segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Resenha #359 Cyberpunks número 1 e 2 (Matheus Iparraguirre)


Cyberpunks é um achado das minhas participações da Gibifest. Escrita e editada pelo Matheus Iparraguirre, é uma saga cyberpunk que tem tudo que se espera de bom cyberpunk típico, que se consolidou na cultura pop, porém passado na cidade hyper tecnológica chamada Tecno-Porto, que um dia foi Porto Alegre antes do Estado como conhecemos ter passado para a inciativa privada, como aliás é quem maior instancia é dona de tudo. Nessa cidade onde a mais alta tecnologia e a pior qualidade de vida convivem num ambiente selvagem, acompanhamos um grupo de quatro insurgentes, o iniciado K'aeveira, a explosiva Metódika, o líder Fumaçento e a misteriosa .Net que fazem parte de um movimento insurgente contra a opressão das grandes corporações, no QG da resistência encontramos os líderes Anárquica e PC. No primeiro número encontramos os nossos heróis em meio a uma missão porém estão em apuros, até que encontram Cerebral, uma ciborgue com ligação direta com a Netrunner, que os insurgentes não conseguem acessar. Após muita confusão e uma fuga da Força Policial, ao chegar ao QG com quase nada dos suprimentos necessários, surge uma acusação que um membro do grupo é um traidor. É aqui, já chegando aos finalmente da edição, que a história começa a engrenar. O primeiro número é bastante introdutório, mas é apressado demais, nem de menos. Cumpre bem a função de nos inserir nesse mundo. Gostei das artes e das fichas técnicas de cada personagem, pois combina com esse mundo onde um bom hacker consegue saber mais sobre sua vida que você.  

No segundo número, com essa capa sensacional, com o símbolo da anarquia, gostei de como a trama avança sobre a figura do possível traidor. Cada membro vigiando outro, acrescentando uma camada de perigo e desconfiança entre os rebeldes mesmo quando vão cumprindo missões quase suicidas. Gostei das aparições de outros personagens menores, que podem aparecer ou não no futuro da história. O vilão que comanda as peças e manipula todos a sua volta e até a si mesmo, promete ser muito forte pois parece ser modificado geneticamente. Se você quiser dar uma chance para essa revista, acesse o Portal Entretenimento, onde há como apoiar o próximo número e adquirir os já publicados, em forma física e digital.


                     

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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Resenha #358 O Mundo Selvegem de Peryc nº1 (Denílson Reis)


O Mundo Selvagem de Peryc, O Mercenário é a nova revista do personagem que chega em um formato aprimorado. Tamanho grande e 20X28, em 18 páginas indo direto ao ponto. Temos uma única história roteirizada por Denílson Reis, artes de Hélcio Rogério e Letras de Anderson ANDF. As artes do Hélcio ficaram ótimas em tamanho ampliado pois trabalha muito bem com os contrastes em Preto e Branco, deixando tudo mais intenso. A história é a de uma emboscada feita por bandidos contra Peryc e uma misteriosa acompanhante feminina que o salva no momento mais difícil, contudo algumas falas dos bandidos deixam em aberto que as intenções deles eram maiores que simples banditismo, mas já são o suficiente para mostrar que essa revista não está para brincadeira. Já estou muito ansioso pelo próximo número!

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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Resenha Revista Peryc, o Mercenário nº 5


Peryc, O Mercenário número 5 é o fim de uma jornada para nosso herói dos pampas gaúchos, pois é o último número da revista. Com ela encerra-se com duas histórias o o arco de "Rumo a Pedras Negras" escrito por Gervásio Santana e desenhado por Ícaro Maciel, na Parte 5 e Maurício Lima na Parte 6. Na parte 5, chamada Quando cai a máscara, vemos Peryc em sua fuga pela sobrevivência enquanto é perseguido pelo lacaio do regente de Pedras Negras, que por sua vez está em busca de Argenta sua concubina que está sendo protegida por Peryc, contudo uma série de revelações mudará os rumos de Peryc. Foi uma história muito bacana que ajuda a moldar o caráter do nosso herói tornando-o mais duro. O reflexo dessa mudança já vemos na última parte, chamada Cilada Mortal. Nela temos muito mais ação e acompanhamos tudo pelo traço sensacional de Maurício Lima, que fez as ilustrações do livro O Deus da Lagoa, a primeira novelização de Peryc. Voltando a Cilada Mortal, Peryc finalmente chega a Pedras Negras e encontra uma cidade pequena, onde a desonestidade é a norma, contudo nosso herói é teimosamente leal ao seus princípios o que leva a um confronto muito bem desenrolado. Por último há uma historieta de uma página com a aparição da Maga da Profecia, personagem de Jerry A. Souza,  

