segunda-feira, 10 de abril de 2023

Resenha #280 Fuga para parte alguma (Jeronymo Monteiro)


"Fuga para parte alguma" é uma obra clássica da primeira onda da ficção científica brasileira lançada em 1961 pelas Edições GRD, primeiro foco da ficção científica no Brasil. Temos aqui uma obra que faz um desenho filosófico de um pessimismo em relação a civilização humana. O livro se passa no longínquo século 122 em uma cidade avançada tecnologicamente. O autor não busca uma extrapolação social tão sofisticada mas se vale da ficção científica para extrapolações filosóficas.

A humanidade passa a enfrentar um inimigo inusitado. Formigas amazônicas mutantes que se espalham e começam a devorar humanos e animais. Começa um combate a esta praga mas logo vemos que a humanidade começa perdendo e se obriga a fugir, apesar de toda a tecnologia que dispõe. Podemos apontar o primeiro problema do livro: não há um esforço em retratar os humanos explorando outras formas de matar as formigas, como usando veneno, por exemplo. Vemos os humanos pegos de surpresa e incapazes de reagir. Reduzidos a sua animalidade e instinto de sobrevivência, como qualquer outro animal acuado. Acredito que é esse lembrete que o autor busca com a obra. Relembrar a nossa vulnerabilidade apesar de já termos dominado a natureza com tamanha eficácia ainda que de forma destrutiva.

Ainda que a reflexão seja válida, a obra não envelheceu bem. A imaginação ao retratar uma sociedade tão patriarcal e normatizada, neste futuro tão futuro soa como as obras de Asimov. Encaixa no contexto limitado da época em que foi escrita, mas como disse, envelheceu mal. Contudo, para o leitor que se dispuser a mergulhar nessa reflexão e neste mundo aterrador, será presenteado pela potência do drama humano, potencializado por cenas violentas dos ataques de formigas de vinte centímetros que agem como se fossem piranhas. Recomendo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário