segunda-feira, 29 de julho de 2024

Resenha #346 Mundo-Vertigem (Org. Luiz Bras)


Mundo-Vertigem é uma antologia do gênero Fantasia que busca explora-lo com uma abordagem que foge completamente a fantasia tradicional, com abordagens que vão do mais lisérgico até aquelas que há uma minima alteração da realidade, sempre buscando uma prosa mais refinada. A proposta do organizador é mostrar novas possibilidades para quem lê/escreve literatura de gênero, mas também mostrar a amplitude narrativa do fantástico aos que lê/escrevem no realismo.

São mais de 30 contos, a maioria bastante curtos. Não vou comentá-los um a um, mas destaco a composição de excelentes autores, como Bráulio Tavares, Fábio Fernandes, Ivan Carlos Regina, O próprio organizador, Santiago Santos, Romy Shinzare. Alguns contos eu já conhecia, como o Charlotte Sometimes do Fábio Fernandes, e o conto do Bráulio Tavares e do Ivan Carlos Regina. Gostei dos experimentos com fantasia urbana, mas nem tanto dos contos que pouco se adentram no fantástico, porque num cenário em que muitos tem vergonha de escrever fantasia, eu acabo ficando receoso com quem não adentra com vontade no fantástico mas não deixam de ser contribuições válidas de qualquer forma. Um livro muito bom para exploração, muito bem justificado em sua razão de ser nos textos de abertura e fechamento do livro. Algo que sempre procuro fazer nas antologias que organizo.


Leia Mais ››

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Resenha #345 Banho de Sol (Ricardo Celestino)


Banho de Sol é o segundo livro de Ricardo Celestino que já nos trouxe o sensacional Até que a Brisa da Manhã Necrose teu Sistema trouxe um livro mais provocante e profundo que o anterior. Uma obra que acabou me acertando em níveis pessoais e o fará com qualquer pessoa que minimamente já questionou o sistema.

Ricardo usa de sua escrita característica, que usa de frases em linhas quebradas combinadas com blocos, as vezes, longos de texto em itálico. Recurso esse que torna a leitura muito dinâmica apesar da prosa densa do autor. Acompanhamos Richie, (uma redução de Ricardo?) um transeunte paulistano que descobre que os registros de sua consulta com sua psiquiatra é usado em um show de comédia Stand Up. Um início muito sarcástico para a saga de um homem completamente médio e por isso mesmo ideal para mostrar a canalhice de uma São Paulo cyberpunk que não é apenas um personagem (como consuma acontecer em obras cyberpunks) como é também um dos narradores do livro. Outro narrador, é a doença psicológica de Richie, ou seria apenas uma parte dele mesmo (?) que responde por eu-neurótico-delirante. Sendo constantemente humilhado, desde o Stand Up, que é só a ponta do iceberg, a sua relação com o pai (Odair) e com a ex (Stella) o aproximam de um grupo revolucionário chamado EMB 5.0 com seu líder João da Gagueira. 

Como disse antes, é um livro que me balançou. Primeiro pois eu o li a primeira vez como leitor beta e não consegui dar nenhuma contribuição relevante mesmo tendo gostado muito da obra. Acredito que seja porque a obra não carecia de nenhum retoque. Tanto que, na segunda leitura, com a obra impressa e pronta, não encontrei nem procurei mudanças em relação a primeira versão que li. Digo isso porque a obra e a história de Richie teve muitas afinidades com minha própria história. Se no primeiro livro, Ricardo conquistou com sua prosa aliada a estética crua e cenas gore, em Banho de Sol, Ricardo entrega o microfone a cidade de São Paulo cometer um sincericídio, cheio de sarcasmo encanando uma fala de uma personalidade cheia de poder. Enquanto isso faz uma análise de todas as nossas angustias centralizadas em Richie, que são as de toda pessoa que já se questionou severamente sobre o mundo dominado pelo capitalismo.

Leia Mais ››

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Resenha #344 Silêncios Infinitos (Nikelen Witter)


Silêncios Infinitos é o quinto livro da Série Dragão Mecânico da Editora Draco e foi o que mais me envolveu na atmosfera de tensão. Temos um romance que nos convida a investigar um mistério tanto dentro quando fora da cabeça da protagonista. 