Temos um desfecho que não encerra a história de Peryc, mas que traz um fechamento digno ao personagem neste universo. Digo isso pois o fim da Revista Peryc, O Mercenário é apenas o começo de muitas aventuras que estão por vir. Primeiro pois foi lançada O Deus da Lagoa, a primeira novelização do personagem que apareceu apenas em HQs independentes, mas a principal novidade advinda do fim da revista é a chegada de O Mundo Selvagem de Peryc, que traremos no blogue. 

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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Resenha #357 Almanaque Gibi do Terror Nº 2 (Denílson Reis e Paulo Kobielski)


O Almanaque Gibi do Terror chega ao número dois como uma publicação muito aguardada no meio independente. A edição é do CAQ (Coletivo Alvoradense de Quadrinhos) capitaneado pelo Denílson Reis e pelo Paulo Kobielski, ambos já agraciados com o Troféu Paulo D'Agostini de melhor Fanzine e essa publicação é aquele passo a mais, é uma publicação independente mas cada vez mais com cara de profissional, afinal tantos anos de experiência se manifestam nesse numero e a qualidade das contribuições cresce como consequência. 

Parece pouco humilde da minha parte falar de que as contribuições estão melhores, pois participei em ambas as edições, com contos. Na edição anterior, publiquei um conto sobre múmias no esçao, agora o tema é vampiros e trouxe o conto "Tenório perde sua alma" que está no mesmo universo steampunk que o conto "Um Crime no Mercado Público" e da noveleta "A Sombra da Rua do Arvoredo". O conto é uma carta de um pai para os filhos onde conta sua participação numa Guerra dos Farrapos de uma forma que você nunca viu pois é uma história alternativa.

Agora falando da publicação como um todo, não são todas as histórias exatamente sobre vampiros. Acredito que os editores se preocupem em trazer bons conteúdos, dando preferencia pelos que abordem o tema da edição mas não impondo como condição. Isso ajuda nas histórias de mistério pois nem sempre o mistério é sobre vampiros. A organização ficou muito boa, alternando entre conteúdos de quadrinhos e conteúdos escritos, começando com Não mexa com quem está quieto uma HQ com um traço simples (parecido com Meninas Superpoderosas?) mas numa história cruel de dois caçadores na floresta procurando a lendária Cobra Norato, quando ninguém menos que o Curupira aparece para azedar a caçada. O primeiro conto é o meu, Tenório perde sua alma, que já falei no início. O hábito faz o monge é uma curta HQ de um garoto que acha uma roupa de vampiro, com máscara e tudo. Enquanto mortes misteriosas acontecem a sua volta. O soldado e o vampiro, de Eduardo Alós temos, nesse conto, o encontro infortuito de um soldado gaúcho recém chegado dos horrores da Guerra do Paraguai decide buscar abrigo num casarão misterioso. O primeiro na fila é uma HQ muito fofa sobre um idoso que aguardou 8 dias para comprar seu novo jogo de vídeo game sangrento e divertido. O final é cruel mas ainda assim achei tudo muito engraçado. Acho que foi o traço que trouxe uma leveza para tudo, mesmo sendo bastante elaborado. A mansão etérea de Duda Falcão, é um conto bastante curto mas que consegue nos colocar no clima de casarão muito rápido. Nas tuas longas pernas procuro a paz que jaz no quarto contíguo ado seu túmulo é uma HQ incrivelmente bem desenhada, não apenas pelo realismo, mas pelas expressões e movimentação dos personagens. O roteiro é simples mas bem feito e a crueza é bem vinda numa história de horror, que nada tem de fantasioso. Pela estrada deserta de Silvio Ribeiro, é outra HQ, mais curta, simples e bem feita. Temos um jovem casal que busca um Motel para passar a noite (é para dormir, pessoal. Eles estão em viagem, ok? Motel nos EUA é o que chamamos de pousada aqui) contudo um recepcionista ganancioso se acha muito esperto ao decidir roubar os jovens. O final me surpreendeu. Temos um comentário sobre o filme As Sete Vampiras, por Paulo Kobielski, que trouxe muitas informações mostrando domínio sobre o cinema fantástico brasileiro. Pesadelo Real retomamos as HQs com um homem entrando e saindo de um pesadelo no inferno, porém conhecemos um pouco dele nesse delírio e o delírio o persegue quando ele acorda. Os Negrinhos é uma HQ que vai de 100 a 1000 muito rápido e o traço acompanha muito bem a loucura dos gêmeos e de sua algoz em poucas páginas. Retornamos ao texto para ler um novo artigo de Paulo Kobielski sobre Rubens Francisco Lucchetti lenda do fantástico e do pulp brasileiro, novamente vemos o domínio do tema e a habilidade em condensar uma vida tão rica em poucos parágrafos. Fazer você sumir... é uma HQ muito engenhosa ao usar os quadros para conta a história. É bacana ver nos quadrinhos, histórias de personagens que sabem que são personagens, ou melhor que descobrem isso da pior forma possível. A Fórmula a última HQ da edição que nos engana parecendo que vai ser uma versão de Dr Jekyll e Sr. Hyde, mas é outra coisa. Por fim temos uma entrevista com o desenhista Silvio Ribeiro, que não tem papas na íngua e faz um verdadeiro desabafo. Bacana ler entrevistas que não são estéreis.

Lista com o conteúdo e as devidas autorias:

Não mexa com quem está quieto: Lauro Ferreira.
Tenório perde sua alma: Davenir Viganon.
O hábito faz o monge: Júlio Shimamoto.
O soldado e o vampiro: Eduardo Alós.
O Primeiro na fila: Marcelo Saraiva no roteiro e Bira Dantas nos desenhos.
A mansão etérea: Duda falcão.
Nas tuas longas pernas procuro a paz que jaz no quarto contíguo ado seu túmulo: Maicol Cristian no roteiro e J. Herrero nos desenhos. 
Pela estrada deserta de Silvio Ribeiro.
Artigo sobre As Sete Vampiras: Paulo Kobielski.
Pesadelo Real: Sandro Leonardo fez os textos, Artes com Aurélio Filho e John Castelhano.
Os negrinhos: Denílson Reis fez o texto e as artes são de Sérgio Fernandes.
Artigo sobre Rubens Francisco Luccheti por Paulo Kobielski.
Fazer você sumir...: Arthur Filho.
A Fórmula: J. França.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Resenha #356 Apócrifos do Futuro (Romy Schinzare)


Apócrifos do Futuro faz parte da coleção Futuro Infinito da Editora Patuá. Coleção essa que considero uma das melhores coisas que a Ficção Científica brasileira fez em sentido editorial pois aposta em vários estilos e densidades na escrita, ou seja, desde as escritas mais complexas as mais aventurescas. Nesta obra Romy traz uma nova coleção de contos com seu estilo característico como em seu livro anterior Contos Reversos com contos de sabor pulp muito envolventes, geralmente são curtos e não demoram a chegar na sua surpresa, mas sem serem dependentes de viradas de enredo. Porém em Apócrifos do Futuro, temos uma leve enfase na criação de cenários que nas viradas de enredo, em comparação com o livro anterior. Ao final de vários contos nos pegamos admirando o cenário que construído. Vemos isso em "Shelby" onde em um mundo pós apocalíptico mistura de Corrida Maluca com Mad Max, os carros são possuídos pelos pilotos anteriores. Em "Robôs de Marte II" que traça uma trama política entre ciborgues, máquinas e humanos em Marte que desequilibra com a chegada de indígenas da Amazônia brasileira de antes de 1500. Ou ainda como em "Cubo do Destino" onde um jogo mortal vai se desenrolando na sua frente. Contudo, há contos onde viradas de enredo acontecem o tempo todo como "Valparaíso" onde vítima, algoz, polícia e bandido se fundem numa trama absurda. Ou no sombrio "Zayn" que nos apresenta uma criatura fantástica revelando sua verdadeira forma apenas no final. Em resumo, Apócrifos do Futuro é mais uma amostra do talento e versatilidade da Romy. São contos gostosos de ler e diria até que são despretensiosos, algo muito bacana em tempos de autores pretenciosos cheios de sagas tão enormes quanto seus egos.




