Titan Comics.


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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Resenha #312 Mundo Fantasmo (Bráulio Tavares)

Mundo Fantasmo do inefável Bráulio Tavares é antes de tudo uma aula de como escrever um livro de contos. Não é um amontoado de histórias contadas pelo mesmo autor, mas tem uma coesão entre as histórias que formam uma unidade. No caso, a unidade é o mistério, o inescrutável. É aquele livro que você mostra para calar a boca de quem fala mal da literatura fantástica brasileira, o que é bem legal, mas acima disso você mostra para encantar leitores com excelentes contos. Sabemos que num livro de contos, não tem como gostar de todos os contos mas pessoalmente o elo mais fraco deste livro ainda é muito bom.

"Oh lord, won't buy me" é uma bem humorada viagem a um fim de tarde miserável de um leitor de ficção científica pacato de meia-idade que tem um encontro com um estudante de física que alega ser uma entidade cósmica com uma missão relacionada a própria existência do nosso leitor. O autor brinca com o fandom, apaixonado por historias e que por vezes escondem uma megalomania reprimida. E eu, como um leitor de meia-idade de Porto Alegre que só iria para São Paulo para encher uma mala de livros de um sebo, fiquei comovido.

"História de Cassim, o Peregrino, e de um crime perfeito que Deus castigou" temos mais uma história no mundo fantásico ibérico, onde uma dupla de cantadores encontra um contador de histórias e começa um desafio para que o misterioso homem conte uma excelente história. Agora os desafiantes não conseguem tirar essa história da cabeça. Uma narrativa que parece mais uma noveleta, a mais longa do livro e a que considerei mais instigante. Esse ciclo merecia um livro só para ela.

"Paperback Writter" personagens de uma Londres estranhamente gótica vão a um concerto em que um autor digita uma história e a plateia acompanha extasiada os caminhos que ela segue enquanto debatem com a frivolidade de uma elite burguesa. Achei uma homenagem ao prazer da escrita, que geralmente não conseguimos compartilhar pois o autor só entrega a história já pronta e não o seu desenvolvimento. 

"Expedição as profundezas do oceano" um caso policial que utiliza a forma de depoimento como são coletados pela polícia, que nos leva a uma brasilidade que nos aproxima muito da história, pois é exatamente como uma delegacia brasileira funciona. 

"Exame da obra de Giuseppe Sanz" acompanha a trajetória de um autor, pelo depoimento de um admirador que descobre que seu ídolo escreveu suas grandes obras de sucesso simplesmente juntando partes de outros romances consagrados, despindo-os de seu contexto original. É a forma bastante irônica que o autor nos traz a baila uma discussão do que é literatura. Do quanto que lemos e consumimos, não é novo. Mas não necessariamente de uma forma ruim.

"E assim destruímos o Reino do Mal" conto que aborda de forma alegórica, usando o épico para mostrar como se comete atrocidades sem ter consciência disso. Não é apenas sobre a imbecilidade da guerra, mas sobre o imbecil que a cultua.

"Breves histórias do tempo" conta a história de um contador de histórias tetraplégico e que vai se fundindo profundamente a sua finalidade de contar historias. Esta mesma mesma habilidade de u aproxima e o distancia tanto da humanidade. Habilidade que argumentamos como diferença entre nós e os animais.

O edição que li, foi a da Bandeirola, que obtive ajudando no financiamento coletivo tem um posfácio sensacional do autor explicando as intenções por trás de cada conto. Tentei não incluir suas impressões nas minhas impressões sobre os contos, mas as vezes é inevitável. De qualquer forma, vale mesmo é conferir por si. 

 

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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Resenha #311 Pecados Terrestres (Gerson Lodi-Ribeiro)

Pecados Terrestres do Gerson Lodi-Ribeiro é o primeiro romance que leio deste autor. Um pecado que estou começado a corrigir agora. Já havia lido muitos contos e noveletas presentes nas antologias da Editora Draco como vocês podem conferir no blogue. O livro é parte da série Dragão Mecânico, uma coleção de luxo com uma amostra do que a ficção científica brasileira pode fazer de bom. Este é o terceiro (de seis) romance da série que li, mas o primeiro na ordem de publicação. Vamos a história:

Acompanhamos uma Terra do futuro, que está em estado de degradação, pelos olhos de Ricardo Mendonça, filho mais velho de uma família tradicional do Rio de Janeiro. Uma das últimas que insistiram em permanecer na Terra. Acompanhamos a rotina de um garoto que gosta de jogar bola e andar com os amigos, aturar os irmãos que sem aviso tem sua vida balançada junto com o destino inevitável do planeta. É uma história de amadurecimento, tanto de um jovem rapaz, quando da humanidade que se modifica tanto no corpo quanto na mente, sem que haja tempo para digerir as mudanças. O autor deixa isso muito evidente para mim, durante a leitura que quando o personagem tem todas as ferramentas para amadurecer, o romance termina deixando uma tremenda vontade de saber como vai ser essa vida e que destino os outros personagens tiveram.

