terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Resenha #59 - Brasyl (Ian McDonald)

"Brasyl" de Ian McDonald é, apensar de uma das linhas narrativas parecer um romance histórico, uma Ficção Científica sobre mundos paralelos e uma lamina capaz de cortar qualquer coisa.

O estória segue três personagem em tempos diferentes, começa com Marcelina Hoffman, uma produtora de TV em um canal sensacionalista num Brasil de 2006, que procura Barbosa, o goleiro da seleção brasileira da copa de 1950, para mais um de seus reality shows. Depois conhecemos Edson Jesus Oliveira de Freitas um paulistano malando que agencia modelos de dia e se traveste de noite em um Brasil cyberpunk em 2032 cercado por tecnologia de vigilância que se envolve com Fia, que faz parte de uma gangue que usa tecnologia de computadores quânticos; e por fim o padre jesuíta Luis Quinn que em 1732 veio ao Brasil em missão dissuadir um outro padre que está construindo um império rebelando-se da coroa portuguesa e da igreja na Amazônia.

O autor constrói cada mundo separadamente para depois tecer ligações sutis que vão crescendo exponencialmente até que não haja essencialmente nenhuma diferença entre eles. A física quântica é argumento para unir os mundos e as estórias, mas também mostrá-los como são tão paralelos como contraditórios. Cada personagem, assim como nós, carrega suas contradições, muitas vezes estranhas por causa da realidade em que vivem. O padre que é sacerdote e assassino. O malandro que se apaixona por uma menina e vive uma vida paralela como travesti rainha do funk e fantasias homoeróticas. A loura executiva de classe média, consumista fútil, que busca a malandragem dos capoeiristas. A quem se propõe julgá-los, resta olhar as nossas próprias contradições e ver que os personagens não são tão absurdos quanto podem parecer. Além dos personagens esses paralelismos estão na organização do livro, alternando as linhas narrativas, além do próprio mistério que descobrem durante suas aventuras.

A edição brasileira merece destaque pois a formatação diferente para cada tempo narrado facilita o leitor a não se perder no caminho. Destaque para as passagens narradas em 1732 onde as letras parecem impressas em aparelhos antigos e as páginas possuem manchas simulando envelhecimento, como se fosse um manuscrito. Geralmente evito falar da tradução pois não tive contato com o material em inglês, não sendo possível opinar até que ponto foram acertos do autor sobre o Brasil ou se teve uma mãozinha do traduzir (Fábio Fernandes) para não fazê-lo passar vergonha. Independente disso o livro entregue ao leitor brasileiro é preciso o suficiente para convencer que esse Brasil inventado poderia ser o nosso.

p.s. Achei duas artes do Devianart, inspiradas no "Brasyl". Ambas de crisfedor 


Fia e Edson na cena em que eles se conhecem

Edson fugindo da polícia

Um comentário:

  1. Cara não consegui lê este livro, abandonei... porém gostei muito da estoria do padre jesuíta.

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