segunda-feira, 18 de março de 2024

Resenha #327 Matando Gigantes (Cláudia Dugim)


Matando Gigantes é uma obra da Coleção Futuro Infinito da Editora Patuá que ainda estava devendo a leitura. Claudia Dugin participou da antologia Outros Brasis da Ficção Científica, que organizei, e foi organizadore da excelente Violetas, Unicórnios e Rinocerontes da mesma coleção. Então, sabia do talento para o conto, mas quis conferir como se sairia na narrativa longa.

A história se passa em uma nave geracional em busca de colonizar um planeta semelhante a Terra. Os personagens já estão há algumas gerações e vislumbram ser a primeira geração de colonos a pisarem em terra firme. Mas a chegada não será pacífica, tampouco sem problemas. Temos dois núcleos principais, no primeiro uma raça de seres humanoides verde/azulados com guerreiros que caçam gigantes pois não sabem outra forma de viver. No segundo, os humanos que vivem na nave colonial, em guetos de brasileiros e demais povos remanescentes da Terra tendo de lidar com assassinatos misteriosos que acirram as tensões entre a população pobre com a pequena elite da nave colônia. Logo descobrimos que são os pequeninos mas independente de quantos saibam disso, uma revolta está prestes a eclodir.

A situação que os personagens vivem é ao mesmo tempo completamente maluca e inusitada, ao colocar essa raça de pequeninos que vivem em uma comunidade anárquica (não conhecem a existência e/ou a necessidade de um Estado) onde o amor é livre e não se desenvolveu o preconceito dentro do próprio povo. Isso faz gostarmos imediatamente deles, ao menos até descobrirmos quem eles estão matando. A comunidade humana da nave geracional, foi outra coisa muito bem construída no seu aspecto político. É muito bom ver esse cenário ser construído sem a ingenuidade de imaginar que uma nave colônia serviria apenas para espalhar a presença humana pelo espaço porque é legal, afinal uma nave destas construída no capitalismo obviamente levaria a desigualdade, o racismo e o nacionalismo junto com ela. Uma nave colônia é como qualquer outra colônia: serve apenas para a exploração.

Há outras camadas que cabe contar aqui: a vida dos pequeninos é anárquica nos costumes, não apenas na figura de comando dos Guerreiros por Cherv e de Uor dos Conhecedores, mas na vida regada pelo prazer que acaba se colocando a frente de praticamente todas as preocupações na vida dos pequeninos, beirando a ingenuidade. Já do lado dos humanos, temos as personalidades fortes das articuladoras da revolta, principalmente na figura de Mama Bá, uma estrategista notável com uma vida toda dedicada a resistência. Foi minha personagem preferida e foi uma pena não ver mais dela.

O tratamento pragmático me surpreendeu positivamente, dando espaço para momentos satisfatórios, mas sem cair num ingênuo final feliz puro. Uma obra rende horas de conversa num bar. O que eu poderia querer mais?

Um comentário:

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