segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Resenha #201 - A Penúltima Verdade (Philip K. Dick)


"A Penúltima Verdade" é um romance de Philip K. Dick, um autor recorrente do blogue pelo simples fato de ser o meu favorito. Isso ocorre pelas suas histórias estarem envoltas de enredos interessantes, quebras de paradigmas da realidade e uma escrita aparentemente simples. 

A história começa em 2035, com Nicholas St. James, presidente do abrigo subterrâneo de Tom Mix, um dos muitos que protegem a população da Terra enquanto os Wes-Dem e os Pac-Peop travam uma guerra que já dura 13 anos com exércitos de robôs. São os únicos capazes de combater na superfície contaminada pelas bombas atômicas deflagradas no início do conflito. Os habitantes ficam sabendo das novidades do conflito através de Talbot Yancy, o líder supremo dos Wes-Dem que enfrentam as forças inimigas do Marechal Harenzany. As populações dos abrigos tem a missão de produzir robôs para que eles combatam na linha de frente. 

Você acreditou nessa história? Então, você foi enganado, assim como todos os habitantes dos abrigos de ambos os lados. Tudo não passa de uma farsa. A superfície radioativa? Está tomada por áreas verdes e restam poucas áreas contaminadas. A guerra? uma mentira contata para manter o povo nos abrigos. Os Robôs? são usados como serviçais de uma elite que divide lotes imensos de terra. Talbot Yancy? Sua aparições são resultado de um programa que insere discursos escritos por alguns profissionais dessa elite que estão a serviço de Brose e são chamados de Yancyman. E Nicholas St. James é incumbido da missão de subir a superfície e conseguir um pâncreas artificial para o único mecânico que consegue manter as cosas funcionando no abrigo Tom Mix. Acompanhamos também Joseph Adams, um dos escritores dos discursos de Yancy que após uma discussão com um jovem talento entre os Yancyman, David Lantano, acaba envolvendo-se em uma trama cheia de assassinatos e disputa pelo poder sobre a figura de Talbot Yancy. Adams segue numa busca pela verdade atrás da fábrica de mentiras.

A obra usa o medo da guerra atômica apenas como pano de fundo e ironicamente acabou ajudando o livro anão ficar tão datado, pois geralmente as tecnologias cotidianas nas obras de PKD são bastante ultrapassadas, mas ninguém pode ser culpado de não prever a tecnologia digital em 1964. Uma 3GM tem potencial para regredir qualquer avanço civilizatório, quando não sua aniquilação. A tecnologia de órgãos artificiais está perdida e monopolizada por Brose que apesar de ser tratado como um vilão não permite que traçamos uma linha entre bons e maus. PKD é muito competente em colocar todos os personagens nas áreas cinzentas e somado a boa trama faz um livro muito bom, apesar não temos o melhor do autor, pois aqui falta os momentos mais lisérgicos que caracterizam seus livros. Recomendo a leitura, mas não para que se tire uma base do que é a obra de PKD, mas para os colecionadores como eu é um prato cheio!

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