segunda-feira, 11 de maio de 2020

Resenha #131 - Realidades Voláteis & Vertigens Radicais (org. Luiz Bras)

"Realidades Voláteis & Vertigens Radicais" é uma coletânea de contos de Ficção Científica brasileiros organizado pelo superativo Luiz Bras, pseudônimo de Nelson de Oliveira, que promove uma verdadeira reunião de novos talentos da Ficção Científica BR, onde temos muitos nomes para ficar de olho.

Os contos são separados em dois grupos que parecem dois livros distintos. A primeira parte, "Realidades Voláteis", são contos de Ficção Científica que fazem especulações usando muita ironia nos primeiros contos, que são bastante curtos, como em "Inteligência" (Laura Lin) e "Acordo" (Lígia Gomes), passando pelo escrachado "Relações Públicas" (Petrônio de Tílio Neto) e a alegoria política de "Zé e as formiguinhas ilustradas" (Ivan Carlos Regina) e vão elevando o tom de seriedade até o conto cheio de epístolas de um computador renegado em "Relato nº11" (André Argolo). Os contos são muito bem escritos e muitos deles bastante curtos (são 14 contos nas 100 primeiras páginas) e o que é muito bem vindo é o jeito brasileiro que corre solto nas páginas, não apenas nas localizações das histórias mas na fluidez no uso de situações e a  linguagem como usamos por aqui.


A segunda metade do livro, "Vertigens Radicais", se mostra totalmente disposto a  viajar a fundo no fantástico sem a preocupação da especulação. Contos que tendem mais ao  lisérgico e ao fantástico, sem abandonar completamente as especulações que caracterizam a ficção científica como em "Lourdes" (Lorena Ribeiro) e "Pílulas de Einstein" (Gisele Mirabai) onde o cérebro de Einstein viaja na mente dos cientistas. Em "O lixão trans-espacial (Tadeu Sarmento); "Novinha Suscetível" (Paulo Lai Werneck) e, principalmente em "O jardim das delícias não-terrenas" (Dindi Coelho), o sexo e a FC são abordados de forma descontraída, primeiro com a rotina dos habitantes de um lixão que recebe visitas de alienígenas, no segundo temos uma pincelada de um atendimento num bordel de ginoides sexuais e por fim o relacionamento de uma mulher com um ginoide que troca de forma ao gosto do cliente.

"Expire, inspire" (Belise Mofeoli) é uma pérola sobre a desigualdade que é a diferença entre a vida e a morte; e comprimidos não bastam. Temos o uso criativo dos computadores nos contos "Buscador" de Luiz Bras, organizador do livro, em que um homem pode buscar o futuro ou uma profecia autorrealizável?!; e "Invisible Tool" (Gláuber Soares) onde um programador não consegue mais sair do trabalho. Também temos duas viagens ao inconsciente, em "só restou eu" (Toni Moraes) e o conto do saudoso Maro Aqueiva, "Me and You" onde um piloto onírico está muito longe de estar no controle, sendo apenas um passageiro de uma mente criativa. e encerrando a segunda metade do volume, um conto com mais fôlego: "Quinas" (Tereza Yamashita), encerra o livro numa viagem maluca no tempo, transformações biológicas e uma fêmea traída.

O balanço final é de um livro muito divertido e gostoso de ler, e que mostra a Ficção Científica brasileira num momento muito prolífico, criativo e cheio de personalidade. Recomendo procurar essa obra e olhar com mais carinho para a ficção científica em terras tupiniquins.

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