segunda-feira, 18 de julho de 2022

Resenha #244 Brasa 2000 e mais Ficção Científica (Roberto de Sousa Causo)


"Brasa 2000 e mais Ficção Científica" de Roberto de Sousa Causo é uma antologia, parte da coleção Futuro Infinito, muito representativa da versatilidade do autor, principalmente na Ficção Científica, retirados de diversas publicações. Como fã do trabalho do autor, foi muito bacana encontrar contos de publicações antigas e, por vezes, difíceis de encontrar. O livro celebrou isso da mesma forma que Fanfic, de Bráulio Tavares, lançado na mesma coleção. Vamos falar dos contos em separado.

A primeira parte Aqui, Agora, Futuro Próximo, trouxe contos com especulações e reflexões mais envolvidas com nosso presente. "Infiltrado" é narrado num fluxo de consciência que ao mesmo tempo que nos envolve numa sensação de fuga e nos entrega, aos poucos o contexto desta fuga entregando tudo na última frase. Uma aula de como não colocar infodump nas histórias e usar isso em favor dela para deixá-la mais instigante. 

"A mulher mais bela do mundo" conta sobre um fotógrafo brasileiro que encontra sua satisfação estética suprema e vê sua obra apreciada por um emissário do espaço. Adorei a forma como o debate entre o estético e o essencial é tratado aqui, num conto com desdobramentos instigantes.

"O salvador da pátria" um soldado acorda após um acidente aéreo, que vitimou todos os outros tripulantes. Contudo ele é auxiliado por uma indígena que lhe incumbe uma última missão. O conto se passa na floresta amazônica, um cenário muito caro ao autor que já escreveu uma trilogia de romances sobre a Amazônia. A índia logo revela-se vinda do futuro e a missão ganha uma importância extrema, contudo ainda coube espaço para uma discussão sobre o que afinal de contas é o Brasil. Mais do que fornecer qualquer resposta determinista, temos um punhado de boas reflexões que valem tanto quando a ação bem narrada, costumeira dos escritos do autor. 

"Pré-natal" acompanhamos Paulo, que busca proteção na ONU para proteger um segredo de Estado de uma nação totalitária. Seus segredo tem um potencial único de acabar com o domínio de um ditador aparentemente Imortal. De fato seria um pesadelo, existir um país assim, não é verdade?!

"Brasa 2000" acompanhamos uma fuga de um soldado, único sobrevivente do seu esquadrão em uma São Paulo devastada pelo exército argentino munido de drones estrangeiros. Menos importante que as grandes movimentações militares e tramas políticas, esta é uma história sobre um soldado lutando para sobreviver, a condições que ele não criou.  

A segunda parte, Tupinipunk, é um termo cunhado pelo próprio autor que é basicamente uma visão brasileira do cyberpunk. O primeiro conto é "A luta do Cangaceiro Jedi" que narra uma breve aventura de um hacker que disfarça grandes roubos de dados com atos puramente rebeldes. Vemos a abordagem tupinipunk florescer ao modo de falar brasileiro, no contra ponto do protagonista conversando com uma estrangeira russa bem politizada.    

"Para viver na barriga do monstro" o autor retorna a Amazônia para mostrar um indígena que trabalha em um centro de pesquisas em meio a uma pane tecnológica de escala global. Junto com sua namorada carioca e um colega estadunidense, vemos todos exibirem seu interior na eminência de um apocalipse tecnológico.

"Vale-tudo" é uma dos dois trabalhos de mais fôlego do autor neste livro. Acompanhamos Jareen, uma jornalista americana que vem ao Brasil para entrevistar um apresentador de programas policiais, ex-lutador de Vale-tudo (nome antigo para o MMA) André Mattar. Após um atentado durante a entrevista, Jareen se vê em meio a uma disputa política, rebeldes e um Brasil parcialmente destruído após um desastre nuclear. Vemos novamente o autor trabalhando as peculiaridades do Brasil contraponto com algum personagem estrangeiro, aqui a protagonista.  

A terceira parte contém apenas dois contos Steampunks curtos, que servem como homenagens, primeiro a H. G. Wells, em "A vitória dos minúsculos" onde a invasão dos tripods acontece no Rio de Janeiro e em "Dactilomancia", acompanhamos um inventor de máquinas de datilografia em busca da máquina perfeita quando suspeita da existência de seres de outro mundo habitando entre nós.

Por último e não menos importante, a última parte é uma Space Ópera que reúne seus dois personagens principais de suas sagas interestelares. Jonas Peregrino e Shiroma em "Tengu e os assassinos", uma noveleta que exemplifica bem a riqueza do mundo espacial do autor. Peregrino está em uma missão para salvar uma herdeira de uma dinastia nipônica, mas ela é perseguida por perigosos assassinos. Durante a missão o autor explora bem todas as variáveis, das políticas até as táticas. O resultado é a solidez e imersão nas histórias.

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