"Lição de anatomia do temível Dr. Louison" (2014), romance de estreia de Enéias Tavares, foi concebido como o primeiro de uma série e possuí duas premissas muito interessantes: a estética steampunk adaptada ao Brasil e a inserção de personagens já existentes da literatura brasileira da segunda metade do século XIX e do início do XX, combinadas com uma consistente trama policial.
No romance, o jornalista Isaías Caminha é enviado a Porto Alegre, para investigar o caso do assassino em série Antonie Louison, que está preso no Hospício São Pedro, com a data de execução marcada. Rapidamente nos vemos diante de um quebra-cabeças quando Louison escapa.
A obra se apresenta como um dossiê reunindo cartas e entrevistas, escritas e transcritas de gravações, além de trechos de processos jurídicos (nem um pouco maçantes). Todas datadas, indo e voltando no tempo. Cada parte adiciona explicações e perguntas ao caso.
Também somos apresentados a vários personagens que habitam esse mundo, alguns criados pelo autor e outros retirados da literatura brasileira. O protagonista, Dr. Louison, (criação do autor), é o centro da narrativa e sua personalidade é montada e desmontada pelos diversos pontos de vista, contraditórios e cheios de segundas intenções.
Fez MUITO jus ao "punk" do Steampunk
Também somos apresentados a vários personagens que habitam esse mundo, alguns criados pelo autor e outros retirados da literatura brasileira. O protagonista, Dr. Louison, (criação do autor), é o centro da narrativa e sua personalidade é montada e desmontada pelos diversos pontos de vista, contraditórios e cheios de segundas intenções.
Fez MUITO jus ao "punk" do Steampunk
A lição de anatomia do temível Dr. Louison não se prende às convenções da ficção científica, nem aos seus debates sobre tecnologia, embora eles sejam pincelados. É importante ter isso em mente para não se decepcionar, à espera de uma mera versão brasileira de A máquina diferencial. "A máquina diferencial". O que não significa que os personagens marginalizados e cheios de atitude não estão lá. Eles aparecem, inclusive, de forma mais intensa e consciente que na obra seminal de Gibson e Sterling - o Parthenon Místico exemplifica esse ponto.
Leiam livros nacionais!
Outro elemento do Steampunk presente na obra é a inserção de personagens da literatura numa história alternativa. Relembremos "A Máquina Diferencial", que colocou os personagens Sybil Gerard e Mick Dandy, de Benjamin Disraelli levando vidas alternativas numa realidade histórica diferente. Tavares elevou essa experiência, como n'A Liga Extraordinária, de Alan Moore, usando personagens da literatura brasileira.
A leitura dos livros de origem dos personagens emprestados não é pré-requisito para compreender A lição de anatomia. Apesar de que reconhecer algum deles arranque um sorriso durante a leitura, acredito que o caminho da obra seja justamente o oposto: ela grita o tempo todo que a literatura brasileira não é necessariamente uma chatice obrigatória para provas de vestibular, demonstrando que em meio a esses livros abundantes, facilmente encontrados por menos de dez reais nas prateleiras de sebos e livrarias, e comumente ignorados em prol da literatura estrangeira, existem excelentes personagens e enredos.
A trama é complexa em fatos, formas e vozes (por vezes contraditórias) que se fecham como um livro e pedem mais histórias em virtude de tantos personagens inseridos em destinos alternativos. Talvez escapem detalhes e ironias em relação a Porto Alegre, que o autor colocou em forma de inversões, como o nome dos jornais. Porém, a maioria dos personagens é de fora do Rio Grande do Sul, ainda que contemos a própria cidade como um. Fora isso, os percalços são irrisórios durante a prazerosa leitura.
A trama é complexa em fatos, formas e vozes (por vezes contraditórias) que se fecham como um livro e pedem mais histórias em virtude de tantos personagens inseridos em destinos alternativos. Talvez escapem detalhes e ironias em relação a Porto Alegre, que o autor colocou em forma de inversões, como o nome dos jornais. Porém, a maioria dos personagens é de fora do Rio Grande do Sul, ainda que contemos a própria cidade como um. Fora isso, os percalços são irrisórios durante a prazerosa leitura.
Bônus: Não me atrevo a disponibilizar o livro resenhado, aos interessados, é melhor comprá-lo. Contudo, as obras de origem dos personagens emprestados são de domínio público, logo, pode ser disponibilizado. Segue uma lista com links dos livros recolhidos onde puderam ser encontrados. Baixe aqui ou compre num sebo que certamente o leitor encontrará barato:
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Vitória Acauã
Contos Amazônicos de Inglês de Souza, 1893.
Download (este arquivo contém apenas o conto "Acauã" onde Vitória aparece.)
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Isaías Caminha, Floc e Loberant
Recordações do escrivão Isaías Caminha de Lima Barreto, 1909.
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Doutor Benignus
O Doutor Benignus de Augusto Emílio Zaluar, 1875.
Esta obra ficou perdida por muitas décadas até ser encontrada e editada pela Editora da UFRJ, sendo a única edição que está esgotada e, até onde pude verificar, nunca foi digitalizada.
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Família Magalhães e a Ilha do Desencanto
Georgina de Apeles Porto Alegre, 1873-1874.
Esta é a única, realmente difícil de encontrar. Segundo o próprio autor, Enéias Tavares: "Georgina é uma noveleta publicada em quatro partes na antiga Revista Mensal do Parthenon Literário em 1872. Ela foi reunida com o título 'A Ilha do Desencanto' numa coletânea dedicado ao grupo literário ainda na década de 1990." Tal edição está esgotada e até onde pude verificar, nunca foi digitalizada.
Tentei lê o livro...não consegui...não fez meu tipo preferido de livro. Mas deu pra perceber que o livro é bem escrito. Tinha o autor na minha pagina do face Eneias tavares... como deletei um boca de autores ele foi junto.
ResponderExcluirQue pena, eu gostei muito. Mas o leitor que for pegar esse livro não pode esperar Ficção Científica apenas, senão vai se decepcionar. É misturado com policial e fantasia. Enfim, a resenha fala por si kkkk
ExcluirUm abraço Ron