"Nova York 2140" é a primeira obra de Kim Stanley Robinson a ser traduzida para terras tupiniquins. O autor estadunidense é consagrado pela sua trilogia sobre Marte (Red Mars, Blue Mars e Green Mars) que ainda não tem tradução no Brasil.
A obra é uma verdadeira colcha de retalhos multicultural de uma Nova York do futuro onde as histórias se cruzam várias vezes numa rede que por fim acaba contando a história da própria cidade num período turbulento. Tudo isso em meio a um cenário onde aquela geração teve de lidar com as consequências catastróficas do derretimento parcial das calotas polares. O suficiente para aumentar cerca de 15 metros o nível do mar, inundando a baixa Manhattan e invariavelmente danificando ou destruindo todas as cidades costeiras do planeta.
Não se trata de um livro pós-apocalíptico, como poderia-se esperar, e sim de como as pessoas ainda conseguem toca a vida apesar de tudo. Mostra as novas tecnologias que mantém os prédios protegidos da degradação da água, experimentos comunitários dos prédios, como o capitalismo lidou com a crise das áreas alagadas, como vivem nas áreas mais pobres. Enfim, o autor usa vários personagens para compor uma ideia de como seria essa Nova Iorque do futuro, caótica, perseverante e sobrevivente. O autor opta por um equilíbrio entre a distopia pintada pelas mudanças climáticas e a utopia quando nos dá esperanças de um futuro melhor. Sem nenhum exagero em cada elemento, essa opção deixa a história extremamente palpável soando muito verdadeira. O autor constrói a história de forma calma e por personagens críveis, pessoas comuns. Passando da policial linha dura a dois pivetes que cresceram nas ruas. De uma influenciadora digital ecológica a um investidor da bolsa de valores. Ainda passando por um sombrio síndico Sérvio-croata e uma advogada sindicalista de um prédio onde moram todos esses personagens, o Met. O autor não se poupa de colocar suas preocupações ambientais, presentes na própria especulação e preocupações políticas, quando aborda a especulação imobiliária e a característica predatória e gananciosa do capitalismo de mercado.
O leitor pode estranhar tantas histórias iniciadas, principalmente na primeira parte e adicionadas pela presença de um locutor que fala diretamente com o leitor, o "cidadão", mas essas vozes tem a mesma função da escolha do autor de uma cidade tão cosmopolita: Nova Iorque como representante de todo o planeta e aquele punhado de cidadãos como representantes daquela cidade. O resultado é o que o autor chama de "comédia dos comuns", cidadãos comuns contanto uma história com personalidade e cheia de verdade, dentro de uma especulação muito consistente. Vale a leitura!
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