terça-feira, 23 de agosto de 2022

Resenha #249 Olhos de Pixel (Lucas Mota)


"Olhos de Pixel" de Lucas Mota foi lançado pela Plutão Livros, uma editora focada em livros digitais. É uma aventura cyberpunk que se passa nas ruas de uma Curitiba num futuro próximo. É uma abordagem do cyberpunk amplamente diferente do introspectivo e intimista Diário Simulado de Delson Neto (também pela Plutão Livros), partindo para a aventura frenética usando e abusando da estética dos jogos eletrônicos, quase numa paródia ao cyberpunk oitentista. 

Acompanhamos Valentina Santeless, conhecida como Nina. Uma root, uma fora da lei que aceita trabalhos perigosos e duvidosos para descolar uma grana para buscar uma vida nova para ela e seu filho na colônia Chang'e. Junto com a temperamental Iza e o valente Tera, vão travar uma verdadeira guerra pela própria liberdade, após terem sido pegas pela polícia privada e terem que pagar capturando o Kalango, um terrorista que sabe dos segredinhos sujos da Igreja de Salomão. Entidade que controla a cidade com mãos de ferro e impõe um conservadorismo religioso que caça lésbicas como Nina e transexuais como Tera. Em certos momentos acompanhamos Lídia, a policial que tenta usar os roots para prender o Kalango.

O livro tem um ritmo alucinante, recheado de cenas de ação, que só não vai divertir quem não quer. Contudo, temos uma preocupação em colocar ideias tecnológicas interessantes, retiradas de jogos. Um processo coerente com a gamificação do trabalho que vemos hoje. Por exemplo, as smartselfs, que são apetrechos que aparentemente apenas servem para inserir programas utilitários mas que na mão dos hackers são modificados com modpacks que implementam melhorias nos sentidos e na força física dos usuários com o risco de superaquecimento e reboot - que deixa o usuário desacordado por algumas horas. Podemos imaginar que sofrer um reboot, em meio aos intensos combates que nossos roots se submetem enquanto estão arriscando-se para fechar seus trabalhos, é uma morte quase certa. Quando lemos esses sistema em ação durante o livro, temos algo fácil de visualizar, acompanhar e torcer pelos protagonistas.

Isso acontece porque também houve uma preocupação em dar mais camadas a Nina, pois ela teve atitudes condenáveis em relação ao seu filho e precisa arcar com as consequências, como podemos ver nesta história. Lidia Gaber, também foi bem trabalhada no seu dilema, uma vez que a narrativa em terceira pessoa a acompanha em suas reviravoltas. O resultado de tudo isso junto é um livro que não tem medo de dizer a que veio. Duro e sem meias palavras, Olhos de Pixel mete o pé na porta assim como nas suas cenas de ação! Recomendado!   




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