Em "Um reflexo na escuridão" (A Scaner Dalky) Philip K. Dick traz um de seus livros mais tristes, pessoais (quase autobiográfico) de toda sua obra, na qual imergimos na loucura das drogas e na sanidade do mundo, que se mostram muito parecidos.
A história segue Bob Arctor, que vive em um futuro próximo, viciado em uma droga pesada chamada "Substância D". Bob passa os dias se chapando com os amigos, tentando transar com a amiga Donna enquanto busca sustentar seu vício. Bob também é um policial infiltrado com a missão de encontrar o fornecedor da droga. Em meio aos policiais Bob também vive disfarçado sob o nome de Fred e utiliza um traje que impede sua identificação pelos colegas enquanto vigia gravações de grampos na casa de Bob. Nessa vida dupla o consumo de "Substância D" vai aos poucos cindindo os hemisférios do cérebro de Bob/Fred em Bob e Fred. Os ambientes de disfarce do protagonista alimentam essa divisão e vemos isso como um processo de degradação da identidade ao longo da história e esse é o drama central da obra.
A edição da Aleph vem bem servida de extras: além da nota esclarecedora do autor o livro tem um artigo sobre a relação entre a obra e as descobertas neurológicas do período que mostra o quanto Dick estava sintonizado com a então recente teoria do cérebro dividido e, por fim, trechos de uma entrevista de Dick para um programa de Ficção Científica de uma rádio. As informações e análise desses extras, ajudam a entender a obra pelo ponto de vista do próprio autor e suas referências que vão de teorias neurológicas a textos bíblicos. A viagem dessa obra não existe projeções morais, diversão e muito pouco do humor característico do autor, que cedem espaço a densidade e tristeza inclusive na inspiração real dos personagens que eram amigos de Dick, suicidas e sequelados pelo uso de drogas no qual ele próprio se inclui.
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