Além da leitura ser tranquila, informativa e gostosa de ler, tal como os contos, apreciei especialmente aqui como o autor conseguiu imprimir um cenário ao mesmo tempo cheio de tecnologia com um ar decadente, sem parecer com um futuro Ala Mad Max. O livro não faz parte de nenhum dos mundos criados pelo autor já publicado, diferente de como eu supus ao terminar o livro, mas o livro pede uma maior exploração em outros romances e/ou contos. Aguardemos!  

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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Resenha #310 Tecnodreams (Isaque Sagara)

Tecnodreams é uma HQ de Isaque Sagara parte do Selo Negro Geek da Ultimato do Bacon editora. É uma história completa de Ficção Científica que foi lançada com sucesso via Catarse, mas que fui conhecer apenas quando comprei na 5ª Gibifest em Alvorada/RS. A pegada cyberpunk com toques philipkdickianos me atraiu imediatamente e a leitura não decepcionou minhas expectativas. É uma daquelas histórias que nos deixa com aquele nó sobre o que é real e o que não é, como nosso profeta louco Philip K. Dick nos ensinou. Tudo isso com uma pegada brasileira contando a historia de duas mulheres: Cida, uma mulher negra da periferia que trabalha como empregada doméstica na casa de Viviane, uma mulher muito insegura no casamento. Enquanto Cida deseja a vida de Viviane mas ao mesmo tempo odeia como é tratada, Viviane destrata Cida pois desconfia que ela é amante de seu marido. Cida é assediada pelo marido de Viviane, e também pelas propagandas praticamente onipresentes da Tecnodreams, que oferecem uma fuga temporária para ela, mas não se pode fugir de quem você é.

O final é maravilhoso. A escolha por ser um final aberto mas abrangente em interpretações foi muito bem construído. É uma história que fala com nossa realidade. Da classe média com fetiche escravista da empregada doméstica, mostra o lado mais escroto do Brasil, que conhecemos bem, mas facilmente esquecemos que fora do Brasil é muito incomum a figura da empregada doméstica fazendo coisas que qualquer pessoa pode fazer sozinho em casa. Confesso que o que me pegou nessa revista é o "História Completa" na capa, pois não gosto do modelo mais comum de publicação de HQs, mas no fim fui premiado com uma história que se completa de muitas maneiras na minha cabeça. Espero que venham mais publicações do selo Negrogeek!

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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Resenha #309 A mão que cria (Octávio Aragão)

A mão que cria é um romance de Octávio Aragão, autor experiente na escrita de ficção científica mais conhecido pela sua série Intempol. Contudo, este é a primeiro romance que li do autor. Esta é uma das últimas obras da pilha de livros steampunks que tinha separado para me preparar para organizar a antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor. Tudo isso para descobrir (depois que já havia comprado) que a obra de 2006 não é steampunk, mas dieselpunk (até porque o primeiro livro steampunk brasileiro é Baronato de Shoah do Oghan N'thanda.). Isso já explica porque ficou por último, mas no fim das contas, acabaria entrando no meu radar de qualquer forma, então vamos a ela.

A narrativa é fragmentada no tempo e os personagens que se cruzam o tempo todo, mas acredito que a centralidade acaba sendo a rivalidade entre Lours e um ser misterioso chamado O Ariano (fica bastante óbvio em sua primeira aparição ser o monstro da obra Frankenstein). Neste mundo temos uma história alternativa onde a França e a Alemanha acendem como potências por dois motivos. Na França, Jules Verne (aqui Prefeito de Paris, depois Presidente da França) levam ao desenvolvimento de homens modificados com genética de golfinhos, tornando superdesenvolvidos mas segregados racialmente, a ponto de ganharem um Estado como foi feito com Israel, chamado Lemúria. Lours é o líder desses homens golfinhos que impediram o a tomada da França pelo 3º Reich. Na Alemanha, O Ariano é quem esteve nos bastidores da ascensão de Hitler e do 3º Reich e criou tropas de mortos-vivos que quase tomaram a França. É nesse clima de guerra, tanto antes quanto depois da Segunda Guerra Mundial, que acompanhamos uma série de eventos que envolvem diretamente ao menos um desses personagens, quando não é narrado pelos próprios.

O grande atrativo é toda a estrutura e História deste mundo alternativo. Digo História, no sentido de emular um conhecimento de um processo político e econômico deste mundo imaginado. Tudo ficou muito convincente e empolgante de acompanhar e desvendar. O que senti mais falta foi de um aprofundamento na personalidade dos personagens pois suas limitações eram basicamente os seus objetivos. Com exceção do trecho que acompanha uma expedição a cratera de meteoro sobre Tunguska em 1908, onde o grupo de viajantes teve um bom desenvolvimento, os demais personagens são psicologicamente simples demais. Lours, por exemplo, tem um temperamento muito difícil por conta de suas mutações mas não difere essencialmente de um cara brigão e muito mal humorado. Contudo, para quem curte muita ação e imaginar processos históricos alternativos, temos um prato cheio e acredito que justamente por isso, a narrativa fragmentada não ajuda muito. O saldo geral é bom!

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