segunda-feira, 7 de junho de 2021

Resenha #186 - O Caçador Cibernético da Rua 13 (Fábio Kabral)


"O Caçador Cibernético da Rua 13" de Fábio Kabral de 2017 é o primeiro romance de Macumbapunk, (no termo criado pelo próprio) que além de escrever também o divulga - Recomendo alguns vídeos no próprio canal do autor para saber mais. O que posso adiantar é como a construção do mundo aqui faz a diferença. A história se passa totalmente em Ketu 3, um lugar reconstruído após uma invasão alienígena onde vive um povo melaninado que sobreviveu após expulsá-los. A magia e a tecnologia encontram uma mistura que enche a imaginação de imagens vibrantes. Os elementos iorubás e do cyberpunk foram conectados com maestria pelo autor. A cidade cyberpunk como útero podre da civilização, agora floresce pela magia dos ancestrais, mas não sem seus problemas.

Acompanhamos o caçador João Arolê que vive amargurado pelos seus atos do passado a medida que vai reencontrando antigos amigos e inimigos. A história tem muitos retrocessos na juventude de Arolê que remontam seu passado sem pressa. Esses retornos são tão recorrentes, fonte de algumas das criticas negativas que já li por ai, que acabam por se tornar o grosso da história. Arolê é um èmi ẹjẹ, que é o nome dado aos que nascem com o "sangue espiritual" dos antepassados, desenvolvendo poderes (teleporte e telecinése, por exemplo). Quando nascem em famílias ricas costumam ascender a fama e os que nascem pobres são arrancados das famílias e são criados para trabalharem em um esquadrão de elite de assassinos a serviço da Corporação Ibualama. A organização social de Ketu Três, segue a hierarquia do Canomblé, matriarcais e tendo as Casas de Axé, desenvolvidas como corporações.

É nesse esquadrão onde João Arolê conhece Nina Oníṣẹ e Jorge Osongbo, que a medida que aprendem a usar sua habilidades, passam a questionar as missões que recebem. No presente, Arolê busca fugir de seu passado e conhece Maria Aroni e Jamila Olabamiji, que também manifestam poderes, uma para curar e outra inconscientemente para destruir. Como era de se esperar o passado encontra João Arolê e a história no presente fica menos contemplativa, rendendo cenas de ação empolgantes, sem perder o gosto pela viagem a Ketu Três que é muito bem embasada e construída. O enredo é bastante simples mas que ganha muito com a construção do mundo sensacional que certamente rende mais histórias, como de fato já rendeu outra: "A Cientista Guerreira do Facão Furioso" que tem Jamila Olabamiji como protagonista.

"O Caçador Cibernético da Rua 13" vale pela construção de mundo e pela viagem sensorial que proporciona. É mais focado no protagonista, como se fosse um estudo do personagem, o que pode afastar os que gostam de enredos mais elaborados, ainda assim é uma leitura sensacional.


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