Pensei dua vezes antes de resenhar "Pretérito Imperfeito" neste blog, por ser dedicado exclusivamente a Ficção Científica e a Fantasia e não se tratar de uma obra que se encaixaria imediatamente no que convencionamos chamar de "Fantasia" ainda que o livro não tenha tal pretensão. O fantástico não é exclusividade de nerd e achei melhor expandir os horizontes e mostrar o fantástico onde quer que ele esteja. Eis então a resenha de "Pretérito Perfeito", romance nacional escrito por Gustavo Araújo e publicado pela editora Caligo.
Meu exemplar foi um presente da Maria Santino (que por sinal escreve muito bem também) e uma surpresa maravilhosa. Isso, por dois motivos: O primeiro, já sabia da qualidade do autor pelos contos que publica nos desafios literários do blog Entre Contos (dos quais participo há mais de um ano) e, o segundo, por haver uma boa parte dedicada a escrita epistolar. Pretérito Imperfeito atendeu minhas expectativas. Divagações a parte, vamos a estória.
Na estória acompanhamos Toninho, um menino tímido e em conflito com o pai, Seu Pedro. Ele gosta de observar pássaros e tem um refúgio na floresta nos arredores da fictícia cidade de Porto Esperança, no Paraná. Nesse refúgio ele acaba encontrando Cecília: Uma menina inteligente e que gosta de escrever. Ela também busca abrigo por conta de seu pai que está envolvido em atividades misteriosas e que ela mesmo não compreende. Os encontros entre Toninho e Cecilia, são permeados por cartas de Cecilia a sua amiga Carol e garantem um aprofundamento da personagem, há uma referência assumida a Anne Frank. A relação de Toninho com seu Pai é bem desenvolvida a medida que a estória dele também é contada.
O pano de fundo acontece em dois tempos, nos anos 1930, durante a Intentona Comunista e os anos 1960, e durante a Ditadura Civil-militar de 1964. O contexto histórico não sufoca o drama dos personagens mas sim cumpre a função trazer a dureza daqueles tempos com a doçura da infância. Elementos que Gustavo traz de forma intensa através dos seus personagens. Difícil acertar a mão com este tipo de estória sem soar piegas ou apelativo, contudo este livro fez sérias rachaduras no meu coração de pedra. A qualidade da escrita é inegável. Gustavo consegue fazer cenas simples, cheias de significado e emoção. Nessa obra acredito que encontramos Gustavo no melhor momento. Digo isso pois o autor é um excelente contista, mas muito melhor romancista.
Difícil falar mais correr o risco de estragar a experiência da leitura, pois a minha introdução a resenha já adianta que existe um elemento do fantástico na estória e o os textos introdutórios também não adiantam muita coisa. Contudo, o livro não é depende das reviravoltas pois tem uma narrativa muito consistente e envolvente para quem se deixar levar. Acredito que a única coisa que pode atrapalhar a apreciação da obra é esperar dela algo que ela não é. Vale ler de mente aberta, ainda mais para quem tentar comparar com as obras que costumo resenhar aqui. Enfim, o livro está mais que recomendado.
Para uma resenha, com spoilers e muito mais qualificada que a minha recomendo a de Eduardo Selga. https://entrecontos.com/2015/10/02/o-menino-que-queria-lacar-a-lua-resenha-de-preterito-imperfeito-eduardo-selga/
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