segunda-feira, 27 de maio de 2024

Resenha #337 O demônio de ferro (Robert E. Howard)


O demônio de ferro é o terceiro livro da box O Bárbaro da Ciméria da editora Pandorga. Já falei sobre o conteúdo da box na primeira parte da resenha e comentei sobre todos os contos até então. Continuamos na fase formulaica de Robert E. Howard com mais três contos. Sendo assim, vamos falar sobre cada um individualmente:

Sombras de ferro ao Luar é uma história de Conan em que ele já começa caçado após uma derrota do seu exército de mercenários. Em sua fuga encontra Olívia, uma princesa exilada, que encontra uma esperança no bárbardo cimério. Quando se refugiam em uma ilha no Mar Vilayet, e é lá que as coisas começam a piorar. Conan enfrenta uma série de perigos que se acumulam e o emboscam: uma criatura que o espreita na floresta, piratas que querem sua cabeça e o pior. Um santuário cheio de estátuas de ferro que ganham vida e destroem tudo que chega perto do santuário. É aquele conto que não te dá tempo de respirar de tanta coisa que acontece. Deve ter sido uma semana terrível para o Conan, mas para nós que gostamos de aventura, agradecemos!

Rainha da Costa Negra é o meu conto favorito de Conan. Nele Conan conhece Belit, uma capitã pirata que se apaixona pelo bárbaro. Juntos tocam o terror na costa sul, saqueando e pilhando com sucesso, até que decidem buscar os tesouros perdidos numa ilha afastada da costa. Lá acontecem uma série de eventos trágicos que vão mudar Conan para sempre. O grande barato do conto, é o final diferente e o tom épico que percorre toda a narrativa. Belit não é uma mocinha indefesa típica. Howard se liberta desta fase fazendo uma mulher poderosa que está na companhia de um homem apenas por sua vontade, porque sabe que juntos seriam imparáveis e não por precisar de proteção. Este conto, inclusive inspirou o livro A canção de Bêlit, que narra os três anos que Conan e Belit viveram juntos saqueando os mares do sul, que no conto é apenas citado.

Demônio de ferro é um conto baseado no enfrentamento entre Conan e uma criatura demoníaca e abissal no estilo lovercraftiano mas mais bestial e violenta. Novamente, apesar das inspirações, não se trata de horror cósmico, mas uma aventura violenta. Seria melhor encerrar com o conto anterior, porque depois de conhecer Belit nenhuma personagem feminina de Conan tem graça.

O livro termina com a tradicional Galeria de capas, das revistas onde os contos foram originalmente publicados e encerra com um texto sobre a outra mídia que difundiria ainda mais o bárbaro cimério na cultura pop: as HQs!

Este box eu achei sensacional, principalmente em custo benefício. É barato, tem muito conteúdo. Não são todos os contos de Conan, mas são os principais e é suficiente para conhecer o personagem.



Galeria de capas
Recepção de Conan nos quadrinhos

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segunda-feira, 20 de maio de 2024

Resenha #336 Revista Histórias Extraordinárias, numero 3


A Revista Histórias Extraordinárias editada pelo jornalista Marcos Cavalcanti e Mario Garnett foi lançada em dezembro de 2020 e até o momento está na sua sétima edição. Adquiri as três primeiras via Catarse, que acredito ser a principal forma de adquirir os números. A Editora Mundo trabalha com itens colecionáveis e alguns dos cartões vem como brinde nas compras por financiamento coletivo. A proposta é relembrar os tempos de revista pulp com narrativas de horror cósmico, sobrenatural e ficção científica. Como é comum nas revistas, há textos de outros tipos que circundam o tema. Uma entrevista, uma matéria e algumas pequenas resenhas de filmes, mas o grosso da revista é de contos.

A revista abre com um artigo sobre Ted Chiang e sua ascensão como um dos maiores autores de Ficção Científica da atualidade e como fez isso escrevendo apenas contos. O artigo faz um bom apanhado de seus principais contos e a adaptação ao cinema de Storys of your life com o filme A Chegada. Pousamos! é um artigo muito bacana sobre turismo espacial, desde a explosão da Challenger até as atuais viagens feitas por bilionários. Depois temos uma entrevista com Roberto de Souza Causo, um dos maiores de nossa Ficção Científica, e o meu favorito! Seguido de um conto de Shiroma, o segundo de sua nova fase após o primeiro ciclo de contos que podemos ler no livro Shiroma: a Matadora Ciborgue. Em Confronto nas Alturas, temos Shiroma fugindo de Pheonix Terra, até que é confrontada por caçadores de aluguel. Li cada linha avidamente pois estou acompanhando as histórias de Shiroma sempre que posso. Linha por Linha, de MV Garnet, conta a história de dois operadores de instrumentos que captam sinais que causam horror e pânico aos técnicos. Do Mar ao Cais de Mário Cavalcanti é um conto curtíssimo que mostra que a edição tem o tema da loucura presente na maioria dos contos.

