Sankofia, como o subtítulo já descreve, é uma coletânea de contos da autora brasileira Lu Ain-Zaila e foi lançado em 2018 de forma independente. A proposta é reunir contos afrofuturistas que se encaixam em gêneros como a Ficção Científica (principalmente), Espada e Magia, Fantasia e afins. Vamos falar sobre os contos em separado!
"Era Afrofuturista" segue uma menina que é levada pelo pai para uma exposição de arte e cultura que tem como tema a presença negra nas artes, principalmente na literatura, num futuro que coloca tudo em retrospectiva. O texto é bastante descritivo, e se lido como um artigo, fica mais interessante pois não há uma trama entre os personagens. É o equivalente escrito a um documentário com dramatização. O ponto central é a ideia de que o afrofuturismo (representado pelo momento presente da menina e sua própria juventude) não existiria sem as contribuições do passado que são representadas pelas atrações do museu. Muitos conteúdos sobre pensadores e artistas importantes, tanto da África quanto da diáspora, tive o privilégio de acompanhar em minha formação em História, e tamanha dimensão desse conhecimento tem chance de encantar os leitores que ainda não conhecem.
"Existência" segue a Dra. Adimu que participa como astro-antropóloga em uma missão de reconhecimento em um planeta desconhecido, mas como já ficamos sabendo nas primeiras linhas, uma forma de vida contaminou quase todos os tripulantes, tornando-os uma unica entidade coletiva. Quando esta entidade toma conta da Dra. Adimu ela trava uma batalha mental tanto para entender a criatura quanto para resgatar sua individualidade, e sobreviver.
"Conexão" temos novamente a Dra. Adimu, desta vez mais nova e inexperiente, quando é convocada para decifrar uma mensagem de alienígenas, mas parece que nenhuma linguagem ocidental ou conhecimento científico seja suficiente para estabelecer contato, obrigando a Dra. a buscar o auxílio de um conselho de anciãos reunidos nas ruinas da Universidade Timbukto, que existiu na antiguidade, no séc. XII.
"Ternodes" é uma região protegida por magia, que por sua vez, é protegida por guardiões da magia. Sela e Iruwa são dois guardiões que são corrompidos por magia maligna, porém Sela consegue se manter fiel enquanto Iruwa se corrompe totalmente e sequestra Jailu para corromper todas as cidades-estado de Ternodes. É um conto bastante curto, com uma história fechada. Gostaria que fosse maior e não tão simples, pois gostei do mundo e do que vi do sistema de magia.
"A invenção das tranças" se passa num vilarejo na África, e conta a história de duas crianças que encantam cada uma o sol e outra a lua. Quando elas se conhecem melhor, se apaixonam, e acabam ignorando as divindades, estas buscando reaver a atenção delas acabam trazendo problemas no clima do lugar. Um grupo de criaturas busca a ajuda da Amansi, uma divindade aranha que tem uma ideia para ajudá-los. Trata-se de uma fábula e é narrada como tal. Particularmente não gosto de ler fábulas, mas esta vale por vir de uma cultura diferente do que se costuma ver.
"Admissão" Narra os momentos que antecedem o teste da jovem Kwili para a Frota Estelar, com base no Congo, de fato democrático. O conto é bastante linear, pinta um futuro muito interessante mas é narrado de forma totalmente introdutória, pois quando parece que vai começar, acabou.
"Ode à Laudelina" Amma parece que encontrou o trabalho que estava precisando para tirar sua conta do vermelho. Trabalho simples na casa de família, patroa - Pami - educada que lhe dá até um fone de ouvido para que ela escute música no trabalho. Tudo lindo e maravilhoso. Outras mulheres negras também são contratadas. Mesmo trabalho, mesmo fone de ouvido. Tudo lindo e maravilhoso, só que não! A narrativa consegue gerar curiosidade e não tem pressa de revelar a trama e quando o faz, deixa a história frenética e com um final que dá satisfação ao leitor.
"O Artefato" Anele é uma pesquisadora arqueológica que está em Angola quando recebe um chamado de emergência de seu antigo professor - Dr. Sadiki Odongo - que tem um artefato precioso, quase lendário nas mãos e perseguidores o procurando. O final é abrupto e nos deixa querendo saber o que acontece depois.
"Crianças Vermelhas" Narra o fenômeno relacionado ao povo Dogon e sua relação com o planeta Sirius (vi isso pela primeira vez em VALIS do Philip K. Dick) em que as crianças começam a despertar em toda parte do mundo. Interessante, tanto que é uma pena quando acaba.
"Fragmentos" seque alguns pequenos textos, fragmentados, reflexivos, sem tentar organizar muito as ideias, passeando pelos temas do livro. É uma forma interessante de encerrar uma coletânea pois busca instigar o leitor para a reflexão, e é seguido por imagens afrofuturistas muito bacanas.
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