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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Resenha #355 Sobre Fantasmas e Outras Memórias (Pedro Teixeira)


Sobre Fantasmas e Outras Memórias é segundo livro de Pedro Teixeira, que conheço dos tempos de Entre Contos, e sempre tive afinidade por ambos gostarmos de ficção científica. Isso culminou no convite para escrever um dos textos de capa do livro, buscando sintetizar o que a obra nos oferece no seu conjunto. No texto de orelha eu menciono que uma leitura marcante é aquele que fica dentro de nós quando fechamos o livro, e no caso dos contos, esse momento se repete nos momentos entre a leitura de um conto para outro. No livro do Pedro isso aconteceu em todas as vezes. O tema da memória perpassa todos os contos transitando em diversos gêneros e subgêneros, paisagens e narrativas.

Obviamente os contos de ficção científica me saltavam aos olhos, como "Possessão" onde um hacker de mentes assassino é perseguido pela sua presa ou até "Sonhos Febris" que faz uma narrativa da loucura na memória com uma pegada muito philipkdickiana. Contudo, muito me agradei de histórias que não haviam nada de fantástico nem do terror como "Vocação", que é uma história sobre as memórias de um cangaceiro e "Anos Punk" que fala sobre a nostalgia da rebeldia de punk nos seus tempos de garoto. Em resumo, temos uma obra que aborda o tema da memória de forma transversal em várias narrativas. Acredito que tendo isso em mente, e não se prendendo a gêneros, o leitor conseguirá aproveitar melhor essa obra.

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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Resenha #354 Um milhão de mim (Cirilo S. Lemos)


Um Milhão de Mim é o ultimo livro que li da coleção Dragão Mecânico fechando a coleção. Este foi escrito pelo Cirilo S. Lemos, que já resenhamos com livros com pegadas opostas: O Alienado é um romance complexo e philipkdickiano em que a realidade é sempre questionada. Em E de Extermínio, uma aventura cheia de ação e referências históricas manipuladas com habilidade numa história alternativa. Aqui voltamos a faceta que vimos em O Alienado, mas referenciando Jorge Luis Borges em um romance quebra-cabeça, e com um pleno domínio das referências históricas enquanto seus capítulos viajam em várias épocas enquanto tentamos entender o que é Uqbar. Como numa boa ficção borgeana, a realidade é mais que questionada, mas uma questão de perspectiva.

A leitura do livro é muito desafiante se você procura ter tudo claro em sua cabeça. Acompanhamos vários personagens ou facetas do mesmo. Inicialmente Nicolau Borges, um investigador de polícia que vive no Brasil dos anos 1970 em plenos anos de chumbo da ditadura, quando encontra uma mulher morta mas é acusado do crime. Mas não espere que seja um romance de investigação. Temos capítulos curtos organizados de forma irregular, buscando fugir de qualquer padrão. Me fez lembrar bastante das experimentações de Luiz Brás. Acredito que ler saboreando cada capítulo vai recompensar o leitor com várias referências e a boa escrita do autor, pois a história vai se desenrolando pelas pistas que são deixadas aos poucos. Acho que consegui entender mas não o suficiente para explicar, de qualquer forma buscar respostas é uma das graças do livro e vale a pena cada um tentar juntar as peças como conseguir.