O Palhaço na Máquina de Felipe Carvalho é o conto que ilustra a capa da revista é um conto muito envolvente, sobre uma médica psicóloga que atende uma menina que insiste que tem parentes imaginários. A investigação é muito bacana e o desfecho faz jus a publicação e a tradição dos pulps. O Caso das Máscaras de Chumbo de Davi M. Gonzales segue a linha do mistério que pode ser sobre alienígenas ou contato com outra dimensão. Achei o conto um pouco arrastado. Meu Mundo e Nada Mais de Paulo Fabrizio é uma versão muito bacana da invasão alienígena mais contada do que mostrada. Contudo, foi um conto bastante agradável de ler e encerra bem a publicação.


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segunda-feira, 13 de maio de 2024

Resenha #335 Matadouro 5 (Kurt Vonneguth)


Matadouro Cinco é um clássico da literatura dos Estados Unidos e um clássico antiguerra que usa a ficção científica, bom humor e sarcasmo para falar de temas pesados como o Bombardeiro em Dresden e o trauma que é levado para a vida civil da guerra.

Acompanhamos Bill Pillgrim, na verdade o próprio narrador falando sobre Bill Pillgrim e suas experiências como sobrevivente do Bombardeiro de Dresden, que foi um ataque aéreo devastador perpetrado pelas forças aliadas que dizimou a cidade de Dresden, matando mais pessoas que o bombardeio nuclear no Japão em Hiroshima ou Nagazaki. Bill é um típico sobrevivente da guerra, tendo lutado nela como soldado, que leva uma vida pacífica como optometrista, casado com dois filhos até que revela num programa de rádio que foi abduzido por extraterrestres que lhes ensinou outra forma de ver o tempo. Bill passa a viajar no tempo, através de perdas de consciência que o levam a outros pontos do tempo. Uma forma criativa de mostrar como a guerra nunca acaba dentro de quem se traumatizou com ela, não importa o quão feliz sua vida tenha sido depois do conflito. A ironia do autor surge na inutilidade e na falta de propósito em cada ato violento que ocorre, em qualquer escalão. Inclusive na mentalidade guerreira de outros personagens que cercam Bill, e na forma como vários outros personagens se adaptam aos horrores que vivem. Inclusive se você encarar as viagens de Bill, na pele de outros personagens.

Não há uma apoteose no final, pois o próprio livro fala da inutilidade de enxergar o tempo como uma sucessão de fatos sequencialmente organizados, mas há sequencias para falar de como ficou a cidade após o bombardeio. Os personagens são apresentados com seu destino descrito, como morrem e a finalidade se torna fugaz e um mero fato corriqueiro. O que abre espaço para muitas reflexões sem essas amarras. Tudo isso envolto em uma linguagem muito simples e cativante, que me conquistou para que eu procure novas leituras do autor. Agradeço ao Roberto Honorato do Primeiro Contato SciFi pela dica.

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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Resenha #334 Nebulosa (André Cáceres)


Nebulosa é um épico espacial que me surpreendeu pela escrita simples e prazerosa, enquanto trazia uma trama aparentemente simples e com temas muito relevantes. É o que considero uma leitura relevante e potente num percurso divertido de uma boa leitura de praia.

Acompanhamos quatro fios narrativos: O primeiro é Dédalo, um jovem acólito de um culto pouco relevante para o império galáctico, chamado ciência. Sua vida é abalada pela descoberta de uma alta  possibilidade de tentativa de assassinato do rei Nimrod. O segundo fio é  Aurora. Uma filha superprotegida pela mãe. No entanto Aurora, resolve entrar para a guerrilha contra o Império em seu planeta na periferia dos seus domínios, que passa por miséria e uma guerra sem fim. O terceiro fio é de Ícaro. Filho mimado do imperador que passa a viver entre piratas espaciais. O quarto fio, gira entorno da família Suçuarana, outrora poderosa detentora da coroa, mas hoje sobrevive das migalhas do seu prestígio.

Particularmente, gostei de todas as linhas narrativas. Todas são baseadas em clichês que conhecemos. Dédalo, que é muito inspirado em Fundação. Aurora é a menina pobre com passado nebuloso. Ícaro é  filho rico que busca sentido na vida. O núcleo dos Suçuarana, com aquele tom palaciano de Game of Thrones (mas que sabemos ter se inspirado no clássico italiano O Leopardo). André consegue refletir o Brasil nas suas tramas, o que as óperas espaciais dos Estados Unidos fazem em relação ao seu próprio país. Lá é comum que as narrativas abordem impérios multiculturais ruírem sobre o próprio peso de suas atrocidades, sabendo que atraem o ódio dos conquistados. Já Cáceres, debate o peso das determinações sociais e preconceitos de um país que está mais acostumado a tirania, inclusive sendo fundado na base da exploração, como toda colônia.

Mesmo com a história simples e divertida de acompanhar em cada fio narrativo, o autor nos reserva a complexidade da trama para seus momentos decisivos, realmente conseguindo me surpreender, e nos trazer mais reflexões sobre e esse pobre império. Gostei bastante das brincadeiras com as nomenclaturas e referencias a nossa cultura que me fez pensar que o autor poderia fazer mais volumes sobre esse universo que eu leria sem parar de virar páginas, contudo as páginas acabam rápido mas deixam uma boa leitura e reflexões sobre nós.

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