Na história, acompanhamos uma nave colônia que busca colonizar Próxima B, segundo planeta que orbita a estrela mais próxima do sol. Esta nave não é uma nave geracional, onde os viajantes que chegam ao destino são descendentes dos que embarcaram, ao invés disso, mandou embriões congelados em uma nave. Quando a nave chegou perto do seu destino, a produção de clones que tripulariam a nave foi iniciada gerando indivíduos já adultos, mas carregando memórias de uma equipe na Terra, implantadas nos clones. Tendo algumas lembranças da Terra e do conhecimento técnico e científico dos originais escolhidos para a missão (cuja a missão foi justamente fornecer essas memórias). Desta forma, cada um recebeu um nome derivado de entidades da cultura latina e da asiática.

Passado um ano depois do nascimento dos clones (quando começa o livro) a colônia parece bem, com todos os especialistas fazendo seu trabalho de forma ordeira, mas Liu sente uma angustia que não consegue compartilhar com ninguém. Tem pensamentos e memórias de uma outra pessoa dentro de si. Contudo, antes que consiga se entender, uma crise sem precedentes inicia na colônia: o líder foi encontrado morto. Suicídio? Assassinato? Uma interferência alienígena? Casualidade? É nesse jogo que Liu tem de desvendar esse mistério enquanto tem de lidar com Teo, um membro da colônia que desconfia da normalidade de Liu.

O clima de mistério e tensão permeia todo o livro. O grande mistério sobre o que esta acontecendo foi minha grande curiosidade mas o livro aborda o grande tema da ficção científica: o que é o ser humano e inclusive politicamente uma vez que os membros da tripulação são cópias de pessoas da Terra mas eles nunca estiveram lá e nunca irão para lá. As perspectivas dessa condição pareciam que não teriam espaço em meio a crise mas o assunto acaba se tornando de importância vital. O resultado é um romance tenso com uma boa protagonista e um mistério que me prendeu o livro todo.

Leia Mais ››

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Resenha #343 O Andrarilho das Sombras (Eduardo Kasse)


O Andarilho das Sombras é minha primeira incursão na obra de Eduardo Kasse e foi o meu "projeto tijolão" de 2024. Apesar da grossura do livro ele não chega a 400 páginas e a leitura foi muito suave, apesar da cenas de violência, pois o protagonista é extremamente carismático e segura praticamente sozinho a narrativa, por mais bacanas que sejam os coadjuvantes.

A história conta sobre Harold Stonecross, um vampiro que ressurge de uma hibernação forçada e volta a sua rotina de criatura da noite. Aqui o vampiro não é uma criatura reclusa num castelo que pega desprevenidos que invadem seu espaço, mas um predator que caça suas vítimas pela necessidade de sua condição. Não sem passar muitas vezes lamentando a sua condição, não apenas desfrutando do prazer da caça e do sabor do sangue. Tanto é que a narrativa se divide e se alterna entre momentos dessa nova fase de Harold como criatura da noite, caçando e conhecendo pessoas, amando e matando; com a vida antes da transformação, desde quando é abandonado pela família, mas tem a sorte de conhecer pessoas que o criam e convivem bem com ele, ensinando sobre as coisas do mundo.

A condução da obra é com uma sucessão de episódios que sucedem e não compõe nenhuma trama intrincada. O tom é parecido com o de Louis de Entrevista com o Vampiro, mas com menos melancolia. Harold é melancólico mas busca esconder suas dores com o prazer frívolo e passageiro de sua necessidade por sangue. Me chama a atenção também, como Kasse cosnegue transmitir a sensação de muito tempo passando, pois sentimos que Harold vive muitas vidas. Outro elemento é o sobrenatural para além da própria existência do vampiro, que aparece na cultura nórdica ainda presente na Inglaterra de Harold, sendo cultuados como deuses antigos devido a expansão do cristianismo. Deixando os detalhes de lado, eu recomendo muito o livro pois a escrita é muito envolvente e as situações muito intrigantes, mas o carisma de Harold segura todo o livro e não seria diferente se o protagonista não fosse bom.

Leia Mais ››

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Resenha #342 Terra Morta (Tiago Toy)


Terra Morta: A Obsessão de Vitória é uma HQ da editora Draco de 2014 e conta uma pequena história em meio a um apocalipse zumbi. Vitória é uma garota completamente viciada em redes sociais e nem o fim do mundo a fará parar de caçar likes e atenção nas redes. O traço e o Preto e Branco, valorizam o grotesco e a pungência da crítica e me agradaram bastante. O amante de histórias de zumbis não vão ficar decepcionados com a carnificina e o banha do sangue. É uma HQ sucinta, sincera e nada elegante.

Leia Mais ››