sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Resenha #9 - Neuromancer (William Gibson)

[SEM SPOILERS]
Neuromancer é acima de tudo um clássico da Ficção Científica. É um livro básico para imergir na literatura cyberpunk. É um mundo que combina altas doses de tecnologia mas que ao mesmo tempo não se converte numa melhora na qualidade de vida, muito pelo contrário. A vida é alterada profundamente neste mundo. Implantes cibernéticos e soquetes para programas que acessam diretamente o cérebro, tornam a tecnologia invasiva e pervasiva, ou seja, é impossível ficar distante dela pois está em toda parte. Isso se deve ao aspecto mais marcante desta sociedade imaginada por Gibson: a predominância do ciberespaço

Mas afinal qual é a história que se passa nesse mundo? 
Neuromancer acompanha a história de Case, um cowboy do ciberespaço, um hacker talentoso em invadir e roubar informações de bancos de dados de corporações. Case trabalhava para organizações criminosas que requisitavam os seus serviços, contudo ele cometeu a besteira de roubar seus patrões que se vingaram injetando uma toxina que o impede de acessar a Matrix (sim, os Wachowsky inspiraram-se neste livro), que é um ambiente de ciberespaço como é a Internet hoje.
Eis que entram na história Armitage, um ex-militar misterioso que oferece uma cura para Case voltar a ser um cowboy trabalhando para ele e Molly Millions, uma "razor-girl" que trabalha de capanga de aluguel para Armitage. Molly já havia aparecido no conto Johnny Mnemonic e faz uma aparição em Monalisa Overdrive, o terceiro livro da Trologia do Sprawl do qual Neuromancer faz parte. Ela é uma mulher de muita personalidade, independente e que não cai na masculinização, nem na hipersexualização, tão comuns nas personagens femininas fortes na Ficção Científica. Outro destaque vai para as Inteligências Artificiais que rendem diálogos tão fluidos quanto bizarros, como quando Case conversa com um ROM baseada na memória de num cowboy já falecido chamado Dixie Flatline.
Representação de Chiba city, muita influência noir
Neuromancer hoje
O fato de não conseguirmos ficar longe do whatsapp, já é um exemplo atual de como a presença do ciberespaço nos ocupa. Apesar do autor sequer imaginar o uso de telefones celulares hoje (vale lembrar, que nenhum autor de FC nunca teve obrigação de fazer adivinhações ou profecias), a necessidade de ficar perto de alguma forma ao ciberespaço e a impossibilidade de ficar totalmente alheio a ele concede um elemento premonitório a obra. O drama de Case é a possibilidade de talvez nunca mais poder acessar o ciberespaço. Hoje um drama cotidiano de quem fica sem bateria no celular. Isso foi muito inovador no inicio dos anos 80, quando o livro foi escrito e lançado.

Conclusões
Neuromancer não é um livro fácil. É sobre o submundo com uma linguagem de submundo. É imersivo pela quantidade de termos técnicos. A versão comemorativa (lida para esta resenha) possuí um glossário para ajudar nos termos mais complicados, mas recomendo usar um lápis para escrever no final do livro outros termos estranhos ao leitor não contemplados. Existem termos inventados por Gibson para coisas que tem outro nome hoje pois que não existiam na época, como o Firewall, que ganhou o nome de ICE. Fora as referências da arquitetura e cultura pop que pipocam na leitura e pode confundir o leitor mais desavisado. Inclusive a ponto de largar a leitura. Mas aqueles que resistirem e buscarem algum conhecimento de fora para ajudar a leitura, caso não o tenham, sabem que vale a pena.
Ficha técnica
Título: "Neuromancer"
Autor: William Gibson.
Editora: Apelh
Nº de páginas: 319
Ano: 2008 (1984).
Aquisição: Comprado em sebo por 20 reais.

Um comentário:

  1. Sem dúvida, grande clássico. Li duas vezes. Na segunda leitura, foi numa nova tradução, de Fábio Fernandes. Concordo que se trata de uma leitura bem difícil, sobretudo para aqueles que não familiarizados com certos termos de hardware e software.

    Existem também muitas referências de marcas famosas antigas, algumas existem até hoje, outras não (é bem interessante fazer busca por imagens no Google).

    Muitos momentos e frases marcantes:
    "- Cara, esse software é muito filho da puta. A coisa mais sensacional desde que inventaram o pão de fôrma fatiado".

    Gosto muito da alternância entre Matrix e "mundo real", dando um certo dinamismo, algo que o jogo Shadowrun Returns para PC, conseguiu traduzir muito bem.

    ResponderExcluir