"Atemporal" é uma antologia de contos da editora Caligo, que lança livros fora da esfera viciosa dos vanity press pois há a preocupação com o que coloca nas páginas além de vender papel. Desta vez temos uma antologia sobre viagem no tempo. Não necessariamente focado na Ficção Científica mas com contos que usam o artifício para explorar áreas mais voltadas as humanidades que as ciências como a física.
"Amélia" (Ana Maria Monteiro) segue a pequena Amélia, de férias onde passa a encontrar uma mulher do futuro com a qual desenvolve uma amizade com sua versão do futuro. Uma singela e bonita homeagem a Amelia Earhart, a primeira mulher a tentar uma volta no globo pelo ar e que desapareceu nessa tentativa no Oceano Pacífico.
"À Roda no Meu Quarto" (José Angelo Rodrigues) parte para o surrealismo onde os tempos se sobrepõe onde um escritor prefaciando Xavier da Maistre e o próprio num mesmo quarto, nos traz uma visão diferente do tempo. Infelizmente não conheço a obra de Maistre e temo que algum significado mais profundo tenha me escapado, porém o conto já vale pela viagem surrealista.
"A Última Viagem de um Homem Sem Fé" (Jorge Santos) traz um viajante do futuro que retorna aos tempos bíblicos para encontrar sua amada numa desesperada tentativa de encontrá-la. Sua jornada tem momentos bem construídos ainda que tenha um final, em parte óbvio.
"Buraco de Minhoca" (Paula Giannini) usa o mundo infantil para adocicar uma história de perda familiar onde uma menina encontra sua versão adulta e tentam se entender para ajudar sua mãe a curar de sua doença. O conto nos põe a dúvida de que tudo possa ser fruto da imaginação da menina e a interação entre as duas é alegre sem deixar de trazer a profundidade do drama que a menina está passando. A habilidade em entrelaçar essas duas camadas já vimos no seu livro que resenhamos no blogue.
"Gênio" (Marco Saraiva) conta a história de um cientista maluco, o profº Lúcio Veras, que é encontrado morto na universidade onde trabalha e de seu amigo, Sérgio, um dos poucos que conseguia lidar com sua personalidade difícil. Então, Sérgio descobre que o profº Veras, não era apenas maluco, mas que também esteve certo sobre sua pesquisa.
“O paradoxo do avô” (Victor O. de Faria) mostra um avô preso em uma repetição trágica: ter de salvar sua neta de ser atropelada e parar no hospital apenas para ser levado de volta e tudo se repetir. Diferente das histórias deste tipo onde o protagonista precisa reviver o momento da morte de alguém querido e só conseguir escapar da repetição quando obtém sucesso, o avô deste conto precisa deixar sua neta morrer para parar este ciclo. Esse diferencial já vale o conto.
“Pandorga” (Eduardo Selga) relata a viagem no tempo acidental de uma caravela portuguesa, numa narrativa cheia de lirismo e significados sobre o Brasil.
“Prisioneiro do tempo” (Antonio Stegues Batista) vai para o outro lado, o da ação frenética de dois homens disputando o amor de uma mulher voltando no tempo e arriscando tudo.
“Quinze minutos” (Ricardo Labuto Gondim) faz sua reflexão sobre a viagem no tempo através do escopo da loucura e da paranoia de um escritor que largou tudo e não consegue se estabelecer na carreira, sem saber o quanto do seu sofrimento é causado pela frustração ou realmente algo fantástico está acontecendo.
“Tempo negado” (Claudia Roberta Angst) acompanha uma mulher madura que se apaixona por seu aluno, para quem dá aulas particulares, e não sabe o quanto disso é real ou imaginação causada por um amor mal resolvido de seu passado. O clima romântico é bem balanceado com o mistério encarnado pelo jovem aluno.
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