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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Resenha #353 O grito do sol sobre a cabeça (Brontops Baruq)


O grito do sol sobre a cabeça chegou como um presente do autor Brontops Baruq quando me enviou alguns livros do Coletivo KriptoKaipora, e como membro do coletivo já sabia da qualidade de sua escrita em suas participações nas antologia do grupo e da oficina que tive a satisfação de compartilhar com ele. 

Fui surpreendido positivamente pela sua coletânea de contos pois gosto muito do estilo de experimentação. A obra fez lembrar de Linha Tênue de Rubem Cabral, por seguir a linha experimental, mas a sua própria maneira. A escrita de Brontops é muito apurada e ao mesmo tempo é possível ler seus contos freneticamente. Principalmente seus contos curtos que abrem e os encerram a obra. Dentre estes, destaco "rebobinados" que me pegou de surpresa, até "pausa", um conto longo cheio de aventura e uma construção de mundo muito envolvente. "(ficção especulativa)" traz uma história de viagem no tempo que já é bacana por si, mas instiga pela forma que conta, fazendo alusões a outras formas de contar de outras mídias, e vemos isso em outros contos, mas este foi meu conto favorito do livro. Gostei bastante de dois contos que contam sobre o último humano da Terra vivo, resgatado antes do planeta ser engolido pelo Sol transformado numa gigante vermelha. Destaco também, uma série de contos titulados de Planetas Invisíveis que acompanham aventuras de um cínico viajante que anda por lugares estranhos.

A leitura foi muito bacana. Pena que não há muito mais escritos dele por ai, pois o livro vale a pena.

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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Resenha #352 Cobra Norato (Raul Bopp)


Cobra Norato é um poema de Raul Bopp, publicado pela primeira vez em 1931. Bopp foi um dos nomes mais importantes do Movimento Antropofágico dentro do Modernismo Brasileiro. A antropofagia é uma busca pela nossa cultura na produção de arte no Brasil, assimilando referências estrangeiras mas devolvendo algo mais brasileiro possível. O termo é uma referência a prática de alguns povos indígenas que canibalizavam guerreiros vencidos em suas guerras por motivos espirituais, ou seja, não havia motivação simplesmente alimentar. Dessa forma, Bopp buscou trazer a amazônia que conheceu morando por lá durante um ano em uma história contada em verso sobre as lendas do local.

A história é de Cobra Norato, que busca se casar com uma jovem por quem se apaixonou. Em sua trajetória se torna um passeio pela paisagem natural e pelas lendas amazônicas. Quem acompanha este blogue sabe que não tenho o habito de ler poesias, e busquei a aproximação desta forma literária com algo que tivesse uma história. Gostei bastante das frases e o autor conseguiu criar um cenário de locais e personagens muito envolvente. Pode-se fazer críticas sobre ser um cara de fora (Bopp era gaúcho) falando sobre lendas de um local que não é seu de nascença, mas o movimento antropofágico tinha uma mensagem para transmitir e não acho que ela seja passada apenas com um manifesto, mas fazendo a arte que queremos ver.

Hoje é possível acompanhar a literatura fantástica escrita aqui buscar o próprio Brasil e não apenas pelas mãos de homens brancos do sul, mas pelas mais diversas mãos. Muitos destes livros estão resenhados aqui.

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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Resenha #351 Apagão: Ligação Direta (Raphael Fernandes/Camaleão)


Apagão: Ligação Direta é uma HQ da editora Draco de 2014 e funciona como um prólogo da série Apagão que conta com uma HQ mais robusta e até um jogo de tabuleiro. É uma história curta e realmente é uma pincelada nesse mundo, baseado numa São Paulo distópica em que a energia elétrica caiu e nunca mais voltou e a ordem como conhecemos (que já não é lá essas coisas) colapsa e no lugar, gangues sanguinárias lutam para mandar nos escombros. O protagonista tem que contar com a agilidade e malandragem para andar por estas ruas e encontrar uma das poucas fontes de energia que ainda restam: uma bateria de carro. A história cumpre muito bem o seu papel de inserir o leitor neste mundo, explicando suas regras e nos brindando com artes sensacionais e uma estética apurada e com identidade própria. Gostei bastante! 

