terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Resenha #263 Um cântico para Liebowitz (Walter M. Miller Jr.)


"Um cântico para Liebowitz" é uma das distopias mais importantes da ficção científica. Escrita pelo ex-combatente estadunidense da 2GM, Walter Miller Jr. ela aborda de maneira irônica e pessimista sua visão da civilização humana como insistentemente autodestrutiva. O catolicismo do autor e suas experiências como aviador na guerra, estão muito presentes neste livro. 

A obra reuniu três crônicas, que juntas mostram três momentos da civilização humana após um holocausto nucelar. Como muitas obras escritas durante a Guerra Fria, (Um cântico para Liebowitz é de 1960) o medo de uma guerra nuclear entre EUA e URSS era muito presente no imaginário da época. Contudo, o autor consegue centralizar a civilização em suas histórias e manter o livro atual e relevante. Sua visão de uma civilização cíclica e autodestrutiva, consegue transmitir a densidade que a reflexão merece somadas a forma irônica e muitas vezes tragicômica em vários momentos.

A primeira parte é Fiat homo, (Faça-se o homem) e se passa 600 anos após o fim da civilização como conhecemos e acompanhamos a vida do novato Francis da ordem do Beato Liebowitz, quando este encontra documentos escondidos em um antigo abrigo nuclear que são vestígios da antiguidade. O mundo reconstruído sobre as cinzas da era moderna é uma sátira da medievalidade europeia, onde os copistas preservam o conhecimento mesmo sem saber o seu significado. Esses documentos são reunidos e guardados hermeticamente são chamados de Memorabília. Estes documentos são os únicos registros preservados de uma era em que todo o conhecimento e os letrados eram caçados, destruídos e mortos.

A segunda parte, Fiat lux, (Faça-se a luz) representa o renascimento, onde um escolástico cientista Matteo procurando estudar os documentos da Memorabilia, na abadia de São Leibowitz e poder fazer avanços científicos com eles. Contudo, em meio a guerra entre duas potências militares emergentes de Denver e Texarkana, coloca em perigo este potencial cientifico. Por fim, a última parte, Fiat voluntas tua (Faça-se a tua vontade) se passa 700 anos após a segunda parte e mostra a humanidade evoluída tecnologicamente, explorando planetas e também envolvida numa guerra fria entre duas potências nucleares. Acompanhamos o abade de São Leibowitz organizando uma missão para colonizar um planeta de alfa centauro, com missionários que levarão a Memorabília, tendo em vista o conflito nuclear como inevitável.

O autor consegue deixar uma sensação de desperdício constante e não deixa de ironizar a ciência que se coloca como única aliada da razão, quando muito conhecimento foi preservado com ela e muitas inovações científicas partiram destes conhecimentos mas em contrapartida o avanço científico resultou apenas na destruição sem fim. Desta forma, longe de um pessimismo vazio ou uma crítica simplista, temos nesta obra uma reflexão poderosa sobre a medievalidade europeia e a religião em nosso tempo, mesmo que nosso autor puxe sua sardinha para o catolicismo.


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