segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Resenha #271 Multiverso Pulp Volume 1: Espada e Feitiçaria (Duda Falcão Org.)


"Multiverso Pulp: Espada e Feitiçaria" é o lançamento da editora AVEC que buscou resgatar aquele clima de revista de contos curtos onde predomina a ação. Aqui são dez contos de fantasia no melhor estilo Espada e Feitiçaria. Vou analisar os contos separadamente.

A Peônia (Alec Silva) conta sobre Marja uma guerreira que enfrenta todas as dificuldades de uma caçadora de recompensas mulher pode enfrentar. Há uma aura que paira sobre Marja devido as lendas que circulam a seu respeito sobre o severo treinamento, que lhe rendeu uma cicatriz no rosto. O conto usa bastante páginas para compor essa aura e poucas para mostrá-la em si. Acho que se esses dois momentos fossem alternados, o impacto seria maior, mas eu gostei do conto. Introduziu a personagem que pode ser facilmente expandido para algo maior.  

Khamir, o Sem Rosto (Lucas Viapiana Baptista) Assim como o conto anterior é uma aventura de um personagem que pode ser expandido ou até adicionado em outras aventuras. É algo muito comum e agradável nas histórias de Espada e Feitiçaria. Khamir é um guerreiro em estado severo de lepra, que foi contraída por uma maldição. Após uma visão ele tem a esperança de quebrar a maldição. A composição do personagem mostra que a maldição já faz parte dele e é difícil vislumbrá-lo sem ela. O mundo está contra ele e isso é evidente no uso da máscara para poder entrar nas cidades, como nem por isso, ele é bem recebido. 

O lorde sombrio do castelo em ruínas (Tarcísio Lucas Hernandes Pereira) Diferente dos contos de espada e feitiçaria em que há combates empolgantes com (duh) espadas e feitiçarias, aqui temos um duelo em que as armas são a conversação, a inteligência e a astúcia. Assim se desenrola esse embate entre Alkar, um ladrão contratado pelo Lorde Zamiel, que espanta mas instiga a cobiça do ladrão com sua figura cadavérica e macabra. O conto é extenso, em comparação aos outros mas o duelo flui muito bem, pois a curiosidade de Alkar é transferida para o leitor com muita facilidade (e sem os riscos, felizmente).

A Última Luz (Jonatas Tosta Barbosa) se passa em um mundo decadente onde uma formação tribal está minguando enquanto faz uma travessia desesperada em busca de melhores dias. Tentando sobreviver, a filha mais velha Ardruna, junto com seu pai e irmãs lutam contra o clima gelado, contra predadores que querem devorá-las e membros da próprio povo que querem escravizá-las. O conto é muito competente em passar essa ambientação de decadência em todos os sentidos e entregar uma aventura cheia de horror.

A Caçada ao Paladino (Fernando Fiorin) Acompanhamos uma fantasia histórica, onde uma maldição por um gênio destruiu uma família inglesa. O kafir fugiu com sua lâmpada e o senhor estava assolado pelo peso da maldição. Então, um misterioso paladino do oriente oferece ajuda para o inglês e ambos partem na caçada do demônio. A aventura é linear e o final simples, porém durante a jornada o choque cultural entre o oriente e ocidente é bem explorado e acaba sendo o principal atrativo do conto.

A Bruxa (Marina Mainardi) Temos uma busca por sair do clichê da Bruxa malvada e aqui temos uma personagem que também não cai no extremo oposto. Na perspectiva de um homem que tem o contrato para matar uma bruxa, vamos explorando o cenário até o derradeiro encontro. Se pensarmos a exploração e o cenário como parte da própria bruxa, conseguimos tirar do conto algo mais profundo desta personagem. 

Enseada Abissal (Rodrigo B. Scop) Acompanhamos Neshad em uma busca fantástica por uma criatura marinha ancestral e incrivelmente poderosa. Não há porque negar a influência em Moby Dick, pois ela é bem vinda. Uma aventura marítima em um conto no qual não há porque ter pena dos personagens. A caçada e a loucura que motiva o protagonista permeiam todo o conto e a visão da criatura é outro atrativo.

Considerações acerca de Anathemus a espada perdida (Roberto Fideli) O conto é basicamente uma escrita epistolar, simulando um artigo acadêmico dissertando sobre uma espada mágica, levantando hipóteses sobre os poderes da espada e sobre quem a portou ao longo do tempo. Um dos melhores contos da antologia, pois além da ideia bastante criativa, foi muito bem executada. É aquele tipo de texto que você leria com gosto em uma aba explorando um cenário de jogo de RPG. Muito bom! 

Nas Ruínas de Ka'Drath (João Ricardo Bittencourt) No melhor estilo lovercraftiano, acompanhamos uma bruxa em busca de uma criatura abissal capaz de cruzar a fronteira da vida e da morte. Temos uma jornada bem escrita e tensa, principalmente para os que se envolvem mais facilmente no estilo. O mistério é deixado de lado pela aventura e o tom macabro que percorre o conto todo. 

Guízer contra a aranha de mil filhotes (Duda Falcão) conto que fecha com chave de ouro a antologia com um conto muito divertido que consegue colocar muita coisa em poucas páginas. Acompanhamos Guízier, um fugitivo de uma fazenda escravagista mas acaba preso e enviado a uma arena de gladiadores. Lá enfrentam muitos inimigos que se colocam em frente dele e sua liberdade. A conexão da magia deste mundo com os animais é muito simples e conquista o leitor muito facilmente. Como organizador, o peso de colocar um bom conto na antologia aumenta bastante (sei exatamente como é) e posso dizer com tranquilidade que o autor extrapolou qualquer expectativa e colocou o meu conto favorito. 

 

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