terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Resenha #161 - Humanidade à Deriva (Jean Gabriel Álamo)


"Humanidade à Deriva" é uma antologia de todos os trabalhos que englobam o mesmo universo do autor Jean Gabriel Álamo. Vão desde contos curtos até obras de maior fôlego que já foram resenhadas aqui. Aparentemente apenas algumas histórias tem ligação direta entre si, como as aventuras do bruxo Iago Lima em Feiticeiro de Aluguel e entre "Androides não são Perfeitos" e "Poder Absoluto", mas também há conexões mais sutis como o sistema de magia em alguns contos e contextualização de outros contos como a existência de um grupo chamado Frente Humana. Vamos agora falar de cada conto em separado:

"O Suspiro" é um conto bem curto que abre a coleção. É um relatório deixado por uma civilização que não encontrou mais motivos para continuar existindo e promoveram a sua própria extinção. A narrativa conta como se fosse uma carta deixada em uma garrafa no oceano. Como se trata de um texto curto, é exclusivamente dedicado ao que se propõe. É um conto que vale a leitura, mas que não aprofunda os argumentos, apenas os resume, nem conta mais sobre a civilização que toma essa decisão tão drástica, contudo como já disse, vale a leitura!

"A cidade sob as estrelas" é uma fantasia baseada em cidades míticas. Acompanhamos o mercador atlante Hastur que após perder toda sua mercadoria vai para Arã, na costa da Lemúria e lá conhece o pirata Malarã em um prostíbulo, que lhe faz uma proposta perigosa. O conto faz uma boa imersão neste mundo fantástico em que as cidades míticas existem e filhos de deuses pisam na terra, mas não garante a vitória de ninguém. O conto tem um final ousado e deixa um gosto amargo no final, o que pode fazer você gostar tanto da história quanto eu. Recomendo!

Depois temos as três primeiras histórias do bruxo Iago Lima: "Feiticeiro de Aluguel: Noite em Neon", "Feiticeiro de Aluguel: A Serviço de Exu" e "Feiticeiro de Aluguel: Bruxo Tutelar" que já havíamos resenhado no blogue antes.

"Rastros Invisíveis" conta a história de Max, um vigilante mascarado que após a morte do tio, ex-militar, passa a vagar pelas ruas fazendo justiça com as próprias mãos. Como o próprio autor declara, é um herói de direita. Nessa história, ele decide investigar a morte de um antigo professor da época da faculdade e rapidamente entra numa trama que coloca em perigo com outros professores, num rastro de sangue e perseguições. É uma tentativa de colocar realismo no mundo dos super-heróis vigilantes numa versão fascista, mas sem crítica alguma e para mim não funcionou.

"Cidade das Bonecas" conta a história da detetive particular Luciana Laurindo que aceita o caso de desaparecimento de uma criança, Laís após a descaso da polícia e do fracasso de outros detetives. Conto não escolhe entre a maldade humana e a sobrenatural. Temos os dois neste conto cheio de imagens fortes mas que não se baseia nisso e consegue contar uma história de redenção em um espaço de escrita curto.

"A Magia Negra do Natal" conta a história de um pai que decide fazer um pacto profano para que seu filho tenha um natal feliz. Conto curto, que não permite contar mais sem estragar. Não há tanto espaço para aprofundar ou detalhar as cenas, mas serve de amostra do sistema sobrenatural que já vimos no conto anterior e na série Feiticeiro de Aluguel.

"Admirável roça nova: Um Conto de Cybercoronelismo" Rafael volta a cidade do interior na ocasião de uma doença terminal de sua mãe. Tentando sobreviver, é pego com sua irmã Zoé roubando alimentos na fazenda do coronel dono da cidade e passa a ser alvo de uma perseguição. Típica história do rapaz do campo que volta depois de ser mudado pela cidade e arranja confusão. Tem boas cenas de ação, mas não passa muito disso.

"Sob os domos de aço" me chamou a atenção por se passar em Marte, que é um cenário que sempre me encantou, em um contexto de colonização recente do planeta e conta a história de Sandra, uma mulher que acabou de perder o filho para uma doença nova que está dizimando a população de colonos. Ela desconfia que a causa da doença não é natural e começa uma corrida frenética para encontrar o responsável pela morte do seu filho. A narrativa favorece a ação e consegue colocar um mistério e o cenário com detalhes da vida em Marte foi bem redigido o que deixou o conto imersivo apesar da pouca quantidade de páginas.

"Androides não são perfeitos"

"Poder Absoluto" já tem resenha publicada no blogue!

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