terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Resenha #80 - As Águas-Vivas não sabem de si (Aline Valek)

"As Águas-Vivas não sabem de si" é uma FC de 2016 escrito por Aline Valek. É um pouco diferente das obras de FC publicadas no Brasil pois não tem o apelo ao nicho de leitores. O que é bem vindo, pois apesar de importante existir um nicho de escritores/leitores de Ficção Científica, tampouco é saudável ficar restrito apenas a ele. A obra é competente em trazer densidade na construção dos personagens e na criatividade em muitos momentos na narração.

A protagonista é Corina, uma mergulhadora experiente contratada para testar um novo traje de mergulho em águas profundas. Na estação Auris, ela e a equipe vão explorar sinais de cachalotes e se deparam com mistérios abissais e conflitos internos que vão movimentar a trama.

A ambientação de exploração no fundo do mar não é novidade mas a abordagem faz toda a diferença: a busca pelo desconhecido, me remete a Solaris de Stanislaw Lem, mas o desconhecido se apresenta de forma muito mais sutil que na obra de Lem, pois existem capítulos muito criativos com pontos de vista inusitados e filosóficos que evitam que a Ficção Científica fique sutil demais. Os dramas de Corina e dos demais membros da Auris são bem apresentados mas não tão desenrolados na trama, o que de fato não chega a prejudicar a obra pois evita que o livro se estendesse demais e acertar o prumo nos mistérios, que são o que mais instigam saber. 

A edição como um todo é muito bonita e bem feita. A escrita busca mais sensibilidade e filosofia que a linguagem científica, e as voltas no passado e reflexões podem desagradar quem espera grandes movimentações na história ou o lado aventuresco de uma expedição científica. Para quem estiver disposto a mergulhar em si, como eu me dispus quando fiz a leitura, "As Águas vivas não sabem de si" é uma boa pedida.

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