terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Resenha #83 - Império de Diamante (J. M. Beraldo)

"Império de Diamante" (2015) é um romance de fantasia do João Beraldo, o primeiro da série "Reinos Eternos" que venceu o prêmio Argos em 2016 e não foi a toa: o mundo criado foge do padrão da fantasia medieval baseado na Europa e coloca sua aventura em Myambe um continente baseado na cultura africana e indiana.

A história é complexa, mas o autor conduz o leitor com bastante habilidade, sem pressa e sem enrolar. Tudo começa há 20 anos quando o guerreiro mercenário Rais Kasim se auto-exila após uma batalha perdida contra as tropas do Imperador de Diamante em sua última conquista. No continente de Myambe o Império de Diamante, suprimiu culturas e conquistou todos as nações entorno de seu imperador, mas os rumores de que o império está caindo vão colocar quatro personagens principais numa trama para derrubar o império, 20 anos depois. Rais Kasim, um mercenário de Myambe que depois de décadas fora do continente volta para pegar trabalhos liderando um grupo de mercenários estrangeiros; Mukthar Marid, guerrilheiro rebelde que luta fervorosamente pelo fim do império; Adisa, um jovem sacerdote da Ordem de Bronze que recebe poderes do imperador para servi-lo; e Zaim Adoud, o governante da província de Abechét que se vê esquecida pelo império e envolta de intrigas com os nobres locais.

Na imagem 2: Mukthar Marid, Adisa, Rais Kasim e Zaim Adoud.

Os quatro personagens são bem construídos e bem diferentes entre si o que traz várias visões do mundo de Myambe, e o cenário diferente do medieval/fantasia europeizado instiga e justificaria uma torrente de descrições, mas o que temos é um livro sem enrolações em que a trama política e a ação. A magia é presente no livro e bem embasada nas religião e mitologia africana, nos poderes dos primogênitos e suas máscaras de contas (como se fossem orixás vivos na terra) e nas vestes, nos ritos e superstições. Senti falta do animismo que é bem presente na religiosidade africana mas cabe lembrar que o livro não é uma transposição mas uma inspiração na África.

A leitura não nos deixa cair no sono das descrições, tanto apenas pela novidade do mundo mas pela agilidade da escrita do autor, onde coisas acontecem o tempo todo, o que me fez, particularmente, ler o livro muito rápido. O livro também traz uma moralidade cinza, que além de ser uma escolha mais madura ajuda a não entregar quem vai viver ou morrer na história, pois realmente tememos pela vida dos personagens preferidos.

Império de Diamante é daqueles livros que nos faz viajar pelo mundo, e nos faz querer visita-lo novamente ao fim da leitura. O livro está mais que recomendado, não apenas pela sua ambientação que traz frescor ao padrão da Fantasia, mas pela história bem construía, bem amarrada e com gosto de querer saber mais desse mundo.

Mapa de Myambe.

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