terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Resenha #79 - Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)

Por que resenhar um livro clássico da literatura brasileira em um blog de Ficção Cientifica (e Fantasia)? Basicamente pelo mesmo motivo que resenhei Número Zero de Umberto Eco e A Metamosfose de Franz Kafka: não tenho (nem pretendo ter) outro blog de literatura, então posto neste aqui mesmo. Contudo, Machado de Assis é irresenhável, devido a quantidade de estudos densos a qual suas obras já foram dedicadas, sendo assim  possível apenas recomendá-lo e dar alguma porção de motivos.

É com essa intenção que venho-lhes dividir algumas considerações sobre  "Memórias Póstumas de Brás Cubas". A história tece uma narrativa autobiográfica sobre a vida de Brás Cubas que uma vez morto resolve tecer suas memórias, ou seja, temos um narrador morto. Esse ponto de vista inusitado dá um sabor irônico e filosófico a leitura. Machado busca com isso fugir tanto do Romantismo (pelo excesso de fantasias) quanto do Naturalismo (pela necessidade de explicar tudo cientificamente). Afinal de que importa saber como Brás Cubas trouxe a tona memórias depois de morto? Porque ele trata de assuntos mundanos conhecendo a eternidade e o que há do outro lado da vida?

Tudo isso regado a pessimismo, e um pouco ou talvez muito de biografia do próprio autor que assim como Brás Cubas, não deixou filhos e, até o momento em que escreveu este livro, não havia alcançado fama. Pois antes de encontrar a própria morte, Machado de Assis ainda viveu para ser o primeiro presidente da Acadêmia Brasileira de Letras.

A leitura da obra acaba sendo influenciada negativamente pela obrigatoriedade de sua leitura nas escolas, o que tira muito da potencialidade de captar o humor e ironia de seu pessimismo. Mas como aproximar o leitor escolar dos clássicos é outra conversa. Para aqueles que conseguiram desfrutar dos seus escritos, encontram um excelente livro que, sempre tem lugar na lista de releituras, pelas ironias que passam desapercebidas na primeira leitura. Deixo, além da minha recomendação, a cativante dedicatória do início do livro: 

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

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