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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Resenha #350 Entrevista com o vampiro (Anne Rice)


Entrevista com o vampiro é o primeiro livro da Anne Rice e trouxe uma abordagem um tanto diferente da mitologia do vampiro, ainda que muito carregada no gótico, é também mais madura e densa na sua filosofia. Já conhecia a história pelo filme dos anos 1990, mas foi a releitura da obra na série que vai passar na Amazon que finalmente me fez começar os livros da autora. (e rever o filme mais uma vez).

Acompanhamos a história de um jornalista chamado apenas de rapaz, que começa a gravar fitas K-7 (se você le blogues, sabe o que são) uma entrevista com o misterioso Louis de Point du Lac, que alega ser um vampiro. A obra é narrada por um narrador onisciente, mas que está apenas no local onde está sendo feita a entrevista, ou seja, na prática temos um longo relato de Louis contando sua vida pela sua perspectiva e temos um narrador que pode estar mentindo o tempo todo. O jornalista o questiona o tempo todo, apesar de interromper a entrevista poucas vezes. Isso deixa o leitor mergulhado na ambientação de Nova Orleans e Paris, contudo trata-se de uma viagem ao íntimo de Louis, desde que se tornou vampiro e no seu relacionamento com Lestat, Cláudia e Armand. Os vampiros mais importantes da sua vida.

O leitor talvez achará Louis muito depressivo, mas sua (falsa?)moralidade o torna diferente dos demais vampiros e por consequência o diferencial da abordagem da autora. Gosto de como a autora coloca o tempo e a imortalidade, como fatores psicológicos tão ou mais importantes na definição do que é um vampiro que a própria necessidade de sangue ou a fraqueza a luz do sol. Essa jornada pela imortalidade e pelo tempo, para mim supera qualquer terror ou outro gênero que trespasse a obra. Ainda pretendo ler os próximos livros e conhecer mais sobre Lestat, mas creio que mais que a personalidade marcante de Lestat é a visão da autora que me fará ler as próximas obras. 


  

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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Resenha #349 Diva Galactica: A cidade púrpura e outras histórias (Diego Mendonça)


Diva Galactica: A Cidade Púrpura e Outras Histórias é um livro de contos do Diego Mendonça. Uma das revelações da literatura fantástica do Rio Grande do Sul. Apesar de já ter escrito muitos contos em diversas antologias, este foi meu primeiro contato com seus contos. A capa com uma ilustração chamativa, e a própria coleção remeter as revistas pulp dos anos 1920, faz uma promessa de histórias cheias de ação, aventura. E adianto que o livro cumpre o que promete porque, acima de tudo, diverte.

Acompanhamos Diva, a líder de uma trupe de piratas em busca de sustento desonesto, em várias histórias curtas que fecham aventuas em si, mas que no conjunto formam uma narrativa coesa. É o que se chama de romance fix-up, como por exemplo, Território Lovercraft de Matt Ruff e Shiroma: Maradora Ciborgue, do Roberto Causo, mas aqui o autor é mais focado em contar suas histórias individuais que numa grande narrativa que todos os contos formam. O resultado é que, diferente do livro de Matt Ruff, todos os contos são autossuficientes, não dependem dos outros para ser entendido. Inclusive, a voz narrativa nem sempre está com Diva, ainda que ela seja uma personagem muito marcante destacando-se em todas as histórias. Gosto do estilo sucinto, do uso da violência e do uso dos clichês da ficção científica que contribuem para a atmosfera de pulp que se torna mais variada a cada conto. A leitura fluiu muito bem e o livro poderia ter o dobro do tamanho que a leitura fluiria igualmente bem. Enfim, é isso, espero que venham mais livros deste autor, de preferência com mais histórias da Diva.

 
São histórias curtas, cheias de aventura, que não poupam a violência e sabe usar os clichês ao favor

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