Olá! Retorno para resenhar outro livro, e como sempre procuro fazer, alternando entre livros de estilos diferentes dentro do que gosto de ler. Desta vez, saindo do clássico cyberpunk para a Fantasia. Contudo antes de encarar um tijolão de fantasia clássico optei por uma breve mas profunda viagem que Ursula Le Guin traz em O Feiticeiro de Terramar. Diferente das discussões densas de Os Despossuídos ou A Mão Esquerda da Escuridão, temos um direcionamento para um público mais jovem sem perder a jornada de descoberta do protagonista.
A estória conta sobre Gavião, ou Ged, um grande mago de Terramar, antes de ser um grande mago. Gavião aprende desde muito novo as artes mágicas porém se torna rapidamente arrogante, rancoroso e impulsivo até que se torna vítima de um grande erro que o obriga a partir numa jornada que o leva a vários cantos desse mundo. Terramar é tomada por ilhas, onde vemos um mundo ricamente criado pela autora que nos dá olhos de viajante enquanto acompanhamos Ged. Essa riqueza nos tira das dicotomias manjadas e abre horizontes como um marinheiro pelo mar desconhecido. A jornada de Ged pelo autoconhecimento é a formação de seu caráter, ao qual acompanhamos minuciosamente sua transformação, desde a infância até o mago clássico, comumente apresentado já em sua melhor forma.
A relação da autora com a palavra (para além do obvio, por ser uma escritora) aparece na importância que ela tem para o mago. Afinal é com ela que ele conjura feitiços. É com ela também que se dá nome as coisas e as pessoas, o meio para o conhecimento, a cultura dos povos que habitam esse mundo e sem ela o mago é impotente. Algumas palavras passam pouco percebidas na obra, são as pequenas subversões aos clássicos que tornam a obra muito relevante, como a cor de Ged e dos violentos invasores do império Karg. O que mostra que um livro para jovens não significa ser raso ou simplificado. Contudo, o fato da estória ser curta e centrada no mago Gavião, deixa os demais personagens com pouco espaço e evoluírem. Há pouco espaço para subtramas, ainda que o encontro com um dragão rendesse um conto isoladamente. O mapa e o posfacio são materiais auxiliares preciosos que vieram nesta edição. A própria autora comenta a importância deles e visualizar no mapa nos submerge neste mundo e num livro que não chega a 200 páginas ganha ainda mais importância. Vale a leitura para ficar longe da fantasia batida das batalhas e guerras e próximo da magia no seu estado mais bonito.
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